quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Nuno Pacheco - O vocabulário oficial do Acordo Ortográfico está morto há dias e ninguém deu por nada!


OPINIÃO

Depois da anunciada penúria do IILP, agora foi o VOC. Quem tentava lá entrar, recebia uma resposta em inglês: “Congratulations!” Catorze dias depois, reagindo a este texto, ressuscitaram-no.

23 de Janeiro de 2020, 7:30 actualizada às 12:21

Sinto-me honrado. Nunca me deram os parabéns tantas vezes e em tão pouco tempo. Por algum texto? Por fazer anos? Nada disso. A história é mais bizarra. Começa numa mania que mantenho com regularidade: consultar o chamado Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (dito VOC) do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), de nome pomposo e misérrimas vestes, para ver se algo mudou ou para confirmar o monumental absurdo de tal “empresa”. Devo ser, aliás, um dos raríssimos visitantes daquela inutilidade, criada na sequência do enorme embuste que foi o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90).

Mas no dia 13, ao clicar no VOC, deram-me os parabéns. E em inglês: “Congratulations!” Como naquelas mensagens que nos dizem, matreiramente, que ganhámos qualquer coisa para depois nos levarem à certa. Pensei que era um erro e insisti: parabéns outra vez. Não podia ser. Tentei mais tarde e a coisa repetiu-se. Nesse dia e nos seguintes. Até ontem. Esteve assim durante semana e meia e ninguém deu por nada. Nenhuma explicação, nenhum pedido de desculpas (género “estamos a remodelar o VOC, voltaremos em breve”). Silêncio total.
Só a mensagem ali continuava a repetir-se, impassível. Soube, entretanto, que já no dia 9 alguém tentara entrar no VOC e tivera essa mesma resposta. Primeiro, um “Congratulations!” em letras grandes. Depois isto: “You’ve successfully started the Nginx Proxy Manager. If you’re seeing this site then you’re trying to access a host that isn’t set up yet. Log in to the Admin panel to get started.” Pois. Trocando em miúdos: isto não está configurado; ou o lugar onde esta coisa estava alojada fechou-lhe as portas. Pelos vistos, o cheque “extraordinário” de 200 mil euros enviado por Portugal chegou tarde… Adeus!



Quem não chegou a conhecer o defunto, ainda pode espreitar uma “foto” esquecida algures no infinito espaço virtual. Basta carregar em iilp.cplp.org/voc/ e lá aparece a Página Inicial do dito VOC, mas sem nenhum préstimo, pois apesar de ainda ter algumas ligações activas, nenhuma delas vai dar ao vocabulário. Lá estão, à esquerda, as nove bandeirinhas, mas de nada vale tentar clicar nelas. Antigamente, lia-se: “Selecione [sic] a versão do VOC a usar”. Isto significava carregar numa das oito bandeirinhas correspondentes aos países da CPLP ou então numa outra, a nona, que era uma espécie de saco-de-gatos com todas as variantes lá dentro. Quando funcionava, clicava-se em três bandeiras e não dava nada: Angola, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe (os dois primeiros países não ratificaram o AO90; e São Tomé ratificou-o, em condições mais que duvidosas, mas não tem vocabulário que se veja). As restantes conduziam a cinco vocabulários com nomes diferentes: Vocabulário Ortográfico Cabo-Verdiano da Língua PortuguesaVocabulário Ortográfico Moçambicano da Língua PortuguesaVocabulário Ortográfico de Timor-Leste, todos eles incorporando o nome dos respectivos países, e os dois restantes sem identificação nacional: Vocabulário Ortográfico do Português (o de Portugal) e Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (o do Brasil). Para quem prometia um Vocabulário Ortográfico Comum, esta multiplicação é patética.

Quanto ao defunto, e depois de várias buscas, eis que surge em linha uma luz: um “Concurso Internacional de Design de Projetos do IILP”, pretendendo dar “a oportunidade a um talento do design de criar duas marcas para dois projetos” [sic], sendo um deles o VOC. Ora aqui está: o vocabulário vai ser remodelado, e ainda que péssimo vai ter nova cara. Puro engano: o anúncio é de 2013 e diz isto [sic]: “O projeto VOC – Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, visa implementar em uma plataforma digital o vocabulário oficial da Língua Portuguesa, constituído de forma inovadora pela soma dos diversos Vocabulários Ortográficos Nacionais (VON), dos países da CPLP. A partir dos Vocabulários Nacionais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, o Vocabulário Comum da Língua Portuguesa, pela primeira vez, incluirá numa grande base de dados lexicais de gestão comum, o vocabulário de todos os países escrito na nova ortografia, com inúmeras utilidades, o que abrirá uma fase nova para a língua portuguesa.” Vírgulas fora do sítio e o “esquecimento” da Guiné-Bissau são mesmo do texto, aqui em transcrição literal.

