quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Romance Académico - Maria Filipa dos Reis

Romance Académico
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Aplica‑se a designação de ‘romance académico’ aquilo a que, em inglês, se tem chamado ‘campus‑novel, 'college‑novel’, ‘academic novel’ ou ‘university novel'. Estes diferentes termos têm englobado, no universo anglo‑americano, um conjunto de obras de ficção que, dentro do género mais abrangente do romance, formam um subgénero literário relativamente recente. Constituem este subgénero obras de ficção em que a acção se prende com a Universidade e o ‘campus’, narradas, numa primeira fase, na perspectiva do estudante, e, numa fase mais moderna, na perspectiva do Professor, ou ‘Scholar’. Na segunda metade do Século XX, os autores destas narrativas são, eles próprios, docentes universitários.
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Nos seus primórdios, nos finais do Século XIX, princípios do Século XX, esta forma de expressão literária contundiu‑se com o romance de formação, ou ‘Bildungsroman’, porque veículava prioritariamente a perspectiva dota estudante universitário/a, aproximando‑se frequentemente da forma de livro de memórias, em que o público principal começava por ser o próprio narrador. A esta fase corresponderam, na Inglaterra do Século XIX, as narrativas de índole quase pastoral em que se idealizava a vida em Oxtord e Cambridge, narrativas que já no Século XX ganharam mais capacidade irónica e crítica em algumas obras de E. M. Forster, Evelyn Waugh e Aldous Huxley, chegando a debruçar‑se sobre os excluídos da ‘torre de marfim’, como em Jude The Obscure, de Thomas Mann.
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Nos Estados Unidos, registou‑se o aparecimento deste tipo de obras desde a publicação de Fanshawe, de Nathaniel Hawthorne, em 1828. Nos finais do Século XIX houve um grupo de romancistas de Harvard a escrever sobre as suas experiências de estudantes universitarios, dos quais nenhum viria a atingir a consagração, como escritor. De facto, os maiores escritores americanos tenderam a manter‑se afastados da temática do mundo académico, e o respectivo subgénero começou por desenvolver‑se a margem da literatura canónica, embora viesse a ser resgatado esporadicarnente, já no Século XX, por autores como F. Scott Fitzgerald que, em This Side Of Paradise (1920), se debruça sobre a evolução do protagonista Amory Blaine na Universidade de Princeton.
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O romance académico da primeira fase se assim se lhe pode chamar não se circunscreveu ao universo anglo‑americano. Na Alemanha, por exemplo, teve o seu protótipo em Wilhelm Meister. Em Portugal foram dadas ao prelo durante a primeira metade do Século XX narrativas sobre a experiência de ser estudante universitário, ou, de modo mais difuso, sobre a cena intelectual gerada pela proximidade da Universidade, algumas delas assinadas por autores que viriam a consagrar‑se na história da literatura portuguesa.
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Assim, logo à viragem para o Século XX, em 1902, Trindade Coelho publicava In Illo Tempore que começa:
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In illo tempore ‑ no tempo em que eu andava em Coimbra, andava lá também a estudar Direito um rapaz chamado Passaro. Passaro, pozemos‑lhe nós, porque além de ser alegre como um Pintasilgo, e vivo como um pardal ‑ usava o cabelo não sei de que modo, que parecia que Ihe punha duas azas atraz das orelhas, e que a cabeça lhe ia voar.1
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“Trindade Coelho, In Illo Tempore, 1.ª edição, 1902, p.9.”     
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O tom é de inteira consonância com o estilo de livro de memórias que também permeou as narrativas sobre a vida universitária em Oxford, Cambridge ou Harvard.
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Persistiu este tipo de obras, com alguma evolução, durante a primeira metade do Século XX como atesta, por exemplo, Jogo Da Cabra Cega, de José Régio, publicado em 1934. Em Jogo Da Cabra Cega, a relação com o ‘campus’ universitário não é explícita, mas as preocupações expressas são de tipo ineludivelmente académico‑intelectual. No Café do Preto reune‑se uma tertúlia de aspirantes à Arte e à Literatura, composta, além do narrador de primeira pessoa, Pedro, por personagens como Celestino, Zé Baía, Luís Afonso, Jaime Franco. É em contraponto com as preocupações intelectuais do “Grupo” que se vai evidenciando, ao longo da obra, a denúncia de um meio de cidade provinciana em que se preserva uma hipócrita moralidade de fachada, permeada de vícios privados. O desfecho e a procura da saúde moral através do abandono das preocupações abstractas e da lassidão nos costumes, pelo retorno à simplicidade do meio rústico.
