segunda-feira, 28 de julho de 2014

françoise sagan - bom dia tristeza

BONJOUR TRISTESSE

La villa est magnifique, l été brûlant, la Méditerranée toute proche. Cécile a dix-sept ans. Elle ne connaît de l amour que des baisers, rendez-vous, lassitudes. Pas pour longtemps. Son père, veuf, est un adepte joyeux des liaisons passagères et sans importance. Ils s amusent, ils n ont besoin de personne, ils sont heureux. La visite d une femme de coeur, intelligente et calme, vient troubler ce délicieux désordre. Comment écarter la menace? Dans la pinède embrasée, un jeu cruel se prépare. C était l été 1954. On entendait pour la première fois la voix sèche et rapide d un charmant petit monstre qui allait faire scandale. La deuxième moitié du XXe siècle commençait. Elle serait à l image de cette adolescente déchirée entre le remords et le culte du plaisir.


"A nitidez de minhas lembranças a partir daquele momento me assombra. Adquiria uma consciência mais atenta dos outros, de mim mesma. A espontaneidade e um egoísmo fácil sempre haviam sido para mim um luxo natural. Sempre havia vivido. Ora, eis que aqueles poucos dias me haviam perturbado o bastante para que fosse levada a refletir, a me encontrar vivendo. Passava por todos os horrores da introspecção sem, por isso, reconciliar-me comigo mesma."
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terça-feira, 22 de julho de 2014

Eugénio de Andrade - Requiem para Pier Paolo Pasolini


Eu pouco sei de ti mas este crime
torna a morte ainda mais insuportável.
Era novembro, devia fazer frio, mas tu
já nem o ar sentias, o próprio sexo
que sempre fora fonte agora apunhalado.
Um poeta, mesmo solar como tu, na terra
é pouca coisa; uma navalha, o rumor
de abril podem matá-lo - amanhece,
os primeiros autocarros já passaram,
as fábricas abrem os portões. os jornais
anunciam greves, repressão, dois mortos na primeira 
página, o sangue apodrece ou brilhará
ao sol, se o sol vier, no meio das ervas.
O assassino esse seguirá dia após dia
a insultar o amargo coração da vida,
no tribunal insinuará que respondera apenas
a uma agressão (moral) com outra agressão,
como se alguém ignorasse, excepto claro
os meritíssimos juízes, que as putas desta espécie
confundem moral com o próprio cu.
O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores
como móbil de um crime que os fascistas,
e não só os de Saló, não se importariam de assinar.
Seja qual for a razão. e muitas há
que o Capital a Igreja e a Polícia
de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,
Pier Paolo Pasolini está morto.
A farsa a nojenta farsa essa continua.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, 18 de julho de 2014

um poema de eduardo galeano



AqJá resta pouco da Palestina.
Pouco a pouco, Israel a está apagando do mapa.
Os colonos invadem e depois deles os soldados vão restabelecendo a fronteira.
As balas sacralizam a remoção, como legítima defesa.
Não existe guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva.
Hitler invadiu a Polónia para evitar que a Polónia invadisse a Alemanha.
Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo.
Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel engole outro pedaço da Palestina, e os almoços continuam.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Alberto Caeiro Vai alta no céu a lua da Primavera

Alberto Caeiro

 

Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.
Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.
6-7-1914

Frei António das Chagas - Ao Cavalo do Conde de Sabugal que fazia Grandes Curvetas

* Frei António das Chagas
Galhardo bruto, teu bizarro alento
Música é nova, com que aos olhos cantas,
Pois na harmonia de cadências tantas
É clave o freio, é solfa o movimento.


Ao compasso da rédea, ao instrumento
Do chão, que tocas, quando a vista encantas,
Já baixas grave, e agudo já levantas,
Onde o pisar é som, e o andar concento.

Cantam teus pés, e o teu meneio pronto,
Nas fugas, não, nas cláusulas medido,
Mil consonâncias forma m cada ponto.

Pois em falsas airosas suspendido,
Ergues em cada quebro um contraponto,
Fazes em cada passo um sustenido.

