quarta-feira, 30 de junho de 2010

Discurso na Academia Sueca (ao receber o Prêmio Nobel de Literatura) José Saramago


Discurso na Academia Sueca
(ao receber o Prêmio Nobel de Literatura)
José Saramago

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O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. As quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo.

Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animaizinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom caráter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável.

Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que acionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira". Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para toda as pessoas da casa, a figueira.

Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava... No meio da paz noturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia. Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: "E depois?". Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas.

Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tigela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranqüilizava: "Não faças caso, em sonhos não há firmeza".

Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quando o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não poderia significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: "O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer". Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolação da beleza revelada. Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprios filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver. 
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http://www.brunocattoni.com/saramago.asp
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terça-feira, 29 de junho de 2010

José Saramago - Discurso do Nobel Português

No dia em que José Saramago recebeu o Prémio Nobel, assinalavam-se também os 50 anos da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O discurso de Saramago foi, por isso também, uma chamada de atenção para a efeméride e para o pouco que se tem feito nesse capítulo.

José Saramago
Foto Diário de Notícias

Este é o texto integral do discurso lido por José Saramago:

"Cumpriram-se hoje exactamente 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não têm faltado comemorações à efeméride. Sabendo-se, porém, como a atenção se cansa quando as circunstâncias lhe pedem que se ocupe de assuntos sérios, não é arriscado prever que o interesse público por esta questão comece a diminuir já a partir de amanhã. Nada tenho contra esses actos comemorativos, eu próprio contribuí para eles, modestamente, com algumas palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o desaconselha, permita-se-me que diga aqui umas quantas mais.

Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.

Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efectivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.

Não esqueci os agradecimentos. Em Frankfurt, no dia 8 de Outubro, as primeiras palavras que pronunciei foram para agradecer à Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel da Literatura. Agradeci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus leitores. A todos torno a agradecer. E agora também aos escritores portugueses e de língua portuguesa, aos do passado e aos de hoje: é por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais um que a eles se veio juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto, mas isto foi-me dado. Bem hajam portanto."


http://www.portugal-linha.pt/literatura/saramago/discurso.html
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segunda-feira, 28 de junho de 2010

José Saramago

Aos 87 anos, em Lanzarote

Morreu José Saramago: 

“Desaparece um enorme escritor universal”

Saramago no lançamento de "A viagem do elefante", em 
2008, no Brasil  
Saramago no lançamento de "A viagem do elefante", em 2008, no Brasil (Mauricio Lima/AFP)

18.06.2010 - 13:03 Por Luís Miguel Queirós, Mário Lopes
O escritor português e Prémio Nobel da Literatura em 1998 José Saramago morreu hoje aos 87 anos em Lanzarote.



O autor português encontrava-se doente em estado "estacionário", mas a situação agravou-se, explicou ao PÚBLICO o seu editor, Zeferino Coelho. O corpo do escritor será cremado e as cinzas ficarão em Portugal, como indicou ao PÚBLICO o administrador da Fundação José Saramago.

A Fundação José Saramago confirmou em comunicado que o escritor morreu às 12h30 na sua residência de Lanzarote "em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila".

“Desaparece um enorme escritor universal”

A notícia da morte de José Saramago apanhou Eduardo Lorenço e Carlos Reis em Cáceres, Espanha, onde se tinham deslocado para uma reunião do júri que atribuiu o prémio de criação da Junta de Estremadura a Eugenio Trías. “A notícia da morte chega nos momentos e nos lugares mais estranhos, mesmo que ela seja uma morte não propriamente anunciada, mas já esperada”, diz o ensaísta Carlos Reis, que conta que estava “à porta de um hotel, em Cáceres”, comentando com Lourenço “o frágil estado de saúde de José Saramago”, quando “de repente, uma chamada telefónica (malditos telemóveis!)” lhe trouxe a notícia da morte do Nobel da Literatura.

“Com José Saramago”, diz Carlos Reis, desaparece não apenas um grande escritor português, mas sobretudo um enorme escritor universal”. No entanto, acrescenta, “fica connosco um universo: esse que Saramago criou, feito de uma visão subversiva da História e dos seus protagonistas, dos mitos estabelecidos e das imagens estereotipadas”.

