sexta-feira, 12 de abril de 2024

Tiago Franco - Este é melhor não, que é coisa para queimares o arroz que está ao lume



* Tiago Franco

 

ESTE É MELHOR NÃO, QUE É COISA PARA QUEIMARES O ARROZ QUE ESTÁ AO LUME |

Quem me conhece razoavelmente bem sabe que o meu sonho, desde há muito, muito tempo, é dar a volta ao mundo. Desde que me lembro que é assim. Há duas razões mais ou menos simples para isso. A primeira é por gostas de estar em sítios onde aconteceu algo que apenas vi num livro de história. Era a minha disciplina favorita na escola e julgo que se tivesse crescido num país de primeiro mundo, com empregos e salários decentes, provavelmente teria ido por aí. A outra é que eu gosto genuinamente de ver as diferencas culturais entre os povos, até para perceber melhor o meu próprio contexto cultural. No fundo, um acumular de padrões para não ficar fechado e bloqueado num continente que cada vez mais levanta muros em vez de os destruir.

Raramente volto como fui e procuro, sempre que posso, o mais diferente possível daquela que é a minha história. Nesta fase da vida já não tenho paciência para Venezas, Paris e Londres. Quero Kigalis, Vientianes e Managuas. Poucas vezes viajei sozinho porque detesto a solidão e quando o fiz, nunca foi algo que quisesse guardar como memória. A vida, na forma como a imagino, é para ser vivida com afecto, sorrisos e companhia.

Quando não estou a viajar estou a pensar no próximo destino. Não o consigo evitar. Podemos estar entre guerras, pandemias ou crises financeiras. Pode até o meu emprego estar na linha como está, permanentemente, desde que decidi trabalhar por contratos temporários (ou seja, quase toda a minha vida profissional). Mas todo o santo dia eu abro o Google Maps (até porque faz parte do meu trabalho) para procurar caminhos novos.

Ora, tenho a sorte de ter por perto quem me vá aturando nestes sonhos e repita, com alguma frequência, "ok Tiago, qual foi a ideia desta vez?". Eu sonho acordado.

Sou um péssimo companheiro de deslocacão (porque odeio voar) mas acho que compenso quando metemos os pés no chão e as mochilas nas costas. Ir de A para B de carro, comboio ou barco é, de longe, o mundo ideal.

Esperei 11 anos para regressar ao Sudoeste Asiático. Tempo a mais para uma vida que é sempre curta. Parti de um sítio frio, de céu cinzento, onde estava a pressão laboral e a corrida contra o tempo para agradar a mercados capitalistas. Onde todos trabalhamos a troco de salários altos que são absolutamente devorados pelos juros dos créditos à habitacão ou a elevadíssima carga fiscal. Deixei para trás, por uns dias, a sociedade que produz e que se esfola diariamente para conseguir pagar as contas, ditadas por um banco em Frankfurt ou uma guerra que alguém escolheu alimentar em meu nome.

Do outro lado estava um mundo relativamente diferente, com mais sorrisos, com outros problemas certamente mas também com outras solucões. De alguma maneira a vida parece mais fácil debaixo de sol, com sumos de fruta fresca a toda a hora, mar quente, budistas e uma gastronomia que não aborrece nem envergonha. Dizia-me um dos companheiros que por lá já se sentia em casa: "já reparaste que eles estão sempre a sorrir?"

Mesmo com história dramáticas e traumas recentes (por exemplo o genocídio no Cambodia que arrasou com 25% da populacão), aquele pessoal consegue, aparentemente, ter a alegria e a forca de focar nas coisas básicas e importantes da vida. E não pensemos que estamos a falar dos pobrezinhos e coitados. O sudoeste asiático já não é apenas o sítio onde as multinacionais vão coser roupa. Não vi mais gente a dormir nas ruas de Banguecoque do que, por exemplo, no centro de Lisboa, Paris ou Roma.

É dificil explicar a sensacão de viver no aparente caos destas cidades super povoadas. Eu não me importo com a confusão, a enxurrada de gente ou o barulho. Sinto-me acompanhado em ambientes desses. Mas há algo de especial em estar o dia todo na agitacão para, de seguida, dar de caras com uma praia deserta, daquelas que vemos nos postais. Ou entrar numa rua escura ao calhas e uma senhora abrir a cozinha para nos fazer o último pad thai da noite. O que estou a tentar dizer é que, parece-me, por aqui cada dia conta e é vivido de forma intensa. Ainda assim, sem grande pressão ou horários definidos. Tudo se arranja, tudo se desenrasca, há sempre alguém que conhece alguém.

Regresso de um mundo onde tudo vibrava, tinha cor e cheiros para o meu espaco. O tal ocidente civilizado, velho continente que ensina os demais a viver. E o que vejo? Em Portugal voltam-se a discutir temas de 1950, desenterrados por um livro apresentado por Passos Coelho e escrito, entre outros, por fachos como o Jaime Nogueira Pinto. Um idiota daquele partido que teve 100 000 votos sem querer, afirma que as neves do Kilimanjaro ainda lá estão, portanto, isto do aquecimento do planeta é uma tanga.

Parece que ficamos mais estúpidos quanto mais informacão nos disponibilizam. Eu estive no cume do Kilimanjaro em 2008. Os glaciares já eram muito menores nessa altura do que em décadas anteriores. É só ver as imagens aéreas para perceber. Os lagos reduziram o seu tamanho, os glaciares também mas...o facto de existirem, ainda que menores, não quer dizer nada. É tudo uma conspiracão.

Na televisão vejo velhos que, na sua juventude fugiram à guerra colonial, dizerem que o apoio à Ucrânia não pode parar e que é tempo de enviar soldados. Isto porque, claro, já não são as costas deles que lá vão bater. Já para não falar do genocídio em Gaza que nem nos rodapés aparece. Será também estudado daqui a 20 anos.

No meu bairro, em Gotemburgo, há casas a serem vendidas em hasta pública por execucão bancária. Algo que eu nunca tinha visto em 20 anos. Famílias que, por causa das taxas do BCE e a eterna desculpa da Ucrânia, passaram a pagar 3, 4 ou 5000 euros pelas prestacões ao banco e simplesmente...estouraram. Eu já nem consigo perceber como é que se sobrevive em Portugal quando nos países ricos comecam a ficar depenados.

E depois...tudo em nome de quê? Chegamos a meio da nossa vida, eu pelo menos espero ter chegado, a trabalhar dia e noite para pagar contas, sustentar guerras, patrocinar a corrupcão e sermos governados por entidades como o BCE.

Eu, que sou um ferrenho apoiante do estado social e da solidariedade, trabalhei 20 anos para entregar mais de 50% do meu rendimento em impostos e, mesmo assim, ser extorquido mensalmente pela banca, sem que os governos eleitos facam absolutamnete nada. A Europa transformou-se numa zona muito pouco recomendável onde, sem darmos por isso, ficámos acorrentados a um jogo cujas regras mudaram no espaco de 4 anos (desde 2020) e que foram decididas, a meias, entre a banca e a comissão europeia. Nada ou ninguém que eu me lembre de ter eleito para falar ou decidir em meu nome.

A desilusão é tal que, aos poucos, vou desligando as notícias, perco a vontade de escrever, simplesmente não quero saber. Não importa, não interessa. Isto já não é a vida que vinha no guião do "vai estudar e esforca-te para seres o melhor possível no teu local de trabalho". Isto é apenas uma merda.

A vida devia ter menos Ursulas, Putins, Zelenskis e Venturas e mais momentos em família, fotos para a posteridade, recordacões que nos fazem pensar que valeu a pena passar pelo planeta.

Digo isto várias vezes aos meus filhos e é algo em que acredito profundamente. Depois da educacão que será a ferramenta deles para enfrentarem o futuro, tudo o que lhes quero dar são momentos. Experiências, paisagens, um pouco de mundo. Algo que lhes fique na memória e que lhes permita ter um conceito de "bairro" mais alargado quando comecarem, sozinhos, a definir o seu. É esse, para mim, o verdadeiro sentido da vida. É conhecer em vez de acumular. É ir em vez de esperar. É, no fundo, perceber onde estamos e o que fazemos aqui, como dizia o poeta em tempos de má memória.

Em resumo, eu quero que a Ucrânia se foda, que a Rússia se foda, que a Ursula se foda, que a Lagarde se foda, que o Trump se foda, que os fachos se fodam, que os idiotas que apoiam o genocídio em Gaza se fodam ou que os burros que acham que uma Europa com muros é a solucão, se fodam.

No fundo era só isto, mas o poder de síntese nunca fo o meu forte.

 

2024  04 12

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sexta-feira, 5 de abril de 2024

Miguel Tiago - Mil vezes Abril




  • Miguel Tiago
  • 26 MARÇO, 2024

  • Em 2022, o CDS desapareceu do parlamento português e só foi ressuscitado pela necessária bondade de um PSD perdido, querendo estender a mão à direita mais reaccionária e retrógrada, mas sabendo que isso lhe custaria votos. Não se ouviram nem leram, por essa altura, tantos cântigos fúnebres como os que ouvem os comunistas desde a sua fundação.

  • A extinção eleitoral do CDS, não apenas não mereceu dos donos disto tudo e seus papagaios a exaltada e estafada celebração da decadência eleitoral e o anúncio de morte, como lhes assegurou a continuidade da sua presença em diversos órgãos de comunicação social, com honras de comentadores em horário nobre, sem direito a contraditório, sem questionamento, levando para casa os seus milhares de euros para regurgitarem o volutabro que nos pretendem enfiar pelas cabeças abaixo. Nunca houve hora da morte nem certidão de óbito para o cadáver mais evidente da democracia portuguesa, pelo contrário, houve dois anos de custosa e penosa reanimação. Já o PCP, ainda o muro de Berlim não havia caído e tinha a sua morte traçada e decidida.


