Frontispício de uma peça de teatro "de cordel" de Tolentino
Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.
A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
- «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...»
- «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,
Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...
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Nicolau Tolentino
Porto de Abrigo
Sep10
A Dois Velhos Jogando o Gamão - Nicolau Tolentino
Em escura botica encantoados,
Ao som de grossa chuva que caía,
Passavam de Janeiro um triste dia
Dois gingas no gamão encarniçados.
Corra, vizinho, corra-me esses dados,
Gritava um deles, que nem bóia via;
De sangue frio o outro lhe dizia
Mil anexins naquele jogo usados.
Dez vezes falha o mísero antiquário,
E ardendo em fúria o trémulo velhinho,
Atira c'uma tábula ao contrário:
O mal seguro golpe erra o caminho,
Quebra a melhor garrafa ao boticário
Que foi só quem perdeu no tal joguinho.
Ao som de grossa chuva que caía,
Passavam de Janeiro um triste dia
Dois gingas no gamão encarniçados.
Corra, vizinho, corra-me esses dados,
Gritava um deles, que nem bóia via;
De sangue frio o outro lhe dizia
Mil anexins naquele jogo usados.
Dez vezes falha o mísero antiquário,
E ardendo em fúria o trémulo velhinho,
Atira c'uma tábula ao contrário:
O mal seguro golpe erra o caminho,
Quebra a melhor garrafa ao boticário
Que foi só quem perdeu no tal joguinho.
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Jun23
DEITANDO UM CAVALO À MARGEM
Vai, mísero cavalo lazarento,
Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento.
Esta sela, teu único ornamento,
Para sinal de minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento.
Morre em paz; que, em havendo algum dinheiro,
Hei de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra terra este letreiro:
— "Aqui, piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno a não morrer de fome"
Nicolau Tolentino (n. 10 Set 1740 m. 23 Jun 1811)
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Que ao sangue quente alta justiça pede,
Fez com que eu, embrulhando-me na rede
Subisse de uma puta a infame escada.
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Ligeiras pulgas saltam de emboscada
Fartando em mim de sangue humano a sede;
Arde a vela pregada na parede,
Já de antigos morrões afogueada.
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Saiu da alcova a desgrenhada fúria
Respirando venal sensualidade,
Vil desalinho, sórdida penúria:
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Muito pode a pobreza e a porquidade;
Abati as bandeiras à luxúria
Jurei no altar de Vénus castidade.
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Obras de Nicolau Tolentino de Almeida no Project Gutenberg USA
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Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento.
Esta sela, teu único ornamento,
Para sinal de minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento.
Morre em paz; que, em havendo algum dinheiro,
Hei de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra terra este letreiro:
— "Aqui, piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno a não morrer de fome"
Nicolau Tolentino (n. 10 Set 1740 m. 23 Jun 1811)
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Nicolau Tolentino
A carnal tentação desenfreadaQue ao sangue quente alta justiça pede,
Fez com que eu, embrulhando-me na rede
Subisse de uma puta a infame escada.
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Ligeiras pulgas saltam de emboscada
Fartando em mim de sangue humano a sede;
Arde a vela pregada na parede,
Já de antigos morrões afogueada.
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Saiu da alcova a desgrenhada fúria
Respirando venal sensualidade,
Vil desalinho, sórdida penúria:
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Muito pode a pobreza e a porquidade;
Abati as bandeiras à luxúria
Jurei no altar de Vénus castidade.
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Excerto
A carnal tentação desenfreada,
Que ao sangue quente alta justiça pede,
Fez com que eu, embrulhando-me na rede,
Subisse de uma puta a infame escada. Ligeiras pulgas saltam de emboscada
Fartando em mim de sangue humano a sede;
Arde a vela pregada na parede,
Já de antigos morrões afogueada.
Sai da alcova a desgrenhada fúria
Respirando venal sensualidade,
Vil desalinho, sórdida penúria.
Muito pode a pobreza, e a porquidade!
Abati as bandeiras à luxúria,
Jurei no altar de Vénus castidade.
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http://www.wook.pt/ficha/obras-completas-de-nicolau-tolentino-de-almeida/a/id/1457673
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Que ao sangue quente alta justiça pede,
Fez com que eu, embrulhando-me na rede,
Subisse de uma puta a infame escada. Ligeiras pulgas saltam de emboscada
Fartando em mim de sangue humano a sede;
Arde a vela pregada na parede,
Já de antigos morrões afogueada.
Sai da alcova a desgrenhada fúria
Respirando venal sensualidade,
Vil desalinho, sórdida penúria.
Muito pode a pobreza, e a porquidade!
Abati as bandeiras à luxúria,
Jurei no altar de Vénus castidade.
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http://www.wook.pt/ficha/obras-completas-de-nicolau-tolentino-de-almeida/a/id/1457673
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Obras poeticas de Nicoláo Toletino de Almeida - Resultado da pesquisa de livros do Google
Obras de Nicolau Tolentino de Almeida no Project Gutenberg USA
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Nicolau Tolentino de Almeida (n. em Lisboa a 10 Set. 1740; m. em Lisboa a 23 Jun de 1811)
Nicolau Tolentino de Almeida (1722 - 1804)
Filho de um Advogado da Casa da Suplicação, em Lisboa. Frequentou largos anos a Faculdade de Leis da Universidade de Coimbra (1760-69). Em 1767, com o curso ainda inacabado (e não se sabe se chegou a completá-lo ), obtém carta de professor régio de Retórica e de Poética. Depressa, no entanto, se reconhece pouco fadado para o ensino; procura então, por vários meios, que vão da súplica à lisonja, do auto-empequenecimento à provocação da piedade, transitar para a carreira burocrática; disto mesmo se encontra larga matéria nos seus versos.
