quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Chico Buarque fatura o Prêmio Portugal Telecom de Literatura Portuguesa



Publicação: 09/11/2010 10:34 Atualização: 09/11/2010 13:30
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Leite Derramado



Depois de faturar na semana passada o Prêmio Jabuti na categoria livro, Leite derramado deu ao cantor, compositor e escritor carioca Chico Buarque outro prêmio. O romance, lançado em 2009, levou o Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa. Além do troféu, Chico faturou R$ 100 mil. Na segunda colocação, Outra vida, de Rodrigo Lacerda, ganhou R$ 35 mil; e Armando Freitas Filho, com Lar, fica com o terceiro lugar e R$ 15 mil. O anúncio foi feito na noite de segunda, em São Paulo. A viúva de José Saramago, Pilar Del Rio, foi quem entregou os prêmios.
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http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/11/09/diversaoearte,i=222374/CHICO+BUARQUE+FATURA+O+PREMIO+PORTUGAL+TELECOM+DE+LITERATURA.shtml
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Sinopse

Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A imagem de capa do livro foi desenvolvida em duas versões - nas cores branca e laranja.

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Sobre o autor:


BUARQUE, CHICO
Francisco Buarque de Hollanda nasceu no Rio de Janeiro, em 1944. Cantor e compositor, publicou as peças 'Roda viva'(1968), 'Calabar'(1973), 'Gota d'água'(1975) e 'Ópera do malandro'(1979); a novela 'Fazenda modelo'(1974) e os romances 'Estorvo'(1991), 'Benjamim'(1995) e 'Budapeste'(2003).
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http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?sid=13220721412119795575145818&nitem=13005475
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Tauil | 28 de Março de 2009
www.leitederramado.com.br
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Chico lendo um trecho do seu quarto romance
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"Em 'Leite derramado', ele arquiteta um romance de tons sombrios, erguido sobre fragmentos de memórias narradas por um velho solitário que agoniza num leito de hospital. Ao relembrar seus dias de riqueza, seus amores, suas perdas, o personagem também apresenta ao leitor décadas de história do Brasil e do Rio, que aparecem em seus tempos de esplendor e em flashes da mixórdia contemporânea" - O Globo

Todos os créditos à Companhia das Letras.
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26/03/2009

Sobre o livro

livro
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Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos.
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Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A visão que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência.
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A saga familiar marcada pela decadência é um gênero consagrado no romance ocidental moderno. A primeira originalidade deste livro, com relação ao gênero, é sua brevidade. As sagas familiares são geralmente espraiadas em vários volumes; aqui, ela se concentra em 200 páginas. Outra originalidade é sua estrutura narrativa. A ordem lógica e cronológica habitual do gênero é embaralhada, por se tratar de uma memória desfalecente, repetitiva mas contraditória, obsessiva mas esburacada.
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O texto é construído de maneira primorosa, no plano narrativo como no plano do estilo. A fala desarticulada do ancião, ao mesmo tempo que preenche uma função de verossimilhança, cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso da personagem parece espontâneo, mas o escritor domina com mão firme as associações livres, as falsidades e os não-ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar.
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Em suas leves variantes, as lembranças obsessivas revelam sutilezas ideológicas e psíquicas. E, como essas lembranças têm forte componente plástico, criam imagens fascinantes. É o caso do “vestido azul” comprado pelo pai para a amante, objeto de alta concentração significante. Esse objeto se expande, no nível da narrativa, como índice de elucidação da intriga, no nível fantasmático, como obsessão repetitiva do filho, e no nível sociológico, como ilustração dos usos e costumes de uma classe. Tudo, neste texto, é conciso e preciso. Como num quebra-cabeça bem concebido, nenhum elemento é supérfluo.
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Há também um jogo com os espaços onde ocorrem os acontecimentos narrados. As várias casas em que o narrador morou, como as décadas acumuladas em suas lembranças, se sobrepõem e se revezam. Recolocá-las em ordem cronológica é assistir a uma derrocada pessoal e coletiva: o chalé de Copacabana, “longínquo areal” dos anos 20, é substituído por um apartamento num edifício construído atrás de seu terreno; esse apartamento é trocado por outro, menor, na Tijuca; o palacete familiar de Botafogo, vendido, torna-se estacionamento de embaixada; a fazenda da infância, na “raiz da serra”, transforma-se em favela, com um barulhento templo evangélico no local da velha igreja outrora consagrada pelo bispo. Embaixo da última morada do narrador, nesse “endereço de gente desclassificada”, está o antigo cemitério onde jaz seu avô.
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Percorre todo o texto, como um baixo contínuo, a paixão mal vivida e mal compreendida do narrador por uma mulher. Os múltiplos traços de Matilde, seu “olhar em pingue-pongue”, suas corridas a cavalo ou na praia, suas danças, seus vestidos espalhafatosos, ao mesmo tempo que determinam a paixão do marido e impregnam indelevelmente sua lembrança, ocasionam a infelicidade de ambos. Os preconceitos e o ciúme doentio do homem barram a realização plena da mulher e levam-na a um triste fim, que, por não ter nem a certeza nem a teatralidade dos desfechos de uma Emma Bovary ou de uma Ana Karênina, tem a pungência de um desastre. Embora vista de forma indireta e em breves flashes, Matilde se torna, também para o leitor, inesquecível.
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O fato de nem no fim da vida o homem compreender e aceitar o que aconteceu torna seu drama ainda mais lamentável. Os enganos ocasionados por seu ciúme são tragicômicos, e o escritor os expõe com uma acuidade psicológica que podemos, sem exagero, qualificar de proustiana.
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Outras figuras, fixadas a partir de mínimos traços, também se sustentam como personagens consistentes: o arrogante engenheiro francês Dubosc, que a tudo reage com um “merde alors”; a mãe do narrador, que, de tão reprimida e repressora, “toca” piano sem emitir nenhum som; a namorada do garotão com seus piercings e gírias. É espantoso como tantas personagens conseguem vida própria em tão pouco espaço textual. Leite derramado é obra de um escritor em plena posse de seu talento e de sua linguagem.
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Leyla Perrone-Moisés
26/03/2009

