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quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Alfredo Barroso - [A 3ª via ou a viragem pró-capitalista da Internacional Socialista]

 


* Alfredo Barroso
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Para se perceber porque é que o PS é hoje um partido social-liberal…

A DERIVA RUMO À DIREITA DOS PARTIDOS SOCIALISTAS, SOCIAL-DEMOCRATAS E TRABALHISTAS DA INTERNACIONAL SOCIALISTA 

- por Alfredo Barroso (impedido de publicar artigos nos jornais)

Foi a «Revolução conservadora» levada a cabo por Margaret Thatcher no Reino Unido – entre 1975 e 1990, onze anos dos quais no Governo (1979-1990), empurrando ainda mais para a direita a própria direita conservadora – o fenómeno político que influenciou, decisivamente e profundamente, a viragem à direita da social-democracia europeia, isto é, dos partidos socialistas, social-democratas e trabalhistas membros da Internacional Socialista.

De facto, o regresso ao poder, em 1997, do ‘Labour Party’ comandado por Anthony Blair, não constituiu sequer uma ruptura com o legado dos anos Margaret Thatcher-John Major. Como esecreveram dois autores em 2011, «não houve contra-revolução nem vingança trabalhista, e sim adaptação do ‘New Labour’ à situação deixada pelos conservadores. E residiu aqui uma das chaves da viragem à direita do Reino Unido» (1).

Em 1981, a criação por um movimento dissidente do ‘Labour Party’ de um Partido Social-Democrata, que depois se fundiu com o Partido Liberal para ser tornar o Partido Liberal-Democrata, fez com que um 'Labour' demasiado à esquerda (defendia o desarmamento unilateral, era anti-União Europeia), fosse objecto. ainda antes da chegada de Tony Blair à liderança do partido, de uma chamada «modernização» levada a cabo, primeiro por Neil Kinnock (1983-1992) e depois por John Smith (1992-1994), apoiando-se no grupo Parlamentar do partido para contrariar a base, tradicionalmente sob o domínio dos sindicatos. 

E foi germinando cada vez mais nas cabeças dos dirigentes do ‘Labour’, como escreveu John Crowley (2), a ideia segundo a qual «os inimigos são os extremistas de esquerda». E em 1987, trata-se já de recentrar o ‘Labour’ para tentar conquistar as novas classes médias. 

Com a morte de John Smith, em 1994, foi a vez do «modernizador» Tony Blair tomar conta do partido, que irá deixar de ser ‘Old Labour’ para se tornar ‘New Labour’ (o líder actual, Keir Starmer, é um imitador de Blair, reaccionário e belicista). Mas a primeira vitória de Tony Blair foi suprimir o artigo 4º, não o do tratado da Aliança Atlântica, mas o dos Estatutos do ‘Labour’, que previa a socialização dos meios de produção. Depois reduziu significativamente o peso dos sindicatos no aparelho do partido fazendo dos militantes os seus principais interlocutores.

Ascendendo ao Governo ao vencer eleições, Tony Blair empenhou-se em estruturar o seu partido, e também o Estado, à imagem e semelhança duma empresa privada. Pôs em prática a «sociedade de mercado» submetida aos preceitos do «novo management público», e à «mercantilização», quer das práticas de Governo e de administração do Estado, quer da direcção do partido, transpondo para a política métodos do «marketing», e apoiando-se nos «especialistas em comunicação» incumbidos de «vender o produto ‘New Labour’».

Foi o teórico Anthony Giddens quem orientou intelectualmente o que se convencionou designar por «blairismo. Foi ele quem concebeu o modelo de «uma ‘Terceira Via’ entre o conservadorismo ‘thatcheriano’ e o ‘trabalhismo tradicional’», diagnosticando o «arcaísmo da esquerda face à revolução neoliberal» tal como «o carácter obsoleto do Estado britânico», e afirmando o «carácter central e incontornável da mundialização». Ousou mesmo escrever que «os governos social-democratas já não podiam usar os métodos tradicionais de estimulação da procura e do recurso ao Estado, pops os mercados financeiros não o permitiriam». Ou seja, afirmando o poder da plutocracia, da banca e, acima de tudo, da finança internacional, a que deve submeter-se e tem de sujeitar-se a política.

