quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A hora e a vez da Literatura de CordelVerm

Cultura

Vermelho - 10 de Agosto de 2010 - 18h00

“Se um dia nóis se gostasse, se um dia nóis se queresse. Se nóis dois se empareasse. Se juntim nóis dois vivesse. Se juntim nóis dois morasse. Se juntim nóis dois drumisse. Se juntim nóis dois morresse. Se pro céu nóis assubisse. Mas, porém acontecesse de São Pedro não abrisse a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice. E se eu me arriminasse. E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse…”.

Esse é um dos mais famosos textos da literatura de cordel, criado por Zé da Luz. O cordel, tipo de poesia popular, tem aumentado seu reconhecimento em todo o país, tanto que o Ministério da Cultura abriu um edital para contemplar 200 projetos, com investimento total de R$ 3 milhões.

As inscrições para o Edital Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel Edição Patativa do Assaré- foram prorrogadas e podem ser feitas até o dia 14 de agosto. Serão selecionadas 200 iniciativas culturais vinculadas à criação e produção, pesquisa, formação e difusão da Literatura de Cordel e linguagens afins, com premiação total de R$ 3 milhões. São quatro categorias disponíveis e os candidatos podem se inscrever em duas, sendo premiado apenas em uma.

Na primeira categoria, voltada para a Criação e Produção, serão 100 prêmios. Do total, 80 serão destinados a publicações de obra inédita ou reeditada em folheto de cordel, no valor de R$ 7 mil cada. Outros 20 são para produtos artísticos formatados em livro, CD e DVD voltados para a literatura de cordel, xilogravura, repente, cantoria, côco, aboio e embolada no valor de R$ 22 mil cada.

Para a categoria de Pesquisa (dissertações de mestrado, teses de doutorado ou reedição de livros publicados até 30 de maio de 2010) serão contempladas 10 iniciativas, no valor de R$ 25 mil cada. Outros 50 projetos serão contemplados na categoria de Formação, destinada tanto para a qualificação de profissionais como para a formação leitora do público em geral, através do Cordel (cursos, seminários, oficinas, dentre outras atividades sócio-culturais de caráter educativo). Serão 10 prêmios para a manutenção e ampliação de atividades existentes, no valor de R$ 25 mil cada e outros 40 para projetos novos, no valor de R$ 15 mil cada.

Pessoas que ajudam a divulgar o cordel e suas manifestações também poderão concorrer ao prêmio nesta edição, na categoria Difusão, que beneficiará 40 propostas. Os projetos podem ser em formato de evento (festivais, mostras, de shows e espetáculos, feiras, etc.) ou de produto cultural (como jornais, revistas, programas de rádios e sites, entre outros).

Em qualquer um dos formatos, os prêmios serão divididos da seguinte forma: 10 iniciativas existentes (manutenção e ampliação da programação), no valor de R$ 30 mil cada, e 30 novas iniciativas, no valor R$ 20 mil cada.

A literatura de cordel é um tipo de poesia popular, originalmente oral, depois impressa em folhetos rústicos. Normalmente são expostos para venda pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome.

Com raízes de Portugal, que tinha a tradição de pendurar folhetos em barbantes, o hábito desembarcou no Brasil. Por aqui, a literatura de cordel é produção típica do Nordeste, em especial dos estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará.

E costumava ser vendida em mercados e feiras pelos próprios autores. Mas, atualmente, ampliou seu alcance para outras regiões brasileiras, em especial Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. O cordel hoje é vendido em feiras culturais, casas de cultura, livrarias e nas apresentações dos cordelistas.

Os folhetos são escritos em forma rimada e alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, o mesmo estilo de gravura usado nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores.

Patativa do Assaré

O homenageado da edição 2010 do Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel é uma das principais figuras da música nordestina do século 20, Patativa do Assaré. Seu trabalho se destacou pela marcante característica da oralidade, seus poemas eram feitos e guardados apenas na memória, e depois eram recitados. O poder de memória de Patativa impressionava, era capaz de recitar qualquer um de seus poemas, mesmo após os noventa anos de idade.

O Sabiá e o Gavião
(Patativa do Assaré)

” (…) Já eu sou bem deferente.
A coisa mió que eu acho.
É num dia munto quente.
Eu i me sentá debaxo,
de um copado juazêro,
Prá escutá prazentêro,
os passarinho cantá,
Pois aquela poesia
Tem a mesma melodia
Dos anjo celestiá (…)”

Fonte: Gazeta Digital
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