D'ali e D'aqui
Textos e Obras Daqui e Dali, mais ou menos conhecidos ------ Nada do que é humano me é estranho (Terêncio)
sábado, 12 de julho de 2025
Patrick Lawrence - Trump leva Putin para um beco sem saída
quinta-feira, 3 de julho de 2025
Alfredo Barroso - ASSIS E O FASCÍNIO PELO CENTRO-DIREITA
sábado, 28 de junho de 2025
Discurso de Ali Khamenei em 2025 06 26
domingo, 22 de junho de 2025
Luís Francisco - Quantos morreram na Guerra Colonial?
* Luís Francisco
Sempre que
ouvia a estimativa de 8.000 mortes portuguesas na Guerra do Ultramar, Pedro
Marquês de Sousa, tenente-coronel do Exército, sentia-se desconfortável. Quase
cinco décadas após o fim do período colonialista, Portugal continuava a não
ter, sequer, um balanço fiável das vítimas mortais do conflito que desgastou o
País durante mais de uma década e esteve, em última análise, na origem do
movimento militar que depôs o regime do Estado Novo, em 1974. Depois de muito
trabalho de investigação, o investigador e também professor na Academia Militar
chegou a números bem mais pesados: morreram quase 10.500 militares portugueses
em Angola, Guiné e Moçambique. No total, incluindo as baixas dos movimentos
independentistas e entre a população civil, a guerra em África fez quase 45 mil
mortos e 53 mil feridos. "E podem ser mais", assegura o autor do
livro Os Números da Guerra de África, publicado pela Guerra & Paz. Uma obra
que compila de forma exaustiva números durante tanto tempo esquecidos ou varridos
para debaixo do tapete da burocracia. "Enquanto professor na Academia
Militar, sempre incentivei os meus alunos a debruçarem-se sobre a Guerra
Colonial. Eu próprio senti a necessidade de mergulhar no assunto. A estimativa
de 8.000 mortes era injusta; não cobria, sequer, as baixas militares
portuguesas, muito menos as perdas entre os movimentos independentistas e na
população civil. "Pelas contas de Pedro Marquês de Sousa morreram 10.425
militares portugueses, 6.000 civis e 28.226 elementos dos movimentos separatistas.
As estimativas de feridos graves apontam para 31.300 na tropa lusitana, 12.200
entre os civis e 9.450 nos movimentos de libertação.Estes números não são – nem
podiam ser – definitivos, mas são uma base de trabalho fiável, construída com a
consulta dos documentos da época disponibilizados pelas hierarquias militares –
embora na Marinha haja ainda documentos classificados, a que os investigadores
não têm acesso. É inevitável a perplexidade: como é que nunca tinha sido feito
um levantamento rigoroso das baixas na Guerra de África? "Eu já não estou
no ativo e não passei pela guerra – tenho 53 anos –, mas como militar há um
embaraço… A sociedade portuguesa não conhece bem este conflito. Talvez não
tenha ainda decorrido tempo suficiente para se criar um distanciamento que
permita a abordagem científica do tema."A força dos números
A guerra em
África foi o maior conflito da História recente de Portugal e teve um peso
impressionante sobre o desenvolvimento do País nas décadas de 60 e 70 – a
compra de corvetas para a Marinha implicou pagamentos até 1981. Na fase final
do conflito, estavam destacados 163 mil militares no Ultramar, um esforço de
guerra nunca visto num País que na altura tinha cerca de 8,5 milhões de
habitantes. Pedro Marquês de Sousa faz a radiografia da organização, da
logística, das atividades e das baixas desta imensa força militar. Mas analisa
também o efeito que a guerra teve na metrópole, nas contas públicas (mais de 3%
do Orçamento era encaminhado para o esforço militar e em 1973 o conflito
absorveu cerca de 3,5 mil milhões de euros, feita a conversão para a moeda e a
realidade atual), na sociedade portuguesa. Até em aspetos que pouco pareceriam
ter a ver com o conflito: os casamentos de homens com menos de 20 anos, por
exemplo, duplicaram após o início da guerra, em Angola, corria o ano 1961. A
ideia era evitar o destacamento para África por ter uma família para sustentar,
mas não funcionou.Em 1962, mais de 15% dos incorporados eram analfabetos. Um
número que caiu para menos de metade no fim da década, mas com efeitos
perversos, do ponto de vista do Estado Novo. Explica o autor: "À medida
que o conflito se foi prolongando, os oficiais milicianos [o serviço militar
obrigatório era responsável por 90% do contingente das unidades regulares] já
tinham cultura política, absorvida nas universidades numa década muito ativa a
