sexta-feira, 20 de julho de 2012

Sofia de Mello Breyner - Pranto pelo dia de hoje


Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que nem podem sequer ser bem descritas

Sophia de Mello Breyner
(1919-2004)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Estaline - Discurso Pronunciado no Congresso do Partido Operário Social-Democrata Finlandês em Helsinki

Discurso Pronunciado no Congresso do Partido Operário Social-Democrata Finlandês em Helsinki

J. V. Stálin
14 de Novembro de 1917



Camaradas!

Fui eleito delegado para vir até vós, a fim de trazer-vos uma saudação em nome da revolução operária russa que abalou desde os alicerces as bases do regime capitalista. Vim para saudar o vosso Congresso em nome do governo dos operários e dos camponeses da Rússia, em nome do Conselho dos Comissários do Povo, surgido no fogo dessa revolução.


Mas não vim somente para saudar-vos. Desejo, antes de mais nada, dar-vos a feliz notícia das vitórias da revolução russa, da desorganização dos seus inimigos. Desejo dizer-vos que nesta atmosfera, em que a guerra imperialista agoniza, as possibilidades de vitória para a revolução aumentam dia a dia.


O jugo dos latifundiários esfacelou-se, porque no campo o Poder passou para as mãos dos camponeses. Esfacelado está o poderio dos generais, porque o Poder no exército foi centralizado nas mãos dos soldados. Os capitalistas foram dominados porque é rapidamente instituído o controle operário nas fábricas, nas oficinas, nos bancos. Em todo o país, nas cidades, no campo, na retaguarda e na frente, são cada vez mais numerosos os comitês revolucionários dos operários, dos soldados e dos camponeses, que tomam em suas mãos as rédeas do Poder.


Tentaram intimidar-nos com Kerenski e com os generais contra-revolucionários, masKerenski foi escorraçado e os generais estão bloqueados pelos soldados e pelos cossacos, que também se solidarizaram com as reivindicações apresentadas pelos operários e camponeses.


Tentaram intimidar-nos com a ameaça da fome, profetizaram que o Poder Soviético haveria de cair como presa do caos alimentar. Mas foi bastante pôr freio aos especuladores e dirigirmo-nos aos camponeses, para que o trigo começasse a afluir para as cidades às centenas de milhares de puds.


Tentaram intimidar-nos com a ameaça de desorganização do aparelho estatal, com a sabotagem dos funcionários do Estado, etc. Nós mesmos sabíamos que o novo governo, o governo socialista, não poderia simplesmente tomar em suas mãos o velho aparelho estatal burguês e transformá-lo em coisa sua. Mas foi bastante dispormo-nos a renovar o velho aparelho, a depurá-lo dos elementos anti-sociais, para que a sabotagem começasse a desaparecer.


Tentaram intimidar-nos com a ameaça das eventuais "surpresas" da guerra, das complicações que a camarilha imperialista poderia fazer surgir em conseqüência da nossa proposta de uma paz democrática. E efetivamente corremos perigo, um perigo mortal. Isso aconteceu, porém, depois da tomada de Õsel, quando o governo de Kerenskise preparava para fugir para Moscou e ceder Petrogrado, enquanto os imperialistas anglo-alemães entabulavam negociações para a conclusão da paz às expensas da Rússia. Com uma paz assim feita os imperialistas, realmente, teriam conseguido comprometer os destinos da revolução russa e talvez da revolução internacional. Mas a Revolução de Outubro chegou a tempo. Tomou em suas mãos a causa da paz, arrancou das mãos do imperialismo internacional as mais perigosas armas e desse modo salvou a revolução do perigo mortal que a ameaçava. Os velhos lobos imperialistas viram-se diante do dilema: ou ceder ao movimento revolucionário que irrompia em todos os países aceitando a paz, ou então perseverar na luta continuando a guerra. Mas continuar a guerra em seu quarto ano, quando o mundo inteiro sufoca em suas garras, quando a "iminente" campanha de inverno provoca nos soldados de todos os países uma tempestade de indignação, quando os suspeitos acordos secretos já foram publicados, continuar a guerra nestas condições quer dizer condenar-se a um malogro certo. Os velhos lobos imperialistas fizeram mal seus cálculos desta vez. E é justamente por isso que as "surpresas" dos imperialistas não nos fazem medo.


