D'ali e D'aqui
Textos e Obras Daqui e Dali, mais ou menos conhecidos ------ Nada do que é humano me é estranho (Terêncio)
sábado, 6 de dezembro de 2025
Domingos Lopes - Give peace a chance
quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Vladimir Putin - Sobre a OME na Ucrânia (2022)
+ Vladimir Putin
Nunca quis uma
guerra e nunca comecei.
O que estamos a
fazer não é guerra.
Eu lancei uma
operação militar para salvar o meu povo de fascistas neonazis que há anos matam
pessoas pacíficas e inocentes, russos e não só russos na Ucrânia eu lancei uma
operação militar para defender o meu país das bases da NATO.
Comecei uma
operação militar para parar a nova ordem mundial porque esta ordem é contra a
humanidade.
Se eu começasse
uma guerra tudo pareceria diferente, estou a dizer-te!
A Rússia vai
usar todas as armas, fundos, só se for atacada por um ataque nuclear e espero
que o mundo não pague pela Ucrânia ou melhor pelo fascismo na Ucrânia.
Guerra nuclear
significa o fim do mundo e eu não quero isso.
Zelensky
convoca a NATO para uma guerra nuclear e espero que eles não cometam um erro
tão grande porque colocam em risco a segurança do mundo. Suas armas nucleares
mesmo que sejam dirigidas a nós, o mundo inteiro pagará porque as armas
nucleares não caem num só lugar e 15 armas nucleares são suficientes para
destruir a terra.
É impossível
viver neste planeta. Eu não quero uma guerra, e como eu não tenho uma guerra,
eu lancei uma operação militar!
Quero um mundo
bondoso onde as pessoas possam ser pessoas, quero um mundo puro de pessoas de
fé, quero um mundo sem fascismo.
Quero beber
água limpa e respirar ar puro.
Se o que eu
comecei na Ucrânia fosse uma guerra, não restaria nada da Ucrânia. Protegemos e
preservamos os pacíficos, inocentes e civis. Guerra é quando civis, inocentes,
paz não são protegidos, guerra é o que a NATO faz em todo o mundo. A Rússia na
sua história sempre lutou para salvar vidas.
Muitas pessoas
no mundo hoje culpam a Rússia e a mim simplesmente porque muitas pessoas não
sabem nada, e a propaganda contra nós é bem enorme, mas eu sei que hoje amanhã
ou um dia o mundo vai entender.
Muitos no mundo
não sabem que há anos os fascistas ucranianos preparam uma guerra contra a
Rússia e atrocidades contra os russos e outras nações, mesmo contra os seus.
Durante anos e anos..
O que faria
outro país, não sei, mas nós somos a Rússia, e sempre nos protegemos, ao nosso
país e ao povo, até ao mundo e claro que já nos provamos muitas vezes na
história do mundo.
Eles vão
entender porque existe essa guerra e qual é o propósito, tudo tem seu tempo.
Claro que
continuam a dizer que a Rússia vai perder, mas como é possível um cenário
destes? Não temos oportunidades a perder quando se trata de nós mesmos e da
nossa segurança.
Se eu não
tivesse começado uma operação militar, a 3a Guerra Mundial teria começado.
Ucrânia, o
governo ucraniano ameaça a nossa segurança, e nós temos o dever de nos
defender. Se espera que reajamos quando ameaçam a Rússia, não conhece a Rússia.
Eu não quero
uma guerra com a NATO UE e a Ucrânia vamos salvar o nosso país e o nosso povo
isto não é uma guerra. Isto é a salvação.
Quando se trata
de escalada, estamos prontos para as nossas respostas no caso de outras partes
intervirem e começarem uma guerra contra nós, e a nossa resposta será relâmpago
e destrutiva.
Quando o
assunto é grandes, fortes, como as armas nucleares, saliento que a Rússia tem
muitas armas fortes, mas espero que não as usemos para a estupidez da Europa e
da NATO.
A guerra
moderna contra a Rússia não pode ser ganha no campo de batalha. Seja nosso
amigo e não existe melhor amigo do que a Rússia para um país e para uma pessoa.
E este é o
comentário da mulher russa
"Por que
estou chorando? "Porque estou feliz, feliz por salvar o nosso país e o
nosso povo, e o que farias no meu lugar, problema é teu.
Sim, o que está
a acontecer na Ucrânia é uma tragédia, mas a Rússia não tem culpa desta
tragédia porque outros começaram uma guerra contra nós e nós nos defendemos.
E com minha
alegria e honra, a Rússia sempre defendeu seus cidadãos, o País e os interesses
nacionais. Nunca vamos parar de nos defender.
E não vou
comentar essas palavras porque sei que a maioria dos russos pensa e considera
da mesma forma...
quarta-feira, 3 de dezembro de 2025
Helder Moura - (560) A apropriação do ciclo do caranguejo
- hélder moura
- 03.12.25
Estes ciclos
biológicos há muito que são do conhecimento e prática dos nossos mandantes como
forma de conservar o poder.
É preciso
mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma, C. Malaparte.
A Polícia de
Cincinnati afirma que até ao final deste ano, 90% de todas as ocorrências serão
primeiro atendidas por um drone.
Não nos
vamos espantar quando virmos os novos drones para ambientes
interiores a percorrer as nossas casas.