esse nível. Ora pôr
estes homens a liderar unidades de combate numa guerra em que não acreditavam não podia dar bom resultado…"
230 mil
"fugiram" à guerra
E estes eram os
que iam para a guerra. Porque um dos dados que mais surpreenderam o
investigador foi mesmo o de faltosos e desertores. O regime escondeu durante
muito tempo a verdadeira dimensão desta recusa de pegar em armas, que explica
também a dimensão avassaladora de outro fenómeno que marcou a demografia
portuguesa neste período: a emigração (triplicou no período da guerra). Na
década de 70, um em cada cinco jovens (20%) que deveriam apresentar-se à
inspeção militar já não se encontravam em Portugal. Registaram-se 202 mil
faltosos, a que se juntam 20 mil refratários e cerca de 9.000 desertores – ou
seja, quase um quarto de milhão de jovens portugueses (230 mil)
"fugiram" à tropa.Nos teatros de operações, e apesar do recrutamento
maciço, havia, ainda assim, poucos soldados, na maioria mal treinados, mal
armados e equipados, sujeitos a condições miseráveis e a uma máquina de guerra
obsoleta e incompetente. "Os militares sentiram na pele a incapacidade do
poder político para gerir a guerra. Não é por acaso que foram eles a depor o
regime, aliás como já tinha acontecido depois da I Guerra Mundial, embora aí
num sentido político completamente inverso", analisa
Pedro Marquês
de Sousa. O autor adianta que fica ainda por fazer o trabalho de comparar a
guerra de África com outros conflitos similares, envolvendo tropa regular de um
lado e forças de guerrilha do outro. Como o do Vietname, por exemplo.Mas há
números que nos dão algumas pistas também nessa vertente. Em Angola, Guiné e
Moçambique havia 5 soldados portugueses para cada combatente dos movimentos de
libertação. No Vietname (EUA vs. guerrilha norte-vietnamita), essa relação
chegou a ser de 9 para 1, na Argélia (França vs. independentistas argelinos)
era de 50 para 1. E em nenhum destes conflitos as forças regulares levaram a
melhor. Mesmo recorrendo a meios de ética militar muito para lá do duvidoso.
"Não se falava muito nisso, mas quando se perguntava se as tropas
portuguesas usaram napalm nos teatros de guerra em África, a resposta era
normalmente ‘nim’…", salienta Pedro Marquês de Sousa. "Neste livro,
pelos números apresentados, fica bem evidente que se utilizou. Muito."
Fonte: Luís
Francisco, artigo em 10/10/2021 (Visão)
https://www.sabado.pt/vida/detalhe/quantos-morreram-na-guerra-colonial
quarta-feira, 18 de junho de 2025
Pedro Queirós - O meu Irão
ª Pedro Queirós
Terra de
gente boa e generosa. Educados e cultos. Um lugar onde a família é o centro da
sociedade e impera o respeito pelo próximo. Um país rico e abençoado de
recursos naturais. Com montanhas, praia, desertos, florestas e lugares
históricos.
No Irão
vive-se uma cultura milenar com quase três mil anos. São gestos, tradições e
pormenores que se difundem no quotidiano. Muitas vezes imprevisíveis, fruto da
aprendizagem de muitas gerações. Um país feito de heróis, poetas e guerreiros.
O Irão tem
problemas internos e líderes incapazes? Sim. Mostrem-me um país que não os
tenha. Têm um sistema político baseado na religião? Sim, mas isso é problema
deles e sinceramente prefiro educar o meu filho num lugar sem álcool,
pornografia, racismo, violência doméstica, assassinatos em escolas, extrema
direita, fast food, casinos e prostituição.
O Irão tem
leis que condicionam as mulheres? Sim, mas é uma sociedade matriarcal e com uma
maioria feminina na população universitária. As mulheres são poderosas e a
violação dá pena de morte… ao contrário de outros países onde é mostrada sem
pudor no Instagram. O país tem de evoluir no campo da igualdade de género como
outros o fizeram. O mesmo se aplica aos homossexuais e outras minorias.
A lei do
país permite o casamento com e entre menores? Sim, mas ninguém o faz a não ser
nas zonas rurais onde se vive na pré-história. Ao contrário de outras
religiões, a pedofilia não é praticada pelos sacerdotes muçulmanos. No Irão,
molestar uma criança dá direito a enforcamento.
O país não
tem liberdade de expressão? Sim, é verdade. Mas o que é que andamos a fazer com
a liberdade no ocidente? Eu digo-vos: andamos a praticar o ódio, a violência,
sedentos de bens materiais, a comer mal, a beber, fumar, a perder a saúde
mental, a trair os nossos companheiros e a viver atrás das redes sociais.
