sábado, 30 de abril de 2016

Paulo Varela Gomes - Aquilo que é necessários




Aquilo que é necessários



 Na manhã do dia 1 de Janeiro de 1962, eu, o meu irmão e as minhas duas irmãs fomos acordados, não pelo meu pai ou a minha mãe como era costume, mas por um tio e uma tia. Mandaram-nos vestir um roupão sobre os pijamas e acompanhá-los. Atravessámos a curta distância que separava da casa do meu avô materno a casa onde vivíamos, e à qual nunca mais voltei. Durante semanas só nos disseram coisas vagas. As empregadas do meu avô calavam-se de repente quando passávamos. Soubemos depois que a família não tinha a certeza que o meu pai sobrevivesse aos ferimentos de bala que sofrera no ataque ao quartel de Beja na madrugada daquele dia 1. A minha mãe estava presa. Voltou para casa um ano e meio depois. Ele, ao fim de seis anos. Lembro-me: a minha mãe, a quem não deixaram abraçar os filhos pequenos, encharcando com lágrimas os punhos cerrados de fúria com que agarrava as grades do parlatório de Caxias. O nosso terror. O meu pai, numa cela da Penitenciária de Lisboa, entubado, magríssimo, a voz quase apagada, um fantasma desvanecido contra a luz da janela, aquele homem que eu recordava grande, alegre, garboso na sua farda. Desapareceu de vez a infatigável alegria do meu irmão, um miúdo palrador e de olhos cheios de luz. Ganhou dificuldades de fala e endureceu. Nunca mais encontrou a paz. Por mim, fui adolescente a querer ser homem sem ter para isso pai. Não foi fácil e não se tornou menos difícil depois. As minhas irmãs, eu sei lá, nunca falamos disso. A família juntou-se para nos acolher e ajudar, houve amigos que estiveram à altura da ocasião, mas vivíamos com alguma dificuldade. Quando a minha mãe foi libertada, tinha perdido a profissão que a PIDE a impediu de retomar. Arranjou os empregos possíveis. Dormia pouquíssimo, trabalhava loucamente e aguentou tudo. Só perdeu a juventude e a saúde.
Quando visitávamos os meus pais em Caxias, em Peniche, encontrámos pessoas que sofreram muito mais que nós e estavam muito mais desamparadas. Especialmente os familiares de militantes do PCP, gente heróica sem bravata. Aprendemos que, para além dos nossos pais e dos que, com eles, foram a Beja (alguns, com menos sorte e resistência física que o meu pai, para lá morrerem), havia em Portugal muitas pessoas rectas que, ao fazerem o que era necessário fazer, causaram danos colaterais como aqueles que a minha família sofreu. Aprendemos que é mesmo assim, que nada se consegue sem danos colaterais. Aprendemos também, todavia, que a maioria das pessoas não suporta esta ideia e quer somente paz e sossego. É a vida, mas felizmente haverá sempre aqueles que são maiores que a vida. Se os não houvera, a iniquidade venceria necessariamente.
Coincide com os 50 anos da Revolta de Beja a perseguição movida pelo regime que hoje vigora em Portugal contra Otelo Saraiva de Carvalho, o operacional responsável pela revolta seguinte, o 25 de Abril de 1974. Que isso não nos impeça de dizer e fazer o que é necessário. A iniquidade não pode vencer.
Historiador
Jornalista
https://www.publico.pt/opiniao/jornal/aquilo-que-e-necessarios-23714297

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Shakespeare - soneto CIX - O, never say that I was false of heart



CIX.

O, never say that I was false of heart,
Though absence seem'd my flame to qualify.
As easy might I from myself depart
As from my soul, which in thy breast doth lie:
That is my home of love: if I have ranged,
Like him that travels I return again,
Just to the time, not with the time exchanged,
So that myself bring water for my stain.
Never believe, though in my nature reign'd
All frailties that besiege all kinds of blood,
That it could so preposterously be stain'd,
To leave for nothing all thy sum of good;
For nothing this wide universe I call,
Save thou, my rose; in it thou art my all

http://sonnetaday.com/about.php

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Shakespeare

 

  • Filipe Diniz 


Shakespeare
Há coisas com 400 anos que permanecem inteiramente vivas. Uma delas é a obra de William Shakespeare, sobre cujo falecimento passam este ano quatro séculos.


Devemos recordar essa obra antes de tudo pelo seu incomparável valor intrínseco. Mas não é desajustado lembrar também o grande interesse com que Marx e Engels a evocaram, e como recorreram a personagens seus para sublinhar este ou aquele aspecto do comportamento e da mentalidade da burguesia em ascensão e do conflito de classes do seu tempo. Tal como, aliás, Álvaro Cunhal – que traduz o «Rei Lear» nos longos anos da segunda prisão – sublinha relativamente a uma fala em «Timon de Atenas»acerca das mutações que «o avanço económico e ideológico da burguesia inglesa» desencadeia: «o ouro que torna o preto branco, o feio bonito, o justo injusto, o sujo limpo, o cobarde valente».