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Já a acção de Fogo Na Noite Escura, de Fernando Namora, publicado em 1943, decorre em pleno ambiente universitário da Coimbra do tempo, integrando personagens estudantes de Medicina, como Júlio e Mariana, de Direito, e Engenharia, como Zé Maria e Abílio; e outras como Luís Manuel, Dina, Eduarda, portadoras cada uma delas das marcas neo-realistas da sua proveniência sociocultural, mas, quando alunos da Universidade, vivendo, no tempo e espaço da narração, num hiato entre classes, que decorre da condição de estudantes que lhes é comum, e que comporta um nivelamento persistentemente denunciado como falso ou artificial ao longo da narrativa. Estava‑se em 1943, em plena II Grande Guerra, e o romance sobre o ambiente universitário que se escrevia em Portugal, narrado ainda da perspectiva do estudante, não era significativamente diferente das obras da mesma índole que se escreviam em Inglaterra e nos Estados Unidos.
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O panorama viria a modificar‑se radicalmente no pós‑guerra de 39‑45: principalmente a partir do dealbar da década de 50, o romance académico muda de natureza e assume, em Inglaterra e nos Estados Unidos, as proporções e as características que vão contribuir para a sua definição como subgénero. As obras, cujos autores são professores universitários, passam a ser narradas do ponto de vista do Professor, e a veicular um leque mais alargado, e crítico, de perspectivação social. Foi esta mudança de natureza que, curiosamente, o contexto português não acompanhou.
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No mundo anglo‑americano, David Bevan considera os 11 volumes de Strangers And Brothers, de C. P. Snow, a obra de Mary McCarthy, The Groves Of Academe, e a de Kingsley Amis, Lucky Jim, romances seminais de um subgénero que em Inglaterra viria a atingir o seu expoente máximo com David Lodge e Malcolm Bradbury, seguidas, exemplo, por Howard Jakobson. Em contrapartida, no mundo português, procurar traços, sequer, de um esboço de subgénero de romance académico da segunda metade do Século XX torna‑se uma tarefa ingrata. Das mais de 230 obras de poesia e ficção da autoria de docentes universitários que, entre 9 de Maio e 7 de Junho de 1996, integraram a exposição bibliográfica de Poetas e Ficcionistas Universitários do Século XX, que decorreu na Reitoria da Universidade de Lisboa, por ocasião da homenagem prestada pela Universidade a David Mourão‑Ferreira e Urbano Tavares Rodrigues, nenhuma se enquadra na definição de romance académico. E todos os contactos havidos com uma variedade de autores que integraram a Exposição, e com colaboradores das várias universidades portuguesas junto da respectiva comissão organizadora, vieram confirmar as mesmas conclusões: não existe, em Portugal, subgénero do romance académico da segunda metade do Século XX; e, nesta fase moderna, em que a acção passa a ser narrada da perspectiva do professor, existe, neste âmbito, apenas o caso singular de um romance que teve por autor um professor da Faculdade de Agronomia, Luis S. Campos, e foi publicado em 1994 sob o título O Jardim das Plantas. Na segunda metade do Século XX é o único romance académico português.
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Para esta diferença de evolução, há explicações plausíveis, de natureza historico‑cultural. O pós‑guerra de 39‑45 e os meados do Século XX, que marcaram no universo anglo‑americano o amadurecimento do subgénero, decorreram em Portugal sob a égide totalitarista e autocrítica do Estado Novo e do governo de Salazar, acrescendo ainda a este aspecto o facto de a pequenez do meio intelectual do tempo levar a que não houvesse público para estas obras, e também a que a origem de qualquer sátira à Universidade ou a outras instituições pudesse ser quase imediatamente localizada e identificada, com consequências eventualmente gravosas para a vida profissional e pessoal do seu autor. A revolução de 25 de Abril de 1974 veio já encontrar um campus dissolvido, influenciado em extremo pelas divisões políticas do momento, e a entrar na fase pós‑moderna, em que a cultura académica perfaz um processo de fusão com a cultura média, e com outros sectores de transmissão do conhecimento, nomeadamente os mass media.