Tentaram por fim intimidar-nos com a ameaça do desmembramento da Rússia, de seu fracionamento em numerosos Estados independentes; a este propósito disseram que a proclamação do Conselho dos Comissários do Povo sobre o direito das nações à autodeterminação era um "erro fatal". Mas eu devo declarar da maneira mais categórica que não seríamos democratas (já não digo socialistas!) se não reconhecêssemos aos povos da Rússia o direito à livre autodeterminação. E sustento que trairíamos o socialismo se não tomássemos todas as medidas adequadas ao estabelecimento de uma confiança fraterna entre os operários da Finlândia e os da Rússia. Mas todos sabem que se não reconhecermos decididamente ao povo finlandês o direito à livre autodeterminação, não se poderá pensar em estabelecer uma confiança tal. É preciso sobre este ponto reconhecer não só por palavras, mesmo em forma oficial, esse direito. É preciso que esse reconhecimento verbal seja confirmado pelos fatos no Conselho dos Comissários do Povo, o qual o traduzirá sem hesitação, em ato. A época das palavras efetivamente passou. É chegado o momento em que a antiga diretiva: "Proletários de todos os países, uni-vos!", deve ser levada, à prática.


Completa liberdade de organizar a própria vida para o povo finlandês, como para os outros povos da Rússia! Voluntária e sincera união do povo finlandês com o povo russo! Nenhuma tutela, nenhum controle sobre o povo finlandês! São estes os princípios sobre os quais se inspira a política do Conselho dos Comissários do Povo.


Somente uma tal política poderá criar confiança mútua entre os povos da Rússia. Somente na base de tal confiança poder-se-á realizar a fusão dos povos da Rússia num único exército. Somente uma tal fusão tornará possível a consolidação das conquistas da Revolução de Outubro e o progresso da causa da revolução socialista internacional.


Por esse motivo sorrimos toda vez que se vem falar em derrocada da Rússia devido à aplicação do princípio do direito das nações à autodeterminação.


São essas as dificuldades com as quais os nossos inimigos tentaram e continuam tentando amedrontar-nos, dificuldades que superaremos à medida que se desenvolve a revolução.


Camaradas!


Chegaram-nos notícias segundo as quais vosso país está atravessando mais ou menos a mesma crise que a Rússia atravessou às vésperas da Revolução de Outubro. Chegaram-nos notícias de que se tenta atemorizar também a vós com a fome, a sabotagem, etc. Permiti-me dizer-vos, na base da experiência resultante da prática do movimento revolucionário na Rússia, que, ainda que esses perigos fossem reais, não é verdade, em absoluto, que não possam ser superados. Esses perigos podem ser superados se se agir com decisão e sem hesitações. Numa atmosfera de guerra e de desagregação, numa atmosfera em que o movimento revolucionário se inflama no Ocidente e as vitórias da revolução operária russa se multiplicam, não existem perigos e dificuldades que possam paralisar vosso ímpeto. Nessa atmosfera só se pode manter e só pode vencer um único poder, o Poder socialista. Nessa atmosfera só uma tática é adequada, a tática deDanton: audácia, audácia e mais audácia!


E se se tomar necessário o nosso auxílio, nós o daremos, estendendo-vos a mão com espírito fraterno. Disso podeis estar seguros.

