domingo, 9 de maio de 2010

Hector Abad Faciolince vence Prémio de Literatura Casa da América Latina/Banif 2010

Público - 07.05.2010 - 16:41
“Somos o Esquecimento que Seremos”, do escritor colombiano Hector Abad Faciolince (ed. Quetzal), é o vencedor do Prémio de Literatura Casa da América Latina/Banif, no valor de dez mil euros.
“Somos o Esquecimento que Seremos”, de Hector Abad Faciolince  
“Somos o Esquecimento que Seremos”, de Hector Abad Faciolince (DR)

O júri votou por unanimidade e considerou que esta é “uma obra portadora de uma escrita pessoal que implica, ao mesmo tempo, uma dimensão humana inalienável” e que se apresenta também como “uma narrativa de aprendizagem, plena de memórias e de ressonâncias autobiográficas”.

A obra, na opinião do júri, “reconstitui a atmosfera de uma família colombiana da segunda metade do século XX, contada a partir do ponto de vista do menino, do adolescente e do jovem que o escritor adulto recupera, guiado pela ausência dolorosa do pai assassinado – personagem tutelar de toda a obra.”

Este prémio no valor de dez mil euros tem como objectivo estimular a edição em Portugal de obras literárias (ficção ou poesia) de autores oriundos dos países latino-americanos e nesta edição candidataram-se ao prémio 21 obras de autores argentinos, brasileiros, colombianos, cubanos e mexicanos publicadas por nove editoras portuguesas.

O júri desta edição foi constituído por Maria Fernanda de Abreu (da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), Fernando Pinto do Amaral (da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), José Manuel de Vasconcelos (em representação da Associação Portuguesa de Escritores) e Mário Quartin Graça (em representação da Casa da América Latina). 
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Cadeirão Voltaire


Março 18, 2009...12:31

Héctor Abad Faciolince, Somos o Esquecimento Que Seremos, Quetzal

 
hectorabad
Aplicar ao indomável espaço da memória o filtro da literatura tem sido um gesto recorrente nos últimos séculos literários, com resultados que oscilam entre o monumento verbal e o registo que se perderá ainda mais depressa do que a memória que o originou. Num livro tão comovente como lúcido, Héctor Abad Faciolince reconstrói as memórias do seu pai, um médico que dedicou a vida à luta pela igualdade e pela justiça social e que acabou assassinado às mãos dos paramilitares colombianos. Héctor, o filho, cruza as primeiras recordações que guarda do pai com a formação da sua própria identidade, abrindo o texto com uma longa evocação da infância em Medellín.
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A presença do pai é o vértice por onde o filho organiza a sua própria narrativa, mas onde o sentimentalismo podia ganhar terreno à literatura, a lucidez do narrador impõe-se, mostrando uma personagem venerada, generosa e muito amada, mas nunca uma sombra elogiosa. O pai do narrador é aqui lembrado pelas suas qualidades, mas sobretudo por tudo o que partilhou com o filho.
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A memória, é sabido, é mais construção do que desfile factual e Héctor Abad confirma-o com um texto que lembra o passado, mas que tem o futuro como linha do horizonte: no verso de Borges que dá título ao livro está a certeza de que tudo se esquece, mas também a vontade de o evitar, missão mais nobre entre todas as vaidades humanas.
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Sara Figueiredo Costa
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(texto publicado na Time Out nº76, 11 Mar. 09)
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