Mohâmede ibne Abade Almutâmide é um dos grandes poeta do Islão e, certamente, como diz Nykl, o mais notável dos poetas hispano - árabes da segunda metade do século XI.
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Nascido em Beja, em 1040, de uma família de poetas, após ter governado, nominalmente, Silves, vem a ocupar o trono do reino taifa de Sevilha, em 1069, sucedendo a seu pai, o cruel e astucioso Almutâdid. Em 1091, para enfrentar, Afonso VI de Castela, solicita o auxílio de Yusuf ibn Tasufin, senhor dos Almorávidas. Este, após desbaratar as hostes cristãs, vira-se contra os reinos taifas, que conquista, um por um. Também Almutâmide é vencido, após dura peleja, e Sevilha conquistada. O infortunado rei é desterrado para Agmat, no interior de Marrocos, onde virá a morrer.
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Aí o poeta é forçado a uma existência de miséria e reduzido ao presídio e às grilhetas. Entre a memória de um passado auspicioso e um amargurado presente vive Almutâmide o seu drama pessoal, que exprime em versos de excepcional força lírica. Da adversidade faz uma elegia. Das tristezas do quotidiano extrai poesia: um bando de aves entrevisto das grades da cela; a grilheta que lhe rói o tornozelo …
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Morre em 1095, não sem antes ter escrito um poema para o seu epitáfio. A sua personalidade, o seu drama e arte comoveram a gente do seu tempo. Ainda hoje a sua memória, ligada à trágica amizade com ibn Ammar, permanece viva, muito em especial no mundo árabe; tanto assim, que o seu túmulo em Agmat é objecto de piedosas romagens de muçulmanos.
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Adalberto Alves
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http://www.inforarte.com/cantando1/docs/Almutamide0.html
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Eia, Abú Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes
se, como penso, ainda se recordam de mim.
Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer.
Ali moravam guerreiros como leões e brancas
gazelas. E em que belas selvas e em que belos covis!
Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado
Brancas e morenas que produziam na minha alma
o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!
Quantas noites passei deliciosamente junto a um recôncavo
do rio com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!
O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o do seu vaso e outras o da sua boca.
As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me
como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.
Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo
de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.
Mohâmede Ibne Abade Almutâmide - Rei Poeta
Beja (1040-1095)
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http://www.inforarte.com/cantando1/docs/Almutamide0.html
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Quarta-feira, Abril 01, 2009
Evocação de Silves
Eia, Abú Bacre, saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes
se, como penso, ainda se recordam de mim.
Saúda o Palácio das Varandas da parte de um donzel
que sente perpétua saudade daquele alcácer.
Ali moravam guerreiros como leões e brancas
gazelas. E em que belas selvas e em que belos covis!
Quantas noites passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de cadeiras opulentas e talhe fatigado
Brancas e morenas que produziam na minha alma
o efeito das espadas refulgentes e das lanças obscuras!
Quantas noites passei deliciosamente junto a um recôncavo
do rio com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!
O tempo passava e ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o do seu vaso e outras o da sua boca.
As cordas do seu alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me
como se ouvisse a melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.
Ao retirar o seu manto, descobriu o talhe, florescente ramo
de salgueiro, como se abre o botão para mostrar a flor.
Mohâmede Ibne Abade Almutâmide - Rei Poeta
Beja (1040-1095)
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