É duvidoso que algum “talento do design” tenha arriscado nome e tempo em tal façanha, pois o resultado, tanto gráfico como utilitário, sempre foi miserável. A “fase nova” para a língua portuguesa também está à vista e não se recomenda. O que vão fazer, então, as baixíssimas “altas instâncias”? Passar mais cheques? Ou aceitar de vez o funeral, levando por arrasto no féretro o IILP (que sem VOC deixa de ter qualquer justificação) e o Acordo Ortográfico de má memória, que desuniu em vez de unir o amplo espaço da Língua Portuguesa? Decidam depressa, que o cadáver começa a entrar em decomposição e urge o respectivo enterro. E desactivem lá o “congratulations” – ao menos ali, dêem-nos os parabéns em português!

P.S.: ​– Anotem esta data: ao 14.º dia de silêncio, o VOC ressuscitou do seu estado publicamente cadavérico: precisamente às 12 horas e 4 minutos de 23 de Janeiro de 2020, quatro horas e 34 minutos após a publicação desta crónica. Percebe-se: no estado declarado de penúria em que se encontra, o IILP não devia ter dinheiro para o funeral. Só que o morto ressuscitou tal qual fenecera ​– ou seja, mau. Podiam ter aproveitado os 14 dias para melhorar alguma coisinha. Mas isso dá muito trabalho. Fácil é repor o que não presta. E de preferência sem comentários, porque não há nem haverá (escrevo isto para que haja, já que eles são muito mais rápidos a contrariar os outros), em todo o sítio do IILP, uma explicação, mais do que devida, para esta falha anormal e aberrante. Enquanto isso, entretêm-se a fingir que propagam a língua portuguesa aos quatro ventos no Universo. Pobres de nós...



João Miguel Tavares - O hábito de cair quando a polícia está por perto

* João Miguel Tavares -
 OPINIÃO  - 23 de Janeiro de 2020, 6:05

Um novo caso de violência policial desnecessária no concelho da Amadora, como se já não houvesse bastantes, e mais uma carrada de lenha para a fogueira do conflito racial lusitano.

A polícia está para certos cidadãos como o Outono para as folhas caducas – há uma tendência natural para caírem à sua aproximação. A polícia portuguesa nunca espanca ilegalmente ninguém. São os cidadãos que baqueiam, derrocam, desabam, despencam, esbarrondam-se, esborracham-se, estampam-se, estatelam-se, fenecem, fraquejam, tombam, tropeçam ou tropicam. A última cidadã a escorregar na presença de agentes policiais – os bombeiros da Amadora, que acorreram à esquadra da Venda Nova, garantem ter sido chamados por causa de “uma queda” – chama-se Cláudia Simões, tem nacionalidade portuguesa e angolana, e a cara inchada de hematomas porque umas vezes o chão bateu-lhe no lábio, outras vezes no sobrolho, outras ainda no nariz.

Cláudia Simões, claro está, diz que não foi o chão que lhe bateu, mas sim um polícia já dentro do carro, a caminho da esquadra. Há uma boa razão para acreditar nela: uma testemunha gravou em vídeo o polícia a manietá-la na rua de forma ríspida, mas ainda com os lábios, os sobrolhos e o nariz no sítio. Ora, custa acreditar que depois de a cidadã lusoangolana estar já prostrada no chão, e algemada, ela ainda assim tenha caído várias vezes, até ficar com a cara num trambolho. Donde, aquilo que temos como mais provável é o costume: um novo caso de violência policial desnecessária no concelho da Amadora, como se já não houvesse bastantes, e mais uma carrada de lenha para a fogueira do conflito racial lusitano, alimentado pela brutalidade e falta de preparação de membros da polícia.

Convém acrescentar isto: o que esteve na origem deste caso absurdo foi o facto de a filha de Cláudia Simões, de oito anos, ter viajado num autocarro sem o passe. Sendo que o passe, para quem tem menos de 13 anos, é gratuito; e sendo que se isso me tivesse acontecido a mim e a um filho meu numa paragem de autocarro das Avenidas Novas, dificilmente teria acabado o dia com as ventas na calçada portuguesa. De um passe esquecido em casa até um rosto moído na Reboleira foi um saltinho, feito de incompreensão, ausência de bom-senso e, sim, talvez racismo – uma cartada que tem sido usada e abusada tantas vezes, quer por brancos, quer por negros, que é criminoso ser alimentada pela polícia portuguesa, precisamente a instituição que, pela sua triste história, mais devia estar empenhada em combatê-la.

Eu percebo quase tudo. Percebo que a vida de polícia não é fácil. Percebo que os bairros problemáticos coloquem os agentes com os nervos em franja. Percebo que muitas vezes se sintam vítimas de injustiça. Percebo que há quem chame erradamente racismo a investidas contra grupos de delinquentes que por acaso têm uma determinada cor de pele. Percebo tudo isso. Não percebo que a ausência de um passe gratuito acabe com uma mulher espancada, com o costumeiro comunicado desculpabilizador da Direcção Nacional da PSP e com um post deste calibre do Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública: “As melhoras ao colega e espero que as análises sejam todas negativas a doenças graves. Contudo, a defesa da cidadã está a começar a ser orquestrada pelo ódio-mor de brancos [Nota: suponho que seja uma referência a Mamadou Ba]. Está tudo bem, não se passa nada.” De facto, está tudo mal e passa-se alguma coisa de muito errado quando um sindicato com ligações ao Chega alimenta esta linguagem cavernícola. Há linhas de decência que não podem ser ultrapassadas, e convinha que a polícia metesse isso na cabeça, de uma vez por todas.

