domingo, 15 de dezembro de 2013

António Ramos Rosa - Alguns dizem que eu escrevo de mais

* António Ramos Rosa 


Alguns dizem que eu escrevo de mais
como se tivesse escrito alguma coisa
Não, todas as minhas inscrições foram acenos
a algo que nunca atingi
e que era a única coisa que eu desejava dizer

Sei hoje que talvez não fosse nada
mas seria a descompressão a nulidade liberta
que restabeleceria a circulação solar
nas palavras e nos músculos na visão da terra
Seria a maravilha a surpreendente simplicidade

Quis envolver-me na sombra e subir com a sombra 
e a sombra era o fogo não o lume tranquilo
da lucidez e do verde das árvores
Apenas entrevi o ouro da água
e não me banhei nela não a sulquei com um barco de folhas
Dispersei-me na areia sem me apagar
e fui sempre uma sombra obstinada

in  DEAMBULAÇÕES OBLÍQUAS (2001)

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