sexta-feira, 30 de julho de 2010

Biblioteca-museu preservará acervo de Thiago de Mello

 

 

Cultura

Vermelho - 29 de Julho de 2010 - 16h01

O Ministério da Cultura publicou nesta terça-feira (27), edital de licitação para o projeto de restauração, conservação e readequação do antigo Prédio do Tesouro, em Manaus (AM), para a criação da Casa de Leitura Thiago de Mello. A entrega das propostas para obra será dia 27 de agosto.

O espaço, uma biblioteca-museu, será a primeira biblioteca temática do Brasil. O espaço reunirá 8 mil itens, dentre eles estão acervo literário, documentos, correspondências, recortes icnográficos, obras de artes e acervo de multimídia (CDs e DVDs).

A Casa de Leitura Thiago de Mello terá como ponto de partida os acervos pessoais, iconográfico e bibliográfico do poeta, estruturando-se em torno de três grandes temas centrais de sua obra: O homem (a condição humana); A floresta (meio ambiente) e a América Latina (política, cultura e integração).

A previsão de custos do projeto é de R$ 5,99 milhões, com entrega da obra em 150 dias após a assinatura do contrato com a empresa escolhida. No julgamento das propostas, a Comissão levará em conta o menor preço global, desde que atendidas todas as especificações constantes do edital e seus anexos.

O antigo Prédio do Tesouro, Armazém 15, Trapiche do Armazém 15 e Áreas Externas fazem parte do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Porto de Manaus, tombado pela União em 1987. Os imóveis estão intimamente identificados com a história do surgimento da cidade, na área de ocupação mais antiga do Centro Histórico e também são representativos do Ciclo Áureo da Borracha.

Thiago de Mello

Natural do Estado do Amazonas, Thiago de Mello é um dos poetas mais influentes e respeitados no pais, reconhecido como um ícone da literatura regional. Tem obras traduzidas para mais de trinta idiomas.

Preso durante a ditadura (1964-1985), exilou-se no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador. Um traduziu a obra do outro, e Neruda escreveu ensaios sobre o amigo. No exílio, morou na Argentina, Chile, Portugal, França, Alemanha. Com o fim do regime militar, voltou a sua grande cidade natal, Barreirinha, onde vive até hoje.

Seu poema mais conhecido é Os Estatutos do Homem, onde o poeta chama a atenção do leitor para os valores simples da natureza humana. Seu livro Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida rendeu-lhe, em 1975, ainda durante o regime militar, prêmio concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte e tornou-o conhecido internacionalmente como um intelectual engajado na luta pelos Direitos Humanos.

Com agências
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Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony


Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.


Santiago do Chile, abril de 1964 
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http://www.revista.agulha.nom.br/tmello.html#estat.
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