Em 1935, o
médico, geógrafo e cientista social brasileiro Josué de Castro,
publica O Ciclo
do Caranguejo, onde descreve a vida de extrema pobreza de
famílias que vivem num mangue da cidade do Recife, em que não
tendo mais nada para comer que caranguejos aí apanhados que lhes provocam
diarreia que acaba servindo para alimentar outros caranguejos que por sua vez
vão servir para alimentar as famílias, num ciclo de interdependência que
constitui o ecossistema do mangue.
Estes ciclos
biológicos há muito que são do conhecimento e pratica dos nossos mandantes como
forma de conservar o poder. Veja-se, por exemplo, o que se passa na educação,
nos serviços de saúde, nas polícias, etc.: não se dão condições aos serviços
para funcionarem, incentiva-se a insatisfação, propõe-se então a solução
desejada, deixam de mostrar as manifestações de insatisfação, o sistema
continua a funcionar.
Como variante, Estes ciclos biológicos há muito que são do conhecimento e pratica dos nossos mandantes como forma de conservar o poder.. Por exemplo, convencem-nos que é uma poupança económica dotar as forças de polícia com armamento do exército, e nós acreditamos, esquecendo que a utilização de novos armamentos e proteções implica sempre a adoção das táticas que lhes vêm associadas.
A Skydio é uma
empresa americana fundada em 2014 que em poucos anos passou de
uma relativa obscuridade para a maior fabricante de drones nos
EUA. Os seus drones quadricópteros com IA, povoam hoje os céus
das cidades americanas.
De acordo com
uma pesquisa efetuada
por Nate Bear, nos últimos 18 meses quase todas as grandes cidades americanas
assinaram contratos com a Skydio, incluindo Boston, Chicago, Filadélfia, San
Diego, Cleveland e Jacksonville. Atualmente, a empresa tem contratos com mais de 800 agências
de segurança em todo o país.
Os seus drones têm
estado a ser utilizados pelos departamentos de polícia municipais e outros
organismos (como Universidades), para recolherem informações em protestos,
ajuntamentos e outros.
Em
Atlanta, a empresa fez uma parceria com a Fundação da Polícia para instalar
uma estação permanente de drones dentro do Centro de
Formação de Segurança Pública de Atlanta. Detroit, gastou recentemente quase
300 mil dólares na aquisição de catorze drones, de acordo com um
relatório de compras da cidade. A Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA
também comprou trinta e três drones capazes de rastrearem e
perseguirem automaticamente um alvo.
Um porta-voz da
polícia de Nova Iorque, que foi uma das primeiras a adotar os drones Skydio, declarou recentemente
a um site de notícias que o Departamento
de Polícia de Nova Iorque (NYPD) realizou mais de 20.000 voos em menos
de um ano com 41 drones, o que significa que os drones são
lançados pela cidade 55 vezes por dia.
O sistema de IA
por detrás destes drones é alimentado por chips da
Nvidia que permitem a sua operação sem um operador humano. Possuem
câmaras de imagem térmica e podem operar em locais onde o GPS não funciona.
Também reconstroem edifícios e outras infraestruturas em 3D e podem voar a mais
de 48 quilómetros por hora.
Antes de março
deste ano, as regras da FAA determinavam que os drones só
podiam ser utilizados pelas forças de segurança dos EUA se o operador
mantivesse o drone à vista. Também não podiam ser usados
sobre ruas movimentadas da cidade.
Mas, uma isenção
da FAA emitida nesse mês, veio permitir que a polícia e as agências de
segurança operassem drones para além da linha de visão
e sobre grandes multidões. Sem a necessidade de ver o drone, e
com os drones livres para sobrevoarem as ruas da cidade, a
polícia está cada vez mais a enviar drones em vez de
polícias para atender ocorrências e para fins de investigação mais
abrangentes. Cincinnati, por exemplo, afirma que até
ao final deste ano, 90% de todas as ocorrências serão atendidas primeiro
por um drone.
Esta ampla
cobertura é possível devido à plataforma
de acoplamento da Skydio. Estas plataformas estão posicionadas em
locais estratégicos da cidade, permitindo que os drones sejam
carregados, lançados e aterrem remotamente a muitos quilómetros de distância
das sedes da polícia. Após o lançamento, todas as informações recolhidas
durante os voos são guardadas num cartão SD interno e enviadas automaticamente
para um software específico configurado para uso policial.
Este
software é desenvolvido pela Axon, um dos principais financiadores da Skydio, e
permite, segundo um comunicado
de imprensa da Axon, "o envio automático de fotografias e vídeos
captados por drones para um sistema digital de gestão de
provas".
Acontece que a
Skydio é também um grande fornecedor do Departamento de Defesa, tendo assinado
recentemente um contrato para
fornecer drones de reconhecimento ao Exército dos EUA. Como
fornecedor significativo tanto para as forças militares como para as forças de
segurança civis, isto tem levantado algumas velhas questões (sempre atuais)
sobre quais são ou serão as informações partilhadas entre os militares dos EUA
e as agências de segurança interna através do sistema de gestão de provas
digitais da Skydio-Axon.