Álvaro Cunhal valoriza a «obra e criatividade de um grande artista, com profundo humanismo e sentido crítico da época, assente no espírito criador do seu povo», obra que tem a«antecedê-la e inspirá-la uma longa e profunda elaboração da criatividade popular


E merece igualmente a pena recordar as belíssimas linhas com que Georgy Lukács, argumentando a crítica ao«romantismo revolucionário» na literatura, retoma Marx: «a revolução socialista já não pode, como fazia a revolução burguesa, extrair a sua poesia do passado: só ao futuro ele deve pedi-la»; […] «esta perspectiva que irradia do futuro em relação ao presente, este esplendor da perspectiva socialista, é o dever de uma crítica cada vez mais rigorosa, mais despojada, mais exigente»; […] «a poesia do futuro serve-se de meios que permitem procurar e encontrar a essência do presente, na totalidade móvel das suas verdadeiras determinações e das suas verdadeiras leis». É nesse termos que Marx se refere aos realistas, «os mais perfeitos dos escritores modernos, cuja visão se estende ao mundo inteiro e que o submetem objectivamente a uma crítica feroz – e antes de todos Shakespeare e Balzac».


É nos termos dessa «poesia do futuro» que os povos devem assumir como seu o património dos grandes poetas que deram expressão a toda a riqueza da longa caminhada humana.

http://www.avante.pt/pt/2213//140124/

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Mário de Sá-Carneiro - Alcool

* Mário de Sá-Carneiro


Guilhotinas, pelouros e castelos 
Resvalam longamente em procissão; 
Volteiam-me crepúsculos amarelos, 
Mordidos, doentios de roxidão. 

Batem asas d'auréola aos meus ouvidos, 
Grifam-me sons de côr e de perfumes, 
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes, 
Desce-me a alma, sangram-me os sentidos. 

Respiro-me no ar que ao longe vem, 
Da luz que me ilumina participo; 
Quero reunir-me, e todo me dissipo - 
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além... 

Corro em volta de mim sem me encontrar... 
Tudo oscila e se abate como espuma... 
Um disco de ouro surge a voltear... 
Fecho os meus olhos com pavor da bruma... 

Que droga foi a que me inoculei? 
Ópio d'inferno em vez de paraíso?... 
Que sortilégio a mim próprio lancei? 
Como é que em dor genial eu me eterizo? 

Nem ópio nem morfina. O que me ardeu, 
Foi alcool mais raro e penetrante: 
É só de mim que eu ando delirante - 
Manhã tão forte que me anoiteceu. 
Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão' 

domingo, 24 de abril de 2016

josé gomes ferreira - Termidor errado



@João Abel Manta
 
Termidor Errado 

IX

E foi para esta farsa
que se fez a revolução de Abril, capitães,
ao som das canções de Lopes-Graça?
Foi para voltar à fúria dos cães,
ao suor triste das ceifeiras nas searas,
as espingardas que matam os filhos as mães
num arder de lágrimas na cara?
E, no entanto,
no princípio, todos ouvíamos uma Voz
a dizer-nos que a nossa terra poderia tornar-se num pomar
de misteriosos pomos.
E nós,
todos nós, chegámos a pensar
que éramos maiores do que somos.


José Gomes FerreiraA Poesia Continua, velhas e novas circunstanciais. 

http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2016/04/24-nunca-mais.html

Armando Silva Carvalho - Desperta

* Armando Silva Carvalho



Já não vejo o som mas só a lama
E acelero.

Quero atravessar este país depressa
Antes da morte.

Já não oiço a luz mas só o sono
E travo

Contigo, com os teus freios cansados
E as tuas jantes tortas.

Sigo esta pista de silêncio
E arrabalde de velhos.

Arrastamos connosco a história cega
E acrobata deste tempo.

Chamo a tudo isto uma gincana
Nas traseiras da Europa

Já não viajamos, vamos em ponto morto
E a meta é ali

Desperta.
.


