sábado, 2 de agosto de 2014

Norman Mailer - Os Duros não Dançam


O romance situa-se numa zona dos EUA que Mailer conhecia muito bem: a faixa litoral do Massachu- setts, onde se concentra a maior comunidade lusodescendente da América do Norte.

"Numa tarde invernal, sentava-se ao balcão [do bar] um pescador português de uns 80 anos. Setenta de trabalho tinham-no deixado tão retorcido e deformado como um cipreste enraizado num penhasco de uma costa batida pelo vento. Pouco depois, entrou outro pescador, tão artrítico como o primeiro. Em garotos, haviam brincado juntos, praticado o râguebi, frequentado o liceu, trabalhado em barcos de pesca, tinham-se embebedado e provavelmente ornamentado as frontes um ao outro com as respectivas mulheres e agora, aos 80 anos, quase não conviviam, excepto nas trocas de socos a que se entregavam em particular. Apesar disso, o primeiro pescador deslizou do banco, empertigou-se e, aos uivos, numa voz tão áspera como o vento de Março no alto mar, disse: 'Julgava que tinhas morrido.' O outro inclinou-se para a frente, dirigiu-lhe um olhar furibundo e, com uma laringe de sons tão agrestes como os das gaivotas, replicou: 'Morrido? Antes disso, hei-de ir ao teu funeral.' E tomaram uma cerveja juntos. Tratava-se apenas de um exercício para arejar um pouco a malquerença. Os portugueses sabem falar aos ladridos."  (tradução de Eduardo Saló)

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Um romance narrado como se fora uma autobiografia actual. Decorrendo numa pequena cidade da nova Inglaterra o protagonista, com cerca de quarenta anos, recentemente separado da mulher, recorda o passado. A infância miserável, as aspirações de tornar-se pugilista profissional, o longo noivado. Esta rememoração retrospectiva intercala-se na narrativa do presente, em que se vê envolvido numa série de crimes inexplicáveis que procura desvendar.