terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Linguagem verbal perde importância no mundo midiático

Cultura | 20.09.2010

 

"De quanta linguagem precisamos?" é o título do livro de Wolfgang Frühwald sobre a aventura da expressão verbal. Seus ensaios sobre evolução e linguística dão vontade de voltar a escrever cartas e contar histórias.

 

'De quanta linguagem precisamos?' 
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A linguagem verbal perde importância na Alemanha, diagnostica Wolfgang Frühwald no prefácio de seu tomo de ensaios Wieviel Sprache brauchen wir? (De quanta linguagem precisamos?). Em vez de ler, assiste-se à televisão ou brinca-se ao computador. Em vez de escrever cartas, enviam-se torpedos com o celular ou mensagens curtas pelo Twitter. Os alemães não assistem mais filmes no idioma original, mas sim na versão dublada.
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As consequências são fatais: estudos demonstram que as crianças dos países nórdicos ou da Holanda falam e leem melhor inglês do que as da Alemanha, pois nesses países os filmes só passam na TV no idioma original com legendas. E, no entanto, é cada vez mais importante saber inglês, que há muito tornou-se língua franca internacional.
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Embora, ressalva Frühwald, o assim chamado broken English, falado nos congressos e aeroportos internacionais, tenha tanto a ver com a língua de Shakespeare ou Hemingway quanto um torpedo com um conto literário.
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"Animal que tem palavra"
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Em contrapartida está o fato de que o ser humano é essencialmente determinado pela linguagem. O filósofo Aristóteles já o definia como zoon logon echon, um animal que tem palavra. Na história da evolução, a linguagem é indicador do momento em que o homem se tornou humano.
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No caso, trata-se da linguagem verbal, que também inclui a melodia da voz, a mímica e os gestos – três elementos não-verbais que comunicam a maior parte das informações. De fato: em uma conversa, apenas 7% delas são transportadas através do conteúdo e significado da língua, a melodia se encarrega de 38%, e mímica e gestos dos 55% restantes.
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Diante desse quadro, o conteúdo de informação de um torpedo revela-se ínfimo. Por um lado, isso explica a tentativa de adicionar uma espécie de segundo nível comunicativo às mensagens, através de ícones (emoticons) e recursos semelhantes, sugerindo, por exemplo, que uma observação é irônica.
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Por outro lado, contudo, a pergunta de Frühwald sobre a quantidade necessária de linguagem ganha uma atualidade quase opressiva diante da enxurrada crescente de mensagens breves. Segundo a Agência Federal de Comunicações da Alemanha, somente em 2007 foram enviados mais de 22 bilhões de torpedos, e a tendência é crescente.
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Moda, autores e a aventura de ler
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Autor Wolfgang Frühwald 
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A obra de Frühwald está dividida em três partes. Sob o título "Crítica da linguagem, sátira e polêmica", ele reuniu ensaios sobre modas linguísticas na França e Inglaterra, ou sobre o alemão como língua científica.
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A parte dois chama-se "Oradores, contadores, leitores", e traz ensaios sobre Johann Christoph Gottsched, Alexander von Humboldt e, finalmente, sobre a aventura de ler. Parte três, "Língua literária", trata dos poetas Schiller e Eichendorff.
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Os textos são muito distintos entre si, já que se dirigem a tipos diferentes de leitores. Comum a todos é o forte apelo de que o ser humano, enquanto animal linguístico, cria, ao falar, o seu próprio mundo.
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A força do imaginário
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O autor consegue repetidamente nos lembrar como interferimos no mundo através da linguagem, e um belo exemplo disso se encontra em "Da aventura de ler". Frühwald nos lembra como personagens da literatura – isto é, gente inventada, Abraão, Odisseu, Romeu e Julieta, Werther – definiram as vidas de pessoas reais.
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Quem vai hoje a Verona, na Itália, pode visitar a casa de Julieta, ou a igreja onde ela e Romeu se casaram, até mesmo sua sepultura. E, no entanto, o casal de apaixonados jamais existiu.
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Percebe-se que Wolfgang Frühwald é um leitor ávido. Sua erudição e sua capacidade de apresentar as interconexões mais complexas de forma clara e vívida torna a leitura de "De quanta linguagem precisamos?" um verdadeiro prazer, mesmo para os que não são estudiosos da língua alemã.
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Seu livro é um belo convite a escrever novamente uma carta. Ou, em vez de mandar um torpedo, passar uma noitada contando histórias com os amigos.
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Autor: Udo Marquardt (av)
Revisão: Carlos Albuquerque
 

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