quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O Noventa e Três - Victor Hugo

. "O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive." Pr. António Vieira
 

Até onde pode um ser humano chegar, quando se encontra nas situações mais extremas que se podem imaginar? Esta pergunta poderia ser o subtítulo desta obra. O extremo do sofrimento, o limiar da raiva contida, o limite da injustiça… tudo neste livro nos faz tremer; é inacreditável até onde pode chegar o ódio, a violência do ser humano sobre o seu semelhante, em nome de ideais que por vezes nem se conhecem, por obediência a líderes que nada têm de benevolentes.

A luta contra a injustiça e a denúncia de uma sociedade fundada sobre a desigualdade, conferem a Victor Hugo o estatuto de escritor revolucionário mas, acima de tudo um grande e profundo humanista. A sua própria dor sente-se nas linhas da sua escrita. A dor de quem escreve com alma, com a paixão pelos ideais da Revolução francesa, mas com toda a consciência dos excessos dos próprios revolucionários que, em nome da justiça não hesitavam em cometer os mesmos crimes e a praticar a mesma violência.

Gouvin é o herói romântico que Hugo escolheu para representar o revolucionário que, esse sim, procurou combater o mal com o bem. Acabará mal, como é lógico.

O enredo desenrola-se no ano do título, em plena guerra da Vendeia, que opôs os revolucionários republicanos, herdeiros da Revolução Francesa, proclamando os ideias de Liberdade, Igualdade e Fraternidade e, do outro lado, os realistas, saudosistas da monarquia, com o apoio dos interesseiros ingleses.

Um dos aspetos que mais impressiona o leitor, nesta obra, é desapego dos personagens em relação à própria vida; é a forma por vezes heroica, outras vezes louca como enfrentam a violência do inimigo, com que se expõem às balas. E no meio de heróis uns e idealistas outros, o povo de pé descalço; milhões de soldados miseráveis jogando a vida como se a morte fosse o destino fatal de uma procura a que chamam vida.

Escrito em 1874, quando V. Hugo contava já 72 anos, este livro é o culminar de uma carreira literária brilhante; é a súmula de uma imensa obra, onde brilham estrelas como Os Miseráveis e Nossa Senhora de Paris. Sem a profundidade histórica do Corcunda de Notre Damme e sem a beleza e a profundidade de Os Miseráveis, este O Noventa e Três compensa o leitor com um ritmo narrativo alucinante, privilegiando os diálogos e a emoção do enredo.

Sem dúvida, mais uma obra grandiosa da enorme literatura francesa do século XIX.

Obrigatório para quem aprecia a grande literatura universal.
Nota dez em dez.

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