À viragem para a segunda metade do Século XX a cultura académica portuguesa tinha adoptado um estilo retórico e pomposo e um respeito pela divisão de classes e pela autoridade que colocou sob tabu as instituições, não permitindo que a partir da Universidade surgissem perspectivações livres, alargadas e críticas da própria Universidade e de outros sectores da sociedade portuguesa do tempo. Acresce que existem diferenças culturais, que transparecem num uso mais violento da linguagem, que uma análise conceptual e estilística revelaria ‑ diferenças essas que, em comparação com o tom do romance académico inglês e americano, tornariam um possível e, talvez, em parte, também por isso mesmo, inexistente subgénero de romance académico em Portugal, muito mais acintoso, ou acintoso muito para além do que seria aceitável.
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Em contrapartida, no mesmo período, a Universidade inglesa ou americana pouco já tem a ver com a atmosfera monástica, limitativa em termos de capacidade de perspectivação social, que acompanhou os modelos universitários mais antigos de Oxford e Cambridge, até que o Test Act de 1871 os viesse libertar da sua situação de monopólio da Igreja. De então para os nossos dias, pela força de muitos factores de natureza social e económica, a Universidade, tanto no caso inglês como no caso americano, tem‑se tornado cada vez menos torre de marfim, e cada vez mais lugar de experimentação cultural diversificada, pois se tem desenvolvido no sentido da inclusão de grupos cada vez maiores e mais heterogéneos.
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O percurso neste sentido, que nas universidades inglesas mais antigas, votadas tradicionalmente ao estudo das Humanidades, começou pela inclusão nos curricula de disciplinas mais práticas, visando a formação de filhos de famílias, já não necessariamente aristocráticas, nas arcas das Ciências e da Engenharia, viria a culminar no Butler Education Act de 1944, pelo qual se generalizou a facilidade de acesso da população ao ensino universitário, de que a proliferação das chamadas Red Brick Universities é testemunho.
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Também no caso americano a II Guerra Mundial foi o catalizador principal e definitivo desta viragem: a G. I. Bill, destinada a encorajar o acesso ao ensino universitário por parte dos veteranos de guerra, frequentemente oriundos de classes mais desfavorecidas, que até ai se tinham mantido afastadas das Universidades, foi o primeiro factor importante a instilar dentro da própria instituição universitária uma diferença, não pontual, mas generalizada, com que esta teve de viver, e que a obrigou a modificar os seus padrões de valor e a sua concepção de si mesma. Aqui se terá iniciado o percurso da ruptura com o cânone curricular, e do frequentemente chamado lowering of standards, que tanta polémica tem dado, de então até ao presente.
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A extraordinária expansão do sector público do ensino universitário nos anos 40 veio a encontrar sequência em leis como o Economic Opportunity Act, de 1964, e o Higher Educafion Act, de 1965, pelos quais jovens de classes desfavorecidas ganharam, através de empréstimos governamentais e de bolsas de estudo, a possibilidade de ingressarem no ensino uníversitário. Nos Estados Unidos, pelo menos desde a passagem da G. I. Bill que se pode argumentar que a Universidade se tornou num cadinho de experimentação social, em que a convivência entre as várias diferenças (de classe, género, raça) se efectua num estádio mais avançado, digamos, pioneiro, em relação àquele que é o estádio do resto da sociedade em geral.
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Possivelmente pela influência que os Estados Unidos têm nos modelos ocidentais, muito embora persistam sectores que defendem uma postura conservadora, o mito vigente na evolução da Universidade inglesa e americana na segunda metade do Século XX é o que subjaz à democratização do acesso, ao alargamento do círculo de pertença desta instituição, não só a ambos os géneros, mas, idealmente, também a todas as classes sociais e raças. O discurso que prevalece na Universidade do presente, sobretudo depois dos anos 60, é o da plena aceitação, ou mesmo, o da hipervalorização de todas as diferenças, atitude que se reflecte em alterações mais ou menos profundas dos conteúdos curriculares, que tendem a tornar‑se mais flexíveis, e menos canónicos. Dá‑se nova importância à literatura de origem étnica, proliferam os Women Studies, o estudo exclusivo da literatura vai cedendo lugar, nos Estados Unidos, aos American Studies, com menor ortodoxia metodológica; em Inglaterra, aos Cultural Studies, iniciados na Universidade de Birmingham, no Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS), que hoje constitui um Departamento de Estudos Culturais.