Ainda que a sua obra “tenha a dimensão plurifacetada e sempre em renovação que é própria dos grandes escritores”, Carlos Reis arrisca “evocar, neste momento de comovida homenagem, alguns dos seus componentes mais fortes e expressivos”. Lembra que “o romancista que em 1980 publicava ‘Levantado do Chão’ – uma espécie de romance de iniciação que confirmava a aprendizagem representada em Manual de Pintura e Caligrafia – pagava uma espécie de tributo literário ao extinto neo-realismo, com o qual mantinha fortes laços de solidariedade ideológica e política”. Mas acrescenta que “logo depois, e na sequência do admirável ‘Memorial do Convento’, Saramago escreve e publica, entre outros ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’ (1984), ‘A Jangada de Pedra’ (1986) e ‘História do Cerco de Lisboa’ (1989)”. Isto, diz Carlos Reis, “significa que ‘Memorial do Convento’ não era um caso isolado, no que à inscrição da História na ficção diz respeito, e significa também que a tematização da História desencadeava inevitavelmente um jogo de variações e de modulações temáticas”.

Entre “os grandes temas que a ficção saramaguiana nos legou”, Reis assinala “a reflexão sobre Portugal e o seu destino (mau destino, para Saramago) de integração europeia, a problematização de mitos portugueses (o de Fernando Pessoa, por exemplo) em articulação com um tempo histórico tão bem identificado como o dos inícios do salazarismo, a revisão crítica e provocatória do Cristianismo, ou a reflexão em clave ficcional sobre as origens históricas e políticas de Portugal, de novo em incipiente “diálogo” com a Europa”.

Após os anos 80, “a mais fecunda década da escrita literária de Saramago, abre-se”, diz Reis, “um tempo de tematização de sentidos, de valores e de temas com um alcance universal”. E “é então, sobretudo, que o registo da alegoria entra decididamente na escrita literária de Saramago; e é por isso que romances como ‘Ensaio sobre a Cegueira’ ou ‘Todos os Nomes’ são e serão lidos como grandes romances da literatura universal”, afirma o ensaísta e professor universitário.

“Diz-se que José Saramago era um escritor polémico. É verdade. São polémicos os escritores que, com desassombro e com arrojada visão do futuro, interpelam os homens e os poderes do seu tempo”, diz ainda Reis, para concluir: “E é justamente quando o fazem, em conjugação com o impulso inovador que às suas obras incutem, que dizemos deles que são grandes escritores”. E Carlos Reis, que acabou há dias de escrever um prefácio para uma edição especial de “O Memorial do Convento”, ilustrada por João Abel Manta – o livro deverá ser lançado em Setembro pela editora Modo de Ler, não hesita em afirmar que “Saramago foi e será um grande escritor”.

O último crente

Para Eduardo Lourenço, Saramago foi, na sua história pessoal e de escritor, “o que de mais próximo tivemos da Gata Borralheira, uma gata borralheira rústica, que nasceu num berço pobre e chegou àquele trono de Estocolmo”. O prémio Nobel, diz, “foi importante para ele, mais foi-o também para o país, por ter sido o primeiro Nobel da Literatura português e porque as probabilidades de que venhamos a ter outro não são muitas”. No futuro, prevê, “a geração dele, que é também a minha, será a geração do Nobel”.
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Recordando que o escritor não tinha muito apreço “pelo patético” e que “não gostaria de grandes efusões a título póstumo”, Lourenço considera que o que o romancista trouxe para a literatura foi uma “visão do mundo segundo José Saramago, uma espécie de evangelho segundo Saramago”.

Algo que o ensaísta define como “um diálogo profundo, ambíguo, extraordinário, entre a visão evangélica propriamente dita, na qual foi criado, e uma transformação dessa mensagem, da qual Saramago acreditava ter conservado a essência”. Embora a sua obra “parecesse uma coisa blasfema, ele foi de certo modo o último crente numa civilização que já não crê em nada”. É esse, diz, “o paradoxo da sua vida”.

Saramago, afirma, “imaginou uma arquitectura romanesca que é uma espécie de inversão de signo da tradição mais canónica das nossas letras, construiu um mundo ao revés, que era, para ele, o mundo às direitas, reviu a história de Portugal e da Península – a história dos árabes que poderíamos ter sido –, e reviu a história da modernidade numa espécie de apocalipse”.

Para Lourenço, a obra de Saramago “é incompreensível” se não se tiver em conta “a exposição” do autor”, enquanto “jovem autodidacta”, à Bíblia, que o escritor depois “transformou numa epopeia fantástica”.

Sublinhando que Sramago “não foi um neo-realista canónico”, Lourenço nota que a sua obra “acabou por dar ao neo-realismo uma espécie de glória fantástica”. O ensaísta lembra ainda que o escritor “partilhou a utopia” dos neo-realistas e que viveu o suficiente para “ver o seu fim, em termos históricos”. Mas assinala que este “não se resignou” e que o novo mundo, “embora triunfante, não o convenceu”. Daí que, argumenta, “lhe tenha oposto, numa espécie de vingança, um mundo às avessas”.
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A título pessoal, Lourenço diz que, “um pouco paradoxalmente”, gosta em particular de “Todos os Nomes”, um “livro triste”, que considera “um dos grandes romances de amor da literatura portuguesa”.