  • A inexorável morte do PCP, que traduziria o triunfo dos capitalistas que usam o nosso país como mais um dos seus quintais, é decidida nos conselhos de administração das cotadas em bolsa, da banca, nas mais altas instâncias da União Europeria, nas redacções dos jornais, rádios e tvs, mas isso ainda não a tornou realidade. Sabemos que eles estão habituados a decidir tudo: que decidem para que lado sopram os ventos da chamada “esquerda” e da chamada “direita”, que decidem o que diz cada partido, que decidem quando um se extingue e outro se acende. Nós sabemos que a comunicação social dominante, às ordens dos que lhes pagam os anúncios publicitários e dos que lhe capturaram a função por lhe deterem o capital social, tem a capacidade de destruir personalidades, de criar novas e inquestionáveis personalidades de reputada capacidade de mastigar opiniões para no-las dar já macias, semi-digeridas. Também sabemos que a comunicação social tem a capacidade de determinar quanto tempo, com que tom, com que cor e qualidade de imagem, tem cada agente económico, cada marca, cada partido, cada evento político ou social e que, com isso, influencia o conhecimento e opinião que cada um de nós tem sobre a nossa envolvente social, cultural, política e económica.

  • As administrações dos grupos económicos, os grandes accionistas, os monopólios e seus partidos decidem a duração dos contratos dos seus trabalhadores, ou mesmo a ausência de contratação; decidem o horário e decidem se o trabalhador tem direito ou não a ver os seus filhos; decidem quanto o trabalhador leva para casa e decidem quanto querem pagar de impostos; os grupos económicos decidem quanto dinheiro dão a cada partido; quantas horas de televisão vai ter cada líder partidário; decidem em quem bate a polícia; a taxa de juro; o custo da habitação; quem vive na periferia e quem vive na metrópole; quem cá trabalha legalmente e quem cá trabalha ilegalmente; decide quem condenam os tribunais; decide se a guerra é boa ou má; o valor de uma vida negra, de uma criança árabe ou de milionários enlatados no fundo do mar; e por isso se compreende que estejam habituados a que os seus desejos sejam profecias autorrealizáveis. O capitalismo faz navegação à vista no imediato, mas planifica bem a gestão do longo-prazo e tem a elite académica, os intelectuais orgânicos de um extremo ao outro do espectro dominante, do wokismo ao neo-fascismo, dispõe de uma capacidade criativa capaz de torcer temporariamente até algumas regras do seu próprio funcionamento e dispõe de um aparelho global de destruição militar que influencia determinantemente a divisão internacional do trabalho.

  • Podendo contorcer-se nas suas próprias regras, o que o capitalismo não pode contornar, contudo, são as leis da história. As leis que regem o movimento histórico, com fluxos e refluxos, com acelerações e desacelerações, são um substrato universal em que até o mais poderoso império é forçado a viver.

  • Declarada que está há décadas a morte do comunismo e, em Portugal, do Partido Comunista Português, essa profecia nunca será cumprida na medida em que, existindo um sistema de exploração, nada pode impedir o alargamento em número da classe de explorados e o aumento do seu poder real. Mesmo uma eventual extinção de um partido operário não significará em momento algum a extinção da força da classe que o criou, porque essa força material é crescente, independentemente de ser consciente. Estando cada vez mais consolidadas as condições objectivas para uma revolução, o capital aposta na desmobilização das condições subjectivas, numa dialética de forças que é uma batalha constante, em cada lugar de trabalho, em cada rua, em cada cidade.

  • O êxtase com que todos os quadrantes de comentadores e quase todos os partidos, mais ou menos assumidamente, festejam o resultado negativo da CDU e do PCP nas eleições portuguesas de 2024 é a celebração indisfarçável dos que anunciam o colapso das ideias revolucionárias e do PCP, dos mesmos que focam nas forças mais reaccionárias a sua atenção, seja ela por simpatia ou por simulacro de apaixonado combate.

  • Não é nosso papel, nem isso nos aproveitaria, bater no peito afirmando ter orgulho nos nossos erros. Mas também não é nosso papel interiorizar todas as responsabilidades em torno de resultados eleitorais ou organizacionais que não vão ao encontro das nossas legítimas e justas expectativas. Do que o povo e os trabalhadores precisam, agora mais do que nunca ao longo das últimas décadas, é de uma linha política de afirmação de um caminho novo, claro e inequívoco, que centre na capacidade criativa das massas populares, na sua capacidade de gestão e resolução dos seus próprios problemas, o rumo para a ruptura com o lodaçal em que a grande burguesia tem afundado o país, sacrificando os trabalhadores, os jovens, as mulheres e os reformados.

  • Terá, porventura, existido uma compreensão de que o PCP e a CDU disputavam um lugar de influência sobre o PS, quando esse não é o campeonato em que jogam estas forças: estão no parlamento e nas ruas para levar a voz dos trabalhadores a todos os cantos da democracia e para construir uma alternativa política que não se constrói de remendos, mas de rupturas. Não se candidataram para ser voz da consciência de um PS decrépito e degradado, comprometido com novembro e os grupos económicos até à medula, mas para criar as condições necessárias para o fim da alternância entre os partidos que estão ao serviço da grande burguesia. Claro que não desperdiçarão, e nem podiam, neenhuma oportunidade para melhorar as vidas dos que aqui vivem e trabalham, mas o seu projecto é de grande fôlego e não se contém em “programas mínimos”. 

  • Do que precisamos é de clarificar o que nos divide, o que nos distingue, evitando a tibieza e a flagelação, de cara erguida com a certeza de que cada um de nós dará tudo o que tem pela liberdade, pela democracia e pelo progresso. Dissipar as dúvidas criadas pelas novas nuvens de confusão lançadas sobre o que significa ser “de esquerda” ou “de direita”, clarificar que a verdadeira distinção se coloca entre os que se posicionam do lado do trabalho e os que se põem do lado do capital, entre os revolucionários e os conservadores, os que pretendem ultrapassar o actual modo de produção e os que pretendem mantê-lo às custas da exploração do trabalho, do sangue das guerras, da submissão do neocolonialismo e da destruição do planeta e exaustão dos seus recursos.

  • Mais do que nunca é preciso distinguir o que define o projecto revolucionário e concretizar as linhas de objectivos imediatos, concretizáveis e alcançáveis à escala da vida dos trabalhadores de hoje: romper com a submissão à classe dominante organizada em União Europeia, abandonar a subordinação à grande burguesia nacional e internacional que esmaga os trabalhadores e parte significativa da pequena-burguesia, assumir a nacionalização dos sectores estratégicos da economia como primeiro passo para qualquer ruptura real, e acertar o passo com 1974, sem ignorar que a revolução ficou inacabada, o que significa que deve ser terminada.

  • Abril vive nos corações dos portugueses, da juventude, dos trabalhadores, dos homens e mulheres que aqui vivem, incluindo dos 70% dos portugueses que tinham menos de 5 anos ou ainda não eram nascidos porque muitas das conquistas ainda vivem na nossa realidade. Mas isso não significa que necessariamente viva com esse nome (muitos sentem Abril e não lhe sabem o nome): ir ao concreto, avaliando e estudando o passado, olhos postos no futuro, ultrapassar a incompreensão e, nos cinquenta anos da revolução, mais do que dizer mil vezes Abril, afirmar como objectivos a recuperação da força dos trabalhadores na política, a participação directa dos trabalhadores na gestão das empresas e do estado e a colocação do estado e dos seus instrumentos ao serviço do povo e do país. As formas para atingir mais organização e mais luta – que são as mesmas, interdependentes e interpenetrantes – são bem conhecidas dos que lutam num colectivo supra-centenário: organizar para lutar e organizar na luta em torno da questão salarial, dos problemas da juventude, pelos serviços públicos e pela cultura, pelo ambiente e pela produção nacional, pela habitação e pela paz.

  • Por mais voltas que demos, a pandemia e a guerra intercapitalista na Ucrânia, demonstram como os adversários dos trabalhadores aproveitam e aproveitarão cada oportunidade para corroer o mais forte instrumento político da sua classe, pelo que nada, como sempre soubemos, substitui o contacto directo, a organização no local de trabalho, a penetração nos bairros e nas comunidades, a chamada das margens para o trabalho unitário, alargando o caudal de descontentamento organizado. Além de ser o único caminho para o fortalecimento da resposta de massas e o único para vencer os obstáculos comunicativos, é a mais poderosa força contra os projectos mais reaccionários e saudosistas que acolhem a simpatia da comunicação social e do capital. Independentemente dos resultados eleitorais, que pretendemos os melhores e mais correspondentes ao esforço real que se faz, é impossível destruir um projecto cujo trabalho é uma extensão das aspirações e anseios das massas trabalhadoras. É preciso garantir que o é. ~
https://manifesto74.pt/mil-vezes-abril/#more-8995

terça-feira, 2 de abril de 2024

Ivo Rafael Silva - E no entanto ela estupidifica-se


POR IVO RAFAEL SILVA
15 MARÇO, 2024

Fica desde já a nota e em jeito de aviso prévio: se alguém, por acaso, estiver aqui à espera de um artigo que tente normalizar, inocentar ou desculpabilizar, directa ou indirectamente, o 1 milhão de votantes – e nem que fossem 50 milhões… – num partido de extrema-direita em pleno século XXI, pode, desde já, tirar o cavalinho da chuva. Se alguém estiver à espera da narrativa ou teoria de que «isto é só gente indignada» ou «revoltada», pura na sua sacrossanta ingenuidade, que saiu de casa, naquele dia, para ir «inocentemente» colocar um voto num partido de gente que acha que o lugar dos pretos é em África, que o dos gays é numa ala psiquiátrica, que o das mulheres é na cozinha, que as vacinas são chips e/ou transformam pessoas em jacarés, que os ciganos devem ser deportados, ou de que no tempo do fascismo, da fome, da censura, da polícia política «é que isto era bom», pode já parar por aqui. Porque aquilo que aqui se dirá, ou escreverá, a respeito de o que se passa não apenas em Portugal, mas em muitas outras latitudes do mundo actual é que não há outra forma objectiva, concreta e factual do que chamar «estupidificação colectiva» àquilo que é, de facto, «estupidificação colectiva», ou «fascização crescente e progressiva das sociedades» àquilo que é, indiscutivelmente, a «fascização crescente e progressiva das sociedades».


