segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Egito Gonçalves - Sobre os poemas





1 Há poetas que constróem o mundo nos cafés, outros que o fazem no claro-escuro entre as prisões e os intervalos. Há poetas que aguardam cartas de apresentação nem eles sabem para onde: para a vida que falhou?, para a manteiga que lhes foi negada? Mas todos têm um sonho, todos se esforçam por valer o pão que amassam — lançam seu delicado peso na balança. Eles sabem, esses poetas, que nada é eterno e imutável. 2 Tal a "Cadeia de Santo Onofre: Copie o texto: envie a cinco amigos"... há poetas que se multiplicam, fendem a vaga limite, impedem o suicídio, explicam a vida, argamassam dedicação e raiva. Girassóis, rodam sobre si mesmos, indicam o ponto onde a luz se abre. 3 Há poetas cuja poesia reagrupa, fornece uma canção à cidade, martela os que dormem alheios, move-se silenciosamente ao jeito das estátuas. Pacífica vaca ruminando na linha do rumo; rosto impreciso solidificando breve; tênue tinta azul no papel claro ... Os poetas têm como os peles-vermelhas do cinema o seu fumo e os seus cobertores. 4 Há poetas que renegam cartas de apresentação para o arrivismo; recusam a mão ao salário da trampa; não enfeixam o nome e a desonra nos telegramas do medo. Enquanto bebem o café um histrião noturno arenga; executa o seu número; recebe por nova pirueta uma ajuda de custo.

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