Se nos
lembrarmos que os conflitos são sempre os grandes laboratórios para o
desenvolvimento das novas tecnologias de vigilância, onde elas são testadas, e
se verificarmos que neste caso da Skydio ela captou centenas de milhões de
dólares de capitalistas de risco israelo-americanos bem como de fundos de
capital de risco com amplos investimentos em Israel, incluindo a empresa de
Marc Andreessen, a Andreessen Horowitz, e que as Forças de Defesa de Israel
(IDF) têm intensivamente usado os seus drones, não nos iremos
espantar quando para o próximo ano virmos novos drones
para ambientes interiores a percorrer as casas das cidades americanas
(e não só).
Tudo,
evidentemente, a Bem da Nação.
Raul Luis Cunha - Apelo a Greve Geral
terça-feira, 2 de dezembro de 2025
Tiago Franco, - UMA SAFRA DE FILHOS DA P*TA |
João Costa - Três Joanas Gorjão Henriques para cada Ventura
Rui Pereira - O CANTO DA SEREIA LIBERAL E OS PUXADORES DE CARROÇA
Publicação de Rui Pereira
2025 12 01
Quando a 18 de
novembro deste ano (2025) Miguel Maya, presidente do BPI, reivindicou maior
liberdade para despedir, alegou que “há muita gente nas empresas que não puxa a
carroça" [1]. Outros banqueiros disseram coisas parecidas, num seminário
promovido pela sua imprensa, Jornal de Negócios, sob o título, “A Banca do
Futuro”.
Pela mesma
altura em que o banqueiro tratava os trabalhadores como bestas de carga, e
igualmente embalado pelo extremismo da direitização da vida política do país, o
candidato “liberal” a PR, João Cotrim de Figueiredo, em diálogo na CNN com os
comentadores residentes da estação, Pedro Costa e Francisco Rodrigues dos
Santos, defendeu, por exemplo e sem se rir, que uma maior liberdade de
despedimentos produz uma melhoria do nível salarial.
Já em debate
com o candidato comunista, António Filipe, o “liberal” Cotrim de Figueiredo
meteu a viola no saco e, escandalizando os mais hardcore defensores da
selvajaria neoliberal em Portugal, recuou em toda a sua linha habitual de
argumentação “liberal”. Quem duvidar volte atrás, como eu fiz, e veja a
emissão, incluída a reação de Miguel Pinheiro (ex- O Diabo e hoje diretor
executivo do “Observador) que, sobressaltado de indignação, sublinhou como o
Papa liberal “concordou com o PCP”, rematando com um eloquente “quero lá saber
do Cotrim de Figueiredo”, entre outros mimos com que lhe atribuiu uma copiosa
“derrota” no debate com Filipe.
Tem e não tem
razão, Miguel Pinheiro. Tem razão, Miguel Pinheiro, do seu ponto de vista de
propagandista cujo salário lhe é pago pelos seus patrões liberais,
independentemente de “O Observador” dar lucro ou prejuízo, porque o seu negócio
é outro. Não tem razão Miguel Pinheiro do ponto de vista de quem tem de, árdua
e mentirosamente, ganhar os votos que asseguram eleitoralmente o sistema que
permite aos patrões de Miguel Pinheiro pagarem-lhe o ordenado, como é o caso,
entre outros, de João Cotrim de Figueiredo.
O motivo é
simples. É que tanto nos nossos dias como historicamente, o liberalismo podia
inspirar qualquer história do tipo “A Bela e o Monstro”, sendo a primeira a
doutrina e o segundo a sua prática. Profundamente antidemocrático (ver de
Benjamin Constant “A liberdade dos antigos comparada à dos modernos”, de 1819,
ou o Alexandre Herculano, que bem se proclamava “liberal dos quatro costados e
antidemocrata" [2]), o liberalismo nunca passou de uma cobertura
lírico-doutrinária para sustentar, ocultando-as, as novas e tremendas
modalidades de exploração do trabalho pelo capital industrial primeiro e
industrial-tecno-financeiro por fim.
Da “mão
invisível” de Adam Smith, na Teoria dos Sentimentos Morais (de 1759) à regra de
não intervenção estatal na fixação dos salários, de David Ricardo, passando
pelo John Locke do Relatório para a Comissão do Comércio de 1699 em que
prescrevia que “os vagabundos válidos de 14 a 50 anos apanhados a pedir
deveriam ser condenados a servir três anos na Frota, para os que vivem nos
condados junto ao mar, ou a trabalhar três anos na workhouse, para os
restantes” e que “os pedintes com menos de 14 anos deviam ser chicoteados e
colocados numa escola de trabalho” [3], todos estes dispensam o mal-amado
liberal e melhor-esquecido reverendo Malthus, para quem “um homem que nasceu
num mundo já partilhado, se não pode obter dos seus pais a subsistência que
justamente lhes pode pedir, e se a sociedade não tem necessidade do seu
trabalho, não tem nenhum direito de reclamar a mais pequena porção de alimento
e, de facto, está a mais. No grande banquete da natureza não há lugar vago para
ele. […] o rumor de que há alimentos para todos que chegarem enche a sala de
numerosos reclamantes. A ordem e a harmonia da festa são perturbadas, a
abundância que aí reinava transforma-se em escassez e a felicidade dos convivas
é destruída pelo espectáculo da miséria e do embaraço que reinam em toda a
sala”[4].
