quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Notícia de torto c. 1215


A «Notícia de torto» é um documento, em que D. Lourenço Fernandes da Cunha fez um minucioso relatório das malfeitorias feitas por D. Sancho I e por Vasco Mendes, por ordem do mesmo rei. É um bocardo de pergaminho, escrito dos dois lados. Veio do mosteiro feminino de Vairao e está hoje no Arquivo Nacional da Tôrre do Tombo.

Texto



[1] D(e) noticia d(e) torto que fecer(ũ) a Laurẽci(us) Fernãdiz por plazo que fec(e) Gõcauo [2] Ramiriz antre suos filios e Lourẽzo Ferrnãdiz q(u)ale podedes saber: e oue au(e)r d(e) erdad(e) [3] e dau(e)r, tãto q(u)ome uno d(e) suos filios da q(u)ãto podesẽ au(e)r d(e) bona d(e) seuo pater e fiolios seu [4] pater e sua mater. E d(e)pois fecer(ũ) plazo nouo e cõuẽ uos a saber q(u)ale in ille se [5] taes firmam(en)tos q(u)ales podedes saber: Ramiro Gõcaluiz e Gõcaluo Gõca[luiz e] [6]Eluira Gõcaluiz forũ fiadores d(e) sua irmana que o[to]rgase aqu[e]le plazo come illos. [7] Sup(er) isto plazo ar fe[ce]r(ũ) suo plecto. E a maior aiuda que illos hic cõnocer(ũ), que les [8] acanocese Laurẽzo Ferrnãdiz sa irdad(e) p(er) p(lec)to que a teuese o abate d(e) S(ã)c(t)o Martino [9] que como uẽcesẽ, que asi les dese d(e) ista o abade. E que nunq(u)a illos lecxasẽ [10] daquela irdad(e) sẽ seu mãdato. Se a lexarẽ itregarẽ ille d(e) oot(r)a que
  • plaza. [11] E d'au(e)r que ouer(ũ) d(e) seu pat(e)r nu[n]q(u)ã se li id(e) der(ũ) parte. Deu dũ Gõcau [12] o a Laurẽco Fernãdiz e Marti Gõc[a]luiz XII casaes por arras d(e) sua auóó. [13] E filar(ũ)li illos ind(e) VI casales c(ũ) torto. E podedes saber como man- [14]do dũ Gõcauo a sua morte. D(e) XVI casales d(e) Ueraci que fructar(ũ) e que li [15] nunq(u)a id(e) der[ũ] q(u)innõs. E d(e) VII e medio casaes antre Coina e Bastuzio und(e) li [16] nunq(u)ã der(ũ) q(u)iniõ. E d(e) trẽs i(n) Tefuosa und(e) li nu[n]q(u)a ar der[ũ] nada. E IIos i(n) Figeeree- [17] do unnd(e) nũq(u)ã li der(ũ) q(u)inõ. E IIos i(n) Tamal ũd(e) li n(õ) ar der(ũ) q(u)inõ. E da sena- [18] ra d(e) Coina ũd(e) li n(õ) ar der(ũ) q(u)inõ. E d'uno casal d(e) Coina que leuar(ũ) id(e) III anos [19] o frouctu c(ũ) torto. E por istes tortos que li fecer(ũ) tem q(u)a a seu plazo quebrãtado [20] q(u)a li o deuẽ por sanar. E d(e)pois ouer(ũ) seu mal e meteu o abad(e) paz a[n]tre illes [21] i(n) no carualio d(e) Laureedo. E rogouo o abate tãto que beiso c(ũ) illes. E der(ũ)li [22] XVIIII morabitinos q(u)i li filar(ũ). E d(e)pos iste p(lec)to pre[n]d(e)r(ũ)
  • o seruical otro[23] om(e) d(e) sa casa e troser(ũ)no XVIIII dias p(er) mõtes e fecer(ũ)les tã máá prisõ [24] p(er) que leuar(ũ) deles q(u)ãto poder(ũ) au(e)r. E d(e)pois li d(e)sũro Gõcauo Gõcauiz [25] sa fili[a] pechena. E irmar[ũ]li XIII casales und(e) perdeu fructu. E isto [26] fui d(e)p que fur(ũ) fíídos anto abate. E d(e)pois que fur(ũ) ifiados por iuizo d(e) ilo [27] rec. E nuq(u)a ille fez(e) neun mal por todo aqueste e fezeles taes agudas [28]q(u)ales aqui ouireedes. Sup(er) sua aguda fez testiuigo c(ũ) Gõcauo Cebolano. [29] E sup(er) sa aiuda ar fuili a casa e filoli q(u)ãto que li agou e deu a illes. E sup(er) sa [30] aiuda oue testifigo c(ũ) P(e)tro Gomez, omezio q e li custou maes ka C m(orabitinos). [31] E sup(er) sa aiud[a] oue mal c(ũ) Goncaluo Gomez que li custou multo da au(e)r [32] e muita perda. E in sa aiuda oue mal c(ũ) Go[n]caluo Suariz. E in sa aiuda[33] oue mal c(ũ) Ramiro Fernãdiz que li custov muito au(e)r muita perda. [34] E in sa aiuda fui IIas fezes a Coi[m]bra. E in sa aiuda dixe mul[ta]s uices [35] e ora in ista tregua fur(ũ) a Ueraci amazar(ũ)li os om(éé)s erma[rũ]li X casaes [36] seu torto ai rec. E sup(er) saiud[a] mãdoo lidar seus om(éé)s c(ũ) Mar- [37] tint I(o)h(a)n(e)s que q(u)ir[i]a d(e)sũrar sa irmana. E cũ ille e cũ sa casa [38] e cũ seu pam e c(ũ) seu uino uẽcestes uosa erdade. E cũ ille [39] existis d(e) sua in ipso die que uola q(u)itar(ũ). E ille teue a uosa [40] rezõ. E ot(r)as aiudas multas que fez. E plus li a custado [41] uosa aiuda q(u)a li inde cae d'erdad[e]. E subre becio e sup(er) [42] fíím(ẽ)to se ar q(u)iserdes ouir as desõras q e ante ihc fur(ũ) [43] ar ouideas: Vener(ũ) a uila e fila[rũ]li o porco ante seus filios e com- [44] erũsilo. Vener(ũ) alia uice er filar(ũ) ot(r)o ante illes [45]er comer(ũ)sa. Vener(ũ) i(n) uice er filiar(ũ) una ansar ante [46] sa filia er comer(ũ)sa. I(n) alia uice ar filiar(ũ)li o pane ante [47] suos filios. I(n) alia uice ar ue[ne]r(ũ) hic er filar(ũ) ide o uino [48] ante illos.

