quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Países lusófonos buscam formas de internacionalizar a língua portuguesa



Brasil | 25.03.2010

Apesar da relevância demográfica e cultural do português, idioma ainda é pouco difundido. Conferência sobre o futuro da língua portuguesa reúne intelectuais, linguistas, escritores e políticos em Brasília.


A língua portuguesa é falada por mais de 250 milhões de pessoas em todo o mundo, a grande maioria – quase 200 milhões – no Brasil. Até o ano 2050, prevê-se que esse número chegue a 335 milhões.
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Na lista das línguas com maior número de falantes, o português oscila entre o quinto e o sétimo lugar, dependendo do viés da classificação. Se o critério for apenas o da língua materna, o português aparece em sétimo, mas se também for analisado como segunda língua, sobe para o quinto lugar das tabelas.
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Mesmo tendo essa posição entre os idiomas falados em todo o mundo, o português ainda é considerado uma língua "menor". Um descompasso que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) pretende debater durante a Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, realizada a partir desta quinta-feira (25/03) até o dia 30 de março, em Brasília.
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Peso do Brasil
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Esse descompasso também não faz jus à posição que países de língua portuguesa, como o Brasil, vêm conquistando no cenário internacional.
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"Acho que o futuro da nossa língua não depende só da grande bandeira do número de falantes, ou do peso demográfico que os brasileiros, portugueses, angolanos, moçambicanos, etc, possam ter", declarou o escritor moçambicano Mia Couto à agência de notícias portuguesa Lusa, durante um colóquio internacional sobre a sua obra realizado este mês na Antuérpia, Bélgica.
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"O Brasil hoje está se afirmando como uma grande potência a nível mundial e isso pode ter um efeito sobre o futuro da nossa língua muito mais do que o discurso passadista de lembrar quanto glorioso foi o passado desta língua", acrescentou Couto.
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A futura difusão da língua portuguesa é justamente o foco da conferência de Brasília, que pretende definir uma estratégia conjunta para a internacionalização do idioma. Isso implica, entre outras coisas, a consolidação do português nos organismos internacionais, sua presença na internet e o ensino da língua tanto para nativos como para estrangeiros.
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Língua oficial em quatro continentes
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A conferência de Brasília é uma consequência da cúpula da CPLP em Lisboa, em 2008, que aprovou uma declaração sobre a importância da projeção global da língua portuguesa.
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Além dos oito membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste –, a conferência conta com a participação de representantes da Guiné Equatorial, Ilhas Maurício e Senegal, na qualidade de países observadores associados.
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Falado em quatro continentes, o português é a língua oficial de oito países: Angola (12,7 milhões de habitantes), Brasil (198,7 milhões), Cabo Verde (429 mil), Guiné-Bissau (1,5 milhões), Moçambique (21,2 milhões), Portugal (10,7 milhões), São Tomé e Príncipe (212 mil) e Timor-Leste (1,1 milhões).
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Dada a diversidade de variantes do português, resta a questão do grau de unidade que se pressupõe quando se fala do futuro da língua portuguesa como um todo. Certamente o acordo ortográfico selado entre os países lusófonos, em vigor desde 2009, é um passo na direção de convergir pelo menos as diferentes grafias em uma norma escrita comum. No entanto, a unidade ortográfica evidentemente não altera o fato de que o uso da linguagem nos diversos países de língua portuguesa é extremamente variado.
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Quanto a isso, o brasilianista alemão Berthold Zilly, participante da conferência da CPLP sobre o futuro da língua portuguesa, lembra que – ao contrário do que ainda afirmavam alguns filólogos no século 19 – hoje não se questiona se o português é uma língua única. No entanto, a diferença entre as variedades linguísticas lusófonas é mais significativa do que em outras línguas. Zilly considera a uniformidade muito maior entre as variantes do inglês e do espanhol, línguas que – por exemplo – dispõem de obras de referência lexical com autoridade em todos os territórios onde são faladas, respectivamente o Webster Dictionary e Diccionario de la Real Academia Española.
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Português via outras línguas
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Em declaração à Deutsche Welle, o professor de literaturas ibero-americanas na Universidade Livre de Berlim também ressaltou a discrepância entre a reduzida divulgação do português e a importância cultural do idioma. Por mais que Portugal seja membro da União Europeia e por mais que seja grande o poder de penetração da cultura brasileira no exterior, o português ainda é considerado uma "língua menor".
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Na Alemanha, por exemplo, cargos de professores de língua e literatura portuguesa vêm sendo cortados, afirma Zilly. "Acho que os países de língua portuguesa deveriam fazer mais esforço para mostrar que seu idioma representa não só quantitativamente, mas também qualitativamente, uma grande contribuição para a história universal", apela o renomado tradutor alemão de autores como Euclides da Cunha e Machado de Assis.
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Na percepção de Berthold Zilly, o mercado editorial alemão era mais aberto às literaturas lusófonas nos anos 70 e 80 do que hoje. Diante de rupturas históricas marcantes – como a queda do Muro de Berlim, a fragmentação da União Soviética em múltiplas nações e a ascensão dos países emergentes na Ásia – o foco de atenção político mudou, deslocando também o interesse cultural para outras regiões.
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Com sua experiência como tradutor e divulgador da cultura ibero-americana na Alemanha, Zilly acredita que o interesse pelas literaturas lusófonas ainda passa pela intermediação de outras línguas. Isso significa que os livros em português que já foram traduzidos para o espanhol, inglês ou francês têm maior chance penetrar no mercado editorial alemão.
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Isso também se aplica à intermediação por parte de intelectuais de outros espaços culturais. Um exemplo seria Machado de Assis, cuja obra Memorial de Aires foi publicada na tradução alemã de Zilly em 2009: os elogios do argentino Jorge Luís Borges e da americana Susan Sontag ao clássico brasileiro certamente ajudaram a sua divulgação na Alemanha.
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Autora: Simone Lopes
Revisão: Augusto Valente

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