Em “A Grande
Transformação”, Karl Polanyi descreveu esta guinada histórica como uma “mutação
antropológica” em que a humanidade inscreveu pela primeira vez na sua história
a (livre) hipótese da morte por inanição. Esse é o grande feito do capital que
o liberalismo pretende ocultar, com a sua teologia genérica de uma
"liberdade" em abstrato, que sempre que procura concretizar se vê
tansformada num bem de consumo. E, para o conseguir, não pode investir com o
seu argumentário de plástico contra a solidez de um candidato de origem
comunista, bem preparado, como António Filipe. Sei que Cotrim lamenta, caro
Miguel Pinheiro. “Mas, da próxima vá lá você ou peça a algum banqueiro para o
fazer por si”, pensará o liberal Cotrim com os seus botões, entre muitas outras
cogitações que decerto não deixará de fazer.
[1] Para as
declarações de Maya: https://www.tsf.pt/.../banca-defende-reforma-da.../18021216
[2] Citado em
Sottomayor Cardia (1998) Cinco Tipos de Democracia Institucional (p. 314). In
Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, n.° 12, Lisboa, Edições
Colibri (pp. 309-316)
[3] Beaud,
Michel (1992], História do Capitalismo de 1500 aos nossos dias. Teorema p. 42
[4] Beaud, id.
p. 105.
https://www.facebook.com/ruiampereira/posts/
segunda-feira, 1 de dezembro de 2025
Presidenciais 2026 - Entrevista a André Ventura
Ventura assume
que falhar segunda volta das eleições presidenciais "é mau e é uma
derrota"
Líder do Chega assume que, para 18 de janeiro, objetivo é "ganhar" ou garantir passagem à segunda volta. "Não há como mascarar a realidade se isso [não passar à segunda volta] acontecer", assume.
* Agência Lusa, Texto
O candidato
presidencial André Ventura admite que não passar a uma segunda volta das
eleições de janeiro será uma derrota e que, se lá chegar, será uma batalha
difícil, porque estarão “todos contra” si.
“Eu estou a
levar esta eleição em duas etapas. Há uma meta que é o dia 18 [de janeiro],
nessa meta nós queremos vencer ou passar à segunda volta das eleições.
Portanto, isto significa ou primeiro ou segundo lugar, e acho que estamos bem
encaminhados para isso”, afirmou.
Em entrevista à
agência Lusa no âmbito das eleições presidenciais de 18 de janeiro, o candidato
a Belém admitiu que, se não conseguir cumprir o objetivo de passar a uma
eventual segunda volta, “é mau e é uma derrota”.
“Se não estiver
[na segunda volta], é sinal de que o Chega e eu próprio não atingimos nesta
eleição o objetivo. Não há como mascarar a realidade se isso acontecer, porque
é praticamente impossível ter um valor próximo das legislativas e não ir à
segunda volta”, disse, referindo que “não atingir um valor próximo significaria
que houve um voto de não acompanhamento por parte do eleitorado”.
“É uma derrota,
só em partidos estalinistas ou leninistas é que as derrotas se tornam vitórias.
Há momentos que são de derrota e há momentos que são menos bons na vida
política. Saber assumi-lo é também um ato de grandeza democrática”, sustentou
André Ventura.
O candidato a
Presidente da República e líder do Chega indicou que o partido “continuará o
seu caminho” e ele próprio fará “a avaliação que tiver que fazer disso”.
“Saberei ler os
sinais que o eleitorado transmitir, mas evidentemente que se não for à segunda
volta não foi um resultado positivo. Mas estou mesmo convencido que isso não
vai acontecer, estou mesmo convencido que vamos ter uma segunda volta e que eu
estarei nessa segunda volta”, salientou.
Ventura
considerou que essa será a “batalha mais difícil, talvez da [sua] vida toda”,
porque acredita que “se vão juntar todos” contra si, que “o sistema todo vai se
juntar contra a candidatura”.
“Eu acredito
que seja possível ganhá-la, mas vai ser uma luta muito difícil para mim e para
o país”, admitiu.
“Seja quem for
o adversário, mesmo que o adversário fosse, ou venha a ser, António José
Seguro, tenho praticamente a certeza de que o PSD vai recomendar o voto em
António José Seguro, porque sabe que eu sou uma ameaça ao ‘statu quo’ e uma
ameaça ao domínio das instituições por estes dois partidos”, disse, antecipando
que pode acontecer o mesmo com Gouveia e Melo ou até António Filipe.
O candidato
mostrou-se também curioso sobre o que fará o PS caso venha a disputar uma
segunda volta com Luís Marques Mendes: “Não que eu queira o apoio do PS, o mais
distante disso possível, mas é curioso verificar se o PS vai entrar na segunda
volta dizendo para se votar em Marques Mendes”.
André Ventura
disse também não ter um adversário preferencial para a segunda volta, mas está
convencido de que será Henrique Gouveia e Melo, e assumiu-se como “o adversário
mais difícil na primeira volta”, mas “o mais fácil” de derrotar numa segunda.
Ventura
dissolve Parlamento se houver “suspeita de corrupção grave” envolvendo
primeiro-ministro
O candidato
presidencial André Ventura dissolvia o parlamento e convocava eleições
antecipadas perante um caso de “suspeita de corrupção grave” sem explicação
convincente, envolvendo um primeiro-ministro, mesmo que o Governo fosse
suportado por uma maioria absoluta.
