Textos e Obras Daqui e Dali, mais ou menos conhecidos ------ Nada do que é humano me é estranho (Terêncio)
domingo, 10 de agosto de 2025
Rebecca Martin Goldschmidt e Seiji Yamada - Hiroshima, Nagasaki e o genocídio em Gaza
sexta-feira, 8 de agosto de 2025
António Barreto - As notícias na televisão
“É simplesmente
desmoralizante. Ver e ouvir os serviços de notícias das três ou quatro estações
de televisão é pena capital. A banalidade reina. O lugar-comum impera. A
linguagem é automática. A preguiça é virtude. O tosco é arte. A brutalidade
passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que
é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia. A falta de cultura
e de inteligência é isenção profissional.
Os serviços de
notícias de uma hora ou hora e meia, às vezes duas, quase únicos no mundo, são
assim porque não se pode gastar dinheiro, não se quer ou não sabe trabalhar na
redacção, porque não há quem estude nem quem pense. Os alinhamentos são
idênticos de canal para canal.
Quem marca a
agenda dos noticiários são os partidos, os ministros e os treinadores de
futebol. Quem estabelece os horários são as conferências de imprensa, as
inaugurações, as visitas de ministros e os jogadores de futebol.
Os directos
excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo
e nada, sai um directo. Figurão no aeroporto, comboio atrasado, treinador de
futebol maldisposto, incêndio numa floresta, assassinato de criança e acidente
com camião: sai um directo, com jornalista aprendiz a falar como se estivesse
no meio da guerra civil, a fim de dar emoção e fazer humano.
Jornalistas em
directo gaguejam palavreado sobre qualquer assunto: importante e humano é o
directo, não editado, não pensado, não trabalhado, inculto, mal dito, mal
soletrado, mal organizado, inútil, vago e vazio, mas sempre dito de um só
fôlego para dar emoção! Repetem-se quilómetros de filme e horas de conversa
tosca sobre incêndios de florestas e futebol. É o reino da preguiça e da
estupidez.
É absoluto o
desprezo por tudo quanto é estrangeiro, a não ser que haja muitos mortos e
algum terrorismo pelo caminho. As questões políticas internacionais quase não
existem ou são despejadas no fim. Outras, incluindo científicas e artísticas,
são esquecidas. Quase não há comentadores isentos, ou especialistas
competentes, mas há partidários fixos e políticos no activo, autarcas,
deputados, o que for, incluindo políticos na reserva, políticos na espera e
candidatos a qualquer coisa! Cultura? Será o ministro da dita. Ciência? Vai ser
o secretário de Estado respectivo. Arte? Um director-geral chega.
Repetem-se as
cenas pungentes, com lágrima de mãe, choro de criança, esgares de pai e
tremores de voz de toda a gente. Não há respeito pela privacidade. Não há
decoro nem pudor. Tudo em nome da informação em directo. Tudo supostamente por
uma informação humanizada, quando o que se faz é puramente selvagem e predador.
Assassinatos de familiares, raptos de crianças e mulheres, infanticídios,
uxoricídios e outros homicídios ocupam horas de serviços.
A falta de
critério profissional, inteligente e culto é proverbial. Qualquer tema
importante, assunto de relevo ou notícia interessante pode ser interrompido por
um treinador que fala, um jogador que chega, um futebolista que rosna ou um
adepto que divaga.
Procuram-se
presidentes e ministros nos corredores dos palácios, à entrada de tascas, à
saída de reuniões e à porta de inaugurações. Dá-se a palavra passivamente a
tudo quanto parece ter poder, ministro de preferência, responsável partidário a
seguir. Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno
partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias.
A concepção do
pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou
seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três
ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos *papagaios no
seu melhor!
Uma consolação:
nisto, governos e partidos parecem-se uns com os outros. Como os canais de
televisão.
https://www.dn.pt/arquivo/diario-de-noticias/as-noticias-na-televisao-5407534.html
quinta-feira, 7 de agosto de 2025
Walter Lippmann é um grande propagandista americano, maior que Bernays.
quarta-feira, 6 de agosto de 2025
Eça de Queirós - O Conde e os pobres
terça-feira, 5 de agosto de 2025
David Swanson - NÃO, A DESTRUIÇÃO DE CIDADES NÃO SALVOU VIDAS
John Hersey - “Hiroshima” (excertos)
sábado, 12 de julho de 2025
Patrick Lawrence - Trump leva Putin para um beco sem saída
quinta-feira, 3 de julho de 2025
Alfredo Barroso - ASSIS E O FASCÍNIO PELO CENTRO-DIREITA
sábado, 28 de junho de 2025
Discurso de Ali Khamenei em 2025 06 26
domingo, 22 de junho de 2025
Luís Francisco - Quantos morreram na Guerra Colonial?