Armando Silva Carvalho

in O Amante Japonês, p.36

sábado, 23 de abril de 2016

Carla Romualdo - Pó enamorado

Pó enamorado



© CR
Durante anos, o meu pai repetiu que, logo abaixo do proverbial “aqui jaz fulano”, a sua lápide haveria de ressalvar: “Contra a sua vontade”.
Acabaria por escolher a cremação, até porque detestava enterros, mas continuou a gostar de contar o que diria a lápide que sabia que não iria ter.
As suas cinzas foram depositadas no jardim do cemitério, numa manhã de Verão que nada teve de solene. Mesmo antes de sair de casa, decidi que queria que pelo menos uma pequena parte das cinzas fosse para um sítio de que ele gostava. Não sendo um sítio onde se possam depositar cinzas, não seria viável depor lá mais do que uma reduzida quantidade. Só tinha à mão um daqueles frascos para champô de levar em viagem e, como nunca tinha sido usado, achei que poderia servir.
Nessa manhã, o grande volume de cinzas foi despejado no jardim, e, apesar do cuidado que se pôs na operação, formou-se uma nuvem de pó que me fez espirrar. Quanto se teria rido o meu pai se soubesse que a última coisa que fiz com ele foi espirrá-lo. Foi, aliás, a primeira vez que senti a falta dele, ao pensar que faltava ele ali para rir comigo. No recipiente disponibilizado pela funerária, um vaso negro, solene, as cinzas são qualquer coisa de sagrado, um despojo nobre. Num frasco transparente, as cinzas são comezinhas e domésticas, quase se pode falar com elas, dizer-lhes “Para já, vão ficar aqui na estante, têm luz, à beira da janela, e depois a gente leva-vos para aquele sítio.” Mas não cheguei nunca a falar com elas, não se apoquentem.
Trouxe comigo, portanto, o frasquinho com uma pequena parte das cinzas e pousei-o na estante, atrás da mesa onde escrevo. Se espreitarem, agora, por detrás do meu ombro, talvez consigam vê-lo. Nunca tinha visto cinzas humanas e reconheço que fiquei desconcertada. Creio que imaginava algo que pudesse assemelhar-se ao “pó enamorado” de Quevedo e afinal tudo se reduz a uma matéria cinzenta, algo granulosa, e cuja origem é indecifrável. É certo que a matéria se transforma, mas que o meu pai, mais o seu fato favorito, a sua gravata azul, o seu cachecol do FCP, sejam este pó cinzento que restou parece-me difícil de acreditar.
Como não choveu pouco nos meses seguintes, fomos adiando levar as cinzas para o outro sítio, porque a ideia de que as cinzas se fizessem lama era-nos desagradável. E, assim, o frasco foi ficando na estante. Não tenho nenhum interesse mórbido nas cinzas, quando penso no meu pai não penso nas suas cinzas, passam-se muitos dias em que nem me lembro que estão ali, e só mexo no frasco quando ele está mesmo em frente ao livro que quero tirar da estante.
Tal como o meu pai, eu também gosto de dizer que já sei o que dirá a lápide que não vou ter. Como, apesar de tudo, sou menos rezingona do que ele, a minha dirá:
“Gostei muito deste bocadinho.”
Penso que ele seria a única pessoa no mundo a achar verdadeiramente graça a isto. Acreditávamos ambos que uma piada pode resistir pelo menos tanto como o mármore.
No outro dia, perguntaram-me se sempre vou levar as cinzas ou deixá-las ficar e espantei-me com a pergunta. O plano não mudou, as cinzas têm destino. Mas não estão mal onde estão, lá isso é verdade, e continuo à espera do dia em que um visitante inadvertido perguntará: “Ah, esta areia trouxeste de donde?” e eu vou gostar de observar a sua expressão quando lhe explicar de que se trata. O que estou disposta a mudar é de frasco, até porque consigo ouvir o protesto do meu pai: “Meteste-me num frasco de champô?! Tem algum jeito?”
Nenhum de nós teve, alguma vez, jeito para o solene, lá isso não.
https://aventar.eu/2016/04/23/po-enamorado/#more-1251706

Urariano Mota - Miguel de Cervantes e o Brasil

23 de abril de 2016 - 10h24 

Urariano Mota: Miguel de Cervantes e o Brasil

Neste sábado, completam-se 400 anos do falecimento do gênio Miguel de Cervantes. É claro que só no sentido do corpo físico dizemos que falece um artista máximo da humanidade. O fundamental é que no mundo inteiro hoje se lembra a continuação viva de Cervantes em sua obra-prima, o Dom Quixote. Sem dúvida, o maior e melhor romance já escrito, digno de ser prova da existência do homem, quando mais nada existir.

Por Urariano Mota*




  

Perdoem o que pode parecer uma orquestra de clarins. Se assim parece, compreendam. Um clássico da altura de Miguel de Cervantes é sempre moderno, para nós ele acaba de escrever agora mesmo, nesta hora. Assim, penso não ser um abuso a relação que estabeleço entre o Dom Quixote e o Brasil destes dias, quando uma presidenta honesta sofre impeachment comandado por um desonesto notório. Se não, observem na primeira parte da obra:.


“ – Seja Vossa Mercê servido, meu Senhor Dom Quixote, de me dar o governo da ilha que acabou de ganhar nesta rigorosa pendência; pois, por grande que seja, me sinto com forças de a saber governar, tal e tão bem como qualquer outro que haja governado ilhas no mundo. 


Ao que Dom Quixote respondeu: 


- Sabei, irmão Sancho, que esta aventura e outras semelhantes não são aventuras de ilhas, mas de encruzilhadas, nas quais não se ganha outra coisa senão uma cabeça quebrada, ou uma orelha de menos. Tende paciência, que outras aventuras se nos oferecerão, em que eu vos possa não só fazer governador, como até mesmo coisa melhor”. 


Nem é preciso estabelecer uma relação primária entre a ilha prometida a Sancho Pança, que só existia na imaginação do cavaleiro Dom Quixote, e o Brasil, um continente maior que a fantasia mais delirante. Importa mais o sentido de que o agir político mais de uma vez nos deixa todos em situação de encruzilhadas, nas quais se ganham cabeças quebradas, orelhas de menos e traições a mais. Ao mesmo tempo, como acompanharnosso Brasil, a não ser com a riqueza da literatura, os discursos e votos em nome da honestidade proferidos por corruptos?


“As histórias inventadas tanto têm de boas e deleitosas quanto mais se aproximam da verdade ou de sua semelhança; e as verídicas, quanto mais verdadeiras, melhores são”. Assim falou o augusto cavaleiro na pena de Cervantes. Que belo pensamento e lição literária, que alcança todas as falsificações até hoje, no Congresso e nos livros. As histórias inventadas são boas quanto mais próximas forem da verdade. Quem escreverá sobre estes dias? 


Então cheguemos ao fim: 


“— Ai! — respondeu Sancho Pança, chorando — não morra Vossa Mercê, senhor meu amo, mas tome o meu conselho e viva muitos anos, porque a maior loucura que pode fazer um homem nesta vida é deixar-se morrer sem mais nem mais, sem ninguém nos matar, nem darem cabo de nós outras mãos que não sejam as da melancolia .... Vossa Mercê há-de ter visto nos seus livros de cavalarias ser coisa ordinária derribarem-se os cavaleiros uns aos outros, e o que é hoje vencido ser vencedor amanhã.”