“Para ser o
mais claro e não estar aqui com reservas mentais, se um primeiro-ministro, por
muita estabilidade que tivesse, inclusive se tivesse uma maioria absoluta, for
suspeito de corrupção, não conseguir explicar essas suspeitas, e a informação
que for dada ao Presidente da República é de que estas suspeitas são sérias,
fundamentadas, fundadas e com indícios fortes, então eu acho que, nesse caso,
com uma suspeita de corrupção grave, nós devemos dissolver a Assembleia da
República e chamar o país a votos”, afirma o candidato a Belém em entrevista à
agência Lusa.
Ventura admite
que, perante novas eleições, o país poderia renovar a confiança no mesmo
primeiro-ministro, criando “um drama institucional para um Presidente da
República”.
“Eu tenho um
perfil ativo, enérgico, e é assim que eu espero ser até ao final da minha vida.
E, portanto, se tivesse que agir num caso de corrupção, agiria. Mas serei o
mais ponderado possível para garantir que não lanço o país na instabilidade”,
assegura.
O também líder
do Chega refere-se a um cenário abstrato, apesar de o seu ponto de partida ser
o caso da antiga empresa do primeiro-ministro, Luís Montenegro, que este passou
aos filhos depois de uma polémica mediática que levou o Ministério Público a
abrir um inquérito preliminar ainda sem resultado conhecido.
André Ventura
considera que, no caso Spinumviva, acima de tudo “tem faltado a este
primeiro-ministro” explicações.
“O caso
Spinumviva tem características graves devido às suspeitas, não estou a dizer
que elas são reais ou não, mas às suspeitas, enfim, de recebimento do indivíduo
de dinheiro, etc. Isso é grave. Se eu fosse Presidente da República e o
processo vier a desenvolver-se nos termos em que venha a desenvolver-se e o
Ministério Público entender que deve avançar para um inquérito, o que significa
que o primeiro-ministro será constituído arguido, acho que era importante, e é
o que eu direi ao primeiro-ministro, que dê explicações não só em sede de
justiça, mas também ao país”, precisou, acrescentando: “Eu avaliarei a
sustentabilidade dessas declarações do ponto de vista da sua razoabilidade e da
credibilidade que elas mereçam”.
“Não sou eu o
juiz, evidentemente, mas é o Presidente da República, em funções naquele
momento, que tem que dar uma palavra ou de confiança ou de entender que as
instituições estão em causa e que não deve continuar”, sustenta.
“Eu tenho
muitas críticas ao primeiro-ministro atual, mas consigo ter uma conversa com o
primeiro-ministro. Acho que conseguiria dizer ao primeiro-ministro ‘isto são
suspeitas graves, o que o primeiro-ministro tem que fazer é explicá-las e dar
uma explicação sobre elas’ e exigir-lhe que fizesse isso”, acrescenta.
Ventura
considera que “seria possível” levar o primeiro-ministro e evitar “um cenário
de deterioração permanente”.
Caso se
chegasse “a um ponto, enfim, que o primeiro-ministro fosse, tal como outros
atores políticos, acusado, aí até há trâmites legais que são próprios, mas se
as suspeitas fossem condensadas, evidentes e notórias, então eu acho que nem
era preciso dizer ao primeiro-ministro para sair, eu acho que sairia pelo seu
próprio pé”.
“Se eu for
Presidente da República, espero que nunca aconteça e também não vejo nenhum
motivo para isso, e houvesse uma acusação contra mim de corrupção, de desvio de
dinheiro público, de enriquecimento ilícito, eu próprio, chegando ao momento de
ver que havia coisas fundadas e reais, não tinha outra forma senão ir-me embora
e sair”, conclui André Ventura.
Durante a
entrevista, o candidato questionou a forma de nomeações para as instituições do
Estado e empresas públicas, que considerou deverem ser repensadas,
inclusivamente o caso do procurador-geral da República, apesar da consideração
que disse ter para com o atual titular, Amadeu Guerra.
“Mas quando
temos um sistema que nomeia o procurador-geral da República e é este
procurador-geral da República, depois, que vai investigar quem o nomeou, é
sempre um sistema frágil e é sempre um sistema que gera dúvidas de
independência e de imparcialidade”, sustenta, alegando que o mesmo se passa com
os titulares dos tribunais superiores e do Tribunal Constitucional.
“Faz sentido
que o tribunal que controla os partidos políticos, e eu agora estou à vontade
porque até somos o segundo maior partido, podíamos ter interesse em manter isto
como está, derive destes próprios partidos políticos. Não seria de pensar isto
como um todo, do ponto de vista de garantir a independência e a imparcialidade
destas pessoas? Poderia ser o Presidente?”, questiona, concluindo: “Acho que
temos que repensar um sistema que dê garantias de menor interferência política.
Ventura quer
revisão constitucional para tornar Presidente um “ator político decisivo”
André Ventura
defende uma revisão constitucional que reforce os poderes do Presidente da
República, transformando-o num “ator político decisivo”, e promete “conduzir o
país politicamente” a partir do Palácio Belém, designadamente com propostas
concretas para a Justiça.
