sábado, 11 de junho de 2011

Maluda, Lisboa e a poesia

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Do álbum: 
Fotos do Mural por Carmen Montesino
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AS AMORAS

"O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande, o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país,
mas quando um amigo
me traz amoras bravas,
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul."

::: Eugénio de Andrade :::
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  • Victor Nogueira Eu publiquei aqui mas o comentário desapareceu. Mistérios do inFaceLock. Vale a pena republicá-lo? De qualquer modo, grato pela atenção e bom gosto, Carmen
    há 3 horas ·  ·  1 pessoa
  • (...)

  • Carmen Montesino Victor, vejo que não é apenas a mim que o face faz dessas : ) vale sempre a pena, como dizia o poeta!
    há 2 horas · 
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    (...)
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    Victor Nogueira 
    Tornou a desaparecer, Carmen. Assim tri-republicando republico - Reconheço o estilo e busco a assinatura: juntas assim 3 de meus “amores”: Maluda, Lisboa (“das muytas e desvairadas gentes e feiçoões elugares do mundo”, límpida, clara, luminosa, com um dos seus ícones, a Sé), e ao fundo o Mar da Palha - 

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    .Retribuo com dois “emaravilhamentos” meus, duas visões diferentes e aparentemente antagónicas: 

    há 58 minutos 
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    Lisboa - Eugénio de Andrade

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    Alguém diz com lentidão:
    "Lisboa, sabes..."
    Eu sei. É uma rapariga
    descalça e leve,
    ...um vento súbito e claro
    nos cabelos,
    algumas rugas finas
    a espreitar-lhe os olhos,
    a solidão aberta
    nos lábios e nos dedos,
    descendo degraus
    e degraus
    e degraus até ao rio.
    Eu sei. E tu, sabias?

    (Eugénio de Andrade)

    Calçada de Carriche

    Luísa sobe,
    sobe a calçada,
    sobe e não pode
    que vai cansada.
    Sobe, Luísa,
    Luísa sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Saiu de casa
    de madrugada;
    regressa a casa
    é já noite fechada.
    Na mão grosseira,
    de pele queimada,
    leva a lancheira
    desengonçada.
    Anda Luísa,
    Luísa sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Luísa é nova,
    desenxovalhada,
    tem perna gorda,
    bem torneada.
    Ferve-lhe o sangue
    de afogueada;
    saltam-lhe os peitos
    na caminhada.
    Anda Luísa,
    Luísa sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Passam magalas,
    rapaziada,
    palpam-lhe as coxas,
    não dá por nada.
    Anda Luísa,
    Luísa sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.
    Chegou a casa
    não disse nada.
    Pegou na filha,
    deu-lhe a mamada;
    bebeu da sopa
    numa golada;
    lavou a loiça,
    varreu a escada;
    deu jeito à casa
    desarranjada;
    coseu a roupa
    já remendada;
    despiu-se à pressa,
    desinteressada;
    caiu na cama
    de uma assentada;
    chegou o homem,
    viu-a deitada;
    serviu-se dela,
    não deu por nada.
    Anda Luísa,
    Luísa sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Na manhã débil,
    sem alvorada,
    salta da cama,
    desembestada;
    puxa da filha,
    dá-lhe a mamada;
    veste-se à pressa,
    desengonçada;
    anda, ciranda,
    desaustinada;
    range o soalho
    a cada passada;
    salta para a rua,
    corre açodada,
    galga o passeio,
    desce a calçada,
    chega à oficina
    à hora marcada,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga;
    toca a sineta
    na hora aprazada,
    corre à cantina,
    volta à toada,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga.
    Regressa a casa
    é já noite fechada.
    Luísa arqueja
    pela calçada.
    Anda Luísa,
    Luísa sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.
    Anda Luísa,
    Luísa sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada


    António Gedeão



    Lisboa

    Esta névoa sobre a cidade, o rio,
    as gaivotas doutros dias, barcos, gente
    apressada ou com o tempo todo para perder,
    esta névoa onde começa a luz de Lisboa,
    rosa e limão sobre o Tejo, esta luz de água,
    nada mais quero de degrau em degrau.

    Eugénio de Andrade





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