imagoverbalis
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há dez anos que o prémio nobel de literatura foi  atribuído ao josé saramago em estocolmo. tinha eu já estado há algum  tempo a tentar obter uma entrevista com o escritor. veio a faro para  apresentar uma nova obra, já não me lembro qual, em 1997 numa livraria  da cidade, estava eu, grávida e bastante pesada, á espera do senhor  durante muito tempo enquanto os leitores presentes esclareceram as suas  dúvidas com o autor famoso. 
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quando foi a minha vez, o septuagenário já não  estava muito para aí virado, pediu desculpa porque já não se encontrava  disposto para ser entrevistado, estava cansado. e eu, com uma promessa  já feita para um dos jornais suecos para quais trabalhava na altura.  fiquei ligeiramente decepcionada, mas pelo menos com o endereço do  saramago da casa da ilha de lanzarote.
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passaram os meses, nasceu o meu filho e  aproximava-se de novo o mês dos nóbeis, outubro. pelo sim, pelo não, e  já que o nome do josé saramago vinha sempre ao baile em termos de  potencial nobel a literatura escrevi-lhe uma carta com as minhas  perguntas e dúvidas. e ele respondeu, agradecendo o meu interesse.
anunciaram que, e de facto esta vez não eram só  rumores, o homem ia ser laureado pelos meus congéneres escandinavos. 
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peguei no telefone, procurei falar com o escritor  que sabia se encontrava a residir no hotel altis em lisboa. falei com a  pilar, a sua esposa deliciosamente simpática e dócil que lamentava mas o  marido estava a dormir, se não me importasse de voltar a ligar um pouco  mais tardee voltei a ligar. 
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desta vez falei com o próprio. simpático e sim  senhora, claro que se recordava de mim. combinamos hora e data da  entrevista. fui à lisboa, deixei o filhote em casa dos sogros, e  embarquei com o marido que tirava fotos para me encontrar com o mestre  das frases compridas e somente interrompidas por vírgulas na obra  literária do memorial do convento que me tanto tinha fascinado.
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tinha meia hora. a conversa prolongou-se por hora e  meia. intrigante, espantosa, sábia, ás vezes demasiadamente profunda,  mas ao tudo interessantíssima. um verdadeiro privilégio, que me valeu  ser uma das únicas jornalistas suecas a conseguir uma entrevista antes  da própria entrega dos prémios, com uma página inteira num dos  nacionais.
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continuo a ler saramago. muito grata pelos seus  textos e pelas palavras partilhadas comigo. o próximo livre será o  ensaio sobre a cegueira, e já agora vou ver o filme do meirelles. o  homem adaptou-se aos medias de hoje. recomenda-se o seu blog.
Escrito por imagoverbalis  
Outubro 9, 2008 em 2:00 pm
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