“A Constituição
tem que consagrar um presidente que tem que ser mais do que um moderador. O
presidente tem que ser um ator político decisivo, porque tem uma legitimidade
política decisiva” que lhe advém de ser eleito diretamente com mais de 50% dos
votos, justifica André Ventura, em entrevista à agência Lusa no âmbito da
campanha para as eleições de 18 de janeiro.
O também líder
do Chega considera que, no sistema atual, o “poder real” do Presidente da
República “é o poder de veto, o poder de promulgar ou não promulgar, e esse
poder, se não for utilizado, ou se não tiver capacidade e extensão de ser
utilizado, nos casos mais dramáticos da vida nacional, acaba por ter pouca
expressão”, tornando o chefe de Estado numa “espécie só de reduto de
influência”.
“Se queremos
levar a sério o cargo de presidente e justificar o salário que lhe pagamos, e o
que gastamos com a presidência da República, então o presidente também tem que
ter poderes concretos e reais”, sustenta.
Ventura entende
que o presidente “não deve estar a ser um bloqueio, nem uma marioneta, nem uma
muleta do Governo”, mas “deve ter os poderes mais especificados do ponto de
vista do controlo, do escrutínio, da fiscalização” para que se saiba claramente
“em que águas se move”, alegando que “isso hoje não é absolutamente claro”.
A partir de
Belém, o também líder do Chega admite que não pode fazer propostas de revisão
da lei fundamental, mas pode influenciá-lo.
“Se for
Presidente da República, não terei o poder de fazer leis no parlamento, isso é
uma evidência. Mas estou convencido de que não há nenhuma outra figura com
tanta legitimidade e capacidade de influenciar o parlamento, até num processo
de revisão constitucional, como o Presidente da República”, advogou.
Entre críticas
a Marques Mendes e a “conversas de chacha” de Marcelo Rebelo de Sousa, André
Ventura defende que seria importante eleger, pela primeira vez, um chefe de
Estado “fora deste sistema partidário PS-PSD”, que nos 50 anos de vida
democrática tem feito pactos na Saúde, Finanças, banca, “em tudo o que é setor
público ou com influência pública”. Seria “uma garantia de independência e de
luta contra o sistema”.
Mais do que
romper com o sistema, o deputado e líder do Chega considera que “talvez a
independência aqui até seja mais relevante”, aproveitando para atacar o seu
adversário e ex-líder do PSD, Luís Marques Mendes, por “estar sempre a falar de
independência”, mas ser “a linha direta, o apoio de Luís Montenegro, que é
primeiro-ministro”.
“Ora, os
portugueses gostam e querem um presidente que fiscalize a ação do governo, não
um presidente que seja ou um pau-mandado, ou alguém condicionado pelo governo”,
argumenta, acrescentando: “se é um presidente que tem conluio com o governo,
isso não é bom para a democracia, é mau. E por isso eu percebo esta ansiedade
[de Marques Mendes], automaticamente, em tentar desligar-se do Governo agora”.
Do mesmo modo,
pretende combater a ideia de que o presidente é “uma espécie de senador
reformado”.
“Eu não vou ser
o Presidente da união fácil, de palavra certa e barata, confortável em todos os
momentos. Nós não podemos tapar as clivagens, a polarização, os problemas com
conversa de atleta”, disse.
Ventura promete
travar uma batalha para convencer a opinião pública de que não é “nem uma jarra
de enfeitar”, nem que irá estar “a dizer aquelas coisas banais, politicamente
corretas”.
“Se votarem em
mim no dia 18 de janeiro, vai haver uma mudança no estilo de Presidente da
República”, assegura.
A partir de
Belém, terá como prioridades a Justiça, as comunidades e os jovens, não se
limitando a alertar que são precisas reformas, mas indicando ele próprio um
caminho.
“Quero dar um
sinal à reforma da justiça que ela tem que ser feita. E tem que ser feita em
que sentido? Temos que garantir o fim destas penas suspensas que existem para
muitos crimes, garantindo que as pessoas ficam presas em casos de abusos
sexuais de menores, violência doméstica, que é um flagelo que temos em
Portugal, o chamado crime contra o património, considerado às vezes pequeno
crime, mas que é esse pequeno crime que vai gerando a insegurança nas pessoas”,
aponta.
Segundo o
candidato, todos os presidentes defendem reformas da Justiça, mas nunca dizem
qual. “Eu ao menos digo qual é. É limitar recursos, porque nós temos recursos
que nunca mais acabam, e temos que garantir que a pessoa tem direitos e que têm
direito a uma justiça que funcione, imparcial, mas não pode ter direito a fazer
mil recursos garantindo que as decisões nunca são efetivadas”, concretiza, numa
alusão implícita ao processo Marquês.
“Acho que é
preciso uma reforma da justiça e o presidente tem que ser o principal
protagonista dela do ponto de vista político”, sublinha.
Segundo André
Ventura, isso “não é governar, é conduzir o país politicamente”. “Eu estaria a
ser um mau presidente e defraudaria completamente as expectativas das pessoas
se lhes desse uma entrevista um dia ou dois depois de ser eleito Presidente da
República e a minha conversa passasse a ser que temos que agregar vontades,
temos que nos juntar todos, pensar a justiça a médio prazo e a longo prazo”,
argumenta.
No decorrer da
entrevista, quando abordava questões relacionadas com o processo Marquês, que
envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates, Ventura reitera críticas à
imprensa portuguesa, sem apontar casos concretos, sobretudo ao que chamou o
ativismo de muitos jornalistas.