* Luís Francisco
Sempre que
ouvia a estimativa de 8.000 mortes portuguesas na Guerra do Ultramar, Pedro
Marquês de Sousa, tenente-coronel do Exército, sentia-se desconfortável. Quase
cinco décadas após o fim do período colonialista, Portugal continuava a não
ter, sequer, um balanço fiável das vítimas mortais do conflito que desgastou o
País durante mais de uma década e esteve, em última análise, na origem do
movimento militar que depôs o regime do Estado Novo, em 1974. Depois de muito
trabalho de investigação, o investigador e também professor na Academia Militar
chegou a números bem mais pesados: morreram quase 10.500 militares portugueses
em Angola, Guiné e Moçambique. No total, incluindo as baixas dos movimentos
independentistas e entre a população civil, a guerra em África fez quase 45 mil
mortos e 53 mil feridos. "E podem ser mais", assegura o autor do
livro Os Números da Guerra de África, publicado pela Guerra & Paz. Uma obra
que compila de forma exaustiva números durante tanto tempo esquecidos ou varridos
para debaixo do tapete da burocracia. "Enquanto professor na Academia
Militar, sempre incentivei os meus alunos a debruçarem-se sobre a Guerra
Colonial. Eu próprio senti a necessidade de mergulhar no assunto. A estimativa
de 8.000 mortes era injusta; não cobria, sequer, as baixas militares
portuguesas, muito menos as perdas entre os movimentos independentistas e na
população civil. "Pelas contas de Pedro Marquês de Sousa morreram 10.425
militares portugueses, 6.000 civis e 28.226 elementos dos movimentos separatistas.
As estimativas de feridos graves apontam para 31.300 na tropa lusitana, 12.200
entre os civis e 9.450 nos movimentos de libertação.Estes números não são – nem
podiam ser – definitivos, mas são uma base de trabalho fiável, construída com a
consulta dos documentos da época disponibilizados pelas hierarquias militares –
embora na Marinha haja ainda documentos classificados, a que os investigadores
não têm acesso. É inevitável a perplexidade: como é que nunca tinha sido feito
um levantamento rigoroso das baixas na Guerra de África? "Eu já não estou
no ativo e não passei pela guerra – tenho 53 anos –, mas como militar há um
embaraço… A sociedade portuguesa não conhece bem este conflito. Talvez não
tenha ainda decorrido tempo suficiente para se criar um distanciamento que
permita a abordagem científica do tema."A força dos números
A guerra em
África foi o maior conflito da História recente de Portugal e teve um peso
impressionante sobre o desenvolvimento do País nas décadas de 60 e 70 – a
compra de corvetas para a Marinha implicou pagamentos até 1981. Na fase final
do conflito, estavam destacados 163 mil militares no Ultramar, um esforço de
guerra nunca visto num País que na altura tinha cerca de 8,5 milhões de
habitantes. Pedro Marquês de Sousa faz a radiografia da organização, da
logística, das atividades e das baixas desta imensa força militar. Mas analisa
também o efeito que a guerra teve na metrópole, nas contas públicas (mais de 3%
do Orçamento era encaminhado para o esforço militar e em 1973 o conflito
absorveu cerca de 3,5 mil milhões de euros, feita a conversão para a moeda e a
realidade atual), na sociedade portuguesa. Até em aspetos que pouco pareceriam
ter a ver com o conflito: os casamentos de homens com menos de 20 anos, por
exemplo, duplicaram após o início da guerra, em Angola, corria o ano 1961. A
ideia era evitar o destacamento para África por ter uma família para sustentar,
mas não funcionou.Em 1962, mais de 15% dos incorporados eram analfabetos. Um
número que caiu para menos de metade no fim da década, mas com efeitos
perversos, do ponto de vista do Estado Novo. Explica o autor: "À medida
que o conflito se foi prolongando, os oficiais milicianos [o serviço militar
obrigatório era responsável por 90% do contingente das unidades regulares] já
tinham cultura política, absorvida nas universidades numa década muito ativa a
esse nível. Ora pôr
estes homens a liderar unidades de combate numa guerra em que não acreditavam não podia dar bom resultado…"
230 mil
"fugiram" à guerra
E estes eram os
que iam para a guerra. Porque um dos dados que mais surpreenderam o
investigador foi mesmo o de faltosos e desertores. O regime escondeu durante
muito tempo a verdadeira dimensão desta recusa de pegar em armas, que explica
também a dimensão avassaladora de outro fenómeno que marcou a demografia
portuguesa neste período: a emigração (triplicou no período da guerra). Na