Em seu autorretrato, escreveu um dia o gênio:


"Este, que aqui vedes, boca pequena, dentes nem de mais nem de menos, porque são apenas seis e, ainda assim, em má condição, muito mal dispostos, pois não têm correspondência uns com os outros... que se chama Miguel de Cervantes Saavedra, foi soldado durante muitos anos, escravo por cinco anos e meio e foi aí que aprendeu a ter paciência na adversidade.”


Grato, Cervantes. Com paciência, a dor de hoje também vai passar. 



*Urariano Mota é escritor, pernambucano, jornalista e colunista do Vermelho 

http://www.vermelho.org.br/noticia/279752-1

Alfred Lord Tennyson - The Charge of the Light Brigade

The Charge of the Light Brigade (poema)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Charge of the Light Brigade de Richard Caton Woodville (1825-1855)
The Charge of The Light Brigade é um poema escrito   por Alfred Lord Tennyson no século XIX, que conta a história da Carga da Brigada Ligeira durante a Batalha de Balaclava, que aconteceu em 1854, na Guerra da Crimeia, e envolveu os impérios britânico e russo.
O poema é destaque no filme de 1936 The Charge of the Light Brigade do diretor Michael Curtiz.
Original:
I
Half a league, half a league,
Half a league onward,
All in the valley of Death
Rode the six hundred.
“Forward, the Light Brigade!
Charge for the guns!” he said.
Into the valley of Death
Rode the six hundred.

II
“Forward, the Light Brigade!”
Was there a man dismayed?
Not though the soldier knew
Someone had blundered.
Theirs not to make reply,
Theirs not to reason why,
Theirs but to do and die.
Into the valley of Death
Rode the six hundred.

III
Cannon to right of them,
Cannon to left of them,
Cannon in front of them
Volleyed and thundered;
Stormed at with shot and shell,
Boldly they rode and well,
Into the jaws of Death,
Into the mouth of hell
Rode the six hundred.

IV
Flashed all their sabres bare,
Flashed as they turned in air
Sabring the gunners there,
Charging an army, while
All the world wondered.
Plunged in the battery-smoke
Right through the line they broke;
Cossack and Russian
Reeled from the sabre stroke
Shattered and sundered.
Then they rode back, but not
Not the six hundred.

V
Cannon to right of them,
Cannon to left of them,
Cannon behind them
Volleyed and thundered;
Stormed at with shot and shell,
While horse and hero fell.
They that had fought so well
Came through the jaws of Death,
Back from the mouth of hell,
All that was left of them,
Left of six hundred.

VI
When can their glory fade?
O the wild charge they made!
All the world wondered.
Honour the charge they made!
Honour the Light Brigade,
Noble six hundred!

https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Charge_of_the_Light_Brigade_(poema)

antónio sousa homem - Resistir ao tempo, cuidar das memórias


* antónio sousa homem

 A vida de um velho compõe-se de resistência e de memórias. 
07.02.2016 00:30 

Resistir ao tempo, recordar o que passou como se não tivesse passado: nisto se compõe tudo o que escrevo e colecciono como um caçador de borboletas. 

O velho Doutor Homem, meu pai, incorporou todos os defeitos das burguesias e do racionalismo do Porto, moldado pela penumbra do céu e pela chuva que caía nas suas ruas de granito escuro. A sua vida intelectual era um luxo permitido pela família; a moeda de troca eram férias de Verão e temporadas de preguiça. As viagens levavam-nos a hotéis e cidades com museus, lojas e restaurantes, com a perseverança tutelar de Dona Ester, minha mãe; a preguiça depositava-nos em Ponte de Lima para um a dois meses de Verão, onde as tardes eram invadidas pelos seus discos (a voz de Anna Moffo, a sua soprano favorita, interpretando ‘La Bohème’ ou a ‘Norma’ para ouvir ‘Casta Diva’) ou/e pela desarrumação na biblioteca do velho casarão miguelista – onde se misturavam, nos sofás e nos cadeirões, jornais da época e livros que convidavam à sesta. 

Se me contagiasse, algum dia, a tentação (muito frequente nos portugueses de várias origens) de escrever um romance, eu teria nos anos de ouro de Ponte de Lima um cenário atraente e luminoso. A vida foi-me fácil nesses anos; poupado às atribulações do casamento (mas também ao seu conforto) e da economia familiar, uma segunda adolescência prolongou-se até aos meus trinta anos, e as minhas preocupações essenciais eram, no fundo, a epistolografia e o guarda-roupa. O temperamento ajudava. Eu era preguiçoso. Aprendi o essencial – e o essencial era um certo conformismo e a vontade de aproveitar a felicidade do tempo. Coleccionei, portanto, recordações que hoje uso como uma flor antiga numa lapela fora de moda. 

Penso nisso porque, com a Primavera que há-de chegar, abriremos a casa de Ponte de Lima para arejar os corredores e as salas de sobrado de madeira. Os meus sobrinhos consideram esse ritual (antes da pausa da Páscoa) uma obrigação moral. No fundo, acho que têm pena da solidão do senhor Dom Miguel, cujo rosto triste e perturbado naquele retrato ao fundo do corredor do piso térreo lembra que os derrotados também têm direito à vida. Foi o que nos salvou. De contrário, seríamos muito menos interessantes. 