sábado, 14 de julho de 2012

O discurso de Stalin na vitória sobre a Alemanha



Por Adamastor
Pronunciamento de Josef Stalin à nação em 9 de Maio de 1945, dia da vitória da URSS sobre a Alemanha nazista.
Camaradas! Compatriotas!
O grande dia da vitória sobre a Alemanha chegou. A Alemanha fascista, derrotada pelo
Exército Vermelho e pelas Forças Aliadas, reconheceu sua derrota e anunciou sua rendição incondicional.
No dia 7 de Maio o documento preliminar da rendição foi assinado na cidade de Rheims. No dia 8 de Maio os representantes da Alemanha, na presença do Alto Comando das Forças Aliadas e do Alto Comando das Forças Armadas Soviéticas, assinaram em Berlim a ata final de rendição, que entrou em vigor a partir da meia-noite do dia 8 de Maio.
Sabendo dos hábitos sujos das autoridades alemãs, que consideram acordos como apenas um pedaço de papel, nós não temos nenhuma base para confiar em suas palavras. Mas, a partir dessa manhã, as tropas alemãs, ao preencherem a ata de rendição, começaram, em escala massiva, a entregar suas armas e suas tropas a nós.
Isso não é apenas um pedaço de papel. Essa é a real rendição das Forças Armadas da Alemanha. Entretanto, um grupo de tropas alemãs na região da Checoslováquia está ainda se recusando a render-se. Mas eu espero que o Exército Vermelho os traga logo à realidade.
Agora nós podemos legitimamente anunciar que o histórico dia da derrota final da Alemanha chegou. O dia da grande vitória da nossa nação sobre o imperialismo alemão.
O grande sacrifício que nós tivemos de suportar em nome da liberdade e da independência da nossa Terra-Mãe, os incontáveis sofrimentos e perdas que nossa nação sofreu durante a guerra, o duro trabalho que tivemos, tanto no front quanto na retaguarda, nós oferecemos ao altar da vitória. Não foi em vão e foi coroada com a completa vitória sobre o inimigo.
A antiga luta das nações eslovacas para sua existência e independência terminou com
vitória sobre os invasores alemães e sobre a tirania alemã.
De agora em diante, acima da Europa voará a grande bandeira de liberdade das nações e paz entre as nações.
Três anos atrás, Hitler anunciou para todo o mundo que entre suas metas estava a desintegração da União Soviética, dilacerando com isso o Cáucaso, a Ucrânia, a Bielorússia, as Nações Bálticas e outras regiões. Ele disse abertamente: "Nós destruiremos a Rússia e ela nunca será capaz de se reerguer outra vez". Isso há três anos. Mas as idéias loucas de Hitler não tiveram nenhuma chance de se tornarem realidade.
O progresso da guerra os destruiu completamente. De fato, a realidade está completamente contrária aos loucos sonhos de Hitler. A Alemanha está destroçada. As tropas alemãs declararam sua rendição. A União Soviética está celebrando vitória, a despeito do fato de resolutamente não querer nem dividir nem destruir a Alemanha.
Camaradas!
A Grande Guerra Patriótica terminou com nossa completa vitória. Os tempos de guerra na Europa chegaram ao fim. O tempo de desenvolvimento pacífico está começando.
Meus caros compatriotas, eu desejo a vocês tudo de melhor com a vitória!
Glória para o nosso heróico Exército Vermelho, que defendeu a independência da nossa terra-mãe e derrotou o inimigo!
Glória para a nossa grande nação, a nação triunfante!
Glória eterna aos heróis que morreram durante a guerra e deram suas vidas para a
liberdade e felicidade de nossa nação! 
Josef Stalin

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Discurso de Stalin llamando a la resistencia 3 de Julio de 1941

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Stalin dirige un discurso radiofónico en 1941


CONTACTA 


Textos Inicios del siglo XX | Primera Guerra Mundial |Entreguerras 1919-1939 | Segunda Guerra MundialLa Guerra Fría El Fin de la Guerra Fría