“E acho que
também os jornalistas, em grande parte, não são bons. E acho que temos um
ativismo muito grande no jornalismo, é a minha opinião. Mas eu seria o último a
condicionar a liberdade da imprensa. Mais, digo-lhe outra coisa. Podia ser o
órgão de comunicação, não é o caso da Lusa, mas podia ser o órgão de
comunicação que eu menos gostasse, eu tudo faria para garantir que ele não é
nem censurado, nem silenciado, nem ameaçado com questões económicas ou de
natureza societária”, disse.
Prabhat Patnaik - A propósito da "civilização ocidental"
Prabhat
Patnaik [*]
De acordo com
uma reportagem publicada no Times of India (23 de novembro),
os Estados Unidos pediram aos países europeus que restringissem a imigração a
fim de preservar a "civilização ocidental". Muitos no Terceiro Mundo
considerariam o termo "civilização ocidental" ridículo, especialmente
se for usado no sentido de denotar algo precioso e que vale a pena preservar.
As atrocidades cometidas pelos países imperialistas ocidentais contra povos de
todo o mundo ao longo dos últimos séculos foram tão horrendas que usar o termo
"civilização" para encobrir tal comportamento parece grotesco. Desde
o colonialismo britânico, que provocou fomes na Índia que mataram milhões na
sua tentativa voraz de extrair receitas de camponeses infelizes, até à
brutalidade indescritível do rei Leopoldo da Bélgica contra o povo do que antes
se chamava Congo, passando pelos campos de extermínio alemães na Namíbia que
liquidaram tribos inteiras, é uma história de crueldade horrível infligida a
pessoas inocentes sem outra razão senão a pura ganância. Não é surpreendente,
neste contexto, que Gandhi, quando questionado por um jornalista sobre o que
achava da "civilização ocidental", tenha respondido ironicamente:
"seria uma ideia muito boa".
Mas vamos
ignorar toda essa crueldade e concentrar-nos apenas no avanço material
alcançado pelo Ocidente. Este progresso material foi alcançado com base numa
relação de exploração que os países imperialistas ocidentais desenvolveram em
relação ao Terceiro Mundo, uma relação que deixou este último num estado tal
que os seus habitantes hoje estão desesperados para dele escapar. A
prosperidade ocidental não é um estado separado e independente alcançado apenas
através da diligência ocidental; foi alcançada através de um processo de
dizimação das economias dos países de onde os imigrantes estão a fugir. O que é
ainda mais impressionante é que o imperialismo ocidental não quer apenas
impedir o afluxo de imigrantes; quer impedir, mesmo através de intervenção armada,
qualquer mudança na estrutura social dos países de origem dos imigrantes que
possa levar a um desenvolvimento que impeça esse afluxo de imigrantes.
O meu argumento
pode, naturalmente, ser descartado como exagero. Afinal, as economias
ocidentais têm sido caracterizadas pela introdução de inovações notáveis que
aumentaram drasticamente a produtividade do trabalho, o que, por sua vez,
possibilitou um aumento dos salários reais e dos rendimentos reais das
populações ocidentais. É essa capacidade de inovação que distingue o Ocidente e
que falta ao Terceiro Mundo; ela constitui a differentia specifica entre
as duas partes do mundo, a causa fundamental dos seus desempenhos económicos
divergentes, devido aos quais os migrantes procuram mudar-se de uma parte para
outra.
No entanto, há
duas coisas a serem observadas sobre as inovações. Primeiro, as inovações são
normalmente introduzidas quando se espera que o mercado para o produto que
resultaria da inovação se expanda, razão pela qual as inovações não são
introduzidas durante as depressões. Segundo, as inovações por si só não
aumentam os salários reais; elas só o fazem quando há uma escassez no mercado
de trabalho que surge por razões independentes. Durante um longo período da
história, a expectativa de expansão do mercado para os produtos ocidentais foi
gerada pela conquista dos mercados do Terceiro Mundo. A Revolução Industrial na
Grã-Bretanha, que deu início à era do capitalismo industrial, não poderia ter
sido sustentada se não houvesse mercados coloniais onde a produção artesanal
local pudesse ser substituída pelos novos produtos fabricados por máquinas. O
outro lado da inovação ocidental foi, portanto, a desindustrialização das
economias coloniais, que criou enormes reservas de mão-de-obra nessas regiões.
Mesmo nos
países onde foram introduzidas inovações, também foram criadas reservas de
mão-de-obra devido ao progresso tecnológico, mas essas reservas foram reduzidas
devido à migração em grande escala de mão-de-obra para regiões temperadas de
colonização no estrangeiro, como o Canadá, os Estados Unidos, a Austrália, a
Nova Zelândia e a África do Sul, onde massacraram e deslocaram as tribos locais
das terras que ocupavam e cultivavam. Dentro dos países inovadores, portanto, a
escassez foi introduzida no mercado de trabalho por meio dessa emigração em
grande escala, devido à qual os salários reais puderam aumentar juntamente com
as inovações que aumentaram a produtividade do trabalho. As reservas de
mão-de-obra criadas nas colónias e semicolónias, no entanto, não puderam migrar
para as regiões temperadas; elas foram mantidas confinadas às regiões tropicais
e subtropicais, presas num síndrome de baixos salários, por meio de leis de
imigração restritivas que perduram até hoje. Se o capital da metrópole pudesse
ter fluído a fim de aproveitar os seus baixos salários para produzir bens para
o mercado mundial com as novas tecnologias, então a diferença salarial poderia
ter desaparecido. Mas isso não aconteceu. Apesar dos seus baixos salários, o
capital das regiões temperadas não entrou nessas economias, exceto nos setores
produtores de commodities primárias; e os bens manufaturados
produzidos por produtores locais, utilizando essa mão-de-obra mal remunerada e
adotando as novas tecnologias, não puderam entrar nos mercados das regiões
temperadas devido às altas tarifas. Em suma, a inovação ocidental produziu
prosperidade material na metrópole, porque foi complementada por uma estrutura
segmentada da economia mundial.