Esta autêntica despolitização e mercantilização da política e dos partidos marca «o triunfo da forma sobre o conteúdo», sujeitando-os às técnicas de “marketing” e, sobretudo, aos “spin doctors”, indiferentemente rotulados como «peritos em dar a volta às opiniões públicas», ou como «fabricantes de consensos», ou como «especialistas em modelar a opinião», ou como «manipuladores», ou como «eminências pardas».

O sociólogo britânico Stuart Hall (1932-2014) escreveu: «A Srª Thatcher tinha um projecto, O projecto histórico de Blair é o de nos adaptarmos a ele» [ao projecto da Thatcher]. O blarismo soube jogar um jogo duplo: aceitando no fundo a mundialização como um fenómeno quase natural, autoregulador, unidireccional, não contraditório, envernizando a política de governo com uma perpétua “modernização encantatória”. A estratégia a longo prazo do ‘New Labour’ repousou naquilo que Gramsci designava por “transformismo”, ou seja, o momento em que a social-democracia se torna numa variante da ideologia neoliberal. Se o ‘New labour’ combina neoliberalismo económico e apego a uma «governação activa», nem por isso a dimensão neoliberal deixa de ser dominante, e a dimensão social-democrata subalterna. Mais ainda, a dimensão social-democrata é afinal constantemente transformada em dimensão neo-liberal.«O percurso social-democrata rumo ao neoliberalismo poderá muito bem acabar por ser a prova daquilo a que poderíamos chamar, parafraseando Lénine, “a melhor carapaça política” do capitalismo global», resumiu Stuart Hall. 

De facto, a «Terceira Via» blairista expandiu-se, no final do século XX, num movimento geral europeu de convergência ideológica de todos os partidos social-democratas, socialistas e trabalhistas da Internacional Socialista, com base no que se convencionou designar por «social-liberalismo», na prática uma versão atenuada do liberalismo. Na Alemanha, era então o chanceler Gerhard Schröder, líder do SPD e artífice do “Novo Centro”, a réplica alemã do “blairismo” e da “Terceira Via” de Anthony Giddens. “Terceira Via” que teve. em Portugal, como adepto incondicional o então primeiro-ministro e líder do PS, António Guterres. E todos os que lhe sucederam…

A apoteose deste vibrante movimento europeu sucedeu com a assinatura do «manifesto Blair-Schröder» precisamente antes das eleições europeias de 1999, quando a União Europeia contava, na época, com onze Governos social-democratas. socialistas e trabalhistas em 11 dos seus então15 países membros. A “Terceira Via” surgia como uma espécie de reconciliação entre «liberais» e «trabalhistas», numa dupla oposição ao «velho socialismo» e ao «capitalismo neoliberal». Mas não pegou, e nem sequer, durou perante as sucessivas derrotas eleitorais na década de 2000. E, sobretudo, perante o desastre que foi a participação do Reino Unido então governado por Tony Blair, ao lado dos EUA do então presidente Bush-filho, na sinistra invasão do Iraque, com justificações completamente falsas – e falsificadas!

Mas é verdade que – qual aldeia do gauleses, neste caso lusitanos, a Oeste da Europa, e bem juntinho ao Oceano – a chama do social-liberalismo brilha, embora com pouco fulgor, no Largo do Rato em Lisboa, empunhada, qual Astérix (Viriato, se preferirem), por José Luis “Carneirix”, coadjuvado pelos  exímios defensores de alianças com a direita, o filósofo Francisco “Assistix” e o comentador Sérgio Sousa “Pintaínhonix”… 

«Mais attention, nous reviendront!», como diziam os soldados e centuriões Romanos todos esfolados e “grogues”, depois de levarem uma sova mestra do Astérix, do Obélix & “aficionados”!

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