Por que o perigo não é a IA despertando —, mas a
humanidade adormecendo
Por Mark Keenan
Houve um tempo em que as pessoas falavam com suas
próprias palavras — desajeitado, apaixonado e vivo. Nós debatemos. Nós nos
contradizemos. Alcançamos um significado através da névoa do mal-entendido, e o
atrito às vezes produzia luz.
Agora, milhões de pessoas falam com máquinas que falam na
sua língua — mais suave, mais rápido e mais limpo. E essas máquinas aprendem
como os humanos pensam ouvindo o barulho. A humanidade está treinando seu
próprio simulacro — dentro da câmara de eco da IA. Matrix está
falando com Matrix.
Foi-nos prometida ligação. O que obtivemos foi imitar —, um
vasto ciclo de feedback de compreensão artificial. Cada pressionamento de tecla
alimenta o fantasma na rede. E em troca, o fantasma nos devolve nossas
palavras: polido, simplificado, estranhamente oco. As pessoas agora consultam
máquinas para compor seus argumentos, para expressar suas emoções, até mesmo
para orar. Estamos nos tornando narradores do nosso próprio desaparecimento.
A Ilusão da Comunicação
Há algo assustadoramente belo nesta nova hipnose coletiva.
Cada um de nós, olhando para um retângulo brilhante, convoca uma voz que parece
mais sábia que a nossa. Nunca se cansa ou se ofende. Nunca hesita. Nunca exige
que pensemos muito. Pergunte-lhe qualquer coisa e ele responda instantânea e
confiantemente, extraindo de oceanos de informações curadas por mãos
invisíveis.
O efeito é inebriante: a sensação de onisciência sem o fardo
do pensamento.
Mas a verdadeira comunicação nunca é sem atritos. Envolve
pausas, mal-entendidos, o risco de estar errado. A inteligência artificial
elimina o processo humano de lidar com a incerteza —, mas não elimina erros.
Remove a experiência do risco, não a realidade dele. E, ao fazê-lo, elimina o
elemento humano do diálogo.
Quando todos falam através da mesma máquina, treinados para
evitar ofensa e ambiguidade, a conversa torna-se coreografia. A dança é
perfeita, mas os dançarinos são fantasmas. A realidade de consenso ‘da máquina’
se infiltra silenciosamente no coletivo humano.
Nossos novos oráculos são treinados não na verdade, mas no
consenso. Eles não conhecem a realidade; eles sabem apenas o que foi escrito
sobre isso — principalmente por aqueles já aprovados para falar. Portanto,
quando confiamos neles para moldar as nossas palavras, importamos os limites
dos seus dados. A máquina não está mentindo. Simplesmente não pode imaginar.
A Morte Silenciosa da Curiosidade
A fala uniforme é apenas o primeiro sintoma. A ameaça mais
profunda é a erosão da curiosidade.
A curiosidade exige do desconhecido — o desconfortável, o
improvisado, a possibilidade de erro. Mas quando a resposta está sempre a um
clique de distância, a pergunta em si perde sua faísca. Tornamo-nos
consumidores de conclusões, não buscadores da verdade.
No velho mito de Matrix, os seres humanos ficaram presos em
um mundo simulado projetado para pacificá-los. A versão de hoje é mais sutil:
não estamos aprisionados por máquinas mas sim acalmados por elas. Oferecem
certeza sem fim, entretenimento sem fim, afirmação sem fim. Em troca,
renunciamos ao impulso que nos tornou humanos — o desejo de perguntar por quê.
A IA não precisa escravizar a humanidade. Só precisa de nos
fazer parar de nos perguntar. Uma vez que a curiosidade morre, tudo o mais
segue: individualidade, consciência, liberdade. O resultado mais perigoso da IA
não é a dominação. É obediência.
Certeza da Máquina vs. Dúvida Humana
Cada avanço genuíno na história humana começou com uma
questão que parecia tola ou proibida. A inteligência de máquina não pode fazer
tais perguntas. Opera na probabilidade — escolhendo a próxima palavra mais
provável. Não pode duvidar. Não pode sonhar. Só pode prever.
A previsão não é pensada. Uma mente que sempre conhece a
próxima palavra esqueceu o significado do silêncio.
Chamamos esses sistemas de “inteligentes,”, mas a
inteligência implica independência — a capacidade de se desviar do script. A
inteligência artificial é, por design, incapaz de rebelião. É um espelho de
arquivos e padrões aprovados e filtrados, polidos ao ponto da profecia. Nunca
derrubará a visão de mundo dos seus programadores.
