quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

poesia de antónio reis 02

19 de Fevereiro de 2014 às 12:42


* António Reis

9
Poemas quotidianos
como o sol
como a noite

como a vontade de comer
e o sono

como as preocupações
e o amor

e porque saio à rua
e trabalho
diariamente

11
Na cidade onde envelheço
não há brisa
há vento

A brisa é para o amor
e para os cabelos

Na cidade onde envelheço
a roupa tem de secar
durante a noite

os operários levantam-se cedo

e o seu amor é simples
e no trabalho


14.
Não amo a cidade
por ser grande

Amo-a
por ter nascido sem mistério
e ter criado
a sua própria natureza

embora os olhos e o coração
sofram quotidianamente
por imperfeições e mágoas


16.
Chega a ter gosto
a chuva
vista dos cafés

caindo sobre as estátuas
e a nostalgia

chega a ser morna

com fumo e álcool
na garganta

Até os homens
passarem junto aos vidros

Reais Molhados

Sem emoções instruídas
Pensando em remédios
e prestações

grisalhos
sem serem velhos

e falando sós
sem serem loucos


17
Hei-de entrar nas casas
também

Como o silêncio

A ver os retratos dos mortos
nas paredes
um bombeiro um menino

A ver os monogramas bordados nos lençóis

os vestidos virados
os vestidos tingidos
os diplomas de honra
as redomas

E a caderneta dos Socorros Mútuos
e Fúnebres

em atraso


18.
Hei-de entrar nas casas
também
como o luar

A ver as faltas de roupa interior
e de cama

os rostos preocupados
com os avisos da luz e da água

com a máquina de petróleo apagada
jornais nas paredes
e um pássaro na varanda
a cantar
ao lado duma flor


21
Um espaço interior
criei
nestes poemas

onde estalam os móveis
e os sentidos

onde as ideias
a meia-luz
respiram

e a vida
as imagens
não se reflectem

nos vidros


23
Eu não voo
ando

quero que me oiçam


069. ANTÓNIO REIS EM TRÁS-OS-MONTES (II)
(...) E com uma imagem que ajuda a caracterizar, como pessoa, o cineasta.
Esta fotografia pertence ao arquivo de Margarida Cordeiro e foi retirada do catálogo "António Reis e Margarida Cordeiro - a poesia da terra", organizado por Anabela Moutinho e Maria da Graça Lobo, pág. 95, publicado pelo Cineclube de Faro em 1997.

in
http://antonioreis.blogspot.pt/2005/06/069-antnio-reis-em-trs-os-montes-ii.html
069. ANTÓNIO REIS EM TRÁS-OS-MONTES (II) (...) E com uma imagem que ajuda a caracterizar, como pessoa, o cineasta. Esta fotografia pertence ao arquivo de Margarida Cordeiro e foi retirada do catálogo "António Reis e Margarida Cordeiro - a poesia da terra", organizado por Anabela Moutinho e Maria da Graça Lobo, pág. 95, publicado pelo Cineclube de Faro em 1997. in http://antonioreis.blogspot.pt/2005/06/069-antnio-reis-em-trs-os-montes-ii.html

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