década de 70, um em cada cinco jovens (20%) que deveriam apresentar-se à
inspeção militar já não se encontravam em Portugal. Registaram-se 202 mil
faltosos, a que se juntam 20 mil refratários e cerca de 9.000 desertores – ou
seja, quase um quarto de milhão de jovens portugueses (230 mil)
"fugiram" à tropa.Nos teatros de operações, e apesar do recrutamento
maciço, havia, ainda assim, poucos soldados, na maioria mal treinados, mal
armados e equipados, sujeitos a condições miseráveis e a uma máquina de guerra
obsoleta e incompetente. "Os militares sentiram na pele a incapacidade do
poder político para gerir a guerra. Não é por acaso que foram eles a depor o
regime, aliás como já tinha acontecido depois da I Guerra Mundial, embora aí
num sentido político completamente inverso", analisa
Pedro Marquês
de Sousa. O autor adianta que fica ainda por fazer o trabalho de comparar a
guerra de África com outros conflitos similares, envolvendo tropa regular de um
lado e forças de guerrilha do outro. Como o do Vietname, por exemplo.Mas há
números que nos dão algumas pistas também nessa vertente. Em Angola, Guiné e
Moçambique havia 5 soldados portugueses para cada combatente dos movimentos de
libertação. No Vietname (EUA vs. guerrilha norte-vietnamita), essa relação
chegou a ser de 9 para 1, na Argélia (França vs. independentistas argelinos)
era de 50 para 1. E em nenhum destes conflitos as forças regulares levaram a
melhor. Mesmo recorrendo a meios de ética militar muito para lá do duvidoso.
"Não se falava muito nisso, mas quando se perguntava se as tropas
portuguesas usaram napalm nos teatros de guerra em África, a resposta era
normalmente ‘nim’…", salienta Pedro Marquês de Sousa. "Neste livro,
pelos números apresentados, fica bem evidente que se utilizou. Muito."
Fonte: Luís
Francisco, artigo em 10/10/2021 (Visão)
https://www.sabado.pt/vida/detalhe/quantos-morreram-na-guerra-colonial
quarta-feira, 18 de junho de 2025
Pedro Queirós - O meu Irão
ª Pedro Queirós
Terra de
gente boa e generosa. Educados e cultos. Um lugar onde a família é o centro da
sociedade e impera o respeito pelo próximo. Um país rico e abençoado de
recursos naturais. Com montanhas, praia, desertos, florestas e lugares
históricos.
No Irão
vive-se uma cultura milenar com quase três mil anos. São gestos, tradições e
pormenores que se difundem no quotidiano. Muitas vezes imprevisíveis, fruto da
aprendizagem de muitas gerações. Um país feito de heróis, poetas e guerreiros.
O Irão tem
problemas internos e líderes incapazes? Sim. Mostrem-me um país que não os
tenha. Têm um sistema político baseado na religião? Sim, mas isso é problema
deles e sinceramente prefiro educar o meu filho num lugar sem álcool,
pornografia, racismo, violência doméstica, assassinatos em escolas, extrema
direita, fast food, casinos e prostituição.
O Irão tem
leis que condicionam as mulheres? Sim, mas é uma sociedade matriarcal e com uma
maioria feminina na população universitária. As mulheres são poderosas e a
violação dá pena de morte… ao contrário de outros países onde é mostrada sem
pudor no Instagram. O país tem de evoluir no campo da igualdade de género como
outros o fizeram. O mesmo se aplica aos homossexuais e outras minorias.
A lei do
país permite o casamento com e entre menores? Sim, mas ninguém o faz a não ser
nas zonas rurais onde se vive na pré-história. Ao contrário de outras
religiões, a pedofilia não é praticada pelos sacerdotes muçulmanos. No Irão,
molestar uma criança dá direito a enforcamento.
O país não
tem liberdade de expressão? Sim, é verdade. Mas o que é que andamos a fazer com
a liberdade no ocidente? Eu digo-vos: andamos a praticar o ódio, a violência,
sedentos de bens materiais, a comer mal, a beber, fumar, a perder a saúde
mental, a trair os nossos companheiros e a viver atrás das redes sociais.
O Irão dá
armas a milícias que atacam Israel? Sim, é verdade. São o único país do mundo
com coragem de enfrentar o povo escolhido. Um povo que é representado por
homens que assassinam crianças em direto na televisão. O Irão quer ter armas
nucleares? Sim. E aqui nem me vou alongar. Um país que é atacado como o foi na
semana passada necessita de instrumentos para garantir a soberania.
O ideal seria TODOS destruírem as armas e sentarem-se à mesa, mas isso é uma utopia. O novo Hitler chamado Benjamim Netanyahu e será o culpado pela terceira guerra mundial. Força, rebentem com tudo!
2025 06 17
https://www.facebook.com/pedro.queiros.9461
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