Uma vida literária

Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, na Golegã, a 16 de Novembro de 1922, e apesar da mudança com a família para Lisboa, com apenas dois anos, o local de nascimento seria uma marca constante ao longo da sua vida, como referiria na Academia Sueca em 1998, aos 76 anos, quando da sua distinção com o Nobel da Literatura. A austeridade material da sua infância, contraposta a uma riqueza humana que o marcaria indelevelmente, seria um dos pontos fulcrais do discurso, onde destacou longamente a avó Josefa e o avô Jerónimo, "capaz de pôr o universo em movimento com apenas duas palavras." Na biografia "José Saramago", editada em Janeiro deste ano, o autor João Marques Lopes escreve que "sobre todos [os familiares mais próximos], Saramago deixaria algo escrito."

Estudante no Liceu Gil Vicente, que é obrigado a abandonar por dificuldades económicas, matriculando-se na Escola Industrial Afonso Domingues, termina em 1939 os estudos de Serralharia Mecânica. Como primeiro emprego, trabalha nas oficinas do Hospital Civil de Lisboa. A paixão pela literatura é alimentada de forma autodidacta, nas noites passadas na Biblioteca do Palácio das Galveias. Nos anos seguintes, transitará para os serviços administrativos do Hospital Civil, antes de se ligar profissionalmente à Caixa de Abono de Família do Pessoal da Indústria da Cerâmica.

Em 1944, casa com a gravadora e pintora Ilda Reis. A filha única do casal, Violante Saramago Matos, nasceria em 1947, o mesmo em que publica a sua primeira obra, “Terras do Pecado”. O título original, “Viúva”, foi alterado por imposição do editor da Minerva. Saramago desvaloriza o livro, que nunca incluiu na sua bibliografia. Uma das razões apontadas pelo seu autor para a exclusão foi, precisamente, a alteração forçada do título. “Clarabóia”, que seria o sucessor de “Terras do Pecado”, foi recusado pelo seu editor e permanece inédito até hoje.

A partir de 1955, Saramago começa a desenvolver trabalho de tradutor, dedicando-se a nomes como Hegel ou Tolstoi. O regresso à edição dar-se-ia mais de uma década depois. Em 1966, altura em que ocupava o cargo de editor literário na Editorial Estúdio Cor, lança o livro de poesia “Poemas Possíveis”. Então um autor discreto no panorama literário nacional, continuaria a exprimir-se em poema nas obras seguintes, “Provavelmente Alegria” (1970) e “O Ano de 1993” (1975).

Crítico literário na “Seara Nova” a partir de 1968, torna-se no ano seguinte membro do Partido Comunista Português, do qual será, até à morte, um dos mais distintos militantes. A partir do final de década de 1960 desenvolve trabalho intenso na imprensa, principalmente enquanto cronista, no "Diário de Notícias" ou "Diário de Lisboa", n’"A Capital", no "Jornal do Fundão" ou na revista "Arquitectura".

Em 1975, em pleno PREC, torna-se director-adjunto do "Diário de Notícias". Esta função representaria o auge do seu percurso jornalístico e, paradoxalmente, seria fundamental para o seu regresso à literatura e ao romance, o género em que se notabilizaria definitivamente. A sua direcção-adjunta seria marcada pelo polémico saneamento de jornalistas que se opunham à linha ideológica do jornal. Demitido no 25 de Novembro, acusado de aproveitar a sua posição para impor no diário os desejos políticos do PCP, toma uma decisão que transformaria a sua vida. Não mais se empregaria. A partir de então, seria um escritor a tempo inteiro.

“Manual de Pintura e Caligrafia”, três décadas depois de “Terras do Pecado”, foi a primeira obra de José Saramago após se dedicar em exclusivo à escrita. Com os livros seguintes, “Levantado do Chão” (1980), “Memorial do Convento” (1982) e "O Ano da Morte de Ricardo Reis", torna-se escritor respeitado pela crítica e conhecido pelo público. É neles que define o seu estilo enquanto romancista, marcado pelas longas frases, pela ausência de travessões indicativos de discurso e pela utilização inventiva da pontuação. Nos seus livros, personagens fictícias surgem em convívio com personalidades históricas, como no supracitado “Memorial do Convento” ou em “História do Cerco de Lisboa” (1989), e são criados cenários irreais para questionar e problematizar a actualidade, como em “A Jangada de Pedra” – em que a Península Ibérica se separa do continente europeu, errando pelo Atlântico.

