Cultura | 20.09.2010
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  'De quanta linguagem precisamos?'
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A linguagem verbal perde importância na Alemanha, diagnostica Wolfgang Frühwald no prefácio de seu tomo de ensaios Wieviel Sprache brauchen wir?  (De quanta linguagem precisamos?). Em vez de ler, assiste-se à  televisão ou brinca-se ao computador. Em vez de escrever cartas,  enviam-se torpedos com o celular ou mensagens curtas pelo Twitter. Os  alemães não assistem mais filmes no idioma original, mas sim na versão  dublada.
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As consequências são  fatais: estudos demonstram que as crianças dos países nórdicos ou da  Holanda falam e leem melhor inglês do que as da Alemanha, pois nesses  países os filmes só passam na TV no idioma original com legendas. E, no  entanto, é cada vez mais importante saber inglês, que há muito tornou-se  língua franca internacional.
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Embora, ressalva Frühwald, o assim chamado broken English,  falado nos congressos e aeroportos internacionais, tenha tanto a ver  com a língua de Shakespeare ou Hemingway quanto um torpedo com um conto  literário.
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"Animal que tem palavra"
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Em contrapartida está o  fato de que o ser humano é essencialmente determinado pela linguagem. O  filósofo Aristóteles já o definia como zoon logon echon, um animal que tem palavra. Na história da evolução, a linguagem é indicador do momento em que o homem se tornou humano.
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No caso, trata-se da  linguagem verbal, que também inclui a melodia da voz, a mímica e os  gestos – três elementos não-verbais que comunicam a maior parte das  informações. De fato: em uma conversa, apenas 7% delas são transportadas  através do conteúdo e significado da língua, a melodia se encarrega de  38%, e mímica e gestos dos 55% restantes.
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Diante desse quadro, o  conteúdo de informação de um torpedo revela-se ínfimo. Por um lado, isso  explica a tentativa de adicionar uma espécie de segundo nível  comunicativo às mensagens, através de ícones (emoticons) e recursos  semelhantes, sugerindo, por exemplo, que uma observação é irônica.
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Por outro lado, contudo, a  pergunta de Frühwald sobre a quantidade necessária de linguagem ganha  uma atualidade quase opressiva diante da enxurrada crescente de  mensagens breves. Segundo a Agência Federal de Comunicações da Alemanha,  somente em 2007 foram enviados mais de 22 bilhões de torpedos, e a  tendência é crescente.
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Moda, autores e a aventura de ler
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Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Autor Wolfgang Frühwald
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A obra de Frühwald está  dividida em três partes. Sob o título "Crítica da linguagem, sátira e  polêmica", ele reuniu ensaios sobre modas linguísticas na França e  Inglaterra, ou sobre o alemão como língua científica.
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A parte dois chama-se  "Oradores, contadores, leitores", e traz ensaios sobre Johann Christoph  Gottsched, Alexander von Humboldt e, finalmente, sobre a aventura de  ler. Parte três, "Língua literária", trata dos poetas Schiller e  Eichendorff.
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Os textos são muito  distintos entre si, já que se dirigem a tipos diferentes de leitores.  Comum a todos é o forte apelo de que o ser humano, enquanto animal  linguístico, cria, ao falar, o seu próprio mundo.
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A força do imaginário
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O autor consegue  repetidamente nos lembrar como interferimos no mundo através da  linguagem, e um belo exemplo disso se encontra em "Da aventura de ler".  Frühwald nos lembra como personagens da literatura – isto é, gente  inventada, Abraão, Odisseu, Romeu e Julieta, Werther – definiram as  vidas de pessoas reais.
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Quem vai hoje a Verona, na  Itália, pode visitar a casa de Julieta, ou a igreja onde ela e Romeu se  casaram, até mesmo sua sepultura. E, no entanto, o casal de apaixonados  jamais existiu.
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Percebe-se que Wolfgang  Frühwald é um leitor ávido. Sua erudição e sua capacidade de apresentar  as interconexões mais complexas de forma clara e vívida torna a leitura  de "De quanta linguagem precisamos?" um verdadeiro prazer, mesmo para os  que não são estudiosos da língua alemã.
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Seu livro é um belo  convite a escrever novamente uma carta. Ou, em vez de mandar um torpedo,  passar uma noitada contando histórias com os amigos.
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Autor: Udo Marquardt (av)
Revisão: Carlos Albuquerque
Revisão: Carlos Albuquerque
 
 
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