O Irão dá
armas a milícias que atacam Israel? Sim, é verdade. São o único país do mundo
com coragem de enfrentar o povo escolhido. Um povo que é representado por
homens que assassinam crianças em direto na televisão. O Irão quer ter armas
nucleares? Sim. E aqui nem me vou alongar. Um país que é atacado como o foi na
semana passada necessita de instrumentos para garantir a soberania.
O ideal seria TODOS destruírem as armas e sentarem-se à mesa, mas isso é uma utopia. O novo Hitler chamado Benjamim Netanyahu e será o culpado pela terceira guerra mundial. Força, rebentem com tudo!
2025 06 17
https://www.facebook.com/pedro.queiros.9461
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segunda-feira, 16 de junho de 2025
Domingos Lopes - O Armagedão, tempo de ódio e de guerra
sábado, 14 de junho de 2025
José Pacheco Pereira - Onde estamos e para onde vamos
quinta-feira, 12 de junho de 2025
D. H. Lawrence - Seven seals
Come, I will consecrate you for the journey.
Rather I had you would not go. Nay come,
I will not again reproach you. Lie back
And let me love you a long time ere you go.
For you are sullen-hearted still, and lack
The will to love me. But even so
I will set a seal upon you from my lip,
Will set a guard of honour at each door,
Seal up each channel out of which might slip
Your love for me.
I kiss your mouth. Ah, love,
Could I but seal its ruddy, shining spring
Of passion, parch it up, destroy, remove
Its softly-stirring, crimson welling-up
Of kisses! Oh, help me, God! Here at the source
I'd lie for ever drinking and drawing in
Your fountains, as heaven drinks from out their course
The floods.
I close your ears with kisses
And seal your nostrils; and round your neck you'll wear —
Nay, let me work — a delicate chain of kisses.
Like beads they go around, and not one misses
To touch its fellow on either side.
And there
Full mid-between the champaign of your breast
I place a great and burning seal of love
Like a dark rose, a mystery of rest
On the slow bubbling of your rhythmic heart.
Nay, I persist, and very faith shall keep
You integral to me. Each door, each mystic port
Of egress from you I will seal and steep
In perfect chrism.
Now it is done. The mort
Will sound in heaven before it is undone.
But let me finish what I have begun
And shirt you now invulnerable in the mail
Of iron kisses, kisses linked like steel.
Put greaves upon your thighs and knees, and frail
Webbing of steel on your feet. So you shall feel
Ensheathed invulnerable with me, with seven
Great seals upon your outgoings, and woven
Chain of my mystic will wrapped perfectly
Upon you, wrapped in indomitable me.
Vem, eu te consagrarei para a jornada.
Preferia que não fosses. Não, vem,
não te censurarei mais. Deita-te
E deixa-me amar-te por muito tempo antes de partires.
Pois ainda tens o coração mal-humorado e falta-te
A vontade de me amar. Mas mesmo assim
te selarei com meus lábios,
Colocarei uma guarda de honra em cada porta,
Selarei cada canal por onde possa escapar
Teu amor por mim.
Beijo a tua boca. Ah, amor,
Se eu pudesse selar sua fonte avermelhada e brilhante
De paixão, secá-la, destruí-la, remover
Seu suave e carmesim jorro
De beijos! Oh, ajuda-me, Deus! Aqui na fonte
eu ficaria para sempre bebendo e sugando em
Tuas fontes, como o céu bebe de seu curso
As enchentes.
Fecho teus ouvidos com beijos
E selo tuas narinas; e em volta do teu pescoço usarás —
Não, deixa-me trabalhar — uma delicada corrente de beijos.
Como contas, elas circulam, e nenhuma deixa
de tocar a outra de cada lado.
E ali,
Bem no meio do champanhe do seu peito,
coloco um grande e ardente selo de amor
Como uma rosa escura, um mistério de repouso
No lento borbulhar do seu coração rítmico.
Não, eu persisto, e a própria fé manterá
Você integral a mim. Cada porta, cada porto místico
De saída de você, eu selarei e embeberei
Em perfeito crisma.
Agora está feito. A morte
Soará no céu antes de ser desfeita.
Mas deixe-me terminar o que comecei
E te vestir agora invulnerável na malha
De beijos de ferro, beijos unidos como aço.
Coloque grevas em suas coxas e joelhos, e frágil
Teia de aço em seus pés. Então você se sentirá
Envolto em bainha invulnerável comigo, com sete
Grandes selos em suas saídas, e
a Corrente tecida da minha vontade mística enrolada perfeitamente
Sobre você, envolta em mim indomável.