Jornalista

domingo, 19 de janeiro de 2020

O ideal o projecto comunista


Manuel Gusmão - Codicilo

* Manuel Gusmão


Os afectos são o modo cantabile como sais de ti
uma impura conversa de fantasmas, seduzida pela matéria
do mundo de que são também feitos os sonhos.

Não consentir que ao mundo imponham a ausência
de palavra; porque o mundo em nós e fora de nós
é o que nos faz falar segundo o desejo.

A mão imaginante é que modela nas areias do cérebro
as figuras incompletas dos mil e um rostos
que o cinema de atrás dos olhos projecta nesta praia.

Não consentir no estreitamento daquilo a que chamam
malevolamente o real; A alucinação: o método
para um rigor impossível, equilibrar a imaginação.

Longas e breves incendeiam-se o céu da boca
uma palavra veloz voa milimetricamente por sobre
as sílabas do verso o acento inesquecível.

Não consentir na humilhação da linguagem: ela
não faz tão pouco ruído quanto o silêncio imposto
impõe; o poema é o que a estende ao máximo de comum.

A sombra que cai de um corpo mede o seu lugar ao rés
do vivo; a sombra é um rio tecido de pequenos brilhos
navegando e dançando no corpo sem nome do mar.

Isso começa e recomeça ao longo da última margem.

Manuel Gusmão
(A Terceira Mão)

Luís Pedro Nunes - Negação, raiva e cenas

* Luís Pedro Nunes

A TECNOLOGIA É BOA PARA O AMOR. INÚTIL NAS SEPARAÇÕES
Temos que aceitar com a tolerância que se tem com as coisas modernas que as relações e a intimidade têm hoje variantes que podem parecer patéticas mas que só são criticáveis porque tem um coração empedernido e/ou não é dado a questões tecnológicas. Ou ambas. Tomei conhecimento que casais separados geograficamente, ou que tenham uma relação amorosa mas vivam em casas separadas (namoradinhos), estão a aderir à moda de dormir, a noite toda, com o FaceTime (ou similar) ligado. Ou seja, de certa forma dormem ‘juntos’ cara com cara no ecrã. Isto é impossível de inventar. Estou a ler na “The Atlantic”: “Couples Who Sleep Thogether Over Videochat” — 3 de janeiro de 2020. E ali se relata a beleza de até se poder baixar o som quando o companheiro/a ressona (detalhe que consta do artigo revelado por uma entrevistada). O facto de se repartir o leito com um ecrã ligado à pessoa amada resolve algumas das misérias da convivência partilhada na cama tal como alguns imprevistos que o corpo exala na sua humanidade ou o sempre inevitável hálito matinal. Pela manhã, na pantalha digital, somos apenas despenteados e relativamente mal-encarados e mesmo assim há sempre uns filtros do Snapchat que podem remediar.
Mas, cuidado, e isto também é referido, este tipo de vídeo-relação, exige wi-fi ilimitado. Nada de meros pacotes de dados. Ou temos drama financeiro conjugal. Uma das vantagens, revela uma das entrevistadas, é que assim tem a certeza que a sua cara-metade não está (naquele momento, naquela noite) a ter um caso extraconjugal. Sente-o ‘ali’ deitado com ela numa vídeo-presença. Há, pois, uma sensação de conforto e fidelidade. Bolas!, isto chega a ser romântico. Demonstra esforço e devoção no compromisso (nas separações geográficas). Fica, pois, aqui ponto assente que para as relações à distância a tecnologia tem sido benéfica. E isto é bonito. E mostra fé, por um lado. De que o amor perdure independentemente da quilometragem. E é das maiores faltas de confiança no outro que já vi, dado que exige que esteja live, no vídeo, para impedir que salte a cerca. É escolher.
Já para as separações, a tecnologia tem feito muito pouco para ajudar. Um homem/mulher que é abandonado, que vê acabar uma relação duradoira, fica irremediavelmente reduzido a um traste e quando menos espera está nas redes sociais a cuscar onde é que a/o ex anda. Uns aprendizes de stalker. O que não abona a quem por esta altura já perdeu dignidade (calha a todos). A questão das separações é que, ao contrário da tecnologia, todos somos mais ou menos peritos, todos somos psicólogos inatos e temos uma bagagem conceptual que — embora não tenha funcionado connosco — achamos que pode ser servida a título de conselho gratuito ao amigo que chora baba e ranho no nosso ombro e diz que nunca mais vai amar e o mais que se diz quando somos largados na sarjeta.
— Então... então... tens de começar a fazer o luto...
E, fazendo rapport com tanto filme comédia-romântica e série de TV no bucho, manda-se esta: “Ainda estás em negação amigo... sabes, é o teu cérebro a defender-se e a preparar-te para a ‘raiva’... é o que aí vem, percebes? Raiva. Muita. Mas são as fases por que todos passamos...”
Não são. Ou melhor: as pessoas gostam de pensar que é assim. Que perante uma perda, um evento traumático, um amor que nos deu um pontapé nos fundilhos, todos reagirmos segundo um script idêntico, formatado, composto por cinco fases: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Buscamos padrões, queremos que o mundo faça sentido, que haja Ordem sobre o Caos. Não queremos que a nossa vida íntima seja uma presidência do Trump. É por isso que esta cronologia de sentimentos é tão catita. O problema é quando não acontece. E se depois da ‘negação’ não sentir raiva e passar rapidamente para a depressão? Ou para a aceitação? O que estou a fazer de ‘errado’? Não sou ‘normal’? Ou — por esta não esperava — se galguei fases do luto, este amor... não era amor?
Estou para aqui a dizer isto à boss, mas estava convencido que era assim até ter lido que o modelo de Kubler-Ross (a investigadora que determinou essas fases para doentes terminais) não é propriamente funcional para miudezas da vida quotidiana, para quando perdemos a carteira de marca ou, mais uma vez, a alma gémea. Para ser sincero, irritam-me alguns destes ataques às verdades que nos arrumavam a vidinha e que antigamente se chamava “experiência de vida” ou ser batidão. Tiram-nos tudo é o que é.
Nesse artigo da “Psychology Today”, tenho-o à minha frente, também desmitificavam teorias como a do “gene da depressão” (não existe), a do “filho mais velho dominador” (não se verifica), a da “adição sexual” (não se comprova), a do hemisfério do cérebro dominante (são ambos) e por aí fora. Bonito serviço. Perdi várias certezas que tinham as suas virtudes timoneiras. “O gene da depressão... ah, pois... uma chatice.”
Que fazer, então, se não há um script boia de salvação para corações partidos, copiado aos moribundos? Estamos por nossa conta. Quando dá para o torto, já não há um GPS do luto. A seguir à ‘negação’ vêm cenas. Sabe-se lá o quê. Tenha bom senso e preserve o que tem. Se preciso for, durma a fazer conchinha com um smartphone ligado, para não perder o sentido de intimidade com a amada e talvez a impedir que seja infiel. É o que há.