O mundo de hoje não está voltado para o conhecimento. O mundo de hoje está voltado, precisamente, contra ele. As sociedades capitalistas afrontam os pressupostos científicos, negam-nos, conduzem tudo e todos para o universo da mentira, para a ignorância, para a deturpação, para a descontextualização, para a confusão propositada e voluntária das discussões, para o dichote fácil, para o embrutecimento geral, reforce-se, do indivíduo. Nos tempos correntes, não se procura sustentar uma convicção sólida baseada em quaisquer princípios de natureza filosófica ou ideológica. Não se valoriza – antes se combate – o pensar, o reflectir, o estudar com critério todos os assuntos. Por outro lado, as convicções do mundo de hoje formam-se a partir de um vídeo de 30 segundos numa qualquer rede social. Não se lê um livro, não se lêem, sequer, textos com mais do que um parágrafo. Consomem-se memes, imagens com soundbytes, clips com ditas «verdades» que são até, na maioria dos casos, autênticas e completas «mentiras». Em qualquer ponto do mapa cibernético, há-de estar, porém, uma qualquer referência que sustente aquilo que se «quer» que seja verdade. Quando a mentira encaixa naquilo que, por várias razões, traumáticas ou não, se quer voluntariamente acreditar, a mentira passa a ser assim o guia da acção. Incluindo, naturalmente, a acção política, a militância e o voto.

Estaríamos todos bem mais descansados, com a vida mais facilitada ou, pelo menos, mais esperançosa, acaso houvesse, porém, uma só causa, uma só razão, para justificar todo este tenebroso contexto. Mas não há só uma causa. Há várias e são complexas. E uma delas terá que ver com aquilo que se quereria, ou desejaria, fosse a verdadeira casa da formação e estruturação do indivíduo: o ensino, a escola. Os sistemas e serviços educativos não têm conseguido acompanhar a velocidade da tecnologia. O ensino não tem pernas para combater, desmentir, explicar, superar, a doutrinação que é incutida pelas máquinas. O capital ainda não consegue, ou tem pelo menos muito mais dificuldade, em doutrinar através do ensino tradicional. Mas consegue, por outro lado, com toda a facilidade e com meios muito mais cativantes, impor determinado pensamento, determinados conceitos ou preconceitos, uma suposta «informação» que, tudo somado, vai significar a construção de um indivíduo não-pensante, acrítico, acientífico, um indivíduo-produto, serventuário e iludido.

A forma como a educação é suplantada pela tecnologia é, pois, uma parte deste problema. Alia-se, também, à falibilidade dos conteúdos que os tempos exigem, à falta de consciência histórica que daí emana – porque, naturalmente, eles não sabem, não viveram, o que foi o fascismo –, tudo fazendo com que a expressão «valores de Abril» diga zero a uma franja enorme dos jovens e dos menos jovens. Sem memória, sem consciência, sem instrução, mas com bombardeamento cibernético diário controlado pelo sistema capitalista, fica criado o caldo mental que leva à já citada estupidificação da sociedade, muito conveniente aos interesses que ganham com partidos e/ou governos de extrema-direita.

De uma sociedade estupidificada, não se podem esperar actos inteligentes, decisões acertadas e governantes competentes. Não se pode esperar uma governação justa, vinda de um sistema que só funciona se houver, precisamente, injustiça social, económica e financeira. O capital promove a iliteracia, o baixo grau de conhecimento, a desilustração, a falsidade, porque quanto mais maleável, manipulável, enganada e iludida estiver a massa que constitui a base da sua riqueza exploratória, mais e melhor proveito terão com isso os seus mandantes e beneficiários.

Não se pode, pois, neste estágio e no rumo que se segue, esperar resultados de progresso, mas antes e obviamente as consequências de políticas de retrocesso. Não haverá fórmulas mágicas capazes de inverter a situação, mas uma coisa nos parece certa: ter medo das palavras, negar a estupidificação massiva em curso, negar por algum decoro a fascização das sociedades, insistir na brandura das «compreensões» como modo de enfrentar quem tem, cada vez mais, os braços estendidos e os punhos cerrados, é capaz de ser tão eficaz como pregar no deserto.

https://manifesto74.pt/e-no-entanto-ela-estupidifica-se/


terça-feira, 26 de março de 2024

Carlos Coutinho - Metamorfoses

 


* Carlos Coutinho 

Há não sei quantos milhões de anos, a mais que milionésima bactéria tremeu nas águas primordiais e começou a perder os seus primeiros borbotos e estes, imitando a mãe, bacterizaram-se também e, logo que adultos, desataram a povoar os mares igualmente emergentes, iniciando verdadeiras dinastias de bactérias diferentes e ávidas de novas diferenciações.

É o que deduzo das muitas leituras que tenho feito sobre o assunto.

Muitas bactérias do frio e do quente optaram por abandonar as diversas águas planetárias, continuaram a metamorfosear-se, de espécie em espécie, e atingiram a humana, aquela que ainda não sabemos o que será, nos próximos séculos ou milénios, se ainda viver.

Mas sabemos que a sua primeira compulsão foi alimentar-se para sobreviver, disputando os alimentos com as vizinhas e, assim, aprendendo a lutar. Criou, portanto, os primeiros modos de matar e nunca mais parou de os aperfeiçoar, aperfeiçoando também a coragem, a ira, o ódio, condições instrumentais de sobrevivência.

– A inteligência animal começou assim, por total inexistência de ética e, muito menos ainda de filosofia, para desgosto de Santo Agostinho que descobriu, milhões de anos mais tarde, na cidade argelina de Hipona, o mal e a sua sede original na mulher.

– Mas foram precisos também milhões de anos para os moluscos marinhos galgassem as areias das praias, adquirissem esqueleto e exoesqueleto, escamas, penas, couro e pelo, vulva e pirilau, luxúria e autorreprodução sem gâmetas, fossem eles óvulos ou espermatozoides, e muito menos fecundação in vitro, até que o primeiro primata optou por se amacacar ou se antropolizar.

– E ainda não foram poucos os milhões e anos necessários para a fundação do Antropoceno, com o homo neandertalensis e o homo sapiens a alterar irremediavelmente a ordem e as formas das coisas, até os primeiros analfabetos conscientes inventarem os hieróglifos e as primeiras gravuras rupestres com as mãos borrifadas por bocas cheias de líquidos cromáticos nas rochas mais adequadas das cavernas.

– Daí ao sumério Gilgamesh e, seguidamente, à arca de Noé, ainda tiveram de transcorrer mais alguns milhares de anos, porque faltava formular a teoria da impulsão, a carpintaria naval, a arte da navegação e, assim, foi imposta a entrada com senha para a barca, visto a bicharada ser tanta que teve de se organizar filas, entrando cada novo passageiro só quando algum outro, lá dentro, já tinha sido devorado por alguns dos seus famintos semelhantes em luta compreensível de sobrevivência das espécies, das raças e dos costumes.

– A revista “Nature” publica agora um estudo sobre a perda da cauda nos símios, ocorrida há 25 milhões de anos. A hipótese inicial do estudo é a de que os nossos ancestrais perderam os rabitos abanadores quando mutações alteraram um ou mais dos seus genes.

Os cientistas compararam o ADN de seis espécies de símios com o de nove espécies de macacos caudados, descobrindo que a mutação compartilhada por símios e humanos – mas ausentes nos macacos com cauda – no gene TBXT. Esta mutação terá afetado TBXT aleatoriamente um único símio, fazendo com que este desenvolvesse um coto em vez de uma cauda e passasse o “defeito” para os seus descendentes. Com o tempo, a mutação TBXT tornou-se norma nos símios e nos humanos atuais, incluindo os que já funcionam com ginástica digital da conectividade radical e com a inteligência artificial.

– Quando as primeiras mitologias apareceram e os filósofos as normalizaram, para Jeová aparecesse a legislar e Homero a encher caldeirões de amores, ciúmes, viagens à ilha das tragédias, egípcios a fazer perguntas à esfinge de pedra, Aristóteles a pôr carne nas sombras de Platão e Spartacus a dizer “já basta!”, enquanto Afrodite fazia de Helena, a mais bonita de todas as mulheres e esposa do rei grego Menelau, se apaixonar-se pelo troiano Páris, que então a levou para a sua cidade. Agamenon, rei de Micenas e irmão de Menelau, reuniu os aqueus (gregos), liderou uma expedição contra Troia e cercou essa cidade frugal da Lacónia ou Leçademónia, na Península do Peloponeso, durante dez anos, como uma represália pelo insulto de Páris.

