ABRILADA é nome por que foi registado na história de Portugal um terramoto político ocorrido no dia 30 de abril de 1824, mas que falhou. Essa revolta dos absolutistas tentou ressuscitar a Vilafrancada que também falhara no ano anterior. Felizmente.
A batuta estava na mão do infante D. Miguel, irmão de D. Pedro, o normal herdeiro do trono português e imperador do Brasil.
O terramoto inverso precisou de um século aparentemente inacabável para também acontecer e ninguém o tomou como uma segunda abrilada, precisamente pelo que nos trouxe esse luminoso levantamento político-militar que ainda hoje muito nos ajuda a viver pacificamente o desenvolvimento solidário e patriótico, que continua consagrado na Constituição da República, embora seja cada vez menos respeitado.
Se formos à História, vamos ver que a revolta miguelista foi derrotada, mas cavou os alicerces do viria a ser a fratricida e longa Guerra Civil Portuguesa (1828-1834). Descendo ao pormenor, reparamos que no dia 30 de Abril de 1824, o Infante D. Miguel, que havia sido nomeado generalíssimo do Exército Português, fez deter nos calabouços do Castelo de S. Jorge e da Torre de Belém importantes personalidades civis e militares do País...
Entre os encarcerados estavam o Intendente-geral da Polícia, barão de Rendufe, o duque de Palmela (então no governo em coligação com o conde de Subserra) e o o visconde de Santa Marta.
D. Miguel, que contava com o apoio de sua mãe, a gorducha Rainha Carlota Joaquina, considerava-os partidários do “nefando liberalismo” e de conspirarem contra o pai, D. João VI. Na chamada “Proclamação da Abrilada”, proferida nesta ocasião, D. Miguel diz que era sua intenção acabar com o que denominava de "pestilenta cáfila de pedreiros-livres", numa referência à Maçonaria, que além de liberal, era constitucional.
"Soldados! se o dia 27 de Maio de 1823 raiou sobremaneira maravilhoso, não será menos o de 30 de Abril de 1824; antes hum e outro irão tomar distincto lugar nas paginas da história Lusitana; naquelle deixei a Capital para derribar uma Facção desorganizadora, salvando o Throno, e o Excelso Rei, a Real Família, e a Nação inteira, dando mais hum exemplo de virtude á Sagrada Religião, que professamos, como verdadeiro sustentaculo da Realeza, e da Justiça; e neste farei triumfar a grande obra começada, dando-lhe segura estabilidade, esmagando de huma vez a pestilente cáfila dos Pedreiros Livres, que aleivosamente projectava alçar a mortifera fouce para àcabar, e de todo extinguir a Reinante Casa de Bragança.
"Soldados! foi para este fim que vos chamei ás armas, plenamente convencido da firmeza do vosso caracter, da vossa lealdade, e do decidido amor pela Causa do Rei.
Soldados! sejais dignos de Mim, que o Infante D. Miguel, Vosso Commandante em Chefe, o será de vós. Viva ElRrei Nosso Senhor, Viva a Religião Catholica Romana, Viva a Rainha Fidelíssima, Viva a Real Família, Viva o Briozo Exercito Portuguez, Viva a Nação, Morram os malvados Pedreiros Livres.
"Palacio da Bemposta 30 de Abril de 1824.
Infante C. em C”
Enviou, então, diversos corpos militares ao antigo Palácio dos Estaus (onde hoje está o Teatro Nacional D. Maria IIT, em Lisboa, aí instalando o seu quartel-general. Deu ordens ainda para que se impusesse cerco ao Palácio da Bemposta, onde estava o rei, acompanhado do seu conselheiro inglês, o general William Carr Beresford que o trazia pela trela, embora enojado com o aspeto físico monarca resultante da procriação endógena.
Para a resolução deste conflito parece ter sido determinante o apoio do corpo diplomático em Portugal, nomeadamente a ação do embaixador francês Hyde de Neuville. Numa tentativa de apaziguamento, este diplomata conseguiu entrar no palácio e convencer o rei a chamar o filho para uma conversa a a sério.
Alcançou-se, desse modo, um acordo que fez regressar as tropas aos quartéis, mas que mantinha os detidos encarcerados, com exceção do duque de Palmela, que se refugiou num navio inglês, prosseguindo assim a situação de instabilidade política e militar.
Em maio, os diplomatas ajudaram D. João VI a refugiar-se no navio britânico “HMS Windsor Castle”, onde tomou uma série de medidas: demitiu D. Miguel do seu cargo no Exército, ordenou a libertação dos presos políticos e a captura dos apoiantes do filho, que foi intimado a vir a bordo.
Assim retido, D. Miguel foi obrigado a embarcar com destino à França na fragata “Pérola”, acabando a sublevação dos absolutistas. O infante foi seguidamente deportado para Viena e D. Carlota Joaquina ficou internada no Palácio de Queluz com a devida assistência médica e religiosa.
Não sei se os seus aposentos finais foram convenientemente desinfetados, mas é de crer que sim, porque já passeei pelos jardins afrancesados do palácio e também assisti a concertos musicais inesquecíveis no salão dos embaixadores. E nada me aconteceu.
2025 04 02
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