sábado, 18 de janeiro de 2020

Ary dos Santos - Retrato do Herói

* Ary dos Santos

Herói é quem num muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
e morre devagar de morte certa.

Homem é quem anónimo por leve
lhe ser o nome próprio traz aberta
a alma à fome fechado o corpo ao breve
instante em que a denúncia fica alerta.

Herói é quem morrendo perfilado
Não é santo nem mártir nem soldado
Mas apenas por último indefeso.

Homem é quem tombando apavorado
dá o sangue ao futuro e fica ileso
pois lutando apagado morre aceso.

Ary dos Santos, in 'Fotosgrafias'

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Miguel Torga - Brasil

* Miguel Torga

Brasil
onde vivi,
Brasil onde penei,
Brasil dos meus assombros de menino:
Há quanto tempo já que te deixei,
Cais do lado de lá do meu destino!

Que milhas de angústia no mar da saudade!
Que salgado pranto no convés da ausência!
Chegar.
Perder-te mais.
Outra orfandade,
Agora sem o amparo da inocência.

Dois pólos de atracção no pensamento!
Duas ânsias opostas nos sentidos!
Um purgatório em que o sofrimento
Nunca avista um dos céus apetecidos.
Ah, desterro do rosto em cada face,
Tristeza dum regaço repartido!
Antes o desespero naufragasse
Ente o chão encontrado e o chão perdido.

Mário Cesariny - Pastelaria

Mário Cesariny 

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
– ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny de Vasconcelos
de “Nobilíssima Visão” (1045-1946) em “Burlescas, Teóricas e Sentimentais”,Editorial Presença, Lisboa, Julho de 1972.

domingo, 12 de janeiro de 2020

António Nobre - Virgens que passais

* António Nobre

Virgens
que passais, ao Sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
Que me transporte ao meu perdido lar.

Cantai-me, nessa voz omnipotente,
O sol que tomba, aureolando o Mar
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!

Cantai! Cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas

Que eu vi morrer num sonho, como um ai....
Ó suaves e frescas raparigas,
adormecei-me nessa voz...cantai !

sábado, 11 de janeiro de 2020

João de Deus - Adoração

* João de Deus

Vi o teu rosto lindo,
Esse rosto sem par;
Contemplei-o de longe mudo e quedo,
Como quem volta de áspero degredo
E vê ao ar subindo
O fumo do seu lar!

Vi esse olhar tocante,
De um fluido sem igual;
Suave como lâmpada sagrada,
Benvindo como a luz da madrugada
Que rompe ao navegante
Depois do temporal!

Vi esse corpo de ave,
Que parece que vai
Levado como o Sol ou como a Lua
Sem encontrar beleza igual à sua;
Majestoso e suave,
Que surpreende e atrai!

