sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

E LÁ FUI EU…..

10/Jan 19:54


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E LÁ FUI EU…
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“Eu não sei bem porque ela tropeçou atrás de mim. Ou melhor, inventou um tropeço atrás de mim e foi dar com as mãos em minhas costas. Como se as mãos dela fossem um ímã e minhas costas a atração. Não doeu: mas senti o aperto das mãos delas em minhas costas, entrando essas garras metálicas, as unhas prateadas em minha camisa. Não doeu, mesmo. Mas não entendi essa atitude dela. Esse seu gesto. Justamente tropeçar atrás de mim e jogar o corpo para meu lado. E eu que estava tão distraído abrindo a porta lentamente. Se bem que esse advérbio poderia ser uma razão: ela veio tão mais distraída quanto eu e quando se deparou, estava meu corpo (aliás, minhas costas) parado à sua frente; foi parar e, como a lei newtoniana sempre se apresenta como tropeços e quedas, o corpo (o dela, as mãos) foi levado para frente dando justamente em minhas costas. E aí parou. É certo que ouvi um grito. Penso que ela se assustou; como? se justamente foi ela quem fingiu essa quase-queda. O direito ao susto era meu. De ter unhas em minhas costas e de ter visto ela, a menos óbvias das pessoas que poderiam tropeçar. Dois sustos e eu não gritei, sequer resmunguei ou coisa parecida. Dois sustos que seriam meus, por direito, e foi ela quem gritou. Quando a porta foi abrindo já dava para ver o interior do compartimento, vi que ele me olhava. Penso que me olhava: mas pelo seu olhar e sua reprovação, percebi que ela havia forjado essa queda. E foi aí que descobri que elaa inventou esse tropeço. Não sei bem porque. O fato é que ela, a mais discreta, resolveu cair justamente em minhas costas, apoiando suas mãos (as unhas metálicas) em minhas costas. Em minhas costas. Não doeu, mas senti que as unhas atravessavam as asas tatuadas em minhas costas. E não pude mais voar, desde então.”
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TEM UMA BOA SEMANA VICTOR. ABRAÇO.
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José Pereira (hi5)
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