quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

José Gomes Ferreira - Chove

Chove...

Mas isso que importa!,

se estou aqui abrigado nesta porta

a ouvir a chuva que cai do céu

uma melodia de silêncio

que ninguém mais ouve

senão eu?

Chove...


Mas é do destino

de quem ama

ouvir um violino

até na lama.

José Gomes Ferreira

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Enviado por Georgina Gi

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William Shakespeare - SHALL I COMPARE THEE TO A SUMMER'S DAY?

“Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:

Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd;

But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou owest;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,

When in eternal lines to time thou growest:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this and this gives life to thee.”


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enviado por Guilhermina Abreu

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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Noite de Sonhos Voada - Manuel da Fonseca

Noite de sonhos voada
cingida por músculos de aço,
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca armodaçada
noutra boca,
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido
e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce, funda alegria
noite de sonhos voada
que pelos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
— Ó meu amor, já é dia!...

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"
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enviado por Georgina Gi
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

CONTRARIEDADES - Cesário Verde

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Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
Mal ganha para sopas...

O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.

Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho
Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua "coterie";
Ea mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.

A adulaçãao repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a "blague",
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!”

Cesário Verde
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enviado por Guilhermina Abreu
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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Bob Dylan - BLOWIN' IN THE WIND

How many roads must a man walk down
Before you call him a man?
Yes, 'n' how many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, 'n' how many times must the cannon balls fly
Before they're forever banned?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.

How many years can a mountain exist
Before it's washed to the sea?
Yes, 'n' how many years can some people exist
Before they're allowed to be free?
Yes, 'n' how many times can a man turn his head,
And Pretend that he just doesn't see?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.

How many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, 'n' how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, 'n' how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind

Bob Dylan

SOPRANDO NO VENTO

«Por quantas estradas tem um homem de andar
Até que se possa chamar-lhe homem?
Sim, e quantos mares tem uma pomba branca de cruzar
Até que possa dormir na areia?
Sim, e quantas vezes devem as balas de canhão voar
Até serem para sempre banidas?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Quantos anos pode uma montanha existir
Até ser levada para o mar?
Sim, e quantos anos têm algumas pessoas de existir
Até que lhes permitam ser livres?
Sim, e quantas vezes pode um homem virar a cabeça
Fingindo que nada vê?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento

Quantas vezes tem um homem de erguer o olhar
Até que possa ver o céu?
Sim, e quantos ouvidos deve um homem ter
Até que possa ouvir pessoas a gritar?
Sim, e quantas mortes serão precisas até que saiba
Que demasiadas pessoas já morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento»

Bob Dylan
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ligeiras adaptações de Guilhermina Abreu
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ver
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Bob Dylan - blowing in the wind


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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Aniversário do assassinato de Amílcar Cabral

ILHA
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«Tu vives — mãe adormecida —
nua e esquecida,
seca,
fustigada pelos ventos,
ao som de músicas sem música
das águas que nos prendem…
,
Ilha:
teus montes e teus vales
não sentiram passar os tempos
e ficaram no mundo dos teus sonhos
— os sonhos dos teus filhos —
a clamar aos ventos que passam,
e às aves que voam, livres,
as tuas ânsias!
.
Ilha:
colina sem fim de terra vermelha
— terra dura —
rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias! »

Amílcar Cabral - Praia, Cabo Verde, 1945
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sorriso diz:
19/Jan/2009 1:55
Amigo: podes, se queres, relembrar no teu blog o assassinato de Amilcar Cabrar. Envio-te um poema (há outros mais revolucionários) e uma canção. Beijos. ILHA

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domingo, 18 de janeiro de 2009

O VERME VENCEDOR - Edgar Allan Poe

“Vêde! É noite de gala, hoje, nestes
anos últimos e desolados!
Turbas de anjos e alados, em vestes
de gase, olhos em pranto banhados,
vêm sentar-se no teatro, onde há um drama
singular, de esperança e agonia;
e, ritmada, uma orquestra derrama
das esferas a doce harmonia.

Bem à imagem do Altíssimo feitos,
os actores, em voz baixa e amena,
murmurando, esvoaçam na cena;
são de títeres, só, seus trejeitos,
sob o império de seres informes,
dos quais cada um a cena retraça
a seu gosto, com as asas enormes
esparzindo invisível Desgraça!

Certo, o drama confuso já não
poderá ser um dia olvidado,
com o espectro a fugir, sempre em vão
pela turba furiosa acossado,
numa ronda sem fim, que regressa,
incessante, ao lugar da partida;
e há Loucura, e há Pecado, e é tecida
de Terror toda a intriga da peça!

Mas, olhai! No tropel dos actores
uma forma se arrasta e insinua!
Vem, sangrenta, a enroscar-se, da nua
e erma cena, junto aos bastidores...
A enroscar-se... Um a um, cai, exangue,
cada actor, que esse mosntro devora.
E soluçam os anjos, _ que é sangue,
sangue humano, o que as fauces lhe cora!

E apagam-se as luzes! Violenta,
a cortina, funérea mortalha,
sobre os trémulos corpos se espalha,
ao cair, com um rugir de tormenta.
Mas os anjos, que espantos consomem,
já sem véus, a chorar vêm depor
que esse drama, tão tétrico, é «O Homem»
e que o herói da tragédia de horror é o Verme Vencedor.”

Edgar Allan Poe
,
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enviado por Guilhermina Abreu
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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Voltei, para quem possa interessar a notícia :-).


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Pois ...Após o meu computador ter pifado comprei um novo e após semanas sem ligação à NET vieram arranjar o modem. Assim, um bom 2009 para cada um(a) e para todos (todas). Vai ser difícil para a maioria, mas «Eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida» (Gedeão) e que o importanta é transformar o mundo (Marx), não para uma minoria cada vez mais escassa mas para todos. E que tudo vale a pena, quando a alma não é pequena (Pessoa).

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Vá lá, uma forcinha.Qual o tamanho da alma de quem me lê?

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