As 50 obras essenciais da literatura portuguesa



TIAGO ALBUQUERQUE

Quem é o autor mais importante da literatura portuguesa? Quais são as obras fundamentais em todos os géneros literários?

Os Lusíadas de Luís de Camões continua a ser a obra mais importante da literatura nacional. Em seguida, o Livro do Desassossego de Fernando Pessoa (heterónimo Bernardo Soares) é aquela que os especialistas mais apreciam. Quais serão então as outras obras essenciais dos nossos escritores?

O DN quis apurar quais são as 50 obras essenciais da literatura nacional desde o seu início e chegou a uma conclusão com a ajuda de vários entendidos na matéria. Primeiro, elaborou-se uma lista com 80 autores. Com o crivo do especialista em literatura portuguesa Miguel Real fez-se a primeira versão. Em seguida, a escolha foi confrontada com várias opiniões de entendidos em autores e áreas. Foram ouvidos António Mega Ferreira, Francisco Vale, Isabel Alçada, Isabel Pires de Lima, Manuel Alberto Valente, Maria Alzira Seixo, Nuno Júdice, Pedro Mexia, Viale Moutinho e Zeferino Coelho.

Por fim, acertadas as melhores obras de cada um, eliminados alguns autores e acrescentados outros, chegou-se à versão final. Que foi de novo ao crivo de outro especialista na nossa literatura, Fernando Pinto de Amaral. A versão final só foi obtida ao fim de um mês.

A escolha final está assim dividida: as 25 obras essenciais em todos os géneros; os dez melhores ensaios; as cinco melhores peças de Teatro e os dez livros de Poesia mais importantes.

Eis a lista:


as 25 obras essenciais em todos os géneros

Os Lusíadas, Camões
Livro do Desassossego, Fernando Pessoa
Sermões, Padre António Vieira
Os Maias, Eça de Queiroz
Cancioneiros Medievais (Cantigas de Amigo e de Amor)
Crónica de D. João I, Fernão Lopes
Peregrinação, Fernão Mendes Pinto
Memorial do Convento, José Saramago
Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett
A Brasileira de Prazins, Camilo Castelo Branco
Sôbolos Rios que Vão, António Lobo Antunes
A Sibila, Agustina Bessa-Luís
Sonetos, Antero de Quental
Húmus, Raul Brandão
Livro Sexto, Sophia de Mello Breyner Andresen
Menina e Moça, Bernardim Ribeiro
Mau Tempo no Canal, Vitorino Nemésio
A Arte de Ser Português, Teixeira de Pascoaes
A Casa Grande de Romarigães, Aquilino Ribeiro
Sinais de Fogo, Jorge de Sena
Aparição, Vergílio Ferreira Aparição
O Delfim, José Cardoso Pires
Uma Abelha na Chuva, Carlos de Oliveira
Maina Mendes, Maria Velho da Costa
Uma Viagem à Índia, Gonçalo M. Tavares


os dez livros de Poesia mais importantes

Obra Poética, Sá de Miranda
Poesia, Bocage
O Livro, Cesário Verde
Só, António Nobre
Clepsidra, Camilo Pessanha
Poemas de Deus e do Diabo, José Régio
As Mãos e os Frutos, Eugénio de Andrade
Pena Capital, Mário Cesariny
A Colher na Boca, Herberto Helder
Toda a Terra, Ruy Belo




as cinco melhores peças de Teatro 

O Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente
A Castro, António Ferreira
Auto do Fidalgo Aprendiz, Francisco Manuel de Melo
Guerras de Alecrim e Manjerona, António José da Silva
O Judeu, Bernardo Santareno

os dez melhores ensaios

Leal Conselheiro, Rei D. Duarte
Quod nihil scitur, Francisco Sanches
O Verdadeiro Método de Estudar, Luís António Verney
Portugal Contemporâneo, Oliveira Martins
A Ideia de Deus, Sampaio Bruno
Ensaios, António Sérgio
Ir À Índia Sem Sair de Portugal, Agostinho da Silva
O Labirinto da Saudade, Eduardo Lourenço
Tratado da Evidência, Fernando Gil
O Erro de Descartes, António Damásio

Leia mais pormenores na edição impressa ou no e-paper do DN


http://www.dn.pt/artes/interior/as-50-obras-essenciais-da-literatura-portuguesa-5140124.html

Os CONTOS DO QUIJOTE

Século de Ouro da literatura espanhola. Novela renacentista. Argumento. Profundidade histórica. Vocabulário

