Carmen Montesino
Bom dia, Victor!
Em tempos de desânimo colectivo, é bom recordar...
Um abraço para si e outro para o Kant_O! E um pouco de Soeiro Pereira Gomes, que fiquei a amar desde os meus tempos de Ciclo Preparatório:
...Esteiros
"Para os filhos dos homens que nunca foram meninos, escrevi este livro."
Esteiros. Minúsculos canais, como dedos de mão espalmada, abertos na margem do Tejo. Dedos das mãos avaras dos telhais, que roubam nateiro às águas e vigores à malta. Mãos de lama que só o rio afaga.
Fecharam os telhais. Com os prenúncios de outono, as primeiras chuvas encheram de frémito o lodaçal negro dos esteiros, e o vento agreste abriu buracos nos trapos dos garotos, num arrepio de águas e de corpos. Também sobre os fornos e engenhos perpassou lufada desoladora, que não deixava o fumo erguer-se para o alto. Que indústria como aquela queria vento, é certo; mas sol também. -- Vento para enxugar e sol para calcinar -- sentenciavam os mestres. Mas o sol andava baixo: não calcinava o tijolo, nem as carnes juvenis da malta.
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1 comentário:
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