¡Camaradas!, ¡Ciudadanos! ¡Hermanos y Hermanas! ¡Hombres de nuestro Ejército y nuestra Marina!. ¡Me dirijo a vosotros, mis amigos!
El pérfido ataque militar a nuestra tierra, iniciado el 22 de junio por la Alemania de Hitler, continua.
A pesar de la heroica resistencia del Ejército Rojo, y aunque las más selectas divisiones enemigas y las mejores unidades de la fuerza aérea han sido hechas pedazos y han encontrado su muerte en el campo de batalla, el enemigo sigue avanzando, lanzando fuerzas de refresco al ataque.
Las tropas de Hitler han logrado capturar Lituania, una considerable parte de Letonia, el Oeste de la Rusia blanca y parte del Oeste de Ucrania. La fuerza aérea fascista está ampliando el ámbito de operaciones de sus bombardeos y está bombardeando Murmanks, Orsha, Mogilev, Smolensk, Kiev, Odessa y Sebastopol. Un grave peligro se cierne sobre nuestro país.
¿Cómo puede haber sucedido que nuestro glorioso Ejército Rojo haya rendido un número de nuestros ciudadanos y distritos a los Ejércitos fascistas? ¿Es realmente cierto que las tropas de la Alemania fascista son invencibles, como es pregonado sin cesar por los jactanciosos propagandistas fascistas? ¡Por supuesto que no!
La historia muestra que no hay ejércitos invencibles, y nunca han existido (...) Lo mismo debe ser dicho hoy del ejército fascista alemán de Hitler. Este ejército aún no se ha encontrado con una seria resistencia en el continente europeo. Sólo en nuestro territorio ha encontrado una resistencia seria, y si como resultado de esta resistencia las mejores divisiones del ejército fascista alemán de Hitler han sido derrotadas por nuestro Ejército Rojo, significa que este ejército, también puede ser machacado y será machacado como lo fueron los ejércitos de Napoleón y Guillermo.
No puede haber duda de que esta efímera ventaja militar para Alemania es sólo un episodio, mientras que la tremenda ventaja política de la URSS es un serio y permanente factor, que tienen el deber de formar las bases para el logro de los éxitos militares decisivos del Ejército Rojo en la guerra contra la Alemania fascista(...)
En caso de una retirada forzosa de las unidades del Ejército Rojo, todo el material rodante debe ser evacuado; al enemigo no debe dejársele ni una sola máquina, ni un solo vagón, ni una sola libra de grano o un galón de fuel. Las granjas colectivas debe ser trasladadas con sus ganados y entregar su grano a la custodia de las autoridades estatales para su transporte a la retaguardia (...) En las áreas ocupadas por el enemigo, unidades guerrilleras, montadas y a pie, deben formarse, los grupos deben organizarse para combatir a las tropas enemigas, fomentar la guerra de guerrillas por todas partes, volar puentes, carreteras (...). En las regiones ocupadas las condiciones deben ser insoportables para el enemigo y todos sus cómplices (...)
Esta guerra con la Alemania fascista no puede ser considerada como una guerra ordinaria. No sólo es una guerra entre dos ejércitos, es también una gran guerra del pueblo soviético contra las fuerzas del fascismo alemán. El objetivo de esta guerra nacional de nuestro país contra los opresores fascistas, no es sólo la eliminación del peligro que pende sobre nuestro país, sino también ayudar a todos los pueblos europeos que sufren bajo el yugo del fascismo alemán.


En esta guerra de liberación no debemos estar solos. En esta guerra tendremos aliados leales en los pueblos de Europa y América, incluidos los alemanes que están esclavizados por los déspotas hitlerianos. Nuestra guerra por la libertad de nuestro país se mezclará con la de los pueblos de Europa y América por su independencia, por las libertades democráticas. Será un frente unido de pueblos defendiendo la libertad y contra la esclavitud y las amenazas de esclavitud del ejército fascista de Hitler (...) Camaradas, nuestras fuerzas son innumerables. La arrogancia enemiga pronto les descubrirá su coste. Juntos en el Ejército Rojo y en la Armada, miles de trabajadores, granjeros colectivos e intelectuales están alzándose para golpear al enemigo agresor(...) Con el fin de asegurar la rápida movilización de todas las fuerzas de las gentes de la URSS, y rechazar al enemigo que traicioneramente atacó nuestro país, ha sido formado un Comité Estatal de Defensa en cuyas manos ha sido delegado enteramente el poder del Estado.
El Comité Estatal de Defensa ha entrado en funciones y ha llamado al servicio militar de nuestro pueblo para reunirse en torno al partido de Lenin-Stalin y alrededor del Gobierno soviético así como abnegadamente para apoyar al Ejército Rojo y a la Armada, para demoler al enemigo y asegurar la victoria.


¡Todas nuestras fuerzas para apoyar a nuestro heróico Ejército Rojo a nuestra gloriosa Armada Roja! ¡Todas las fuerzas del pueblo para la demolición del enemigo! ¡Adelante, a por nuestra victoria!
Stalin

Moscú, 3 de julio de 1941
http://www.historiasiglo20.org/TEXT/stalin1941.htm
 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Cervantes - Dom Quixote de La Mancha


QUARTA-FEIRA, ABRIL 27, 2011

D. Quixote

Dom Quixote de La Mancha (Don Quijote de la Mancha em castelhano) é um livro escrito pelo escritor espanhol Miguel de Cervantes y Saavedra. É considerada a grande criação de Cervantes. O livro é um dos primeiros das línguas europeias modernas e é considerado por muitos o expoente máximo da literatura espanhola. Em princípios de Maio de 2002 foi escolhido como a melhor obra de ficção de todos os tempos. A votação foi organizada pelo "Clube do Livro Norueguês" e participaram na votação escritores de reconhecimento internacional.

