sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tua ausência e um olhar - Taís Jardim

Domingo, Outubro 30, 2005

"Não te quero senão porque te quero
e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo."
(Cem sonetos de amor - LXVI, Pablo Neruda)

"Se for amor, diga que é persistência."
(Paulinho Boysdontcry)



Vazio. Fragmento de uma imagem de Pablo Herrerias.

Tua ausência e um olhar

Foram três anos de um relacionamento morno. Eu sempre soube que não me amavas. Nossa união se deu pelo hábito de já estarmos juntos, acostumados com nossas rotinas e nossas manias, e pela conveniência de não ter mais que buscar o amor. Não me amavas e talvez só por isso eu também não te amava. Não me amavas, e pra me proteger da possibilidade de vir a te amar, nesses três anos eu te fui indiferente.

Não me amavas. Essa foi minha certeza até o dia da tua partida. Porque no dia em que me deixaste, levaste tudo, mas depositaste em mim um olhar de despedida que enfim revelava a verdade que eu nunca adivinhei: me amavas.

No dia em que me deixaste, levaste tudo. Todos os CDs, todos os livros, todos os quadros, todos os móveis. Levaste tudo e eu não fiz qualquer objeção. Um pouco pra te compensar pelo que não soube te dar, mas também porque me agradava a idéia de ter aquela casa vazia de nós.

Vazia de nós. Em vão, esperei tua volta. Sozinha na casa em que de ti só restava a ausência e um olhar de despedida, fiquei também um pouco deserta. Até que o tempo foi passando e tua ausência começou a ocupar os espaços de tudo que levaste. E à medida que ela crescia, também ia me habitando um irresistível desejo de ti. No início, pensava apenas em tuas carícias e em teus beijos. Depois, surgiram as mais diversas fantasias eróticas. Tua mão arando meu corpo, tua barba abrindo sulcos em minha carne, meu sangue e teu suor se misturando pra irrigar tua semente plantada em mim. Mantive a casa vazia porque não queria que nada mais ocupasse esse espaço da tua ausência. Agora que ela é minha única certeza, descobri que também eu te amava.

Descobri que te amo ainda. Sei que a qualquer hora posso sair dessa casa e te procurar. Sei que posso dizer que te amo e te fazer voltar. Mas a verdade é que tenho medo de te ter. Tenho medo que, em te tendo, acabe esse amor, esse desejo que quase não consigo controlar quando me vejo aqui, sozinha com tua ausência, diante do teu eterno olhar de despedida.


Pro Paulo Victor, presente atrasado de aniversário. Pro Evilácio, que eu não pude salvar. É persistência.



Belo texto. Pena que o blog tenha ficado (em) suspenso .... Mas espero que a vida tenha continuado e tenham voltado os dias soalheiros, coloridos, com o riso na alma !
Victor Nogueira, em Portugal, na terra de ninguém !
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.http://www.thaisjardim.blogger.com.br/2005_10_01_archive.html
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Victor Nogueira
Aquela "Máquina do Tempo" me enganou, parecia ter parado faz um tempão. Fiquei contente e comovido por encontrar-te e ao teu sorriso alegre e cativante, ali, naquele cantinho ao cimo, à direita.  
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Se quisesres nos encontramos aqui
http://daliedaqui.blogspot.com/2010/10/tua-ausencia-e-um-olhar-tais-jardim.html
Victor Manuel

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Thaís Jardim disse...
Ah... querido. Muito obrigada! O blog está, realmente, em suspenso. Faculdade e trabalho estão me consumindo. É o ônus de voltar à Academia e tento me conformar com isso. Mas também procuro manter essa fagulha acesa, por esperança. Afinal, um dia a faculdade termina.
beijos.
16 de Outubro de 2010 01:04
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Victor Nogueira
Victor Nogueira
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Grato pela visita. Mas continuas a escrever neste blog e foi nele que encontrei o teu texto de 2005 Smile
Bjo
Victor Manuel e grato por me dares a conhecer o teu d'outrem !

1 comentário:

Thaís Jardim disse...

Ah... querido. Muito obrigada! O blog está, realmente, em suspenso. Faculdade e trabalho estão me consumindo. É o ônus de voltar à Academia e tento me conformar com isso. Mas também procuro manter essa fagulha acesa, por esperança. Afinal, um dia a faculdade termina.
beijos.