sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Poemas de Luís Veiga Leitão

Ler, escrever e contar

 

quarta-feira, 25 de abril de 2007


25 de abril! Poemas de Luís Veiga Leitão

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Para lembrar o aniversário da Revolução dos Cravos que, em 25 de abril de 1974, libertou Portugal da ditadura salazarista, propomos a você, rara ou raro leitor, a leitura destes poemas de Luís Veiga Leitão, nascido em Moimenta da Beira (Portugal) a 27 de maio de 1912. Estes versos se referem ao período em que o autor esteve encarcerado como preso político.
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Incomunicabilidade
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Caneta, lápis, papel
e lâmina de ponta de lua
um autômato do bolso me tirava...
Depois a minha mão ficou nua
da vestimenta que usava.
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Mas deram-me uma tinta preta
(nuvem negra dum fogo posto)
e meteram-me no tinteiro...
Na tinta, afogo as mãos, o rosto,
o meu corpo inteiro:
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A força, o canto, a voz que encerra,
ninguém, ninguém pode afogar
– como as raízes da terra
e o fundo do mar.
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Carta
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Lanço as palavras ao papel
como pescador calmo
lança os barcos ao rio.
Só no fundo, no fundo inviolado,
contraio e espalmo
as minhas mãos, mãos de afogado
morrendo à sede.
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– Meu amor estou bem –
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Quanto te escrevo,
ponho os olhos no teu retrato
pendurado nos ferros da minha cama
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para que as palavras tenham o sabor exacto
de quem me ouve,
de quem me fala,
de quem me chama.
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– Meu amor estou bem –
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Ontem vi a Primavera
numa flor cortada dos jardins.
Hoje, tenho nos ombros uma pedra
e um punhal nos rins.
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– Meu amor estou bem –
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Se a morte vier, querida amiga,
à minha beira, sem ninguém,
hei-de pedir-lhe que te diga:
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– Meu amor estou bem –
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A uma bicicleta desenhada na cela
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Nesta parede que me veste
da cabeça aos pés, inteira,
bem hajas, companheira,
as viagens que me deste.
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Aqui,
onde o dia é mal nascido,
jamais me cansou
o rumo que deixou
o lápis proibido...
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Bem haja a mão que te criou!
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Olhos montados no teu selim
pedalei, atravessei
e viajei
para além de mim.
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In Latitude, 1950, com poemas da prisão, incluído em Obra completa, organizada por Luís Adriano Carlos e Paula Monteiro, publicada em bela edição, ilustrada com desenhos do autor, por Campo das Letras, Porto, Portugal, em 1997. A edição de 1950 teve sua circulação proibida então em Portugal.
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Em 1967 Luís Veiga Leitão transferiu-se para o Brasil, talvez, principalmente, para que o filho Luís não fosse convocado à guerra colonial. Após viver alguns anos em Niterói – onde chegou a participar das atividades da Livraria Diálogo – retornou a Portugal no calor da hora do retorno à democracia. Anos depois, quando estava no Brasil para lançamento de sua antologia poética Biografia pétrea, publicada pela Thesaurus www.thesaurus.com.br , de Victor Alegria, faleceu subitamente (em 9 de outubro de 1987) na cidade fluminense que o acolheu e onde fez muitos amigos, como o signatário destas linhas.
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Postado por Aníbal Bragança às 12:49
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Luís Veiga Leitão

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Acompanhamento Lírico
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Desceu a nuvem.  E de vale em vale 
     a manhã ficou pálida suspensa 
     Árvores lama fronte de quem pensa 
     vestem de branco um branco glacial 
     Como flecha de lume no vitral 
     também minha alma que brilhou intensa 
     novamente afogou sua presença 
     no fundo de uma túnica irreal
     E levo-a
     pelo mar fora pelo mar da névoa 
     sob o silêncio úmido profundo
     em cujas mãos de lágrimas deponho 
     o mutilado corpo do teu sonho 
     corpo sem asas de voar no mundo


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Jornal de Poesia - http://www.revista.agulha.nom.br/lvg01.html
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Luís Veiga Leitão




Não
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Não queremos o sangue das crianças
na boca das batalhas posto
— fauce podre de lamas desertas
Mas correndo vivo sob o rosto
numa alegria de flores abertas
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Não queremos o sangue dos jovens
cobrindo o frio das Baionetas
— morto lume verde sobre a neve
Mas correndo a arder nas noites pretas
para que as manhãs cantem breve...

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http://www.revista.agulha.nom.br/lvg05.html - Jornal de Poesia

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Acompanhamento Lírico
Resistência
Manhã
Corredor
Não

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http://www.astormentas.com/poemas.aspx?tp=&id=Lu%C3%ADs%20Veiga%20Leit%C3%A3o

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       DOMINGO  
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               Luís Veiga Leitão 
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                                      Hoje é domingo? Não e sim, 
                                      Para ser dia que se vive 
                                      mergulho as mãos em mim 
                                      e tiro os domingos que tive. 

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. http://www.palavrarte.com/poesia_mundo/poepelomun_portugal_contemporanea.htm#poeta1
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