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O romance académico inglês e americano da fase moderna, ou seja, da segunda metade do Século XX, nasce, assim, de um confronto de atitudes: por um lado, a que subjaz a este novo mito de uma universidade democratizada, que neo só acolhe de braços abertos todos os grupos sociais, como se auto‑modifica para se ajustar às suas diferentes expectativas e necessidades; por outro lado, a atitude que, por tradição, tem regido o conceito da Universidade como Torre de Marfim (hoje em permanente ameaça de derrocada): a Universidade como mundo àparte, livre de condicionalismos de ordem pragmática, regida por leis que lhe são próprias, depositária do saber clássico e canónico, e para sempre votada, de modo idealista, à procura e transmissão desinteressada do conhecimento.
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As marcas deste confronto permeiam o romance académico inglês e americano da segunda metade do Século XX, o que se torna patente até ao nível da caracterização dos narradores e protagonistas, que, por um lado, pela sua situação de professores universitários, estão integrados no establishment, por outro, nesse establishment, costumem pertencer à geração mais jovem, e assumem, tradicionalmente, dentro do subgénero; uma postura de contestação. Mencione‑se, como exemplo, que repassa para a caracterização do herói de Lucky Jim (1954) a qualidade de ‘Angry Young Man’ do seu autor. E, com as necessárias modificações, repete‑se, ao longo dos anos, esta postura de dissidência. James Walker, personagem de Malcohm Bradbury, é um dissidente em relação a valores fundamentais na sociedade, como o dever do trabalho produtivo e remunerado, e da responsabilidade pela família própria; Philip Swallow, personagem de David Lodge, torna‑se também um dissidente em contacto com o modus vivendi americano.
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Da caracterização do subgénero, no que respeita ao narrador ou protagonista académico típico fazem também parte, concorrendo para esta postura de dissidência, elementos como:
  • a precaridade da situação económica do Professor ou Scholar; as referências à necessidade de lazer e de liberdade para criar e os protestos sobre as limitações de vária ordem que, na prática, se põem à liberdade académica;
  • críticas, às vezes profundas, à Universidade e ao sistema de educação, que são, de facto, críticas aos valores que regem a sociedade;
  • acusações mordazes de imoralidade ou desonestidade dentro da profissão, que, no fundo, apontam para a existência de um mito, subjacente à figura idealizada do Professor ou Scholar, que comporta a necessidade implícita de perfeição, ou mesmo de sacralidade.
E ainda elementos como:
  • a tendência para episódios de experimentalismo na escrita, e de narcisismo autoral, mesmo quando as narrativas se constroem, basicamente, pelo modelo realista de contar ‑ elemento a que não será alheia a condição de professores e críticas de literatura da maior parte dos autores, dentro deste subgénero;
  • o tema recorrente da ‘viagem’, da itinerância, ligada à imagem do académico, com o reconhecimento da aprendizagem através dos choques culturais que essa itinerância envolve [Ex., ver Stepping Westward (1965) e Rates of Exchange (1983), de Malcolm Bradbury; Changing Places (1975) e Small World (1984), de David Lodge; Redback (1986), de Howard Jacobson; The Visiting Professor (1993), de Robert Littell];
  • o desconforto causado pela diferença de estatuto entre ciências humanas e ciências
  • exactas e tecnológicas, que se tem alterado ao longo dos tempos; e, concomitante a este, o desconforto subjacente causado pela falta de utilidade prática imediata do saber académico, numa sociedade cujos critérios de atribuição de valor são essencialmente pragmáticos. Este aspecto está, possivelmente, na origem de a conquista sexual ou a solução de mistérios policiais serem tão frequentemente centrais a estas narrativas. constituindo‑se como vias pelas quais se atribui algum resultado visível ao saber e à actividade do académico, cuja relevância em termos práticos se costuma afigurar remota ou mesmo discutível aos olhos do cidadão comum [Ex., ver, da série de “mistérios” da protagonista Kate Fansler, Death In A Tenured Posifion (1981), de Amanda Cross; e também a série de 61 romances de John Rhodes, que, entre 1925 e 1955 consagraram como figura de detective a sua personagem Professor Lancelot Priestley].
E ainda:
  • o confronto entre o saber académico e outros saberes, como seja, em anos mais recentes; o saber dos mass media. Note‑se que este confronto é glosado em Dr Criminale (1992), de Malcolm Bradbury, em que o narrador é um jornalista à procura de um académico sempre em movimento e quase sem existência corpórea; e em Therapy (1995), de David Lodge, em que o narrador académico cedeu o lugar a um protagonista que já não é professor universitário, mas argumentista para a televisão. São obras que, no percurso dos autores mais conceituados dentro deste subgénero, marcam o fim do romance académico propriamente dito, pela sua “re‑fusão” no género mais abrangente do romance efectuando um percurso paralelo ao percurso da Universidade, que tende a deixar ruir as muralhas da sua torre de marfim para ir ao encontro dos critérios de atribuição de valor da sociedade em geral.