Quando, em 1991, lançou para as livrarias o seu Cristo humanizado de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, Saramago esperaria certamente a contestação dos sectores católicos da sociedade portuguesa. Não esperaria o aconteceu para além disso. O veto oficial do romance ao Prémio Literário Europeu, pela voz do então Sub-secretário de Estado da Cultura Sousa Lara, do governo liderado por Cavaco Silva, precipitou a sua saída de Portugal. Em 1993, auto-exilou-se na ilha de Lanzarote, nas Canárias, com Pilar del Rio, a jornalista espanhola com quem casara em 1988.

As primeiras obras em Lanzarote seriam “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995), ficção apocalíptica que o realizador Fernando Meirelles adaptaria ao cinema treze anos depois, e “Todos os Nomes” (1997). Um ano depois, seria alvo da maior distinção da sua carreira. A 9 de Outubro de 1998, José Saramago foi anunciado vencedor do Prémio Nobel da Literatura, o primeiro atribuído a um escritor português. Seria o impulso decisivo para a sua ascensão a figura literária global e o premiar de uma obra que se dedicou a explorar e questionar a natureza humana de diversos ângulos e em diversos cenários. Em 2002, em entrevista ao diário britânico Guardian, confessava, "provavelmente sou um ensaísta que, como não sabe escrever ensaios, escreve romances." Não só, para além dos romances e da poesia, deixa obra enquanto dramaturgo, assinando as peças teatrais "Que Farei Com Este Livro" ou "In Nomine Dei".

Saramago, que o influente crítico literário norte-americano Harold Bloom considerava o mais talentoso romancista vivo, manteria nos anos seguintes uma cadência editorial regular. “A Caverna” (2000), “O Homem Duplicado” (2002), “As Intermitências da Morte” (2005) e “A Viagem do Elefante” (2008) foram lançados enquanto o escritor se assumia também enquanto voz interventiva, muitas vezes polémica, no espaço mediático mundial. Converteu-se inclusivamente à blogosfera em 2008, aos 86 anos (blog.josesaramago.org), de onde lançou por exemplo repetidos ataques a Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano que classificou de "vírus". Nada de novo num homem que apreciava a discussão, que erguia alto a voz na defesa das suas ideias. Anos antes do episódio Berlusconi, denunciara aquela que considerava ser a política criminosa do Estado Israelita relativamente à Palestina, acusando Israel de “não ter aprendido nada com o Holocausto”, classificara a globalização como “o novo totalitarismo” e surpreendera os camaradas de partido ao não alinhar no apoio aos dirigentes cubanos que condenaram à morte três responsáveis pelo desvio de um "ferry". Em Portugal, o iberista convicto polemizou ao declarar que Portugal e Espanha estariam destinados a fundir-se num único país.

“Caim” (2009), o seu último romance, acompanhado das declarações feitas aquando do seu lançamento, em que classificou a Bíblia como “um manual de maus costumes”, foi a derradeira polémica (e provocação) de Saramago.

Notícia actualizada às 18h34
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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Poemas de Múcio Lima de Góes, poeta brasileiro e d'outros



 

pirando-me
 


é,
este
poema
não nasceu
para ser escrito
este poema nasceu
para ser como um grito
poema fadado ao infinito
a própria pirâmide do egito

finesse


dona
de uma fineza
absoluta:

na sala, Sartre,
na cama, Sutra.

poemar


quando amar
não tem siso
n
a
u
f
r
a
g
a
r

é preciso

esqueça caetano


venha
me livrar
dessa vidinha à toa,

enquanto
eu fernando,
você outra pessoa:

rapte-me da cama,
leoa!

almanaque


do
bom entendedor
diz-se
que captou
o espírito da coisa.

faz
bem melhor,
eu acredito,
aquele que capta
a coisa


do espírito.


sinfonia para silêncio em sol menor
e assim

quando você
me perceber extinto

não me pergunte
como foi
nem como vou

trago na boca
esse buquê
de vinho tinto

passei
como um vento
que passou


de passagem

viver
sempre foi
esse sufoco.

dizem
que Rimbaud
morreu louco,

Dolores Duran
durou muito
pouco,

James Dean
também
foi algo assim,

de Doris Day
é pouco
o que eu sei,

mas sei
que todos
ultra-passaram o “fim”,

Jimmy, Che,
Joplin, Jobim,
Caymmi, Caim,

e me pergunto,
o que será
de mim?
 







De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
Vinicius de Moraes

OLavo BIlac
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"

E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

 







As nações todas são mysterios.
Cada uma é todo o mundo a sós.


Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
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Enviado por Madalena Mendes
qua 16-06-2010 23:08
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Alfredo Keil - Murmures Op. 9 No. 2 seguido dum poema de Mahatma Gandhi


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edwardgp 18 de Novembro de 2008 — piano: Gabriela Canavilhas Disco da PORTUGALSOM http://www.numerica-multime...
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À DESCOBERTA DO AMOR

Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive á sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.

Mahatma Gandhi
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Carmen diz:
18/Mai/2010 0:15
Uma boa semana, amigo Victor!

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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Nicolo Paganini - Sonata for Gran Viola and Guitar e Poesia - La Meta - Susana March


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BytomGirl 18 de Maio de 2009 — Paganini - a great Italian violinist and composer.
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La Meta - Susana March

He cambiado todas mis rosas
por un lugar cerca del fuego.

Por el sosiego de mi alma,
la negra seda de mi pelo.

He vendido todas mis esperanzas
por un puñado de recuerdos.

Mi corazón, por un reloj
que sólo cuenta el tiempo muerto.

Mi última moneda de oro
se la di de limosna al viento.

Ahora ya no me queda nada.
Desnuda estoy como el desierto.

Un oasis de mansedumbre
está brotándome en el pecho.

Photobucket

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| Carmen diz:
13/Mai/2010 23:18
UMA NOITE FELIZ, AMIGO VICTOR! BEIJINHOS :))
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Se me va de los dedos la caricia sin causa - Alfonsina Storni

Assunto: RE: Uma boa semanada ...
Data: 16/Jun 22:26 - Lia
Beijos, querido amigo :)

Se me va de los dedos la caricia sin causa,
se me va de los dedos... En el viento, al pasar,
la caricia que vaga sin destino ni objeto,
la caricia perdida ¿quién la recogerá?

Pude amar esta noche con piedad infinita,
pude amar al primero que acertara a llegar.
Nadie llega. Están solos los floridos senderos.
La caricia perdida, rodará... rodará...

Si en los ojos te besan esta noche, viajero,
si estremece las ramas un dulce suspirar,
si te oprime los dedos una mano pequeña
que te toma y te deja, que te logra y se va.

Si no ves esa mano, ni esa boca que besa,
si es el aire quien teje la ilusión de besar,
oh, viajero, que tienes como el cielo los ojos,
en el viento fundida, ¿me reconocerás?


Poemas de Alfonsina Storni

O Kant_O_XimPi fez 4 anos em 14 de Junho

 

 

DOIS MOMENTOS, DOIS RETRATOS

DOIS MOMENTOS, DOIS RETRATOS

1 . - Uma "manife" em Évora, num verão quente, nos idos de 1974

Ontem, no comício do PC, ali no Rossio de S.Brás, o Álvaro Cunhal falou na independência dos povos das colónias. (...) Ainda antes do Álvaro Cunhal falar o palco foi abaixo por duas vezes. Uma multidão imensa concentrava se em redor do palco, junto ao Monte Alentejano, agitando se inúmeras bandeiras vermelhas do PC. Em uníssono, a multidão repetia as palavras de ordem, de punho erguido.
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Detecto, junto a mim, um grupo que vai comentando ao sabor das intervenções. Quando se falam nas torturas sofridas pelo Cunhal e outro comunista, uma mulher ao meu lado diz me: "Coitadinho! Bandidos!" E a multidão grita: "Morte à PIDE!". Dois delegados dos Sindicatos Agrícolas (Évora e Beja) enumeram as quebras dos contratos colectivos de trabalho e o nome dos latifundiários. A multidão grita: "Morte aos cães!" "A terra a quem a trabalha!".
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Ao meu lado, algumas mulheres dizem: "É assim mesmo!" e "Essa sou eu!", quando se fala em ranchos despedidos. O Álvaro Cunhal cita as lutas revolucionárias dos trabalhadores alentejanos e a "palha" que os latifundiários teriam mandado dar aos trabalhadores que imploravam comida. E a revolta; que enquanto houvesse ovelhas, galinhas e porcos não comiam palha os trabalhadores!
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O Partido faz a sua campanha e no palco estão pessoas que já conheço de há muito. Por detrás delas, enormes, em fundo vermelho, as efígies de Marx, Engels e Lenine. A brancura de Évora é agora quebrada por cartazes do PC. Marx, Engels e Lenine enchem as ruas, conjuntamente com cartazes com a foice e o martelo. (1974.07.28)
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2. - Passa Camarada
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Na Voz do Operário ao chegar à porta para o pátio olhei por cima do ombro e vi o Álvaro e o seu guarda-costas e disse-lhe naturalmente: «Passa, camarada» ao que ele retorquiu " Passa tu, camarada, que chegaste primeiro» E assim ficámos lado a lado no pátio, numa lenta fila para o almoço, enquanto as pessoas vinham cumprimentá-lo ou apresentá-lo aos filhos de colo ou não.
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Foi uma hora divertida e tenho pena de não ter fixado por escrito as conversas, as impressões já desvanecidas e, sobretudo, os diálogos bem humorados com Dias Lourenço sobre as peripécias em torno das fugas de Peniche.
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Porquê Kant_O_XimPi