(in Antologia de Poetas Alentejanos)

domingo, 13 de julho de 2014

Maria Adelaide Coelho da Cunha

O escândalo por amor no séc. XX

"Doida não e não!" é o modo de Manuela Gonzaga fazer justiça a uma mulher que trocou o luxo pela paixão

Publicado em 2009-03-03

LILIANA CARVALHO LOPES

Está nas livrarias desde 20 de Fevereiro o sétimo livro de Manuela Gonzaga. "Doida não e não!" é a segunda biografia da escritora e será apresentado no dia 10, no Palácio de São Vicente de Fora, em Lisboa.

Maria Adelaide Coelho da Cunha, herdeira do fundador e co-proprietário do "Diário de Notícias", foi declarada louca e presa num manicómio pela sua ousadia. A 13 de Novembro de 1918, uma mulher rica, de 48 anos, troca a família e toda uma vida de riqueza e bem-estar pelo motorista, de 26, para viver o verdadeiro amor.

Desta vez, não foi a escritora que partiu em busca da história, porque ela caiu-lhe no colo, se assim se pode dizer. "Um dia fui fazer um artigo sobre o palácio de São Vicente e os actuais donos tinham feito pesquisa sobre os anteriores inquilinos e recolhido uma data de documentação. A senhora já tinha lido livros meus e como estava muito interessada na Maria Adelaide e achava que não lhe tinha sido feita justiça, disse que me facultava a documentação que tinha, se eu quisesse. Eu, que não estava nada interessada em fazer uma biografia, porque estou com saudades de romances, mas conhecia um pouco da história (já tinha lido dois livros da Maria Adelaide), não consegui recusar", contou a escritora, ao JN.

No entanto, o que muita gente não sabe é que, a novidade deste livro, é a revelação do que aconteceu depois da libertação do motorista, Manuel Claro. Depois de obter ajuda de Carlos Poiares, um amigo advogado "apaixonado por Maria Adelaide", e de ser contactada por leitores do artigo sobre o palácio, a escritora embarcou definitivamente na investigação. "Fui contactada por Elisa Seara Cardoso Peres, filha dos donos do extinto "Comércio do Porto", que me disse que gostou do artigo, mas que havia um hiato. Disse-me saber o resto da história e que tinha conhecido a Maria Adelaide. Aí, eu já estava completamente apanhada e fui encontrar-me com ela no Porto, onde fui apresentada a uma lenda da arqueologia, Manuela Delgado, que também conheceu a Maria Adelaide e a um sobrinho-bisneto do Manuel Claro", explicou.

A estas pessoas, juntaram-se ainda personalidades de renome do século XX (ver caixa).
O livro é a continuação da apaixonada e cuidada incursão pela História que a romancista, jornalista e investigadora tem vindo a desenvolver. Não sendo uma biografia pura e dura (inicia aos 48 anos), "há no desenrolar do livro alguma referência ao que foi a infância, porque esta mulher não chega aos 48 anos com esta liberdade se não tivesse uma educação privilegiada, os pais, a ligação aos jornais, as viagens que fez, a cultura que tinha", esclareceu.

Quanto a expectativas, a escritora não arrisca. "Não gosto de pensar nesses termos. Neste momento as minhas expectativas foram atingidas: consegui completar este livro e estou tranquila", rematou.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=1158498&page=-1

sábado, 5 de julho de 2014

Alberto Caeiro - Ah querem uma luz melhor que a do sol!

Alberto Caeiro

 

Ah querem uma luz melhor que a do sol!
Querem campos mais verdes que estes!
Querem flores mais belas que estas que vejo!
A mim este sol, estes campos, estas flores contentam-me.
Mas, se acaso me descontento,
O que quero é um sol mais sol que o sol,
O que quero é campos mais campos que estes prados,
O que quero é flores mais estas flores que estas flores —
Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira!
Aquela coisa que está ali estava mais ali que ali está!
Sim, choro às vezes o corpo perfeito que não existe.
Mas o corpo perfeito é o corpo mais corpo que pode haver,
E o resto são os sonhos dos homens,
A miopia de quem vê pouco,
E o desejo de estar sentado de quem não sabe estar de pé.
Todo o cristianismo é um sonho de cadeiras.
E como a alma é aquilo que não aparece,
A alma mais perfeita é aquela que não apareça nunca —
A alma que está feita com o corpo
O absoluto corpo das coisas,
A existência absolutamente real sem sombras nem erros
A coincidência exacta (e inteira) de uma coisa consigo mesma.
12-4-1919
“Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença,

1994.
  - 145.

http://arquivopessoa.net/