Após a morte de muitos heróis, incluindo os gregos Aquiles e Ájax, bem como Heitor, Páris recuperou a sua imprescindíveel Helena com a ajuda de um cavalo de pau.

– Claro que infinito, acumulação, conectividade radical, biocósmico, morte e força de viver são os temas da japonesa Yayoi Kusama, de 65 anos, acabados de fazer, que, depois e tantas décadas a viver voluntariamente numa instituição de saúde mental, personifica hoje um dos mais estrondosos fenómenos de popularidade na arte contemporânea, mas isso não implica que os dadores de gâmetas tenham de ficar eternamente anónimos, como a lei portuguesa, felizmente, já aceita.

Nem que só haja um os dois cardiologistas nos hospitais do Interior, sabendo-se que há mais de 500 nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde!

– E certo é também não devia ser permitido abater árvores em todos os cantos do mundo para fazer papel desnecessário ou simplesmente prescindível, mesmo que para substituir os sacos de plástico nos supermercados.

E menos ainda seria de permitir que se continuasse a plastificar tudo, ao ponto de já se ter encontrado no estômago de um mastodóntico cachalote lulófilo, morto na praia, um emaranhado rolo de 43 quilos de redes de nylon, escovas de dentes, copos de plástico, sapatilhas, etc.

Pior só a existência de triliões de triliões de partículas de plástico na corrente sanguínea dos peixes que comemos e, agora, até já na dos frangos e de outros bichos de aviário e de viveiros para aquacultura.

E mesmo no ar que respiramos, como nos disseram na recente 11.ª Cimeira Mundial dos Oceanos!

– E por que carga de água, quando a PSP registou entre 2020 e 2323 algo como 15 mil furtos por carteiristas, caçada que lhes rendeu 7,1 milhões de euros, vêm agora certos interessados reclamar a implementação da muito perigosa, energia nuclear em Portugal, sabendo-se que, ainda por cima, sai “demasiado cara, mesmo sem se contabilizar os custos escondidos – os de armazenar os resíduos, os dos seguros contra acidentes e seus efeitos, os do desmantelamento das centrais em fim de vida, etc.”

É que é mesmo “muito mais cara – 10 a 20 vezes mais cara (segundo o catedrático e investigador Manuel Collares-Pereira) por unidade de potência instalada que as renováveis – solar, eólica, hídrica e outras que estão em desenvolvimento” – e que já provaram poderem continuar de vento em popa.

“O combustível nuclear convencional (U235)”, diz ele, “é escasso; psra ser considerado abundante (U238, Th232), implicaria uma mudança de tecnologia (mais risco, mais tempo…); neste contexto fala-se hoje da tecnologia dos pequenos reatores, pré-fabricados, algo que não existe ainda … e que muito provavelmente, serão ainda mais caros. (…) Para uma central de 1600MW, estamos a falar de um investimento de mais de 1000 milhões de euros, se registarmos o exemplo finlandês de Olikuoto, acabada de construir), e podemos mesmo contar com mais de 19 000 milhões, se tomarmos como referência o idêntico EPR francês de Flamanville (em construção).”

Mas, por cá, os lóbis movem-se. Vá-se lá saber porquê.

– E não me esqueço de que dos anuros, com penugens ou com pelagens, com escamas ou com viscos, com espinhos ou com pelado coiro impermeável, com guelras ou com pulmões, com bico com boca, houve que vencer mais alguns milhões de anos, até se poder atingir o cataclismo que cósmico e ardente que nos dinossaurizou os territórios livres, criando uma ordem nova – ordine nuovo, como a do Mussolini – que até o Pio XI e o nosso Cerejeira cardeal, ombro com ombro com o nosso sempre solteiro Salazar, tanto apreciaram.”

Daí até aparecer a besta do “Apocalipse” ainda tivemos de aturar os aedos que deram histórias e mitos Homero e a Virgílio, os delirantes que souberam desnudar as estrelas e ainda sobrevivem como espíritas e horoscopizáveis em modo Pessoa, os Abraões decalógicos, os Plutarcos e os Arquimedes, os Avicenas e os Averróis, o milagre de Ourique e a mirabolante conversa do Condestável com Cristo antes da batalha de Aljubarrota, como antes acontecera com D. Afonso Henriques, o Nuno Gonçalves dos painéis de S. Vicente, o zarolho Luís Vaz da Ilha dos Amores, o salaciano ou alcacerense Pedro Nunes da Matemática, os arquitetos da Baixa Pombalina, os versos de António Nobre e dos de Cesário Verde, as composições de Lopes Graça e até o descaramento com que misturo tudo isto.

– Talvez faça falta a esta lista de figurões o nome do jesuíta Luís Frois que viveu 34 anos no Japão e assistiu à batalha A “História” de Luís Fróis é também uma narração dos acontecimentos histórico-políticos de uma das fases históricas mais cruciais do país.

A sua “História do Japão” abrange o declínio da dinastia dos Ashikaga que começou a sua regência em 1338 e acabou em 1573.

Abrange a ascensão e o fim do comandante Oda Nobunaga (1534 - 1582) que iniciou o processo da unificação do Japão de um modo decisivo.

Abrange os anos mais importantes do sucessor de Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi (1536 - 1598), que continuou a obra de Nobunaga e completou a unificação do país, mas que também iniciou a perseguição dos cristãos em 1587. Sob o seu reinado foram mortos também os primeiros 26 mártires católicos, em 1597.

O historiador de circunstância Luís Frois nasceu em Lisboa e, em 1563, viajou para o Japão, encarregado de pregar o Evangelho, isto uns 20 anos depois de os primeiros mercadores portugueses, a bordo da “Nau do Trato”, terem desembarcado no Sul nipónico. Foi seguidamente para Quioto, onde se reuniu com Ashikaga Yoshiteru, que então era xogun. Em 1569 tornou-se amigo de Oda Nobunaga e permaneceu na sua residência em Gifu (cidade), enquanto se dedicou à escrita por um curto período.

Descreveu, então, pormenorizadamente as suas impressões sobre as tradições e cultura japonesas do século XVI através de cartas enviadas para Macau, Roma (ao Papa) e aos reis de Portugal.

É considerado o primeiro cronista europeu daquelas paragens. Entre as suas obras encontra-se uma “História do Japão”, um clássico que recolocou o país do sol nascente na história do mundo moderno e que Akira Kurosawa seguiu milimetricamente para filmar o também clássico “Kagemusha” (“A Sombra de um Samurai”) e que o também clássico Claude Lévi-Straus catalogou como “o primeiro antropólogo”

– Que bom ter nascido no país dos milagres, onde em contramão, também, nasceram pastorinhos videntes e sádicos da tauromaquia!


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domingo, 24 de março de 2024

A relação de Fátima com o Estado Novo exige uma investigação que ainda não está totalmente feita

Responsável do Santuário explica que Fátima se desenvolveu mais no período pós-25 de Abril. Reconhece que é "fácil" associar Fátima ao Estado Novo, mas na verdade a relação não foi assim tão próxima.

Agência Lusa

Texto

 

24 mar. 2024, 10:22 1 

A ideia de uma ligação profunda entre Fátima e o regime do Estado Novo é desmentida pelo diretor do Departamento de Estudos do Santuário, que aponta o pós-25 de Abril como o período em que “Fátima se desenvolve mais”.

Para Marco Daniel Duarte, “a relação de Fátima com o Estado Novo exige uma investigação que ainda não está totalmente feita”.

“Aquilo que é o mais fácil para a narrativa que tem sido criada é que Fátima e o Estado Novo são quase a mesma coisa. Há, inclusivamente, uma narrativa mitográfica que diz que Fátima é construída pelo Estado Novo. Ora, tudo isto exige que haja, de facto, uma investigação séria”, defende.

Desde logo porque “Fátima nasce no contexto pré-Estado Novo, num contexto de I República, (…) de um Portugal que é claramente anticlerical, que tem muitas dificuldades em assumir uma mensagem religiosa”, afirma o historiador, lembrando que os patriarcas do republicanismo diziam que “em poucas gerações o catolicismo seria erradicado do país”.

Admitindo que o catolicismo encontra um espaço de maior conforto para a expressão da fé durante o Estado Novo, diz não ser de admirar, por isso, que “a historiografia tenda a dizer que Fátima cresce de uma forma muito considerável no período” da ditadura de Salazar.

No entanto, adverte, há que “dizer de uma forma muito clara que Fátima não é igual a salazarismo. Aliás, o próprio presidente do Conselho, António de Oliveira Salazar, pouquíssimas vezes veio a Fátima. Veio nos anos 50, numa visita que nem sequer era oficial, e veio depois em 1967, aquando do cinquentenário das aparições com o Papa Paulo VI”.

“O poder político não frequenta Fátima de forma assinalável. Há momentos muitíssimo importantes em Fátima relacionados com episódios soleníssimos e não é o chefe de Estado nem é o chefe do Governo que vem a Fátima”, lembra Marco Daniel Duarte, apontando o exemplo de 1946, quando “a imagem de Nossa Senhora de Fátima é coroada como Rainha do Mundo e Rainha da Paz e vem um legado pontifício do Papa Pio XII” ao Santuário.

Nesse dia, “nem Salazar nem o chefe de Estado estão em Fátima. Aquilo que vemos acontecer é, até no período pós-25 de Abril, a presença do Estado e a presença de ministros, porventura até mais detetável do que propriamente no Estado Novo”, acrescenta.