O protagonista da obra é Dom Quixote, um pequeno fidalgo castelhano que perdeu a razão após muita leitura de romances de cavalaria. A questão central passa pela vontade do mesmo em querer imitar seus heróis preferidos. O romance narra as suas aventuras em companhia de Sancho Pança, seu fiel amigo e companheiro, que tem uma visão mais pura e realista do que vivem. A acção gira em torno das três incursões desta dupla por terras de La Mancha, de Aragão e de Catalunha. Nessas incursões, D. Quixote envolve-se numa série de aventuras, mas as suas fantasias são sempre desmentidas pela dura realidade. O efeito é humorístico, como não podia deixar de ser.

Dom Quixote e Sancho Pança representam valores distintos, embora sejam intervenientes no mesmo mundo. É importante compreender a visão irónica que o Cervantes tem do mundo moderno, o fundo de alegria que está subjacente à visão melancólica e a busca do absoluto. São mundos antípodas, completamente diferentes. Sancho Pança, o fiel escudeiro de Dom Quixote, é definido pelo romancista como "Homem de bem, mas de pouco sal na moleirinha". É o representante do bom senso e é para o mundo real, aquilo que Dom Quixote é para o mundo ideal.

Por fim, a história também é apresentada sob a forma de novela realista: ao regressar a seu povoado, Dom Quixote percebe que não é um herói, mas também percebe que não há heróis.

 

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Manuel Alegre - Estou triste

Eu tinha grandes coisas para vos dizer. 
Porém não tenho tempo. Vou-me embora. Deixo-vos 
com a vossa tristeza 
mergulhada no vinho quieta envilecida. 
Minha tristeza é mais pura 
não se esconde no vinho não se esconde não se esconde
Precisa de grandes gritos ao ar livre. De 
partir à pedrada o copo 
onde a vossa tristeza apodrece. 
Preciso de correr. Apertar muitas mãos 
encher as ruas de muita gente. 
Precisa de batalhas. 
precisa de cantar.




Manuel Alegre 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Manuel Alegre - Canto Peninsular



Estar aqui dói-me. E eu estou aqui
há novecentos anos. Não cresci nem mudei.
Apodreci.
Doem-me as próprias raízes que criei.

Foi a guerra e a paz. E veio o sol. Veio e passou
a tempestade.
Muita coisa mudou. Só não mudou
este monstro que tem a minha idade.

E foi de novo a guerra e a paz. Muita coisa mudou
em novecentos anos.
Eu é que não mudei. Neste monstro que sou
só os olhos ainda são humanos.

Quantas vezes gritei e não me ouviram
quantas vezes morri e me deixaram
nos campos de batalha onde depois floriram
flores e pão que do meu sangue se criaram.

Andei de terra em terra
por esse mundo que de certo modo descobri.
E fui soldado contra a minha própria guerra
eu que fui pelo mundo e nunca saí daqui.

Mil sonhos eu sonhei. E foram mil enganos.
Tive o mundo nas mãos. E sempre passei fome.
Eis-me tal como sou há novecentos anos
eu que não sei escrever sequer o meu próprio nome.

Falam de mim e dizem: é um herói.
(Não sei se por estar morto ou porque ainda não morri)
Mas nunca ninguém me dissse a razão por que me dói
estar aqui.

Praça da Canção

sábado, 7 de julho de 2012

Daniel Filipe - Este é o local, o dia, o mês, a hora.


III                          

                          Este é o local, o dia, o mês, a hora.
                          O jornal ilustrado aberto em vão.
                          No flanco esquerdo, o medo é uma espora
                          fincada, firme, imperiosa. Não
                          espero mais. Porquê esta demora?
                          Porquê temores, suores? Que vultos são
                          aqueles, além? Quem vive ali? Quem mora
                          nesta casa sombria? Onde estão
                          os olhos que espiavam ainda agora?
                          O medo, a espora, o ansiado coração,
                          a noite, a longa noite sedutora,
                          o conchego do amor, a tua mão...

                          Era o local, o dia, o mês, a hora.
                          Cerraram sobre ti os muros da prisão.
                          
