.
Do álbum:
Fotos do Mural por Carmen Montesino
Fotos do Mural por Carmen Montesino
.
AS AMORAS
"O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande, o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país,
mas quando um amigo
me traz amoras bravas,
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul."
"O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande, o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país,
mas quando um amigo
me traz amoras bravas,
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul."
::: Eugénio de Andrade :::
.
.
- Victor Nogueira Eu publiquei aqui mas o comentário desapareceu. Mistérios do inFaceLock. Vale a pena republicá-lo? De qualquer modo, grato pela atenção e bom gosto, Carmen
há 3 horas · · 1 pessoa
Carmen Montesino Victor, vejo que não é apenas a mim que o face faz dessas : ) vale sempre a pena, como dizia o poeta!
há 2 horas ·.(...).Victor Nogueira
Tornou a desaparecer, Carmen. Assim tri-republicando republico - Reconheço o estilo e busco a assinatura: juntas assim 3 de meus “amores”: Maluda, Lisboa (“das muytas e desvairadas gentes e feiçoões elugares do mundo”, límpida, clara, luminosa, com um dos seus ícones, a Sé), e ao fundo o Mar da Palha -
.
.Retribuo com dois “emaravilhamentos” meus, duas visões diferentes e aparentemente antagónicas:
António Gedeão - http://kantoximpi.blogspot.com/2006/10/calada-de-car riche-lusa-sobe-sobe.htm - Bjo :-)* há 58 minutos.
Lisboa - Eugénio de Andrade
.
Alguém diz com lentidão:
"Lisboa, sabes..."
Eu sei. É uma rapariga
descalça e leve,
...um vento súbito e claro
nos cabelos,
algumas rugas finas
a espreitar-lhe os olhos,
a solidão aberta
nos lábios e nos dedos,
descendo degraus
e degraus
e degraus até ao rio.
Eu sei. E tu, sabias?
(Eugénio de Andrade)
Calçada de Carriche
Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda Luísa,
Luísa sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada
António Gedeão
Lisboa
Esta névoa sobre a cidade, o rio,
as gaivotas doutros dias, barcos, gente
apressada ou com o tempo todo para perder,
esta névoa onde começa a luz de Lisboa,
rosa e limão sobre o Tejo, esta luz de água,
nada mais quero de degrau em degrau.
Eugénio de Andrade
Sem comentários:
Enviar um comentário