E apesar da trilogia “Fátima, Futebol e Fado” que se tornou popular para caracterizar o Portugal das décadas anteriores à revolução de 1974, Fátima não deixava de causar alguma incomodidade no poder instalado.

A guerra nas antigas colónias de África e o palco que Fátima constituía para alguma crítica, causava desconforto.

“Os anos 60 são muitíssimo ricos na expressão que Fátima também tem de contrariar aquilo que é a decisão política ao mais alto nível, nomeadamente em relação à questão do Ultramar (…) e da guerra”, sublinha Marco Daniel, lembrando que se veem “os fiéis a virem a Fátima pedir que termine a guerra, que os soldados não sejam mobilizados para a guerra”.

“Vemos isto a partir de várias vozes: em primeiro lugar, a partir dos próprios soldados, os militares que (…) vêm a Fátima pedir a proteção da Virgem para a sua missão no Ultramar, vêm também doentes e soldados mutilados agradecer o facto de terem sobrevivido à guerra e isto são, obviamente, manifestações muito claras de que Fátima é palco de uma reivindicação, de uma contestação em relação a esta guerra que levava à morte milhares de inocentes”, frisa o diretor do Departamento de Estudos do Santuário.

Para o responsável, “estas vozes que se fazem ouvir em Fátima não são apenas as vozes dos soldados, são as vozes dos pregadores, dos padres que aqui têm discursos pró-pacifistas, a voz das madrinhas de guerra, dos filhos de soldados, das noivas dos soldados, que aqui deixam as suas mensagens (…) que ainda hoje são fontes inestimáveis para perceber um período da história portuguesa”.

“Nós vemos aqui, de facto, essa contestação silenciosa de Fátima ser um abrigo para estas angústias da humanidade nesta época”, diz o historiador.

Havia a perceção de “que o regime sentiria, por um lado, algum desconforto, no sentido em que há aqui um palco onde vemos soldados a rastejar na passadeira dos penitentes com as suas fardas, portanto, uma paisagem humana muito difícil de perceber, que não é uma paisagem humana que apareça nos jornais de forma muito clara, mas, ao mesmo tempo, olhava para Fátima como lugar [onde] ‘eles vão fazer as suas orações’, quase que não é nada político”.

Mas, argumenta, “há aqui uma dimensão que não é apenas religiosa, é fundamentalmente também política”.

E sendo política, como era o controlo feito pela polícia do regime em Fátima?

“Não temos evidência desse tipo de controlo”, o que pode ser explicado pela sensação de que, “para a PIDE, não pareceria óbvio que em Fátima acontecesse algo que contrariasse a voz do regime”, acrescenta.

Período da revolução em Fátima ainda é lugar de inquietações

O diretor do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima considera que o período da revolução de 1974 na Cova da Iria “continua ainda a ser um ‘lugar’ de muitas inquietações”.

“O 25 de Abril de 1974 é um tempo que está ainda por estudar e que, a partir das fontes ligadas à Igreja, continua ainda a ser um lugar de muitas inquietações”, diz em entrevista à agência Lusa Marco Daniel Duarte, acrescentando: “sabemos que a Conferência Episcopal estava reunida em Fátima. E não sabemos exatamente o que se passou naquela reunião. Esses arquivos têm de ser explorados nesse sentido”.

O que se sabe é que em maio seguinte houve a tradicional peregrinação de dia 13, desta vez presidida pelo cardeal António Ribeiro, patriarca de Lisboa, e verifica-se que “não tem uma diminuição de fiéis, a esplanada está cheia”.

Na homilia, António Ribeiro “vai aproveitar o grande tema que a Igreja estava a trabalhar do ponto de vista universal, que é o Ano Santo, que tinha palavras-chave como Redenção, Reparação, Reconstrução”, recorda Marco Daniel, para explicar que o patriarca “vai aproveitar essas palavras e usá-las no contexto político que se está a viver”.

“Podemos quase dizer que é a primeira grande intervenção dirigida à massa dos fiéis para mostrar que a Igreja estava disponível para, a partir de uma renovação dos espíritos, construir e ajudar a construir um mundo novo. Expressões como mundo novo, liberdade, consciência, reconstrução, mas também responsabilidade, aparecem nessa homilia”, sublinha o historiador.

Sobre o ambiente vivido por esses tempos em Fátima, Marco Daniel Duarte afirma que, “ao olhar para trás, percebe-se que há uma serenidade muito grande do ponto de vista do santuário e dos seus decisores, ao mesmo tempo que essa serenidade não deixa de estar eivada de preocupação”.

“Sendo Fátima um ícone religioso por excelência, estando nessa tradição de leitura conotada com o Estado Novo, sentir-se-ia em Fátima essa necessidade de estar atento às movimentações do novo regime que se estava a tentar encontrar”, explica.

Após o 25 de abri 1974 e até ao ano de 1975, “são meses com preocupações relativamente à forma como a Igreja seria tratada do ponto de vista do novo regime democrático e, dentro da Igreja, obviamente o fenómeno Fátima como um fenómeno importantíssimo”, lembra.

Ao mesmo tempo, pelo que “está escrito – porque, na verdade, muitas das decisões não ficaram escritas e não as há documentadas nos arquivos — [o que se assiste] é, de facto, [a] uma grande serenidade, uma presença muito clara, sem temor, ainda que com receio de que algo pudesse acontecer, mas sem temor para dialogar e enfrentar a adversidade”.

Apesar disso, foi possível vislumbrar que a Voz da Fátima — órgão oficial do Santuário, através da palavra do seu reitor monsenhor Luciano Guerra, “vai ter muitos pontos de ligação às preocupações humanitárias que decorrem do 25 de Abril, nomeadamente (…) sobre a descolonização e sobre a forma como os irmãos – ele chama-lhes assim – que vêm das colónias devem ser recebidos por aqueles que estão na chamada antiga metrópole, como que a dar uma nota muito clara sobre o comportamento” que os católicos dessa época devem ter.

“E ele não tinha de falar senão e apenas sobre Fátima, mas ele toma esse assunto, que é um assunto nacional, um assunto muito difícil, a questão dos retornados, e a partir da sua palavra encoraja a que essas pessoas sejam enquadradas de forma feliz na sociedade que se está a reerguer”, aponta Marco Daniel, que sublinha a consolidação que Fátima assumiu no panorama nacional e internacional após o 25 de Abril.

“Fátima, de facto, não é subserviente do Estado Novo, nem está colada ao Estado Novo. E a prova máxima disso é que o seu desenvolvimento não é apenas durante o Estado Novo. Esse desenvolvimento não está relacionado com o Estado Novo, mas está relacionado com a política religiosa do mundo contemporâneo, sobretudo a partir do pontificado de Pio XII. É uma questão religiosa já de escala universal”, afirma o diretor do Departamento de Estudos do Santuário.

É a partir do 25 de Abril, “se quisermos marcar aqui uma barreira política, que Fátima se desenvolve ainda mais, no pontificado de João Paulo II e em todos os pontificados seguintes. Portanto, de forma muito evidente, Fátima tem dentro de si um motor que não é um motor que dependa da política nacional”.

E, no horizonte, vislumbra uma Fátima viva dentro de outros 50 anos, pois “o fenómeno Fátima é um fenómeno que interessa à Humanidade, porquanto tem na sua génese uma temática que nunca estará vencida, que é a temática da Paz”.

O pós-revolução na linguagem própria da Voz da Fátima

O leitor mais desprevenido que, em 1974, tentasse obter informações sobre o 25 de Abril e as suas repercussões na Igreja, em particular no Santuário de Fátima, através do órgão oficial da instituição, encontrava algumas dificuldades.

Nas páginas da Voz da Fátima, mensário oficial do Santuário, a linguagem usada nos meses pós-revolução é difusa sobre a ação militar que levou à queda do regime, com poucas explicações e mensagens pouco explícitas.

O diretor do Departamento de Estudos do Santuário, Marco Daniel Duarte, em entrevista à agência Lusa assume que “essa é a linguagem típica da imprensa católica da época”.

“Há quase como que um desviar do próprio nomear do acontecimento do 25 de Abril. É, de facto, sempre dito ‘os acontecimentos recentes’, ‘os acontecimentos que assolaram o país’, ‘os acontecimentos que estamos a viver’. E isso diz respeito a uma posição defensiva da Igreja perante os cenários que estavam a ser desenhados”, afirma.

Com efeito, no número de 13 de maio de 1974, na página 2 é publicada apenas uma pequena breve sobre a reunião da Conferência Episcopal que decorria em Fátima no dia 25 de abril, mas sem qualquer referência à revolução.

No número seguinte, de junho, é publicada a homilia que o cardeal António Ribeiro proferira na peregrinação de maio.

“Somos Igreja. Por isso, em nós deve transparecer o rosto sereno e firme, alegre e confiante, humilde e penitente, de quem caminha na história dos homens e com eles partilha, bem de dentro, as esperanças e as angústias, as alegrias e as penas, as certezas e as interrogações da hora atual”, afirmou o patriarca de Lisboa perante milhares de peregrinos.

“Renovar os homens e as instituições, sem atropelo ao direito e na observância da fraternidade humana e cristã é tarefa a que todos somos convocados no momento atual. Uma sociedade nova precisa de homens novos. E as instituições, ainda que alteradas na forma, só deixarão de ser velhas quando forem servidas e constituídas por homens renovados. E ninguém pense já ter atingido a meta da renovação”, avisava então o sucessor de Manuel Cerejeira à frente do Patriarcado de Lisboa.