                          Daniel Filipe

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Daniel Filipe - Ilha da sujeição


era uma vez uma ilha
era uma vez um menino
um negro velho dedilha
as cordas dum violino

era uma vez uma flor
era uma vez um navio
flor perfumada do rio
e o rio ficava maior

era uma vez um portal
era uma vez um segredo
(areias de Portugal
como a distância faz medo !)

era uma vez um cometa
lar oculto nome santo
silêncio e voo de seta
magia negra quebracho

era uma vez ilha
e mar menino negro navio
flor que perfumava o rio
nome santo o culto lar ...

era uma vez ...
..................... minha avó
o menino adormeceu
está calmo está frio está só
está inteiramente meu)

domingo, 1 de julho de 2012

Alexandre Pilati - Entre James Joyce e Karl Marx


20 DE JUNHO DE 2012 - 18H02 


Página Inicial

Ullysses completa 90 anos. E se nos atrevêssemos a enxergá-lo como revelação do capitalismo dentro de nós?

Por Alexandre Pilati, no TV Meio Ambiente


Nos meios literários, junho é tradicionalmente um mês dedicado a reflexões sobre o Ulysses, romance revolucionário de James Joyce (1842-1941). No dia 16 deste mês, comemora-se o Bloom’s Day, pois esta é a data em que se passa a ação do livro do autor irlandês. Em 2012, o “Dia de Bloom” é ainda mais especial, pois nos encontramos a noventa anos da publicação da obra. Além disso, o recente lançamento do filme Notícias da antiguidade ideológica (Versátil Home Video, 2011), de Alexander Kluge provoca a reflexão sobre a dinâmica de forças estéticas/filosóficas/históricas que envolvem os nomes de Marx, Joyce, Kluge e Eisenstein.

Nestes 90 anos, o Ulysses foi pródigo em espalhar mundo afora fascínio e polêmica. Como monumento incontornável da moderna literatura ocidental, o romance do autor irlandês não para de seduzir críticos, ao mesmo tempo que se conserva à prova de qualquer leitura que seja capaz de aludir à totalidade de sua eficácia estética. Como sempre ocorre em grandes obras, qualquer leitura do textoparece ser bem menor do que o próprio texto; mas isso, no seu caso específico, adquire uma consistência ainda mais lancinante. Se já é um tormento para os críticos do livro tentar acercá-lo e compreendê-lo, imaginemos o tamanho da tarefa de inverter um pouco a ordem natural da coisas e usar o Ulysses como método de compreensão de um construto crítico-teórico como O Capital, de Karl Marx (1818-1883).

O primeiro a se propor esse desafio foi o cineasta russo Sergej Eisenstein (1898-1948), que alimentou a ideia por fim malograda de filmar OCapital a partir do método estético empregado por James Joyce emUlysses. Joyce ansiava por conhecer Eisenstein, porque julgava que ele seria o único cineasta capaz de filmar o Ulysses. Por outro lado, o cineasta russo procurara Joyce porque julgava que O Capitalpoderia tornar-se filme estruturando-se de modo similar ao Ulysses, graças à concentração nos movimentos triviais de um homem comum em apenas um dia de sua vida.

No filme Notícias da Antiguidade Ideológica: Marx, Eisenstein, O Capital (Versátil, 2011), o escritor e cineasta alemão Alexander Kluge retoma o projeto de Eisenstein de maneira a potencializar alguns elementos de leitura do mundo contemporâneo bastante explorados tanto por Marx quanto por Joyce e o cineasta russo. É precisamente a partir do projeto não-realizado de Eisenstein, de filmar O Capital a partir do Ulysses, que nascem as nove longas horas do filme de Kluge. O cineasta alemão tem uma perspectiva interessante para a observação do pensamento de Marx, que está apresentada logo no início do texto do encarte que acompanha os DVDs:

- O Sr. Considera Karl Marx um poeta?

- Um poeta talentoso.

- Ele se senta na mais imponente biblioteca de Londres, faz excertos de historiografia e compõe uma história em forma de poesia em torno desses núcleos de fantasia?

- Assim surge o enfoque mais amplo de sua teoria.

- O sr. não estaria sendo injusto ao degradar esse materialista científico à condição de poeta?”

