domingo, 13 de janeiro de 2008

BoaMorte,


`f.braamcamp mancellos


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Fala-se demasiado do Colonialismo contemporâneo e esquece-se do verdadeiro colonialismo do nosso Império, quer nosso, quer dos Espanhóis ,dos holandeses ou de outros. Li agora um romance da nossa escritora Inês Pedrosa que faz alusão à nossa presença no Brasil. Fala da Irmandade da BoaMorte, de uma sociedade exclusivamente feminina, formada por mulheres, obrigatoriamente com mais de 40 anos, aí para Salvador da Baía, de descendentes dos escravos, fundada em 1820 por um grupo de negras alforriadas que vendiam petiscos na rua para comprar cartas de alforria para outros escravos, um movimento feminista de negras católicas, não exactamente apostólicas romanas. Aderiram ao culto da Nossa Senhora da Boa Morte que os Jesuítas levaram para o Brasil. Os Jesuítas eram considerados pelos Indios e pelos escravos, inspirados pelo exemplo e pelos sermões do Padre António Vieira. Diz o livro que, quando se fala da doçura particular da colonização portuguesa, da miscigeneração e da invenção do mulato, esquece-se a realidade da escravatura, das jornadas de trabalho de dezoito horas, ao sol, das mutilações aos fugitivos e fugitivas que eram punidos pelo corte dos tendões, das queimaduras com ferro em brasa no rosto, os açoites de chibata. Além de outros requintes, extração de dentes, o corte das orelhas para os mais escutadores ou as linguas para os mais faladores.
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Falamos do Colonialismo recente mas esquecemo-nos do sofrimento das pessoas que viveram noutros séculos, subjugados pelos ditos civilizadores. De facto, esta Irmandade talvez tivesse sido o primeiro movimento feminista negro do Brasil e hoje organizam a famosa festa de Nossa Senhora da Boa Morte. Mas percebemos que esta Irmandade não tem assim tanto uma relação simples com a Igreja Católica. Ainda há relativamente pouco tempo, na década de oitenta, o Pároco local confiscou bens desta Irmandade, incluindo jóias e estátuas religiosas. Foi uma jovem advogada que se ofereceu para defender estas Irmãs e conseguiu encontrar documentos do século XIX que provaram realmente que o seu espólio lhes pertenciam. Só em 98 se conclui este processo e remata a nossa escritora, dizendo que também em Terras de Vera Cruz a justiça se apresenta como uma rapariga preguiçosa e trapalhona. Interessante este livro, da nossa Inês Pedrosa, que fala resumidamente da bárbarie cometida por nós em séculos idos. Ficaram a faltar os "outros", o Mundo era todo assim.
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Foto - Ricardo Prado Irmandade da Boa Hora normal_105755
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