Atrai e não me atrevo
A contemplá-lo bem;
Porque espalha o teu rosto uma luz santa,
Uma luz que me prende e que me encanta
Naquele santo enlevo
De um filho em sua mãe!

Tremo apenas pressinto
A tua aparição,
E se me aproximasse mais, bastava
Pôr os olhos nos teus, ajoelhava!
Não é amor que eu sinto,
É uma adoração!

Que as asas providentes
De anjo tutelar
Te abriguem sempre à sua sombra pura!
A mim basta-me só esta ventura
De ver que me consentes
Olhar de longe... olhar!

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Milton Nascimento / Chico Buarque - Levantados do chão



Levantados do Chão -Chico Buarque e Milton Nascimento

* Milton Nascimento / Chico Buarque

Como então? Desgarrados da terra?
Como assim? Levantados do chão?
Como embaixo dos pés uma terra
Como água escorrendo da mão?

Como em sonho correr numa estrada?
Deslizando no mesmo lugar?
Como em sonho perder a passada
E no oco da Terra tombar?

Como então? Desgarrados da terra?
Como assim? Levantados do chão?
Ou na planta dos pés uma terra
Como água na palma da mão?

Habitar uma lama sem fundo?
Como em cama de pó se deitar?
Num balanço de rede sem rede
Ver o mundo de pernas pro ar?

Como assim? Levitante colono?
Pasto aéreo? Celeste curral?
Um rebanho nas nuvens? Mas como?
Boi alado? Alazão sideral?

Que esquisita lavoura! Mas como?
Um arado no espaço? Será?
Choverá que laranja? Que pomo?
Gomo? Sumo? Granizo? Maná?


"Terra" é um compacto do músico brasileiro Chico Buarque, lançado em conjunto com o livro "Terra", do fotógrafo Sebastião Salgado.Foi lançado no ano de 1997.

Milton Nascimento e Fernando Rocha Brant - Carta à República



* Milton Nascimento / Fernando Rocha Brant

Sim é verdade, a vida é mais livre
o medo já não convive nas casas, nos bares, nas ruas
com o povo daqui
e até dá pra pensar no futuro e ver nossos filhos crescendo e sorrindo
mas eu não posso esconder a armagura
ao ver que o sonho anda pra trás
e amentira voltou
ou será mesmo que não nos deixara?
a esperança que a gentecarrega é um sorvete em pleno sol
o que fizeram da nossa fé?

Eu briguei, apanhei, eu sofri, aprendi,
eu cantei, eu berrei, eu chorei, eu sorri,
eu saí pra sonhar meu País
e foi tão bom, não estava sozinho
a praça era alegria sadia
o povo era senhor
e só uma voz, numa só canção

e foi por ter posto a mão no futuro
que no presente preciso ser duro
que eu não posso me acomodar
quero um País melhor


segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Patxi Andión - Veinte años (Palabras)

*  Patxi Andión




Veinte años de estar juntos
esta tarde se han cumplido.
Para ti... flores... perfumes,
para mi... algunos libros.
No te he dicho grandes cosas
porque... porque no me habrian salido,
ya sabes... cosas de viejos...
requemor de no haber sido.
Hace tiempo que intentamos
abonar nuestro destino.
Tu... tu bajabas la persiana
Yo... yo apuraba mi ultimo vino.
Hoy, en esta noche fria,
casi... como ignorando el sabor
del la soledad compartida,
quise hacerte una cancion
para cantar... despacito,
como se duerme a los niños.
Y... y ya ves, solo... palabras
sobre notas me han salido
que al igual que tu y…

domingo, 5 de janeiro de 2020

Celedonio Flores - Pan

* Celedonio Flores



Edmundo Rivero - Pan (1953) Tango de Celedonio Flores

Él sabe que tiene para largo rato,
la sentencia en fija lo va a hacer sonar,
así -entre cabrero, sumiso y amargo-
la luz de la aurora lo va a saludar.

Quisiera que alguno pudiera escucharlo
en esa elocuencia que las penas dan,
y ver si es humano querer condenarlo
por haber robado... ¡un cacho de pan!...

Sus pibes no lloran por llorar,
ni piden masitas,
ni chiches, ni dulces... ¡Señor!...
Sus pibes se mueren de frío
y lloran, habrientos de pan...
La abuela se queja de dolor,
doliente reproche que ofende a su hombría.
También su mujer,
escuálida y flaca,
con una mirada
toda la tragedia le ha dado a entender.

¿Trabajar?... ¿En dónde?... Extender la mano
pididendo al que pasa limosna, ¿por qué?
Recibir la afrenta de un ¡perdone, hermano!
Él, que es fuerte y tiene valor y altivez.

Se durmieron todos, cachó la barreta,
se puso la gorra resuelto a robar...
¡Un vidrio, unos gritos! ¡Auxilio!... ¡Carreras!...
Un hombre que llora y un cacho de pan...                    