A partir desse texto de Kluge, lançamos uma hipótese para a verificação das forças interpretativas que se intercambiam em nosso quadrilátero de pensadores/artistas: tendo em vista a proposta de Kluge, não apenas o Ulysses pode ser usado como mediação ficcional para ler O Capital, mas também O Capital pode ser a mediação teórica necessária para conectar as experiências formais de Joyce emUlysses com a totalidade histórica de onde emanam tanto formas literárias quanto contradições objetivas formadoras da subjetividade sob a égide do capitalismo. O ponto de apoio para essa análise é o movimento dialético entre subjetividade e objetividade (afinal, não é esta a grande matéria dos poetas?!), ou, como afirma Kluge no texto do encarte que acompanha o conjunto de DVDs, a “longa marcha do mundo exterior para o interior do homem”. Essa longa marcha estava entre as mais fundas aspirações de Eisenstein na pesquisa que engendra o conjunto de técnicas que caracterizava o seu método fílmico. Ademais, a dialética entre objetividade/subjetividade pode ser rastreada em todos os volumes de O Capital – de modo especial no primeiro, que trata mais especificamente da lógica da mercadoria e do seu alcance na organização social (coletiva) e psíquica (individual) do mundo capitalista. Mais que tudo isso, esta dialética interno/externo é uma chave para a leitura e a compreensão do imenso filme de Alexander Kluge, pois o cineasta alemão está claramente atento a ela. Lembremos a famosa passagem do Ulysses em que se contrasta a história com um pesadelo: “A história – disse Stephen – é um pesadelo de que tento despertar.”i

História e poesia irmanam-se dialeticamente pela sua consistência de pesadelo e utopia. Dizendo mais: uma consistência de pesadelo que deriva precisamente do fato se ser uma forma consciente da necessidade da perspectiva da negatividade. Nesses termos, se a história (ou sua metanarrativa) é um pesadelo, a poesia é um jeito peculiar de acordar dele; por outro lado, a poesia também é um pesadelo, de que podemos acordar pela história. Unidas dialeticamente, história e poesia, tecem aos olhos do leitor atento um novo horizonte, ressignificando de uma vez por todas a palavra utopia. Assim, não haverá utopia sem o consórcio da poesia como interpretação do mundo e da história como narrativa de autoconsciência do homem relativamente ao seu lugar na luta de classes. Quando refletimos sobre esta relação história/poesia, estamos, nada mais nada menos, que operando intelectualmente, como Kluge e Joyce e Marx e Eisenstein entre o externo e o interno. Estamos nos acercando do dinamismo do próprio mundo. Um dinamismo que para Eisenstein é a própria força estruturante da forma dramática do filme.

Joyce tem, como poucos em seu tempo, uma consciência catastrófica relativamente ao avanço modernizador; algo que se exibe em seus textosii. Não são poucos os momentos em que o Ulyssesnos apresenta uma perspectiva duramente embebida em negatividade, ao descrever os movimentos triviais do mundo, os quais sem esforço podemos utilizar na composição de uma complexa mirada acerca da totalidade capitalista.

Mas pode Joyce ser historiador no Ulysses assim como Marx foi poeta no Capital? Sob certa perspectiva, poderíamos afirmar que sim; e poderíamos afirmar mais: essa consistência de revelação da história no Ulysses é um dos elementos-chave da sua atualidade. O que talvez tenha contribuído para instigar Kluge à tarefa de reler os textos de Marx não tanto com a intenção de “descrição da economia exterior e de suas ‘leis’, senão sobretudo o capitalismo dentro de nós.” Essas contradições podem nos dar um mapa para a inteligibilidade da crise do capitalismo no início do século XXI.

Vejamos, por exemplo, a partir de um excerto do Ulysses, a problemática do entesouramento, que, conforme descrita por Marx, tem impactos no mundo objetivo e na consciência do homem ocidental. O entesouramento é um dos aspectos básicos, não é demais lembrar, para compreendermos as razões do desencadeamento da crise financeira de 1929, por exemplo; e para o clima de abalos e contradições da modernização a que o Ulysses de alguma forma dá visibilidade.

No capítulo “O catecismo”, vemos a agudização dessa reificação irrestrita na descrição crua do que é a vida humana, perdida no fundo das gavetas. Não são apenas as coisas recônditas; mas o que somos nós dentro das gavetas. Vejamos o parágrafo por inteiro: 

“O que continha a segunda gaveta?