O amor não bate à porta - Oscar Quiroga

José Pereira diz 9/Mai/2010 22:55

Boa Noite(JP)

TEM UMA BOA SEMANA VICTOR. ABRAÇO.

O amor não bate à porta


A palavra amor é curta em letras, porém infinita em significados e imensa nas fantasias e sonhos que evoca da alma de qualquer pessoa que esteja em seu são juízo. Ninguém deixa de pensar no amor, até mesmo os cépticos, que afirmam não acreditar no amor, precisam dele para convencer-se de que não existe algo assim para os seres humanos.

Por que será que o amor, que inspira poetas e também alavanca a realização de obras grandiosas, é fugidio ao ponto de ninguém poder afirmar com plena certeza tê-lo encontrado? Ou se o encontrou, tê-lo preservado também? E se o perdeu, por que o perdeu?

Eu, particularmente, pela experiência vivida, não posso dizer tampouco que o encontrei, mas posso dizer aonde ele, com certeza, não está. Assim como milhares de outros seres humanos, me acostumei, quando adolescente, que o amor chegaria até mim como um presente, uma dádiva que me era merecida. Dessa forma entrei naquela sala de espera existencial, aguardando que alguém entoasse meu nome, para só então eu me converter no felizardo que deixaria para trás todas as outras pessoas, que continuariam esperando.

Logo descobri que o amor não é uma espera, pois quem o espera consegue isso: ficar esperando, se iludindo, e então, tudo ficará bem para sempre. O amor chama sim, e inclusive chama para que termine a espera, pois dá a pista que ele só pode acontecer com quem o fizer acontecer.

Ou seja, para se receber um pouco de amor, há de se dar o mesmo tanto de amor. É como diz a última frase musical, da última trilha do álbum branco dos Beatles: "and in the end, the love you take, is equal to the love you make." Traduzindo: no fim, o amor que você pega, é igual ao amor que você faz.

Você quer uma tradução mais clara? Se você quiser colher amor, você terá de se transformar numa pessoa amável, alguém que mereça ser amado. E só merece ser amada a pessoa que ame intensamente.

Pois é, o amor nunca será encontrado esperando, mas praticando-o. Você que está aí esperando amor, lamentando-se porque ele não bate na tua porta, se a tua busca é verdadeira e digna, você vai ter de tomar a iniciativa e amar a despeito de ser amado, fazer o amor acontecer. O amor acontecerá porque você o pratica, e não porque você o espera. E para que continue acontecendo, você terá de preservar-se nessa atitude, pois quando o deixares de praticar, ele desaparecerá.

(Oscar Quiroga) 
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Frente al mar - Octavio Paz

Carmen diz:
9/Mai/2010 16:08
Rough Surf Watercolor Painting by Ron Houle
(Rough Surf Watercolor Painting by Ron Houle)

FRENTE AL MAR

¿La ola no tiene forma?
En un instante se esculpe
y en otro se desmorona
en la que emerge, redonda.
Su movimiento es su forma. .

Las olas se retiran
?ancas, espaldas, nucas?
pero vuelven las olas
?pechos, bocas, espumas?. .

Muere de sed el mar.
Se retuerce, sin nadie,
en su lecho de rocas.
Muere de sed de aire. .
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Octavio Paz
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Interesses - Jorge Luís Borges

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Boa Noite
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Instantes
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Se eu pudesse viver novamente minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Não mais tolo ainda do que tenho sido. Na verdade bem poucas coisas levariam a sério...
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Seria menos higiénico..... Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios..
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Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e comeria menos lentilha. Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
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Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida; claro que tive momentos de alegria... Mas se eu pudesse voltar a viver trataria de ter somente bons momentos. Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora...
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Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termómetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se eu voltasse a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do Outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças... se tivesse outra vez uma vida pela frente.
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Mas vejam, já tenho 85 anos, estou cego e sei que vou morrer...
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(Jorge Luiz Borges)
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7/Mai/2010 19:28
TEM UM BOM FIM DE SEMANA AMIGO VICTOR. ABRAÇO.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Quick & Flupke - Hergé

From Wikipedia, the free encyclopedia

 
Quic and Flupke
Twoofakind cover.png
Quick & Flupke - Two of a Kind (English version)
Publication information
Publisher Casterman
Publication date 1930-1940
Main character(s) Quick
Flupke
No. 14
Creative team
Writer(s) Hergé
Artist(s) Hergé
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Quick & Flupke (Quick et Flupke in French and Kwik en Flupke in Dutch) is a comic book series by Hergé (famous for The Adventures of Tintin) about two street urchins in Brussels named Quick and Flupke. The two boys unintentionally cause trouble, leading to annoyance with their parents and the police.

