domingo, 17 de novembro de 2013

o domingo na poesia segundo vários escritores - 15 - o circo 03


17 de Novembro de 2013 às 22:10
Para variar, ficam também algumas propostas de filmes - cómicos ou sérios ou de animação - com hiperligações para que possam visioná-los, se quiserem.

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* Gomes Leal

Soneto d'um clown

Talvez cansado já dos teus abraços,
Eu morto busque um dia o céu sem metas,
E ainda vá morar nos planetas,
Eu que tenho vivido entre palhaços.

E que ali deslocando os membros lassos,
Faça com saltos, e evoluções secretas,
Que Deus caia, de riso, dos espaços,
com fortes gargalhadas dos ascetas.

Os Santos olvidando então o rito,
Darão saltos mortais no Infinito,
E eu uma claque arranjarei no Inferno.

Construirei um circo ali no Céu
E tu virás então morar mais eu
Na água furtada azul do Padre Eterno.


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* PADRE ANTONIO TOMAZ
(1868-1941)

O PALHAÇO

Ontem, viu-se-lhe em casa a esposa morta
E a filhinha mais nova, tão doente!
Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,
Que a platéia o reclama, impaciente.

Ao palco, em breve surge... pouco importa
o seu pesar àquela estranha gente...
E ao som das ovações que os ares corta,
trejeita, canta e ri, nervosamente.

Aos aplausos da turba, ele trabalha
para esconder no manto em que se embuça
a cruciante angústia que o retalha.

No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça
e enquanto o lábio trêmulo gargalha,
dentro do peito o coração soluça.


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* Fernando Pessoa

Sou Eu

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
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O Circo, de Charlot - 1928

charlie-chaplin-the-circus- 1928 Cartaz
charlie-chaplin-the-circus- 1928 Cartaz
charlie-chaplin-the-circus- 1928 Cartaz
charlie-chaplin-the-circus- 1928 Cartaz

trailer

filme completo

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D Roberto, de Ernesto de Sousa 1962

cartaz filme dom roberto - ernesto de sousa - 1962
cartaz filme dom roberto - ernesto de sousa - 1962


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 Os Saltimbancos, de Manuel de Guimarães - 1952

os saltimbancos - manuel guimarães 1952 cartaz
os saltimbancos - manuel guimarães 1952 cartaz

cenas iniciais do filme

filme completo

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O Maior Espectáculo do Mundo, de Cecil B. De Mille - 1952

o maior espectáculo do mundo - cartaz do flme - realizado por Cecil B. De Mille - 1952
o maior espectáculo do mundo - cartaz do flme - realizado por Cecil B. De Mille - 1952

cena do filme

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La Strada, de Frederico Fellini - 1954

Federico Fellini's "La Strada" (1954)
Federico Fellini's "La Strada" (1954)

trailer

filme completo

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Snoopy (Charlie Brown) - A vida é um circo Charlie Brown


filme completo

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MISTER MAGOO NO CIRCO TRES ARGOLAS


filme completo

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Pink Panther - Pinkadilly Circus


filme completo

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Tom e  Jerry - Circus Cact


filme completo

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Circus Rookies, de  Edward Sedgwick - 1928

mais informação em


Circus Rookies, de  Edward Sedgwick - 1928
Circus Rookies, de Edward Sedgwick - 1928

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* Henri Michaux

 CLOWN

    Un jour.
     Un jour, bientôt peut-être.
     Un jour j’arracherai l’ancre qui tient mon navire loin des mers.
     Avec la sorte de courage qu’il faut pour être rien et rien que rien, je lâcherai ce qui paraissait m’être indissolublement proche.
     Je le trancherai, je le renverserai, je le romprai, je le ferai dégringoler.
     D’un coup dégorgeant ma misérable pudeur, mes misérables combinaisons et enchaînement « de fil en aiguille ».
     Vidé de l’abcès d’être quelqu’un, je boirai à nouveau l’espace nourricier.
     A coup de ridicules, de déchéances (qu’est-ce que la déchéance ?), par éclatement, par vide, par une totale dissipation-dérision-purgation, j’expulserai de moi la forme qu’on croyait si bien attachée, composée, coordonnée, assortie à mon entourage et à mes semblables, si dignes, si dignes, mes semblables.
     Réduit à une humilité de catastrophe, à un nivellement parfait comme après une intense trouille.
     Ramené au-dessous de toute mesure à mon rang réel, au rang infime que je ne sais quelle idée-ambition m’avait fait déserter.
     Anéanti quant à la hauteur, quant à l’estime.
     Perdu en un endroit lointain (ou même pas), sans nom, sans identité.

     CLOWN, abattant dans la risée, dans le grotesque, dans l’esclaffement, le sens que contre toute lumière je m’étais fait de mon importance.
     Je plongerai.Sans bourse dans l’infini-esprit sous-jacent ouvert
     à tous
ouvert à moi-même à une nouvelle et incroyable rosée
à force d’être nul
et ras…
et risible…
Henri Michaux, « Peintures » (1939,) in L’espace du dedans, Pages choisies, Poésie / Gallimard, 1966, p.249
Clown, Henri Michaux
Un día.
Un día, pronto quizá.
Un día arrancaré el ancla que retiene a mi navío lejos de los mares.
Con esa especie de coraje necesario para ser nada y nada más que nada.
Me soltaré de todo lo que me parecía indisolublemente próximo.
Lo cortaré, lo voltearé, lo romperé, lo haré precipitarse en el abismo.
De golpe destapando mi pudor miserable, mis miserables combinaciones y encadenamiento "paso a paso".
Vaciado del absceso de ser alquien, beberé de nuevo el espacio estimulante.



A fuerza de ridiculeces, de venirme abajo (¿qué es venirse abajo?), por estallido, por vacío, por una total disipación-irrisión-purgación, expulsaré de mi la forma que se creía tan bien adherida, compuesta, coordinada, adecuada a mi contorno y a mis semejantes, tan dignos, tan dignos mis  semejantes.



Reducido a una humildad de catástrofe, a una nivelación perfecta como después de una intensa batahola.
Devuelto por debajo de todo medida a mi rango real, al rango ínfimo del que no sé qué idea-ambición- me hiciera [desertar.
Aniquilando en cuanto a la altura, en cuanto a la estimación.
Perdido en un rincón lejano (o ni eso), sin nombre, sin identidad.



CLOWN, derribando en la carcajada, en la risotada, en lo grotesco, la sensación que contra toda evidencia me había [hecho de mi importancia,
Me hundiré.
Sin un centavo en el infinito-espíritu subyacente abierto a todos, abierto yo mismo a un nuevo e increíble rocío
a fuerza de ser nulo
y chato...
y risible...


(Peintures, 1939.)


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