  • https://www.hs-augsburg.de/~harsch/lusitana/Cronologia/seculo13/Torto/tor_noti.html

    Notícia de Torto ou Notícia do Torto é um manuscrito em pergaminho escrito entre 1211 e 1216 (provavelmente em 1214), considerado o segundo texto não literário mais antigo escrito em língua portuguesa, posterior à Notícia de Fiadores de 1175.O seu título provém da primeira frase do texto: "De noticia de torto que feceru(m) a Laure(n)cius Ferna(n)diz".

    Tal título, porém, é contestado por autores como Ramón Lorenzo, que o considera "um híbrido latino-português". e outros que sequer lhe concediam o status de documento.

    O pergaminho, medindo 313 por 170 mm, escrito em ambas as faces, foi encontrado no mosteiro feminino de Vairão e está hoje no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. No texto, escrito em galaico-português mas crivado de latinismos, D. Lourenço Fernandes da Cunha fez um minucioso relatório dos agravos cometidos contra si pelos filhos de Gonçalo Ramires.


    Dado que a maioria dos documentos da época eram redigidos em latim, é provável que o documento se tratasse de um rascunho, destinado a ser traduzido para esta língua. Tem sido estudado como subsídio para o conhecimento da origem e evolução da língua portuguesa. Existe também na Torre do Tombo outro documento semelhante, a "Mentio de malefactoria" (c. 1210) que descreve as malfeitorias feitas ao mesmo Lourenço Fernandes da Cunha pelo rei D. Sancho I ou por intermédio de Vasco Mendes.

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Not%C3%ADcia_de_torto

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