Os CONTOS DO QUIJOTE
  • Introdução
  • Este livro comprei-o durante as férias de Páscoa. Ao igual que fiz com os outros dois livros que lemos nas avaliações passadas, o fui lendo pouco a pouco para poder entender melhor o argumento dos relatos. Lia umas seis páginas por dia, pelo que demorei algo mais de um mês no terminar. Para minha surpresa, a linguagem empregada nos relatos foi-me mais singelo de ler que o Lazarillo, mas me seguiu custando compreender o argumento e o desenvolvimento deste mesmo na cada conto.
    Tenho que dizer que me agradou bastante mais ler o Lazarillo, o encontrei mais ameno e irônico que este último. Apesar de tudo, o livro não me desagradou e me pareceu curioso.
    Com respeito à mensagem dos relatos para o leitor, não encontrei nenhum destacável. Simplesmente mostra-nos algumas das curiosidades que ocorriam naquela época, quase todas elas pouco comuns mas ao mesmo tempo críveis. É algo difícil de explicar, já que enquanto o ia lendo a cada me interessava mais conhecer o final do conto, pensando que realmente isso pudesse ocorrer alguma vez, embora alguns deles perdiam credibilidade, para mim opinião. Em resumo, considerei que estes relatos são todos fictícios, apesar do interesse que nos mostram alguns para conhecer mais a sociedade desses séculos XVI e XVII.
  • Resumo
  • RESUMO PRIMEIRO: O curioso impertinente.
    Neste relato as personagens principais são Anselmo e Lotario, os quais têm uma grande amizade, que tão amigos eram que ali em onde se situa a ação, lhes chamavam “os dois amigos”. E os outros duas personagens que eu destacaria são a Camila, uma mulher honesta, de extraordinária beleza e admirada no povo, a qual se casa com Anselmo, e Leonela, a servente de Anselmo e Camila, que adquire um respetableprotagonismo no conto.
    A ação situa-se em Florencia, uma bonita e rica cidade da Itália. Dentro desta localidade encontra-seToscana, onde habitam nossos protagonistas. Nesta pequena província habitaram desde sempre duas famílias ricas e respeitadas no povo, a família de Anselmo e de Lotario. Estes foram grandes amigos desde sempre. A uma verdadeira idade, Anselmo apaixona-se de uma bela mulher, Camila. Ela, correspondendo aos sentimentos de Anselmo, se casa com ele.
    Ao tempo de levar eles dois casados, Anselmo quis provar a fidelidade de sua esposa. Em todos os locais lhe diziam que Camila era uma boa mulher, honesta e digna. Advertiam-lhe que não metesse a mão no fogo, que ao final se queimaria. Mas ele, seguindo com seu descabellada idéia, lhe pede a seu amigo Lotario que lhe ajude a levar a cabo seu plano. Em um princípio, Lotario nega-se em rotundo e tenta disuadir a seu amigo, de que essa idéia era totalmente absurda. Mas finalmente, Anselmo consegue convencer-lhe para que tente conquistar a sua esposa. Lotario instala-se na casa, Anselmo finge que tem assuntos em outro local fora de Toscana e deixa a casa livre para que Lotario assalte a Camila. No começo de suas seduções,Camila recusa-lhe sem pensar-lho, até que Lotario termina se apaixonando loucamente dela.
    No conto, adquire uma especial importância a personagem da mulher, Camila, no que esta é totalmente inteirada de como deve de atuar na cada momento e é dona de suas ações. Mas a principal parte do relato está em mãos das personagens masculinas, Anselmo e Lotario. Há que destacar o desvincule, o qual nos leva a pensar que realmente quando se joga com fogo, é fácil se queimar e haver fracassado, como é o caso deste. Por que finalmente, Anselmo perde a amizade com Lotario, a fortuna da que dispunha e a sua esposa, marchando do povo definitivamente. Fica totalmente deshonrado, e tudo pelo orgulho.
    O tema que se trata aqui é ainda vigente na atualidade. Muitas vezes, sem saber as consequências que pode trazer, se leva a cabo algo perigoso, onde o desvincule pode ser desastroso, tal e como ocorre no relato. Por isso, considero importante valorizar o que já se tem e não tratar de aumentar pelo orgulho.
    RESUMO SEGUNDO: O Cativo.
    Neste segundo conto podemos deduzir que as duas personagens principais são o cativo e a mulher da que se apaixona este último, Zoraida. A ação desenvolve-se em um começo nas montanhas de León, transladando-se mais adiante a diferentes sítios, segundo o local no que lhe faziam escravo. Finalmente, após que o barco no que ia naufragasse, fica em Argel em mãos de um importante rei.
    Parte do argumento do relato trata das aventuras que lhe ocorrem ao principal protagonista ao sair de casa de seu pai: este, vendo que seus três filhos se faziam maiores, lhes dá uma quantidade de dinheiro para que façam suas vidas fora de casa. O protagonista, seguindo os conselhos de seu pai, encaminha-se ao exercício das armas. Após seguir um indeterminado número de viagens a diversos locais, cai cativo de diferentes capitães, reis e outras personagens de alto nível.
    Uma vez encontra-se em Argel, sendo prisioneiro, dá-se conta de que em cima do pátio de sua prisão se encontravam as janelas da casa de um mouro rico, o qual tinha uma filha, Zoraida, muito conhecida por suainmensurable beleza. Em um dia, estando ele com seus colegas, olhou para acima sem se dar conta, podendo assim observar que desde uma das janelas pendurava uma cana com dinheiro e outras coisas penduradas do extremo. Desta maneira, o cativo conhece a Zoraida, da que se apaixona perdidamente. Ela, correspondendo a seus sentimentos, continua lhe enviando dinheiro e cartas para poder ser pago a liberdade e sair da prisão.
    Depois de vários meses de que Zoraida lhe desse grandes quantidades de dinheiro, não só ele pôde sair da prisão, se não que seus amigos e ele conseguiram a liberdade e um barco com o que regressar a Espanha.Zoraida e ele tinham planejado que ele a fosse buscar, para a levar com ele.
    Podemos observar que neste conto nos mostra um pouco mais a sociedade do século XVI, vendo desta maneira os perigos que traziam as viagens realizadas em barco, a desgraça de cair na escravatura, e a facilidade de ser prisioneiro. A diferença dos demais relatos, este tem verosimilitud. Além de que um fragmento deste são fatos reais que lhe ocorreram ao próprio escritor do livro, Miguel de Cervantes, quando esteve em Argel. Um aspeto destacável do relato é o já mencionado antes, a credibilidade que inspira enquanto se lê.
    RESUMO TERCEIRO: A Casa dos Loucos.
    As personagens deste conto, são unicamente dois, e um secundário; tão poucos se mostram neste, considerei eu, por seu escueta extensão. Estas duas personagens principais são o capelão enviado pelo arcebispo e o licenciado. A personagem secundária que apreciei eu é o louco do manicomio, que aparece no final, se achando Júpiter.