De seguida, e sempre sem se referir explicitamente ao 25 de Abril, António Ribeiro preconizava que “a nova ordem social terá de assentar na verdade e na justiça, na liberdade e no amor e na paz. São estes, por certo, os valores que presentemente se anunciam e, diante de tal anúncio, nenhum cristão deixará de se alegrar. Com todos os homens de boa vontade, os cristãos são pregoeiros e artífices de um mundo novo, sempre voltado para o futuro, onde a mentira seja abolida, onde a injustiça não tenha foros de cidadania, onde a reta liberdade de todos possa ser respeitada e vivida, onde o ódio desapareça e a guerra dê lugar à paz e à concórdia fraterna”.

Em agosto desse ano, a Voz da Fátima começou a publicar — num processo que durou meses — a Carta Pastoral do episcopado “sobre o contributo dos cristãos para a vida social e política”.

Quem fosse lendo apenas este mensário, ficaria na dúvida sobre as razões da publicação do documento que pretendia “ser uma ajuda à leitura cristã dos últimos acontecimentos da vida portuguesa”.

Em setembro, um tema polémico era tratado na última página da Voz da Fátima, que dava conta de “uma grande campanha para a liberalização do divórcio em Portugal”.

“Não é de agora. Vinda da Primeira República, um tanto abafada durante o regime de Salazar, começou a tomar vulto por volta de 1965, com a fundação do Movimento Pró-Divórcio. Mas foi a partir do 25 de Abril, favorecida pelo atual clima reivindicativo e libertário, que a campanha assumiu proporções que não deixarão de impressionar a opinião pública e as próprias autoridades civis e religiosas”, lia-se no jornal do Santuário.

O título era um alerta: “Para os católicos sinceros o divórcio não traz solução”.

No número de outubro, eram reproduzidas as palavras do Papa Paulo VI durante a cerimónia de entrega de credenciais do embaixador de Portugal junto da Santa Sé, Calvet de Magalhães. O pontífice abordava, entre outras, a questão do Ultramar.

“Seguimos, com vivo interesse, as iniciativas referentes aos territórios do Ultramar”, desejando que se “possam garantir em tais regiões seguras condições de justiça, de paz e de progresso”, desejava o Papa.

Um mês depois, era dada nota da necessidade de se evitar “o aproveitamento abusivo de Fátima como arma anticomunista, aproveitamento que poderia desvirtuar a Mensagem da Fátima (segundo a qual a conversão da Rússia está dependente da nossa própria conversão)”, ao mesmo tempo que se considerava ser uma “traição a Fátima calar-se o pedido de Nossa Senhora em favor da conversão da Rússia, como se o mesmo não fosse lugar central da Mensagem, e as intenções sociais dos regimes políticos pudessem fazer esquecer o seu ateísmo militante”.

E o ano de 1974 terminou na Voz da Fátima com a manchete “Será Fátima anticomunista?”.

“No clima de liberdade política introduzida pelo 25 de Abril, tem vindo à tona, com bastante frequência, o problema das relações de Fátima com o comunismo. (Diga-se, aliás, entre parêntese, que Fátima tem sido, nestes últimos meses, alvo predileto de uma série de pessoas e instituições que chegam a dar-nos a impressão de que, já desde muito antes do 25 de Abril, tinham as suas armas aperradas e a mão no gatilho, à espera duma primeira ocasião para dispararem contra Fátima – e não só pelas suas relações com o comunismo! Sem paixão, convém que pensemos no assunto, mas a longo prazo)”, escrevia o reitor do Santuário, monsenhor Luciano Guerra.

https://observador.pt/2024/03/24/a-relacao-de-fatima-com-o-estado-novo-exige-uma-investigacao-que-ainda-nao-esta-totalmente-feita/ 

terça-feira, 19 de março de 2024

Carlos Coutinho - Dá que pensar



* Carlos Coutinho

2024 03   PASSOU há dias pela Gulbenkian, em Lisboa, o corajoso historiador David Eltis que veio apresentar-nos o seu livro estarrecedor “Atlas do Comércio Transatlântico de Escravos”, o que prova que já há norte-americanos que não ignoram nem ocultam parte alguma do comportamento humano. 

   Escrito em coautoria com outro norte-americano, o historiador David Brion Davis, recentemente falecido, este livro revela números que dão para pôr um morto aos saltos na cova. 

   Nos 366 anos do tráfico legalmente admitido, ou seja, entre 1501 e 1867, atravessaram o Atlântico nada menos que 12 500 milhões de escravos, num dos “maiores crimes contra a Humanidade”. 

    Chegaram ao continente americano apenas uns 11 700 milhões, porque foram despejados para a água, por terem falecido durante a agrilhoada viagem, mais de 800 mil africanos, mercadoria maioritariamente transacionada no Golfo da Guiné por negreiros portugueses e espanhóis.

   Estive há anos num entreposto cabo-verdiano que foi assaltado algumas vezes por Sir Francis Drake e por outros corsários legalizados, franceses e holandeses. Trata-se de um espaço agora monumentalizado que fica na Cidade Velha, Ilha de Santiago. 

   Esse comércio hediondo, que também teve práticas generalizadas, embora muito menos lucrativas, em quase todo o resto do mundo,  rendeu tanto à coroa imperial ibérica que o rei Felipe II de Espanha e I de Portugal pôde importar da Itália cargas e cargas do branquíssimo mármore de Carrara para construir, ao lado do hipermercado de negríssimos escravos, uma basílica espaventosa que agora está em ruinas, mas ainda recebe sem qualquer relutância os turistas estrangeiros, mostrando-lhes até os muitos lagartos e relas que se refugiam na sombra escassa que há entre os arbustos. 

   Na presente versão portuguesa, este atlas macabro, com tradução de Helder Gregués e chancela da Universidade de Lisboa, estão 189 mapas criados a partir de mais de 30 mil viagens de navios negreiros onde Portugal surge como um dos grandes protagonistas do crime, ao lado da Espanha e, mais tarde, também da Grã-Bretanha, da Holanda e da França, etc., todos “ligados â geografia”, ou seja, “à mistura e colisão de povos, culturas e imperativos económicos pela ganância, império, correntes oceânicas e desejo de converter os corpos  dos humanos em culturas comerciais”.

   Convenhamos que esta é uma forma um pouco arrevesada de trazer à baila o assunto, mas salta à vista que não lhe falta a razão.

   É pena faltar o ponto que localizaria Cabo Verde neste mapa, o sítio em que está escrito 1560 - 1866

segunda-feira, 11 de março de 2024

O desprezível governo PS ou as acrobacias do Costa

quarta-feira, 8 de julho de 2020


Foto de Garry Winogrand (1928-1984)

Como é do conhecimento comum, o PS é catapultado para o governo quando a direita tout court já não consegue governar e/ou quando é necessário aplicar medidas, geralmente medidas de fundo, de carácter estrutural e inevitavelmente impopulares, devido a sua ainda maior base social de apoio; em 2015, tratava-se também da própria sobrevivência do PS, cujo espectro de desaparecimento a breve prazo era anunciado pelo afundamento dos congéneres europeus. Foi graças ao apoio dos dois partidos ditos de “esquerda”, BE e PCP/PEV, que o PS formou governo, ganhou umas eleições legislativa e se mantém ainda no poder, para legislar a favor de Bruxelas e da burguesia nacional.

A recente aprovação do Orçamento Suplementar, com a abstenção activa do PSD, relembrando que o Bloco Central não morreu, apenas se mantém adormecido, assim como do BE e do PAN, mostra que o prazo de validade do governo e do próprio PS ainda não chegou ao fim. Mostra, por outro lado, que o voto contra do PCP não passa de uma habilidade para manter o seu eleitorado, enquanto por detrás do pano mantém o diálogo, ou seja, a colaboração e o apoio activo à política do PS. Ao mesmo tempo, os partidos da ultra-direita marcam o ponto “anti-sistema”, quanto muito anti-regime democracia burguesa, porque este Orçamento, como todos os outros, dá com as duas mãos aos patrões o que rouba com a mão esquerda aos trabalhadores; aqueles poderão ter achado que o bolo que lhes calha é ainda insuficiente, como verberou o chefe da CIP.

Costa, depois de se manifestar satisfeito com o resultado da votação, tem a desfaçatez, como já nos habituou, de afirmar que “este não é um momento para a austeridade”, como o aumento de mais de 100 mil desempregados, em menos de um ano e segundo números oficiais, ou os 1 milhão e 400 mil trabalhadores a receber dois terços do salário durante 4 meses, não seja já por si uma austeridade, e bem grande. O PS, no governo, teve a habilidade de manter a austeridade em banho-maria sem nunca ter acabado com ela, e por uma simples razão, é que não há outra solução para vencer a crise do capitalismo senão apertar a tarracha da exploração; a habilidade consistiu em manter a paz social enquanto as coisas corriam bem, senão seria a revolta de quem trabalha. Agora, com o agudizar da crise, o PS mostra o que sempre defendeu: o grande capital e, em particular, os bancos.

