sábado, 3 de março de 2012

Raymond Chandler ~ Á b eira do abismo (The big sleep)


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QUINTA-FEIRA, 13 DE OUTUBRO DE 2011

À BEIRA DO ABISMO



Creio que terá sido lá pelos 12 anos que vi NO CINEMA "THE BIG SLEEP" ("À Beira do abismo").

Não nasci no tempo da televisão. Já tinha 10 anos quando o pequeno écran começou a entrar pelos cafés e pela casa dos mais abonados. Dava para ver o Eusébio, o Festival da Canção e o Villaret.

Mesmo assim, andei pouco pela televisão. Cresci com cinema. A partir dos 10 na Promotora, cinema de reprise no Largo do Calvário, Lisboa. Ao fim-de-semana e nas férias. Dois filmes pelo preço de um.

Depois fui alargando pela cidade. Muitas vezes sozinho, corri quase todos esses deliciosos cinemas, O "Palhinhas", o Paris, o Chiado-Terrace, o Lys, etc, etc.

Vi de tudo. Filmes americanos dos anos 40 e 50, mexicanos de fazer chorar as pedrinhas da calçada ("La Nobia" foi demais), cow-boys a granel, filmes históricos, de guerra, musicais, de polícias e ladrões, comédias com o Jerry Lewis, o Cantinflas, M. Hulot... Sei lá, sei lá que mais.

Julgo que vi o "THE BIG SLEEP" antes de ter lido o livro.



Depois li-o várias vezes na vida. A primeira deve ter sido na velha colecção vampiro. Depois, volta e meia, lá vai. Editado vezes sem conta, a última pelo Jornal o Público, não sei se li todas as traduções e todas as edições mas devo ter andado lá perto.



Chandler seguiu o estilo de Hamett. Ou terá sido o contrário? Fui ver as datas. Primeiro "A relíquia Macabra". Sam Spade. Philip Marlowe é o seu émulo.

No entanto, na minha memória, os dois têm a mesma cara, o mesmo jeito, a mesma forma única de conviver com as sombras do perigo: falo de Humphrey Bogart que mais do que Spade ou Marlowe será sempre para mim o Rick de Casablanca.



Ambos os autores trabalharam sobre uma figura de detective duro e solitário, cínico e íntegro, senhor do seu nariz, capaz de dizer que não às mais fantásticas loiras platinadas ou às carteiras mais bem recheadas, de conduzir um raciocínio para lá da nossa inteligência envergonhada e de despachar em menos de nada os mais terríveis assassinos.

É o romance negro, modelo de uma América cheia de podres mas também de gente que não precindia dos valores. Uma América onde os gangsters dominavam as ruas e os escritores iriam ser encostados à parede pelos esbirros dessa figura sinistra que foi o Senador McCarthy.

Volto sempre a lê-los com emoção e com a noção de que estes romances trabalham sobre alguma tipicação simplista mas a verdade é que, quando lhes pegamos só os largamos no fim.


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"Quando fecha um livro, o leitor ideal sente que se não o tivesse lido, o mundo ficaria mais pobre."
 
Alberto Manguel

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