    A ação situa-se neste caso em uma casa de loucos de Sevilla, onde o licenciado era ingressado por sua família lhe achando por louco. Nos últimos anos que este esteve na casa, se comportou de tal maneira que os encarregados dali chegariam a pensar que estava sensato. Desta maneira, o licenciado escreve uma carta ao arcebispo onde lhe explicava o problema no que se encontrava: que o realmente não estava louco, que já recuperava a sensatez. Tal foi a insistência do licenciado, que o arcebispo se decidiu a enviar um capelão para conhecer a verdade. Quando chegou o capelão à casa, esteve falando com ele. E pela maneira no que o licenciado conversou com o capelão, decidiu que efetivamente, não estava louco, e que devia de voltar a sua casa com sua família.
    Mas em um descuro, o licenciado foi a despedir de seu colega, o qual, louco de arremate, lhe explicou algo enojado que ele era Júpiter e que em três anos não choveria no povo. O licenciado, molesto com a despedida de seu colega, defendeu-se dizendo que ele, sendo Neptuno, faria com que chovesse as vezes que quisesse. Estando o capelão diante, deu-se conta da realidade: o licenciado tinha-se mostrado sensato quando verdadeiramente estava louco. De novo, o licenciado ficou na casa de loucos, sem conseguir seu propósito: sair dali.
    Aqui podemos ver que algumas vezes, achamos coisas que evidentemente não são. Neste caso, o louco fez-se passar por sensato, caindo em sua miserável armadilha o capelão. Desta forma, não tudo é como se vê e não há que fiar das aparências, se não da intuição da cada um.
    RESUMO QUARTO: A história de Leandra.
    Neste caso, a principal protagonista é Leandra, filha de um homem rico e honrado. Mas a este homem o que mais lhe honrava era ter uma filha como ela, de extremada hermosura e tão preciosa pela maioria dos homens da aldeia.
    Entre os muitos homens que se tinham movido desde diferentes pontos do país para conhecer e tentar conquistar a Leandra, seu pai se decantó por dois. Um deles era do mesmo povo, o pai deste conhecido por ele, de grande riqueza e limpo de sangue, Eugenio. Com as mesmas, pediu-lhe a mão de sua filha outro também do povo, o qual tinha por nome Anselmo, que foi a causa pela que seu pai decidiu perguntar a sua filha pelo definitivo pretendiente. Mas nesse tempo apareceu outro mais no povo, filho de Labrador, mas que nesse momento provinha de terras da Itália, com luxuosas vestimentas. Este tinha as habilidades de realizar todo tipo de atividades, tais como tocar a guitarra ou escrever poesia. Este, após muitas seduções, terminou por lhe roubar o coração a Leandra e cair esta rendida a seus pés.
    Finalmente, Leandra decide marchar-se com ele, sendo ela tão inocente e tendo tão grave cegueira, que ele a leva a um monte, após lhe ter roubado ao pai de Leandra. Ela, continuando sem suspeitar nada, lhe segue até o monte, onde ao cabo de uns dias, a despoja de todas suas roupas e a deixa só naquela espécie de gruta onde a tinha.
    No povo, ao ver que Leandra não voltava, decidiram Anselmo e Eugenio a ir buscar, a encontrando após vários dias naquela gruta já assinalada antes. Levaram-na de regresso ao povo, onde a partir desse momento tiveram gentes que a julgaram por deshonesta, fácil e ligeira.
    Com isto podemos entender a inocência de Leandra ante o amor que sentia por este filho de labrador. Assim, muitas vezes optamos pela decisão equivocada e criamos um problema irremediable. Ao igual queLeandra, em ocasiões não vemos a realidade, e fazemos coisas que não faríamos em situações diferentes.
  • Estrutura
  • O livro dos “Contos do Quijote” apresenta-nos sete relatos, contos ou novelas curtas. Não todos eles nos apresentam a mesma extensão, dentre estes sete podemos perceber que só três deles têm um maior comprimento, e estes são, “O curioso impertinente”, “O cativo” e “Os julgamentos de Sancho Barriga”. Os contos restantes pude observar que têm curta extensão, destacando “A casa dos loucos”, que a penas chega às quatro páginas.
    Também encontramos entre eles alguns que estão escritos de forma autobiográfica, como é o caso da “história de Leandra”, no qual é Eugenio o que conta a história desta mesma. Embora a maioria deles estão escritos em terceira pessoa.
    Destacar também que dentro de algum relato pudemos encontrar pequenos sonetos, a maioria deles comrima consoante.
    A única forma da que se unem todos estes contos é pelo fato de que estes pertencem à obra magistral “OQuijote”, por que enquanto os fui lendo, não pude encontrar nenhum outro elemento que me indicasse que tinham algum tipo de relacionamento entre eles, a parte de que se encontram incluídos no “Quijote”.
    A época na que se desenvolve a ação de todos os relatos é a dos séculos XVI e XVII, como nos resumos dos contos já mencionei. Há que ter em conta que esta época foi a do reinado de Felipe II, na que Espanha sofreu numerosos ataques e perdas de reinos, pelo que economicamente desceu sem remédio.
  • Profundidade histórica
  • O escritor espanhol Miguel de Cervantes Saavedra (1547-1616) está considerado como uma das figuras fundamentais da literatura universal, ao igual que sua novela Dom Quixote da Mancha, uma obra ambiciosa, com uma temática rica e variada, cheia de humor e ternura e que consegue chegar e entretener aos mais variados públicos. O conhecido princípio da imortal obra é o que aqui lê um ator.
    Século de ouro, termo que implica uma época de esplendor literário, político e militar. Os escritores do século XVI e de começos do XVII foram conscientes muitas vezes de estar vivendo uma época de esplendor em todos os âmbitos, mas só ocasionalmente se serviram da expressão “século de ouro” para se referir a ela.
    O exemplo mais notável oferece-o de forma tardia, embora com um sentido político, Bartolomé de Góngorano corregimiento sagaz (1656): “Deixando eu agora os varões heróicos em todo gênero daquele século do prudente Rei dom Phelipe, baste dizer que nele floresceu o mesmo Rei em quem faço epílogo do talento mais escolhido (em seu modo) daquela idade a minha parecer Século de Ouro”. O termo idade de ouro, bem mais frequente, sobretudo até Miguel de Cervantes, serviu neste momento uma vez mais para recrear, com nostalgia, o mito de uma era de felicidade e paz, à que seguia outras de prata, cobre e ferro, que percorria a cultura ocidental desde Hesíodo.