Isso não é
tudo. A difusão do capitalismo verificou-se dentro dessa estrutura segmentada:
juntamente com a mão-de-obra da Europa que migrou para as regiões
temperadas, como a América do Norte, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul,
o capital da Europa também começou a ser investido nessas novas terras como
complemento à migração de mão-de-obra. No entanto, este capital foi
extraído das colónias e semicolónias tropicais e subtropicais através da
apreensão gratuita das suas receitas cambiais proveniente do resto do mundo,
que constituíam grande parte do seu excedente económico, um processo que ficou
conhecido como a "drenagem" do excedente.
A difusão do
capitalismo durante o "longo século XIX" da Grã-Bretanha para a
Europa Continental, Canadá e Estados Unidos assumiu a forma de manutenção de
mercados britânicos abertos para os bens dessas regiões e de, em simultâneo,
exportações de capital para elas; ou seja, a Grã-Bretanha tinha tanto um défice
na conta corrente como na conta de capital em relação a essas regiões. O défice
total, somando as contas correntes e de capital, da Grã-Bretanha em relação a
essas três regiões mais proeminentes em 1910 era de 120 milhões de libras.
Metade desse montante, de acordo com as estimativas do historiador económico
S.B.Saul, foi liquidado às custas da Índia, através da apropriação pela
Grã-Bretanha de todo o excedente de exportação da Índia em relação ao resto do
mundo, e também do pagamento pela Índia das importações desindustrializantes da
Grã-Bretanha que excediam as commodities primárias que vendia
à Grã-Bretanha. Se considerarmos apenas a Europa Continental e os EUA, o défice
total da Grã-Bretanha era de 95 milhões de libras, dos quais quase dois terços
foram liquidados desta maneira às custas da Índia.
Assim, todo o
desenvolvimento do capitalismo ocorreu historicamente através da criação de um
mundo segmentado. A inovação que supostamente está na base da prosperidade
material do Ocidente também ocorreu através dessa segmentação. Portanto, não é
a inovação que explica por que o Ocidente se tornou próspero enquanto o
Terceiro Mundo estagnou e entrou em declínio, mas sim esse facto da
segmentação. Afinal, mesmo teorias como a de Joseph Schumpeter, que enfatizam
as inovações como a causa da prosperidade material, mostram que todos
os trabalhadores se beneficiam das inovações. Mas se apenas alguns
trabalhadores são os beneficiários (além dos capitalistas, é claro), enquanto
outros pertencentes a uma região diferente são excluídos desses benefícios,
então a causa dessa divergência deve estar em outro lugar, não no fato de a
inovação estar confinada a apenas uma região. A essência dessa segmentação era
a exclusão deliberada de uma região do processo de desenvolvimento material,
através da imposição de barreiras tarifárias contra os seus produtos, da
proibição de impor barreiras tarifárias próprias contra os produtos da região
metropolitana e da aquisição gratuita por parte desta última de uma parte do
excedente económico produzido.
Os dias do
colonialismo acabaram; além disso, o capital da metrópole agora está disposto a
fluir para o Terceiro Mundo para produzir bens para o mercado mundial usando
mão-de-obra local mal remunerada e novas tecnologias. Por que, então, a pobreza
do Terceiro Mundo continua a permanecer nesta nova situação? Voltamos aqui à
proposição de que as inovações, como tais, não aumentam os salários reais;
teorias como a de Schumpeter, que afirmam o contrário, assumindo uma tendência
espontânea do capitalismo para esgotar as reservas de mão-de-obra e avançar
para o pleno emprego, estão simplesmente erradas. O progresso tecnológico no
Terceiro Mundo através da disseminação de inovações, seja sob a égide do
capital metropolitano ou do capital local, que tende tipicamente a economizar
mão-de-obra, não reduz, portanto, o tamanho relativo de suas reservas de
mão-de-obra e, consequentemente, a magnitude relativa da pobreza. A mão-de-obra
do Terceiro Mundo não tem como migrar para as regiões temperadas.
Dois fatores
irão agravar esta situação nos próximos tempos: um são as tarifas de
Trump que procuram exportar o desemprego dos EUA para o resto do mundo,
especialmente para o Terceiro Mundo; e o outro é a introdução da Inteligência
Artificial no quadro do capitalismo.
30/Novembro/2025
[*] Economista, indiano, ver Wikipedia
O original encontra-se em peoplesdemocracy.in/2025/1130_pd/apropos-“western-civilisation”