Contents

 

History

The series was published in black and white in the pages of Le Petit Vingtième starting in January 1930. The strips continued until 1940 (although they were republished in the Tintin magazine, conceived by Raymond Leblanc, this time coloured by Studios Hergé).
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Hergé eventually abandoned the series in order to spend more time on The Adventures of Tintin, his more famous comic series. After Hergé's death, the books were coloured by the Studios Hergé and re-issued by the publishing house Casterman in 12 volumes, between 1985 and 1991.

List of volumes

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Unlike Hergé's other series' there is no real chronological order to the books, though often the order that they were published in is used. The first book, Haute Tension is not by Hergé, but by Johan de Moor, the son of Hergé's assistant Bob de Moor.

High Tension

Initially published in September 1985 as Haute Tension. Haute Tension is not by Hergé, but by Johan de Moor, the son of Hergé's assistant Bob de Moor.

Double Trouble

Initially called Jeux interdits and first published in September 1985. The gags included in this volume are:
Quick & Flupke - Double Trouble (English version)
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Tournament, Flying, Happy Easter, Dangerous Dog, The Swing, Everyone Gets a Turn, Magic, Drama, Posting of Notices Prohibited, Officer No. 15 Pulls a Prank, Directions, Traffic, Haute Couture, Unbreakable, Bravery, Oil-Based Paint, Forbidden Games, William Tell, Same Reasons, Dodging the Fare, The Soapbox, Caution, and Quick the Electrician.

[Two of a Kind

Initially published as Tout va bien in September 1985. The gags included in this volume are:
Manners, How to Build a Glider, Happy Christmas, Mad Dog, A Present for Aunt Mary, Handyman, What Weather!, Having the Last Word, Three of a Kind, Heart of Gold, Rope Trick, Lucky Strike, All or Nothing, Honesty, Hot Stuff, Horror Story, Quick at the Wheel, Acrobatics, Right as Rain, Natural Disaster, Big Mouth, Musical Ear, and A Helping Hand.

Full Sail

Initially published as Toutes voiles dehors in 1986. The gags included in this volume are:
Naval Program, An Eye for an Eye, The Dog That Came Back, Locution, Back to School, Problem, Dowsing, Happy Easter!, Happy New Year!, A Picturesque Spot, Knowing How to Light a Fire, Demonstrative, A Good Picture, Lost in the Night, A Record, Penalty, Barely Believable, The Follies, Demand, The Tunnel, Winter Sports, New Year, and Peaceful Idleness.

It's Your Turn

Initially published in 1986. The gags included in this volume are:
Who Wants This Glove?, At the Optician’s, Lullaby, Evangelical Love, The Dangers of Tobacco, The Little Genius, Angling, Sleeplessness, Make a Wish, Pointless Search, Music to Calm the Nerves, The Trials and Tribulations of Officer 15 (2), Speeding Police, Flupke the Goalkeeper, Crosswords, Broadcasting, The Rara Avis, The Rescuers, Flupke on Display, Camp at Night, Acrobatics, Foolish Games, and Vernal Poem.

Without Mercy

Initially Pas de quartier January 1987. The gags included in this volume are:
A Bit of History, Quick Out West, Be Kind to Animals, Swimming, Quick the Golf Pro, Horseriding, Windstorm, A Nice Surprise, Sports, Essay, Skating, Light Headed, Cleaning Day, Circus Games, A Nice “Shot”, Rescue, Automatic Door Closer, A Good Line of Work, A Beautiful-Target, Payback, Camping (1), (2), and (3).

Excuse Me Ma'am
Initially published as Pardon Madame in January 1987. The gags included in this volume are:
If I Had a Million, Sad Story, Winning Ticket, The Road of Virtue, The Continuing Business, Hunting Story, The Child Prodigy, Nature’s Response…, Everything’s Fine, Reform, Gratitude, It’s Your Turn, Vendetta, Faith in Publicity, Afraid of Germs, Thunderstorm, Simple Question, Eternal Youth, A Great Traveler, Caution, Bad Encounter, Meteorology, The Great Resource, and The Punished Artist.