    Será na segunda metade do século XVIII quando arraigue o conceito de século de ouro para designar à literatura do século XVI, em especial à poesia —a novela, apesar do crescente interesse por Cervantes que se produz nesta época, foi menos apreciada e o teatro mal tido em conta. Em 1713, o Dicionário de autoridades ainda define assim no século de ouro: “Foi o espaço de tempo que fingiram os poetas haver reinado o deus Saturno, no que diziam vivia os homens justificadísimamente, e, por extensão, se chama assim qualquer tempo feliz”.


    A valoração de boa parte do século XVII vai produzir-se no romantismo. Os autores desta época, embora mal falam de século de ouro, não ocultam suas preferências, além de por a época medieval, pelos dramaturgos e romancistas barrocos (se veja Barroco), também defensores de uma literatura popular e nacionalista —a eles se tinha adiantado Casiano Pellicer em 1804 com seu Tratado histórico sobre a origem e progresso da comédia e do histrionismo em Espanha. Mais reticentes mostram-se em frente aos poetasconceptistas e culteranos, apesar de que GóngoraQuevedo e o conde de Villamediana se convertem agora em personagens de alguns dramas.
    Na literatura espanhola, mais que na de outros países, a inovação rara vez substitui por completo às tradições estabelecidas. Deste modo, os usos poéticos antigos e novos coexistieron durante o século XVI. A vida religiosa em Espanha intensificou-se em meados do século XVI, em parte como consequência da preocupação que sentiam os católicos espanhóis pela Reforma protestante. O novo estilo poético acomodou-se à expressão de atitudes espirituais muito afastadas da poesia pastoril. O primeiro grande poeta deste gênero foi fray Luis de León, em cujos versos a devoção cristã se conjuga com o culto à beleza, o amor à natureza e a busca da serenidad clássica caraterística da renascença. San Juan da Cruz, contemporâneo de fray Luis, compôs o que pára muitos críticos são os versos mais intensos e radiantes da língua espanhola. Nestes poemas tenta expressar —em termos de amor humano— a inefable experiência mística da união da alma humana com Deus. Outro poeta importante desta época é Fernando de Herrera, quem cultivou o estilo barroco característico do seguinte período da literatura espanhola.
  • Vocabulário
    • Requebraragasajar, festejar.
    • Pertrechos: fornecimentos, munições.
    • Atabales: tambores, caixas.
    • Intricadoenredado.
    • Zalemassaludoscarantoñas.
    • Salterios: liturgias.
    • Desaforados: excessivos, exagerados.
    • Fanales: focos, candiles.
    • Fullerostrampososcarreteros.
    • Chocarrero: zombador, gracioso.
    Ao mesmo tempo que lia os relatos, assinalava com um lápis aquelas palavras que não me resultaram familiares ou que sentia curiosidade por conhecer seu significado. De todas as que assinalei, escolhi estas dez. Não tenho nenhuma razão em especial pela que escolhi estas palavras, simplesmente não conhecia seu significado e ao buscar no dicionário me resultaram curiosas.
  • Conclusão
  • Após terminar o livro, dei-me conta de que graças a alguns relatos que realmente inspiravam credibilidade pude conhecer um pouco mais a sociedade desses séculos de ouro, onde a literatura espanhola destaca e se criam as obras mais importantes.
    Alegro-me de haver lido este livro, já que desfrutei bastante lendo-o e não me arrependo em absoluto disso. Resultaram-me curiosos alguns dos contos e bastante fantasiosos, mas que não por isso me tenham desagradado, todo o contrário.
    http://www.resumosetrabalhos.com.br/os-contos-do-quijote-miguel-de-cervantes.html