No caso anglo‑americano, o romance académico reflecte, assim, tensões e tendências presentes na Universidade e na sociedade que a rodeia, podendo ser abordado, não só do ponto de vista dos estudos literários, mas também como documento para análise cultural.
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BIB.: Não existem estudos extensivos que tratem a evolução do subgénero do romance académico dos anos 60 em diante. De facto, à excepção de um volume que, mais do que um estudo propriamente dito, é uma bibliografia anotada (John E. Kramer, The American College Novel: An Annotated Bibliography, New York, Garland, 1981) os únicos dois estudos de fôlego sobre este tema terminam nos anos 60 ou ainda antes: The English University Novel, de Mortimer Proctor (Berkeley, University of California Press, 1957), inicia‑se em Smollett e Fielding, e fecha com a referência ao romance de Kingsley Amis, Lucky Jim (1954); e The College Novel In America, de Johm O. Lyons (Carbondale, Southern lllinois Univ. Press, 1962), cobre a evolução do romance académico nos Estados Unidos, desde Fanshowe (1828), de Hawthorne, até A New Lide (1961), de Bernard Malamud. Os estudos sobre romance académico publicados posteriormente, ou são orientados para o tratamento de uma problemática específica, como é o caso de The University In  Modern Fiction: When Power Is Academic, de Janice Rossen (s. 1., St. Martin’s Press, 1993), que se centra sobre o tema do poder na Universidade, ou são esparsos e fragmentários, encontrando‑se na forma de artigos vindos a lume em publicações periódicas, ou em volumes de ensaios coligidos por um editor interessado, como é o caso do valioso livro sobre este tema editado por David Bevan, University Fiction (Amsterdam, Atlanta, Rodopi, 1990). id., University Fiction (Introdução), Amsterdam, Atlan:ta, Rodopi 1990. Malcolm Bradbury, “If Your Boocks Are Funny Please Tell Me Where”, in Times Book Review, Nova Iorque 17/7/1988; Jo Allen Bradham, “The American Scholar: From Emerson To Alexander Theroux’s Darconvillet’s Cat”, in Critique: Studies In Contemporary Fiction, V. 24 (4), Verão de 1983, pp 215‑227; Anthony Burgess, “The Academic Critic And The Living Writer”, in TLS, VoL 4363, p. 1275; John E.Kramer, The American College Novel: An Annotated Bibliography, NewYork, 1981; John E. Kramer Jr. e John E. Kramer, College Mystery Novels: An Annotated Bibliography Including A Guide To Professional Series Character Sleuths, New York e London, Garland, 1983; David Lodge, “Robertson Davies And The Campus Novel”, in David Lodge, Write On:‑ Occasional Essays ‘65‑‑‘85, London, Secker & Warburg, 1986; John O. Lyons, The College Novel In America, Carbondale, Soutbem lllinois Univ. Press, 1962; Gyde Christine Martin,”The New University Novel: A Mirror Not Just Of Academe”, in Gyde Christine Martin et aL, Conference Of College Teachers Of English Studies: 1988 September, s.L, s.d., Vol 59, pp 52‑59; Mortimer Proctor, The English University Novel, Berkeley,Univ. of California Press, 1957; Will Rocket, “Tension At The Verberant Core: Academic Subcultures And Their Effects In British And American College Detective Fiction”, in Clues: A Journal Of Detection, V. 12 (2), Outono‑lnvemo de 1991, pp 91‑113; John Wilkinson, “Conventions And Comedies Of Manners And British Novels About Academic Life”, in K Bege e Barbara Brothers (eds), Reading And Writing Women’s Lives: A Study Of The Novel Of Manners, Ann Harbor, Univ. Microfilms International Research P., 1990.
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Maria Filipa dos Reis
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http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/R/romance_academico.htm
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Os verbetes cujo redactor não se assinala na lista por letras são da autoria de Carlos Ceia. Os verbetes a cor-de-laranja ainda não foram redigidos.
Se desejar citar um artigo deste e-dicionário, a citação deve obedecer ao seguinte formato:
Nome do Autor do verbete, s.v. "Verbete", E-Dicionário de Termos Literários, coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-0088-9, (data da consulta).
 
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Última actualização: 29-08-2009

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