Clara Ferreira Alves - No tempo em que os animais falavam

* Clara Ferreira Alves

«Não tenho muito a dizer sobre a década. Já passou. O mundo mudou. Mudou mais em 10 anos do que costumava mudar em 20 ou 30, e não há nada que possamos fazer sobre isso, porque não há nada que nos interesse o suficiente para podermos fazer alguma coisa sobre isso. Ou não há nada que abra uma fenda no narcisismo e no egoísmo da era do mim a mim. As massas elevaram-se acima do anonimato e comunicam-se as respetivas irrelevâncias com o escrúpulo do entomologista. Nada fica acima da necessidade de partilhar, desvendar, mostrar. Uma qualidade que julgávamos inerente à liberdade chamada privacidade desapareceu, não por nos ter sido retirada por um sistema autoritário e repressivo mas porque decidimos coletivamente que não era mais importante do que a necessidade de partilhar e de receber em troca uma aprovação infantil e igualmente irrelevante chamada like. Queremos muitos likes e muitos seguidores, queremos amigos que nunca vimos e com os quais nunca falamos, falámos ou falaremos, milhares deles se possível, queremos mostrar-lhes o que fazemos, quando fazemos, onde fazemos, com quem fazemos. E contra quem ou a favor de quem estamos. E queremos também seguir e like muita gente que nunca vimos e cuja voz nunca ouvimos.

Se tivesse de destacar uma das características da década seria esta, a de que deixámos de estar interessados em falar uns com os outros, de ouvir o som das palavras, de comunicar oralmente. A comunicação escrita está destinada a desaparecer, mas a comunicação oral, tão velha como a espécie, parecia menos condenada. Não é verdade. Basta apreciar o modo como utilizamos o telemóvel. No tempo do telefone único, quando havia um telefone por casa, por família, por rua ou mesmo por aldeia, o telefone era o modo mágico de ouvir a voz de um parente ou de um amigo distante, e as pessoas corriam para o telefone cheias de vontade de ouvir. A carta não tinha o mesmo efeito imediato nem a proximidade ou afeto. Amos Oz, em “Uma História de Amor e Trevas”, um daqueles livros que valem bem um Nobel se o Nobel ainda tivesse validade intelectual, relata a voracidade com que os pais usavam o telefone em Israel, no princípio de Israel, para ouvirem uma voz amada. O telefone era o elo de ligação, o destruidor da distância e da saudade.

Hoje, quando alguém ainda se dá ao trabalho de ligar, de carregar uns números no teclado ou de ir à lista de contactos, espera durante dois toques e desliga. A razão por que nunca chegamos a tempo de atender a chamada é porque a chamada não foi feita para ser atendida. Foi feita para passar a mensagem: estou a fingir que quero falar contigo, só para dar essa impressão, mas na verdade espero que não atendas e que me ligues de volta, embora não tenha intenções de atender. Tudo isto pode e deve ser tratado por mensagens, de preferência no WhatsApp, embora não me apeteça escrever mais do que me apetece falar. O melhor será enviar um vídeo, ou um GIF, ou um emoji, e arruma-se assim a comunicação. Uma pessoa que tem a mania de enviar muitos emojis é uma daquelas pessoas que antigamente costumavam falar muito. Tagarela dos emojis. As pessoas dos vídeos são mais, dá menos trabalho, e um forward arruma as despesas de uma data de conversas ou votos de Boas Festas, aniversários, saudações, melhoras. Os vídeos de Natal, sobretudo os cómicos, circulam nos telemóveis à velocidade da luz, forwarded coletivamente e várias vezes. Nem uma palavra será pronunciada ou escrita, que sorte.

Existem também as pessoas que ficam ofendidas quando alguém lhes liga e espera ouvir o som da voz delas. Que maçada, esta gente espera que eu atenda e fale, que me dê ao trabalho de pronunciar palavras e entreter uma conversa? Pensam que estamos no século XX? Tenho lá paciência para isto, não atendo. E quanto aos números desconhecidos, ninguém atende números desconhecidos, porque são usados exclusivamente por empresas de marketing e escravos num call center que tão-pouco esperam que alguém lhes atenda o telefone ou nele permaneça depois de ouvir as palavras estou a falar da empresa X. O código dominante de comunicação é a imagem, fútil e fugaz, tão irrelevante como o arquivo digital desta Humanidade. Da civilização atual restarão as máquinas, os esqueletos obsoletos das máquinas, o lixo eletrónico. Não as palavras.

