sábado, 4 de julho de 2009

Eros e Psique - Fernando Pessoa

Assunto: TRÊS FADAS ME FADARAM.....
Data: 4/Jul 17:59

QUANDO NASCI TRÊS FADAS ME FADARAM, PASSANDO SUA VARINHA DE CONDÃO SOBRE MINHA FRONTE. " QUE TUDO O QUE VEJAS TENHA O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA VERDADE", DISSE UMA....OUTRA SE APROXIMOU SORRINDO..."QUE TUDO O QUE SINTAS TENHA A DIMENSÃO DOS SONHOS"... E SE AFASTOU....FINALMENTE A TERCEIRA COM PESAR NO OLHAR, ME OLHOU E SUSSUROU..." QUE A FORÇA NUNCA TE ABANDONE QUANDO CHEGARES Á CONCLUSÃO QUE NADA DE BELO OU DE SONHO NA VIDA É A PERFEITA VERDADE....POR TRÁS ESTARÁ SEMPRE A INVEJA, A MALDADE E, SOBRETUDO....A TUA INSEGURANÇA"...ASSIM FUI FADADA E ASSIM VOU VIVENDO, SEMPRE NA ESPERANÇA QUE A ÚLTIMAS SE TENHA ENGANADO....É ESSA A MINHA FORÇA! EM ANEXO, UM BEIJO!

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Distribuído por Moranguinho Pereira (hi5)

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EROS E PSIQUE

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Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
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Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
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A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
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Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
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Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
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E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
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E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

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Fernando Pessoa

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NOTA -

...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.

(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio
Na Ordem Templária De Portugal)


Publicado pela primeira vez in Presença, n.os 41-42, Coimbra, maio de 1934. Acerca da epígrafe que encabeça este poema diz o próprio autor a uma interrogação levantada pelo crítico A. Casais Monteiro, em carta a este último:

A citação, epígrafe ao meu poema "Eros e Psique", de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente - o que é fato - que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho [In VO/II.]
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(ilustração criada por Tatiana Paiva)

in

insite.com.br/art/pessoa/cancioneiro

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