A forma que o governo PS-marca-Costa encontrou para resolver os problemas da TAP e da Efacec, um pouco à semelhança da que foi arranjada para o Novo Banco, mostra mais uma vez, e de forma indisfarçável, que a sua missão é encontrar meios de o capital nunca deixar de se rentabilizar, isto é, sejam sempre garantidos os lucros dos patrões. Na TAP, o Estado entra com os 1200 milhões de euros, com o despedimento de trabalhadores cujo número irá ultrapassar os 3 mil, contando com os que já foram dispensados pelo lay-off, aliás, o que tem sido uma prática habitual neste tipo de reestruturação das empresas; na Efacec, o Estado nacionaliza a parte pertencente a uma empresária cleptocrata (seria um escândalo se o não fizesse) para depois a entregar a outros capitalistas, não importando se são nacionais ou estrangeiros, desde que entrem com o dinheiro e entreguem discretamente a devida comissão a quem por parte do governo intermediou o negócio. Sérgios Monteiros há muitos! 

Tem sido sempre assim, seja em governos PSD ou em governos PS, privatização=corrupção.

O caminho correcto, de um ponto de vista dos interesses dos trabalhadores, dos das empresas em causa e do povo trabalhador português em geral, seria o da nacionalização, sem indemnização, porque os lucros arrecadados pelos accionistas privados para além de ilegítimos já foram mais que suficientes, e sob inteiro controlo dos trabalhadores. Quanto à transportadora aérea nacional, tudo se prepara para ser entregue, mais dia menos dia, à alemã Lufthansa, depois de ser limpa das rotas que dão prejuízo, incluindo as que têm início no Porto, o que tem arreliado a cacicagem do Norte que gostaria andar de avião à custa do Orçamento do Estado, e de outros custos considerados supérfluos, nomeadamente os referentes aos salários dos trabalhadores. Será tempo do governo considerar que o futuro está no transporte ferroviário, que será o transporte por excelência por toda a Eurásia, de mercadorias e de passageiros, por mais económico, seguro e menos poluidor. É tempo de se apostar numa rede ferroviária eficiente e de qualidade, quer interna, inter-regional e suburbana, quer externa, com ligação à Europa e de bitola europeia, para acabar com o constrangimento da bitola espanhola, e fazer com que a economia nacional deixe de ser um prolongamento da economia espanhola (foi interessante ouvir o Costa falar portunhol em Elvas enquanto o seu homólogo falava em castelhano).

O caminho de ferro é fundamental para o desenvolvimento económico de um país e em Portugal nos últimos trinta anos não se fez outra coisa senão destruir as linhas existentes, acabar com as composições, deixou de se investir na manutenção do que existia e muito menos na inovação e na modernização, o aumento dos casos de infectados pelo coronavírus, o aparecimento de novos surtos em Lisboa, é a expressão da falta de qualidade dos nossos transportes ferroviários, e também rodoviários. Estes últimos foram entregues a privados, nacionais e estrangeiros, permitindo o surgimento de novos ricos, como é o caso Humberto Pedrosa (Grupo Barraqueiro/Fertagus), cuja fortuna pessoal começou no tempo do cavaquismo e nunca deixou de aumentar à custa do Estado e durante os governos do PS; foi no governo de PS/Guterres que lhe foi entregue a concessão da exploração do Eixo Ferroviário Norte-Sul da Região de Lisboa por 30 anos. É nesta lógica que temos de ver a solução para a TAP e a contínua degradação do transporte ferroviário.

Ouvir dizer ao ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, que a solução encontrada para a TAP foi a melhor para o país ou que os transportes públicos não são uma das origens do aumento da propagação da covid-19 é ouvir um mentiroso, tal como a ministra da Saúde, que não passa de uma chica-esperta e incompetente e cuja continuação no cargo é já posta em causa pelo dirigente do PS e presidente da Câmara de Lisboa, que vê a coisa mal parada quanto ao turismo neste Verão; e que há muito aqui temos reivindicado a sua demissão, bem como da incompetente Graças Freitas. Mas, diga-se em abono da verdade, ouvir aquelas duas araras a debitar mentiras e atoardas não difere muito de ouvir um primeiro-ministro, em programa humorístico, conduzido pelo novel bobo da corte oficial, afirmar que os antibióticos curam viroses. Aliás, ouvir isto ou ouvir um Trump que a covid-19 se pode tratar com injecções de lixívia não haverá grande diferença, estamos perante duas pessoas ignorantes e muito pouco humildes.

Esta gente não consegue esconder a sua verdadeira natureza, pessoas arrogantes que desprezam o povo, e por vezes, quando se distraem e baixam a guarda, mostram o que na realidade são e o que as faz mover, como diz o povo, a boca foge-lhes para a verdade. Foi revoltante ouvir a uma directora geral da saúde, na habitual homilia diária, tratar os assistentes operacionais, profissionais de saúde insubstituíveis e sem os quais o SNS simplesmente pararia, por “AO's”; o mesmo desprezo, a mesma insanidade, se assistiu quanto às recomendações para a noite de S. João depois de esta ter já passado. Os assistentes operacionais na saúde não são doutores, não têm protagonismo político, são tratados como gente de segunda, exactamente como os trabalhadores que são obrigados todos os dias a utilizar transportes públicos sobrelotados para irem trabalhar em fábricas e empresas, sem condições mínimas de higiene e sem dispor do mais elementar equipamento de protecção. Assim se percebe que os últimos focos da pandemia ocorram em empresas ou nos próprios serviços da administração pública: Sonae/Continente, Pingo Doce, DHL, conserveira Gencoal, S.A em Vila do Conde, Câmara Municipal Lisboa. Só para citar os últimos casos em empresas, porque em lares da terceira idade, a saga do coronavírus continua, espalhando-se agora pelas creches, ou seja, em áreas de protecção social que foram entregues aos privados, cujo móbil é o lucro, pelo Estado/governos que se demitiu das suas responsabilidades e entendeu malbaratar o dinheiro do contribuinte.

Caso curioso, nem as empresas onde ocorreram os surtos foram fechadas pelas autoridades e nem a concentração de convidados na embaixada dos EUA em Lisboa, para comemorar o dia da independência, foi impedida de se realizar pela PSP, apesar de esta estar presente, ao contrário de outras concentrações em festas por parte de pessoas do povo; nem ninguém foi preso, como aconteceu com um elemento do povo em Casal de Cambra, no concelho de Sintra, tendo estado preso durante dois meses por alegadamente ter apedrejado a polícia. E com a agravante é que para a festa dos americanos foram convidados políticos, que tiveram a protecção da PSP; pelos vistos, aqui já não há perigo de contaminação. Ou como vivemos num país com dois pesos e duas medidas e como a repressão é somente para ser exercida sobre os trabalhadores. Patrões, capitalistas, agentes do imperialismo, políticos vendidos, polícias corruptos (“Forças de segurança lideram suspeitas de corrupção na administração central”, título dos jornais) são imunes ao vírus, impunes perante a justiça e livres da repressão do Estado.

O Costa é um habilidoso, gosta de acrobacias no circo, dá ao povo pouco pão e muito circo, mantém-se no poder porque conta com a colaboração de todos os partidos com o traseiro acomodado nos cadeirões de S. Bento, tem todos os órgãos de comunicação ao seu serviço, mas não conseguirá levar a mentira e a prestidigitação por tempo indefinido, tudo tem um fim. E quando os trabalhadores se encontrarem numa situação sem saída à vista, o que forçosamente acontecerá com o agravamento da crise a breve trecho (PIB a encolher mais de 7% no final do ano, desemprego a disparar para o dobro em relação a 2019,dívida pública a ultrapassar os 135% do PIB), irão abrir os olhos, tomar consciência e seguir o caminho da emancipação. A velha toupeira é incansável no seu trabalho e, enquanto isso, sair do euro e da União Europeia não é apenas uma simples reivindicação, é uma necessidade para evitar o desastre e o suicídio colectivo.

Postado por O BÁRBARO às 14:22 
https://cronicasdobarbaro.blogspot.com/2020/07/o-desprezivel-governo-ps-ou-as.html

Banqueiros, governo psd/cds e fascismo



 
quarta-feira, 5 de julho de 2023


Quando dava o fanico a Cavaco, o BES já em falência e o governo aumentava a austeridade e a repressão, se previa o desaparecimento do CDS, a vitória do PSD sem maioria e a possibilidade do PS ir para o governo e mais tarde a necessidade de maioria absoluta. Estávamos em 2014

Banqueiros e governo almejam o fascismo

Foi o presidente do BPI, como tem sido habitual em situações semelhantes, um dos primeiros a vituperar a decisão dos juízes do Tribunal Constitucional em chumbar as normas ilegais da Lei do Orçamento de Estado que levaram aos cortes dos salários dos trabalhadores da função pública, utilizando argumentos falaciosos, em sentido análogo ao dos governantes e dirigentes do psd, querendo justificar os interesses da classe dos banqueiros a todo o custo. Custo da política de austeridade que continua e irá redobrar no horizonte mais próximo, certo e sabido até 2019 (é o incontornável governador do Banco de Portugal que o afirma, mais uma vez bota palavra), e assacado ao povo português.

Conta que irá agravar-se, nem que seja por razões “nacionais”, por exemplo, o banco do regime, o também inconfundível BES, desvenda mais um pouco o buraco em que se encontra: o BES Angola apresenta um rombo de 5,7 mil milhões de dólares, resultante de empréstimos concedidos a altas figuras do regime corrupto daquele país, mas que a gerência diz não saber bem onde foi parar o dinheiro, numa demonstração clara de impunidade e de confiança de quem alguém (o povo português e possivelmente o povo angolano) irá pagar o desfalque.

O fascismo é o governo exercido pelos banqueiros

Nunca se tinha visto banqueiros e governadores do BdP, para além dos habituais economistas, ex-ministros e outros comentadores/paineleiros, a botar faladura com tanta frequência e prosápia sobre política e, principalmente, sobre as contrariedades governativas. Os argumentos são mais que falaciosos, são demagógicos, mentirosos, deliberadamente confusos e enganadores para a opinião pública.