Igualmente detestado, o livro não utilitário entrou na fase terminal. A ficção é uma ficção. A poesia é uma relíquia. Tenho o hábito bizarro de me sentar a ler em coffee shops, que é como se chamam agora os cafés. No Starbucks, se alguém entrar com um computador e começar a usar a mesa como secretária, ligando meia dúzia de aparelhos uns aos outros e usando auscultadores para deixar de comunicar com o mundo em redor, estabelecendo o escritório, ninguém o incomoda. Mas se um incauto consumidor de expressos e latte puxar de um livro, é olhado com pânico geral. Um ritual se seguirá. O tipo do computador continua a falar para a Ásia, por exemplo, e a trabalhar em paz, enquanto o do livro notará que os empregados começam a tentar levar as chávenas ainda mal tenham sido bebidas, ou a garrafa de água meio cheia, ou o prato com as migalhas do croissant ou mesmo com um pedaço do croissant. Em Nova Iorque e em Londres, em todas as coffee shops, os serventes são estudantes digitais que limpam a mesa com denodo, e tudo o pano levou, olhando enfastiados o objeto de papel e perguntando, com acinte, mais alguma coisa? Tradução: põe-te a mexer daqui para fora, dinossauro. Não consomes e não ficas. Não se trata de defender o interesse do patrão, porque se pedirmos mais qualquer coisa, um segundo latte, o ódio aumenta. No banco do lado, o cliente do laptop com acessórios continua a tratar da vida dele, num isolado esplendor profissional, o expresso encomendado por beber, frio, pretexto para ocupar o lugar. Nestes rituais, por vezes, nem uma palavra é trocada, comunica-se por gestos. E panos. Há os que desatam a varrer os pés por baixo da mesa. Os livros não são bem-vindos. São um sinal datado. Um sinal de velhice. O futuro lê nas máquinas. E as máquinas leem a Humanidade.

Um dia, em breve, este lugar da antiga escrita será ocupado por um programa que desenhará um texto segundo um algoritmo que procurará satisfazer uns metrics num processo calculado para provocar um efeito previsto. E para os que estão preocupados com o planeta, não vale a pena. As máquinas suportam o calor e o frio, a extinção das espécies animais, a subida dos mares e dos rios e o envenenamento das águas e dos ares, a violência da Natureza. As máquinas nunca têm fome ou sede, dispensam abrigo. Talvez falem umas com as outras, mais do que nós falamos. Porque são inteligentes e imitam a Humanidade enquanto nós imitamos as máquinas.»

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Paulo Varela Gomes - Aquilo que é necessário

* Paulo Varela Gomes

Na manhã do dia 1 de Janeiro de 1962, eu, o meu irmão e as minhas duas irmãs fomos acordados, não pelo meu pai ou a minha mãe como era costume, mas por um tio e uma tia. Mandaram-nos vestir um roupão sobre os pijamas e acompanhá-los. Atravessámos a curta distância que separava da casa do meu avô materno a casa onde vivíamos, e à qual nunca mais voltei. Durante semanas só nos disseram coisas vagas. As empregadas do meu avô calavam-se de repente quando passávamos. Soubemos depois que a família não tinha a certeza que o meu pai sobrevivesse aos ferimentos de bala que sofrera no ataque ao quartel de Beja na madrugada daquele dia 1. A minha mãe estava presa. Voltou para casa um ano e meio depois. Ele, ao fim de seis anos. Lembro-me: a minha mãe, a quem não deixaram abraçar os filhos pequenos, encharcando com lágrimas os punhos cerrados de fúria com que agarrava as grades do parlatório de Caxias. O nosso terror. O meu pai, numa cela da Penitenciária de Lisboa, entubado, magríssimo, a voz quase apagada, um fantasma desvanecido contra a luz da janela, aquele homem que eu recordava grande, alegre, garboso na sua farda. Desapareceu de vez a infatigável alegria do meu irmão, um miúdo palrador e de olhos cheios de luz. Ganhou dificuldades de fala e endureceu. Nunca mais encontrou a paz. Por mim, fui adolescente a querer ser homem sem ter para isso pai. Não foi fácil e não se tornou menos difícil depois. As minhas irmãs, eu sei lá, nunca falamos disso. A família juntou-se para nos acolher e ajudar, houve amigos que estiveram à altura da ocasião, mas vivíamos com alguma dificuldade. Quando a minha mãe foi libertada, tinha perdido a profissão que a PIDE a impediu de retomar. Arranjou os empregos possíveis. Dormia pouquíssimo, trabalhava loucamente e aguentou tudo. Só perdeu a juventude e a saúde.

Quando visitávamos os meus pais em Caxias, em Peniche, encontrámos pessoas que sofreram muito mais que nós e estavam muito mais desamparadas. Especialmente os familiares de militantes do PCP, gente heróica sem bravata. Aprendemos que, para além dos nossos pais e dos que, com eles, foram a Beja (alguns, com menos sorte e resistência física que o meu pai, para lá morrerem), havia em Portugal muitas pessoas rectas que, ao fazerem o que era necessário fazer, causaram danos colaterais como aqueles que a minha família sofreu. Aprendemos que é mesmo assim, que nada se consegue sem danos colaterais. Aprendemos também, todavia, que a maioria das pessoas não suporta esta ideia e quer somente paz e sossego. É a vida, mas felizmente haverá sempre aqueles que são maiores que a vida. Se os não houvera, a iniquidade venceria necessariamente.

Coincide com os 50 anos da Revolta de Beja a perseguição movida pelo regime que hoje vigora em Portugal contra Otelo Saraiva de Carvalho, o operacional responsável pela revolta seguinte, o 25 de Abril de 1974. Que isso não nos impeça de dizer e fazer o que é necessário. A iniquidade não pode vencer.»