O autor

CHico Buarque
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Francisco Buarque de Hollanda nasceu no Rio de Janeiro, em 1944. Cantor e compositor, publicou as peças Roda viva [1968], Calabar [1973], Gota d’água [1975] e Ópera do malandro [1979]; a novela Fazenda modelo [1974] e os romances Estorvo [1991], Benjamim [1995] e Budapeste [2003]
Para mais informações: www.chicobuarque.com.br
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SOBRE ESTORVO:
Estorvo é um livro brilhante, escrito com engenho e mão leve. [...] Esta disposição absurda de continuar igual em circunstâncias impossíveis é a forte metáfora que Chico Buarque inventou para o Brasil contemporâneo, cujo livro talvez tenha escrito.”
— Roberto Schwarz,
Veja
Estorvo
SOBRE BENJAMIM:
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“O livro é magnificamente bem escrito. O escritor chega à excelência em sua capacidade de captar os detalhes expressivos, de encontrar a imagem exata, e confirma seu domínio absoluto do ritmo. [...] Em momentos assim, o escritor Chico Buarque encontra o compositor Chico Buarque pela via do lirismo, e o resultado não é só alta literatura, mas também uma poesia dolorosa, uma quase-música que embala e comove.”— José Geraldo Couto, Folha de S.Paulo
Benjamim
SOBRE BUDAPESTE:
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Budapeste, no exato momento em que termina, transforma-se em poesia.”
— José Miguel Wisnik
Budapeste
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“Chico Buarque ousou muito, escreveu cruzando um abismo sobre um arame e chegou ao outro lado. Ao lado onde se encontram os trabalhos executados com mestria, a da linguagem, a da construção narrativa, a do simples fazer. Não creio enganar-me dizendo que algo novo aconteceu no Brasil com este livro.”
— José Saramago,
Folha de S.Paulo
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“Talvez o mais belo dos três livros da maturidade de Chico, Budapeste é um labirinto de espelhos que afinal se resolve, não na trama, mas nas palavras, como poemas.”
— Caetano Veloso,
O Globo
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“O livro de Chico é uma vertigem. Você é sugado pela primeira linha e levado ao estilo falso-leve, a prosa depurada e a construção engenhosa até sair no fim lamentando que não haja mais, assombrado pelo sortilégio deste mestre de juntar palavras. Literalmente assombrado.”
— Luis Fernando Verissimo,
O Globo
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