Documentos: a certidão de nascimento de Leopold Paula Bloom: uma apólice de seguro de £500 na Sociedade de Seguros das Viúvas Escocesas em nome de Millicent (Milly) Bloom, resgatável aos 25 anos de idade com uma apólice nominal de £430, £462-10-0 e £500 aos 60 anos ou morte, 65 anos ou morte e morte, respectivamente, ou com apólice nominal (à vista) de £299-10-0 junto com pagamento em dinheiro de £133-10-0, opcionalmente: uma carteira bancária para o semestre terminaria em 31 de dezembro de 1903, saldo em favor do correntista: £18-46-6 (dezoito libras, catorze xelins e seis pence, esterlinos), bens líquidos: certificado de posse de £900, títulos a 4% (autenticados) do governo canadense (livres de taxação): extrato de ata do Comitê do Cemitérios (Glasnevin), referente a uma sepultura adquirida: um recorte da imprensa local a propósito de uma mudança de nome por processo cível.”iii

Atentemos neste trecho do Ulysses para a forma como a linguagem se dobra à instrumentalização da lógica do dinheiro para dar a ver precisamente as contradições de seu alcance avassalador. Num parágrafo que principia falando de nascimento e termina falando de morte, temos a hipoteca de toda uma existência à especulação financeira. São títulos, bens, seguros, ações. Valores que tilintam, ainda que sem a forma de ouro ou de moeda. Trata-se uma belíssima metáfora do conceito marxista de entesouramento. “O que sou é o dinheiro; a vida minha é meu acúmulo”: é o que parece nos dizer uma alma fantasmagórica de dentro da gaveta.

Marx dizia que o dinheiro deve, no capitalismo, possuir a consistência elástica e fantasmagórica de uma matéria capaz de expandir-se e contrair-se. Não nos esqueçamos de que a vida cabe numa gaveta e que Marx diz assim em O Capital: “Para reter o ouro como dinheiro e, portanto, como elemento de entesouramento, é necessário impedi-lo de circular ou de dissolver-se como meio de compra, em artigos de consumo. O entesourador sacrifica, por isso, ao fetiche do ouro os seus prazeres da carne. Abraça com seriedade o evangelho da abstenção.”iv

Para sobreviver, o dinheiro no capitalismo depende de que o entesouramento não seja excepcional, mas sim sistêmico, trivial. O homem comum cumpre o entesouramento, no fundo da gaveta mais comum. A disposição reveladora de Joyce está em desejar articular tudo isso aos movimentos orgânicos do personagem, mostrando que o entesourar é tornar-se homem comum, homem médio, pedestre. Um homem como Bloom é um entesourador comum: sem o “defeito” excepcional da avareza, mas com a virtude trivial da “precaução”. Trata-se de alguém que incorpora a mercadoria ao próprio existir, com isso garantindo os fluxos de expansão e retração necessários à manutenção da lógica do dinheiro no capitalismo. A força da narrativa de Joyce está em revelar o dado sistêmico, global e total do comum. Não é a excepcionalidade que revela a totalidade, mas a forma despercebida e às vezes dispersa com que o cotidiano anuncia as forças da dinâmica histórica global. O método – concentrar-se nas minúcias aparentemente mais insignificantes – tornou possível um dos relatos da vida cotidiana mais completos já apresentados por um romancista.

Lendo Marx a partir da literatura, como fez Kluge (e como aqui ensaiamos) colocamo-nos diante de algumas das mais instigantes formas de questionar os mitos pós-modernos de que a história acabou e de que o único horizonte possível é a não-superação (ou no máximo domesticação) do capitalismo. A dinâmica de forças que está por trás do quadrilátero Marx-Kluge-Joyce-Eisenstein inclui certamente a ideia de que as contradições da práxis ainda podem ser captadas pela literatura, pela crítica ou pelo cinema. Ativar essas contradições já uma boa justificativa para a tarefa monumental de ler Ulysses através do Capital e de ler O Capital através do Ulysses. Se essas contradições ainda podem ser ativadas, a história em seu dinamismo peculiar permanece e nos persegue: como um pesadelo, ou como a utopia.

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Alexandre Pilati é professor de literatura brasileira da Universidade de Brasília. Autor, entre outros, de A nação drummondiana (7letras, 2009).

iJOYCE, James. Ulysses. Trad. A. Houaiss. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. p. 30.

iiA esse respeito consultar o ensaio de Franco Moretti “O longo adeus: Ulysses e o fim do capitalismo liberal”. In MORETTI, Franco. Signos e estilos da modernidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

iiiJOYCE, James. Ulysses. Trad. C. Galindo. Cia das Letras: 2012, p.1018.

ivMARX, Karl. O Capital. Livro I, vol. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985. p.253.

Fonte: O Outro Lado da Notícia