Long Live Progress

Published as Vive le progrès in September 1987. The gags included in this volume are:
Back to School, Valve Painting, Ostrich Eggs, Return to the Soil, Higher Education, The Mosquito, Serious Customers, Obsession, Among Artists, Deafness, Happy Easter, Surplus Value, Natural Bronzing, Swaps, Long Live Vacations, Clarification, Progress, Traffic, Break-in, The Example, About-Face, No Deal, and Resolution.

Catastrophe

Catastrophe [January 1988] The gags included in this volume are:
Vocation, No! Carnival is Not Dead!, There’s a Butterfly, and Then There’s a Butterfly, The Alarm, The World As Flupke Would Like It (1), (2), & (3), The Remedy, Interview, He Wanted a Disaster, Mix Up, Upper-Style Horsemanship, An Inner Man, Apropos, The Art of Diving, Spiritualism, The Etruscan Vase, Secret Police, The Hiccup, Quick Builds a Wireless System, Pilfering, The Pancakes, and Patient Flupke.

Pranks and Jokes

Farces et attrapes [January 1989] The gags included in this volume are:
Gardening, Sharpshooter, Heat, A Breakdown, Quick the Mechanic, Quick the Cabinetmaker, Well-Endorsed, House Chores, Simple Loan, Ball, Flytrap, Trapeze, Flupke the Model Maker, Constructions, A Masterstroke, Barely Believable, You Can’t Judge a Book by Its Cover, The Rocket, The Scrupulous Artist, The Prey, For Christmas, Temptation, and Beekeeping.

Bluffmasters

Coups de bluff January 1990. The gags included in this volume are:
Boating, Technicality, Intuition, The Cat and the Mouse, Quick’s Toothache, Championship, Time is Money, Pedestrian Crossing, Cruelty, At Last the Sun, Bluff, Pastoral, Superstition, Perfumery, Be Kind to Animals!, Cold Shower, The Look-Alike, Tire Story, Suspicions, Harassments, World Record, Stability, Logic, and Experience.

Fasten Your Seat Belts

Attachez vos ceintures January 1991. The gags included in this volume are:
Real Cleaning, A Poor Woman, Seascape, Quick Learns Boxing, Music to Calm the Nerves, Pacifism, The Unbeatable, Advertisement, Method of Work, Quick the Clockmaker, Soccer, At the Auto Show, Crazy Story, A Serious Affair, Argumentativeness, Music-Mad Quick, So Do It, Innocence, Children’s Rights, The Recipe, Yo-Yo, Metamorphoses, and Legless Cripple Story.

Cameos in The Adventures of Tintin

Quick & Flupke made short appearances in The Adventures of Tintin books:
  • They are among the crowd seeing Tintin off in the first panel of Tintin in the Congo, in both the 1931 and 1946 editions.
  • In The Shooting Star, Quick and Flupke can be seen running towards the docks as the expedition is about to set off.
  • The Seven Crystal Balls features a pair of boys who play a trick on Captain Haddock. They are made to look very similar to Quick and Flupke though the resemblance is minor given that the event takes place in La Rochelle in France and not an inland city in Belgium.
  • Quick & Flupke also appear on the back cover of some book editions of the Adventures of Tintin: they are about to fire a slingshot at Captain Haddock and/or his bottle of whisky.
When Tintin's adventures were first published in 1929 and the early 1930s, Le Petit Vingtième often put on publicity stunts with young boys dressed and made-up to look like Tintin returning to Brussels from his journeys abroad. One such stunt occurred on the 9 July 1931 when 14-year-old Henri Dendoncker dressed in African safari gear and played the part to mark Tintin's return from the Congo. Other boys appeared as Quick & Flupke.[1]

English translations

The English version of Quick & Flupke was produced in the early-1990s, and consisted of only two books, published by Mammoth Publishing. The books were translated by Leslie Lonsdale-Cooper and Michael Turner, who had previously translated The Adventures of Tintin. The text in the English volumes is not lettered in the same way as other Hergé books in English. The two English volumes are direct translations of strips in the French volumes Jeux Interdits and Tout va Bien. The English edition comics are all coloured, and named Double Trouble and Two of a Kind.
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In January 2008, Euro Books India (a subsidiary of Egmont) released English translations of all the 11 titles that were originally written by Hergé.

Television series

In the 1980s, the books were made into a television series, the creation of which was supervised by Studios Hergé. It was recently re-issued on Multi-regional DVD in France under 3 titles - 'Coups de Bluff, Tout va Bien and Jeux Interdits.

See also

References

  1. ^ Short biography of Hergé based on his interviews with Numa Sadoul

External links


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This page was last modified on 23 April 2010 at 13:28.
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