Américo Tomás - "Pérolas" dos "Discursos" Presidenciais

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Foi Américo Thomaz o primeiro Presidente da República a transmitir pela televisão a sua mensagem de Ano Novo. Mensagem de Ano Novo de Sua Excelência o Presidente da República, em 1961.01.01 - OUVIR EM (https://arquivos.rtp.pt/conteudos/mensagem-de-ano-novo-do-chefe-de-estado/)


É dado destaque às Comemorações Henriquinas (comemorações dos 500 anos sobre a morte do Infante D. Henrique), às visitas de Juscelino Kubitschek e Dwight Eisenhower, Presidentes do Brasil e dos Estados Unidos da América respectivamente, e à situação política internacional, referindo Américo Thomaz que "o mundo anda invisivelmente doente", "forças do mal infiltram-se em todos os continentes" e "a guerra só poderá ser evitada se o Ocidente firmemente preferir a garantia da sua força a promessas sem penhor que valha"; Américo Tomás considera que só a "união de todos os portugueses" poderá fazer face aos "ataques de que temos sido alvo". T(homaz, Américo (1 de Janeiro de 1961). «Comunicado de ano novo de Américo Tomás»Noticiário Nacional. RTP Arquivos. Consultado em 27 de Dezembro de 2018? 




* Américo Tomás

Origem: Wikiquote, a coletânea de citações livre.

Américo de Deus Rodrigues Tomás (ou Thomaz) (Lisboa, 19 de Novembro de 1894 - Cascais, 18 de Setembro de 1987), político e militar português, foi o décimo quarto Presidente da República Portuguesa (último do Estado Novo).

«Comemora-se em todo o país uma promulgação do despacho número Cem da Marinha Mercante Portuguesa, a que foi dado esse número não por acaso mas porque ele vem na sequência de outros noventa e nove anteriores promulgados....»
- in revista Opção, ano II, n.º30

«...É uma terra [Manteigas]bem interessante, porque estando numa cova está a mais de 700 metros de altitude...»
- in O Século, 1/6/1964

«A minha boa vontade não tem felizmente limites. Só uma coisa não poderei fazer: o impossível. E tenho verdadeiramente pena de ele não estar ao meu alcance.»
- in Diário de Notícias, 23/6/1964

«O Sr.Prof.Oliveira Salazar, ao longo de mais de trinta anos, é uma vida inteiramente sacrificada em proveito do país, e desconhecendo completamente todos os prazeres da vida, é um homem excepcional que não aparece, infelizmente, ao menos, uma vez em cada século, mas aparece raramente ao longo de todos os séculos.»
- in Seara Nova, Maio 1965

«Eu prolongo no tempo esse anseio de V.Ex.ª e permito-me dizer que o meu anseio é maior ainda. Ele consiste em que, mesmo para além da morte, nós possamos viver eternamente na terra portuguesa, porque se nós, para além da morte vivermos sempre sobre a terra portuguesa, isso significa que Portugal será eterno, como eterno é o sono da morte.»
- in Diário da Manhã, 14/9/1970

«Neste almoço ouvi vários discursos, que o Governador Civil intitulou de simples brindes. Peço desculpa, mas foram autênticos discursos.»
- in Diário de Notícias, 14/9/1970

«Pedi desculpa ao Sr. Eng.º Machado Vaz por fazer essa rectificação. Mas não havia razão para o fazer porque, na realidade, o Sr. Eng.º Machado Vaz referiu-se à altura do início do funcionamento dessa barragem e eu referi-me, afinal, à data da inauguração oficial. Ambas as datas estavam certas. E eu peço, agora, desculpa de ter pedido desculpa da outra vez ao Sr.Eng.º Machado Vaz.»

— Américo Thomaz
- Por vezes, um censor mais inteligente riscava uma frase tola demais, o que acabava por acentuar a ironia: o mais alto magistrado da nação censurado....
- retirado do livro "Frases que fizeram a História de Portugal" por Ferreira Fernandes e João Ferreira

AMÉRICO TOMÁS (Presidente da República)
“É a primeira vez que estou cá desde a última vez que cá estive” (Frase dos anos 60 até metade de 70)  Explicação: Em matéria de frases, Américo Tomás (1894-1987), Presidente de 1958 ao 25 de Abril de 1974, tem de ser pegado em pacote... Inaugurava tudo, das lavandarias do Hotel Sheraton, em Lisboa, às escadas rolantes do Metro do Parque Eduardo VII.

Ficou conhecido como O Corta Fitas. Andava pelo País, repetia visitas, onde especulava, por exemplo, sobre a Teoria dos Conjuntos (Torres Novas): “Hoje visitei todos os pavilhões, se não contar com os que não visitei.” Todos gostavam de o ouvir. Os apoiantes, porque sim. Os opositores, para se rirem às gargalhadas.  in Frases que entraram para a nossa História, por Ferreira Fernandes & João Ferreira, - Editora Esfera dos Livros, Lisboa 2006




in

O Último Salazarista – A outra face de Américo Thomaz, por Orlando Raimundo,