domingo, 7 de março de 2010

ARTE POÉTICA . com Citação de Holderlin - Nuno Júdice

Assunto: ASA DE CONDOR
Data: 3/Mar 15:18
VIVER SÓ, É UMA SABEDORIA E UMA VIRTUDE, DIZEM-ME. AGUÇA A INTELIGÊNCIA, FAVORECE A ANÁLISE CORRECTA DOS FACTOS A NÓS ESTRANHOS, DEIXA-NOS SABOREAR MELHOR A SENSAÇÃO DE LIBERDADE. SEM LAÇOS, SEM AFECTOS, CAMINHAMOS COMO NOS APETECE, SEM QUE TENHAMOS QUE PRESTAR CONTAS A NINGUÉM. NADA NOS É IMPOSTO E OS LIMITES, SE OS QUEREMOS TER, SOMOS NÓS QUE OS DEFINIMOS...TEM GRAÇA...QUEM ME PASSA ESTA FILOSOFIA COM AR SÉRIO, LAMENTA SEMPRE A SUA LIMITAÇÃO...SUA CONDIÇÃO DE PRISIONEIRO DE ALGUÉM...SERÁ QUE NÃO OLHAM PARA MIM? NÃO SE APERCEBEM DESTA NUVEM PERMANENTE SOBRE O MEU SER,DA CARÊNCIA DA MINHA MÃO ABERTA NO VAZIO? DO RETRATO DA SAUDADE QUE MORA NO MEU OLHAR? NESTE PEDIDO MUDO DE QUE ALGUÉM CAMINHE AO MEU LADO?...MAL ESCOLHIDOS DA VIDA...ENTENDEM TUDO AO CONTRÁRIO...E EU...QUE PERDIDA ME SINTO...SEI EXACTAMENTE COMO VIVER DE MÃO DADA COM UM AFECTO...ASA DE CONDOR CORTANDO OS ARES RUMO AO INFINITO AZUL...EM ANEXO UM BEIJO!
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Distribuído por Moranguinho Pereira (hi5)
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ARTE POÉTICA
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com Citação de Holderlin
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O poema lírico
nasceu de uma roseira. Não
digo que fosse a rosa de cima, aquela que todos
olham, primeiro que tudo, pensando
em cortá-la para a levarem consigo. É
a rosa nem branca nem vermelha, a rosa pálida,
vestida com a substância da terra:
a que toma a cor dos olhos de quem a fixa, por
acaso, e ela agarra, como se tivesse
mãos abstractas por dentro das suas folhas.
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Colhi esse poema. Meti-o dentro de água,
como a rosa, para que flutuasse ao longo de um rio
de versos. O seu corpo, nu como o dessa mulher
que amei num sonho obscuro, bebeu a seiva
dos lagos, os veios subterrâneos das humidades
ancestrais, e abriu-se como o ventre da
própria flor. Levou atrás de si os meus olhos,
num barco tão fundo como a sua própria
morte.
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Abracei esse poema. Estendi-o na areia
das margens, tapando a sua nudez com os ramos
de arbustos fluviais. Arranquei os botões
que nasciam dos seus seios, bebendo a sua cor
verde como os charcos coalhados do outono. Pedi-lhe
que me falasse, como se ele só ainda soubesse
as últimas palavras do amor.
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(Metáfora
contínua de um único sentimento).
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NUNO JÚDICE 
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