José Agostinho de Macedo
11/09/1761  -  02/10/1831
SONETO
Áureas portos do Olimpo omnipotente
Se abrem de par em par, por onde entrando
Vai o Cisne sonoro, que cantando
Deu glória, deu brasão à Lusa Gente.
Para encontrá-lo acode diligente
De antigos, Lusos Vates nobre bando,
Alegres, respeitosos saudando
O sublime Cantor do acesso Oriente.
“ Vem [ lhe dizem ] na Olímpica morada
” Cingir a fronte com perpétua rama,
” Que a Glória para ti tem destinada.
” E abrasado no ardor, que nos inflama,
” Conhecerás aqui que a vida é nada,
” Ou que a vida de Sábio é só na Fama! ”
SONETO
Debaixo desta campa sepultado
Jaz um peito, um que etéreo fogo ardia,
Que da Lusa Eloquência, e da Poesia
Será por longos Evos lamentado.
Deixou à Pátria alto Padrão alçado,
Enfeitando co’ as flores a Harmonia
A austera fronte à sã Filosofia,
Com exemplo entre nós não praticado.
Não indagues, Viandante curioso,
Da larga vida sua erro, ou defeito,
Da Morte acata o manto tenebroso.
Ele Homem foi, Homem não há perfeito;
E, deixando este valer lacrimoso,
Foi piedade buscar de Deus no peito.
A Cidade Bela
Quanto é bela Ulisseia! E quanto é grata
Dos sete montes seus ao longe a vista!
Das altas torres, pórticos soberbos
Quanto é grande, magnífico o prospecto!
Humilde e bonançoso o flavo Tejo,
Sobre areias auríferas correndo,
As praias lhe enriquece, as plantas beija.
Quão denso bosque de cavalos pinhos
Sobre a espádua sustenta! Do Oriente
Rubins acesos, fugidas safiras,
E da opulenta América os tesouros,
Cortando os mares líquidos, trouxeram.
Nela é mais puro o ar; e o Céu se esmalta
De mais sereno azul. O Sol brilhante,
Correndo o vasto Céu, se apraz de vê-la.
E quase se suspende, e, meigo, envia
Sobre ela o raio extremo, quando acaba
A lúcida carreira, a frente de ouro
No seio esconde das cerúleas ondas.