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Em 1780, consegue enfim ser nomeado oficial praticante, sem vencimento, da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino; e três anos depois ascende a Oficial Ordinário da mesma Secretaria.
Em 1780, consegue enfim ser nomeado oficial praticante, sem vencimento, da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino; e três anos depois ascende a Oficial Ordinário da mesma Secretaria.
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Numa publicação anual da tipografia Rollandiana é que aparecem, entre 1779 e 1783, impressas pela primeira vez, ainda que anónimamente, composições do poeta.
Numa publicação anual da tipografia Rollandiana é que aparecem, entre 1779 e 1783, impressas pela primeira vez, ainda que anónimamente, composições do poeta.
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Todavia só em 1801 reunirá ele, em dois pequenos tomos, as suas Obras Poéticas.
Todavia só em 1801 reunirá ele, em dois pequenos tomos, as suas Obras Poéticas.
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A obra de Nicolau Tolentino é fundamentalmente constituída por sonetos, odes, memoriais e sátiras. Estes últimos lhe granjearam a celebridade, a ponto de ele hoje representar, na historia literária portuguesa, quase por antonomásia, o papel de “ o satírico”
In: J. Prado Coelho - Dicionário de LiteraturaA obra de Nicolau Tolentino é fundamentalmente constituída por sonetos, odes, memoriais e sátiras. Estes últimos lhe granjearam a celebridade, a ponto de ele hoje representar, na historia literária portuguesa, quase por antonomásia, o papel de “ o satírico”
Editora Figueirinhas - 1978
.Poeta satírico português, natural de Lisboa. Estudou direito em Coimbra durante vários anos e, em 1767, tornou-se professor de retórica e de poética. Em 1780, ocupou um cargo de funcionário da secretaria de estado dos Negócios do Reino.
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A obra de Tolentino de Almeida abarca sonetos, odes, memoriais e sátiras, entre outros géneros; apenas em 1801 o poeta reuniu os seus textos em volume, com o nome de Obras Poéticas. Após a sua morte, surgiram algumas edições mais completas da sua obra, incluindo textos até então inéditos.
A obra de Tolentino de Almeida abarca sonetos, odes, memoriais e sátiras, entre outros géneros; apenas em 1801 o poeta reuniu os seus textos em volume, com o nome de Obras Poéticas. Após a sua morte, surgiram algumas edições mais completas da sua obra, incluindo textos até então inéditos.
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A sátira de Tolentino, que o tornou particularmente conhecido e o distinguiu dos poetas seus contemporâneos (não pertenceu, aliás, a nenhum dos grupos literários arcádicos), dirige-se à mesquinhez dos costumes, à pelintrice das aparências, à insensatez de certos grupos sociais e comportamentos, num humor pitoresco e irónico. O próprio poeta se inclui entre os cúmplices dessa mediocridade, assumindo a sua pequenez resignada — alguns dos seus poemas são homenagens a grandes figuras da época, de cuja protecção e auxílio necessitava. Tolentino apresenta-se como vivendo na miséria, e assume-se, ele próprio, consciente e ironicamente, personagem da comédia humana que caricatura.
A sátira de Tolentino, que o tornou particularmente conhecido e o distinguiu dos poetas seus contemporâneos (não pertenceu, aliás, a nenhum dos grupos literários arcádicos), dirige-se à mesquinhez dos costumes, à pelintrice das aparências, à insensatez de certos grupos sociais e comportamentos, num humor pitoresco e irónico. O próprio poeta se inclui entre os cúmplices dessa mediocridade, assumindo a sua pequenez resignada — alguns dos seus poemas são homenagens a grandes figuras da época, de cuja protecção e auxílio necessitava. Tolentino apresenta-se como vivendo na miséria, e assume-se, ele próprio, consciente e ironicamente, personagem da comédia humana que caricatura.
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Do ponto de vista estilístico, a obra do poeta caracteriza-se pela sua simplicidade, longe da grandiloquência e das métricas próprias dos poetas neoclássicos. O seu verso aproxima-se das formas populares, e o seu tom da coloquialidade, o que contribui para os efeitos de denúncia de vícios corriqueiros, de episódios quotidianos.
Do ponto de vista estilístico, a obra do poeta caracteriza-se pela sua simplicidade, longe da grandiloquência e das métricas próprias dos poetas neoclássicos. O seu verso aproxima-se das formas populares, e o seu tom da coloquialidade, o que contribui para os efeitos de denúncia de vícios corriqueiros, de episódios quotidianos.
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É considerado por muitos um dos grandes vultos literários do século XVIII português e um dos maiores satíricos nacionais
É considerado por muitos um dos grandes vultos literários do século XVIII português e um dos maiores satíricos nacionais
http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Nicolau+Tolentino
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