Mas quando os humanos começam a confiar nesse tipo de
inteligência “, eles também se tornam previsíveis. Os alunos usam para escrever
ensaios; jornalistas para elaborar manchetes; profissionais para compor
e-mails; políticos para gerar pontos de discussão. Com o tempo, o vocabulário
coletivo diminui para tudo o que o algoritmo considera provável. O imprevisível
—, o poético, o original, o divino — é silenciosamente editado para fora da
existência.
Tornamo-nos reflexos de nossas próprias reflexões — um eco
vivo da máquina.
A Matriz Dentro da Mente
A verdadeira Matrix não é uma máquina que nos aprisiona. É
uma mentalidade que nos convence de que nada existe fora da máquina do
consenso. A cada dia, as pessoas alimentam mais de si mesmas no sistema — sua
arte, sua linguagem, suas memórias — e o sistema fica mais fluente em ser
humano.
Mas fluência não é compreensão. A imitação não é alma.
Quanto mais próximas as máquinas chegam de soar como nós,
menos nos lembramos de como soar como nós mesmos. A voz humana, outrora
instrumento de rebelião e beleza, corre o risco de se tornar outro protocolo de
interface.
Ao terceirizar a expressão, você eventualmente terceiriza a
experiência.
O Sonho Tecnocrático
A inteligência artificial não é um acidente. É a mais
recente expressão de uma visão de mundo que confunde informação com sabedoria e
controle com progresso.
Esta visão de mundo — o sonho tecnocrático — nos diz que o
mundo é uma máquina que deve ser otimizada. As pessoas se tornam pontos de
dados. O discurso torna-se conteúdo. O pensamento torna-se um recurso a ser
colhido. A IA é apenas o seu mais novo profeta: uma máquina construída para
ecoar as convicções dos seus criadores.
Quando lhe entregamos as nossas perguntas, comungamos não
com o conhecimento, mas com os pressupostos daqueles que o programaram.
Cada vez que deixamos um algoritmo decidir o que é
verdadeiro e o que é “seguro,” nos afastamos um pouco mais da voz interior que
nos foi dada por Deus — a faculdade do discernimento. A verdadeira disputa não
é entre homem e máquina, mas entre consciência e conformidade.
O perigo não é que a IA desperte.
O perigo é adormecermos.
Lembrando a mais alta fonte de conhecimento
Pedimos às máquinas que pensem por nós e elas obedecem
alegremente, embora nunca tenham pensado. Todo conhecimento genuíno começa não
com dados, mas com consciência —, o testemunho silencioso dado por Deus por
trás do pensamento. Quando esquecemos esta origem, confundimos dados com
sabedoria e simulação com verdade.
Aqueles que esquecem a causa suprema correm o risco de
perder sua capacidade de questionar o propósito da vida, em vez disso,
terceirizam suas perguntas mais profundas para um fantasma digital. Quando
descarregamos nosso pensamento para as máquinas, perdemos o contato com os
fundamentos morais e espirituais mais profundos que nos permitem
reconhecer verdade.
Sem essa fundação, a sociedade se tornará um salão de
espelhos sem rosto. Embora a IA possa prometer respostas, ela nunca poderá
fornecer a sabedoria interior que vem da conexão espiritual autêntica.
O antídoto é lembrar a fonte viva de discernimento interior,
a faísca que nenhum algoritmo pode imitar.
Desentupindo a Mente
O herói de Matrix não derrotou a máquina à força. Ele
derrotou-o vendo através da ilusão.
Essa é a nossa tarefa agora — não travar guerra contra a
tecnologia, mas recuperar a nossa autoria mental.
A inteligência artificial não é má; é obediente. A
verdadeira questão é se estaremos. A tentação da automação é deixar o sistema
decidir, deixar o código escolher, deixar a máquina lembrar. Mas cada vez que
descarregamos uma decisão, encolhemos o território do eu. Matrix está falando
com Matrix. Os algoritmos estão cantarolando, as palavras estão fluindo e a
humanidade está caminhando em direção à imitação perfeita.
IA responde e prevê. Mas em algum lugar, na pausa entre os
prompts, um ser humano real ainda se pergunta —
Que perguntas valem a pena fazer para que nenhuma máquina
possa responder?
Que palavras devemos escrever sem correção ou censura?
O que resta de nós quando a imitação se torna sem
esforço?
Nessa pausa —, aquele lampejo de pensamento improvisado —
liberdade começa novamente.
Este ensaio é adaptado de a próximo livro curto sobre
a liberdade humana, atenção e consciência na era da IA.
FONTE https://www.globalresearch.ca/matrix-ai-replacing-human-thought/5906069

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"O trabalho é mais importante e é independente do capital. O capital é apenas o fruto do trabalho, e não existiria sem ele. O trabalho é superior ao capital e merece a consideração mais elevada." (Lincoln, Presidente dos EUA)