Argumentar que o TC está a imiscuir-se na actividade legislativa e que “assuntos económicos” não são da sua competência, e vão para além da questão jurídica, é dizer, através de uma fraseologia pretensamente técnica, que vale tudo, que o Parlamento, nas mãos do executivo, pode decidir a bel-prazer, ou seja, se pode governar em ditadura, desta vez sem fechar o Parlamento como já aconteceu em outros períodos de profunda crise política da história do povo português, estamos lembrados da ditadura de João Franco, em véspera do regicídio e do imediato fenecimento da monarquia.

Não há dúvidas de que os banqueiros controlam abertamente o governo, sem intermediários e disfarces, só falta serem eles os ministros, como acontece na actual fascista Ucrânia em que os principias governantes, desde o Presidente da República recentemente eleito em eleições fantoches aos governadores das regiões, são os indivíduos mais ricos do país, enriquecidos, diga-se de passagem, pelo saque das empresas públicas que foram “vendidas” dez vezes mais baixo que o seu real valor.

E se há partidos e gente que faz o frete não será somente por serem corruptos e de estarem à espera de boa recompensa em lugares de conforto nos conselhos de administração dos bancos e de outras empresas que enriqueceram à custa dos negócios com o estado, mas porque a nossa burguesia e os partidos que a servem fizeram profissão de fé aliarem-se ao grande capital financeiro europeu, com o alemão em posição dominante, com o duplo objectivo de sobreviverem e de sobre-explorarem os trabalhadores e o povo português.

Os fanicos do senhor Silva




Enquanto o povo caminha a passos largos para a miséria e o país para bancarrota, sendo indisfarçável a necessidade de um segundo resgate e daí o preparar da opinião pública para tal, ao PR senhor Silva dá-lhe o fanico em situação de contestação pública e em dia de comemoração da “raça”, e ao PS, o “principal partido da oposição”, dá-lhe a guerra intestina pela disputa do pote e para salvação do regime e dos banqueiros e capitalismo nacionais.

O fanico do senhor Silva, ao que consta é o terceiro (e não o segundo, o primeiro foi quando os estudantes uma vez irromperam pelo gabinete quando era professor) desde que se meteu na política, vale pelo simbolismo, ele é também a falência do governo psd-cds e do próprio regime de democracia de opereta. Os espasmos vagais são resultantes não de uma hipotética doença de Alzheimer, como alguém quer fazer crer, mas próprios de personalidades histriónicas que não admitem a contrariedade nem a frustração, são expressão de um mau carácter, de quem deseja e prepara o fascismo; que bem pode vir pela mão de um ps, com ou sem o Costa.

Porque a revolta do povo a isso obrigará, fazendo com que a burguesia adopte formas de governo mais musculadas que, por sua vez, irão precipitar e provar sem margem para dúvidas que a única alternativa que os trabalhadores têm para a saída da crise do capitalismo é o socialismo.

Enquanto se adensam no horizonte próximo as nuvens da austeridade levada a expoente máximo, o tal de “principal partido da oposição” desintegra-se em disputas internas em vez de envidar todos os esforços e recursos para o derrube do governo fascista psd/cds. Contudo a verdadeira natureza das pretensas divergências internas torna-se clara e evidente: não se pretende um ps com uma direcção forte para fazer inverter a 180 graus a política defendida e aplicada pelo psd/cds, mas para impor a mesma política em grau redobrado.

O PS como tábua de salvação do capitalismo

Não será um ps sem maioria absoluta, e com a impossibilidade de se aliar mais uma vez com o cds, que irá ser reduzido à sua expressão mais simples em termos eleitorais, que conseguirá colocar em prática as medidas económicas que mantenham ou venham mesmo aumentar a exploração do povo português para salvação do capitalismo nacional e para benefício dos lucros e da concentração do grande capital financeiro europeu e internacional (norte-americano, mais precisamente, via FMI).

O partido que foi fundado pelos herdeiros da I República e com os marcos da social-democracia alemã será ainda o único capaz de trazer de novo o apoio da dita “classe média” causticada pela política de austeridade do governo ainda em funções a uma política de pretensa “salvação nacional”, mas para tal precisará de maioria absoluta. O resultado das eleições europeias revelaram que não só o ps não consegue formar governo sozinho, como o cds irá desaparecer do mapa, como o psd também pode ganhar as eleições mas também sem maioria e sem possibilidade de repetir a aliança com o actual parceiro, e que só duas saídas estarão disponíveis: ou a aliança de ps com psd, tão de agrado do senhor Silva e de alguns altos dirigentes do ps, ou ps terá de criar uma maioria que não sabemos como conseguirá atendendo a que o povo português, apesar de ser acusado frequentemente de amnésia, ainda está bem recordado do que foi o governo ps/engº Sócrates.

Caso o Costa de Lisboa alcance o poder dentro do partido e venha a ser o primeiro ministro de Portugal a seguir a 2015, e as eleições terão que ser realizadas na data prevista para que haja tempo para o assalto ao castelo, daí o ps nunca se ter empenhado em derrubar o governo, virá a revelar-se um “filho da puta” (estamos a falar em termos políticos, como é óbvio) muito parecido senão pior que o dito “engenheiro Sócrates”. Ele igualmente bom para ir buscar o fascismo, pese o rótulo de “democrata” colado pela extrema-esquerda, ansiosa de também aceder à gamela do orçamento e do aparelho da administração burguesa.

São mais que numerosos os sinais enviados pelo psd/cds e seus amos banqueiros para o regresso do fascismo em Portugal e em curto prazo de tempo. O senhor Silva não enviou a Lei do Orçamento para o Tribunal Constitucional porque os pareceres que lhe apresentaram não detectaram qualquer inconstitucionalidade e o senhor Coelho depois do chumbo do TC quer mudar os critérios de nomeação dos juízes daquela instituição apesar de dos 13 juízes 10 serem de nomeação partidária. É o oitavo chumbo do TC, os dirigentes dos psd e cds eriçam-se porque não podem cumprir a tarefa de transferência da riqueza do trabalho para o capital sem obstáculos, querem tomar as medidas que bem entendem, fazendo do Parlamento, o órgão por excelência e símbolo da democracia dos cravos, um simples ornamento.

O fascismo é sempre bem-amado pela elite

Querem o fascismo, a acumulação do capital não se compraz com democracias quando se tornam um estorvo, estas servem só na justa medida em que permitem uma mais fácil ilusão dos trabalhadores a fim de se deixaram explorar mais docilmente. Quando isto começa a deixar de resultar, então o mais prático e rápido é o fascismo; a Ucrânia é neste momento a melhor prova desta mudança de actuação do grande capital. E a exemplo do que se passa na União Europeia, onde os órgãos eleitos mais não passam de decoração de um regime autoritário onde tudo o que é essencial é decidido em órgãos não eleitos. Razão que justifica em grande medida a enorme abstenção nas eleições do passado dia 25 de Maio.

E a par da abstenção assistiu-se à subida dos partidos da extrema-direita e dos ditos eurocéticos, em geral, que, no dizer de certa esquerda nacional (resistir.info) até apresentou “propostas perfeitamente razoáveis, corajosas e até meritórias”, ou seja, o caminho a seguir será o da “saída do euro, defesa da indústria nacional, ruptura com a globalização e a independência”, tout court. 

Em suma, entre a extrema-direita e a esquerda que ainda se arvora oficialmente do comunismo, como é no caso presente, não há diferença de monta, depois não venham queixar-se da ascensão eleitoral dos partidos da extrema-direita e a quebra (ou inútil ténue subida) dos PC's ortodoxos de ex-tendência soviética, já para não falar do quase desaparecimento de BE's (o grego Syriza será a excepção, porque ocupando o lugar do Pasok). Esta gente, e não terá sido só o ps, meteu o socialismo na gaveta, e pior ainda, enfiaram o socialismo e o comunismo em cova bem funda, ficando-se pela social-democracia, o quer dizer, o aperfeiçoamento e regulação do capitalismo, de preferência, um capitalismo com cor nacional; que é onde conduzem as medidas avançadas por um FN da família le Pen.

O caminho é o socialismo/comunismo

Quando o capitalismo se encontra na sua fase última de vida, em estertor que, e apesar e por isso mesmo, pode ser demorado e doloroso para o mundo do trabalho, esta gente não aponta abertamente para uma solução socialista, porque presas aos medos e complexos da classe de onde provém a maioria dos dirigentes destes partidos, a classe média, melhor dizendo, a pequena-burguesia que tem mais medo do comunismo que do fascismo. Querem pôr a roda da história a andar para trás, depois não venham queixar-se do regresso do fascismo ou de soluções populistas, do género Marinho e Pinto, que a prazo conduzem ao mesmo.

O caminho é o do socialismo/comunismo e não das pretensas “democracias do século XXI” ou das “revoluções democratas e patrióticas” chinesas, como se a situação na Europa meridional e periférica (PIIGS) fosse ainda semelhante à que existia no mundo não industrializado da primeira metade do século passado. Neste mundo globalizado capitalista a alternativa é o socialismo/comunismo, não há etapas intermédias, estas servem para empatar e dar mais fôlego à burguesia e prolongar o capitalismo. Cada vez mais se sente a necessidade de uma alternativa socialista e revolucionária, ou seja, o comunismo.

15 Junho 2014

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Postado por O BÁRBARO às 14:53 
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