quarta-feira, 30 de março de 2011

Rainer Maria Rilke - Biografia e Bibliografia


RAINER MARIA RILKE
Rainer Maria Rilke (1875 - 1926) foi um escritor austríaco, nascido em Praga no dia 4 de dezembro, considerado um dos poetas modernos mais importantes e inovadores da literatura alemã, por seu estilo preciso, pelas imagens simbólicas e suas reflexões. Trabalhando com os limites sensoriais da existência, da melancolia, a sua poesia traduz o fundamento da busca de ser.
.
Poeta hermético e deslumbrante, filho da pobreza, os seus poemas traduzem a angústia de um ser inadaptado. Rainer Maria Rilke acumulava às suas circunstâncias vitais o fato de ser homossexual em uma sociedade especialmente repressiva. A solidão e a angústia o levaram a um profundo existencialismo e seu trabalho influenciou os escritores dos anos 50, tanto na Europa como na América do Norte.
"Versos não são o que as pessoas imaginam: simples sentimentos... Eles são experiências. Para a construção de um simples verso, é preciso ver muitas cidades, homens e coisas, é preciso conhecer os animais, é preciso perceber como os pássaros voam e conhecer o movimento que uma flor abre pela manhã"
In:---. Os cadernos de Malte Laurids Brigge
BIOGRAFIA

Filho de Josef Rilke e Sophie Entz, Rilke teve inúmeros traumas precoces em sua existência. Até os 5 anos de idade, "Phia", sua mãe, o vestia com roupas de menina, para compensar a perda de uma filha recém-nescida. Seus pais se separaram ele tinha nove anos. Mais tarde, um irmão (Hugo) suicidou-se. Para ulminar, o pai o enviou para a Academia Militar de St. Pölten e Mahrisch- Weisskirchenn, onde muito ele sofreu. Depois, foi matriculado na escola de negócios em Linz. Também trabalhou na firma de advocacia de seu tio.
.


A infância foi solitária e repleta de conflitos emocionais. Os estudos, em Literatura e História da Arte, foram realizados nas Universidades de Praga, Munique e Berlim. Suas primeiras obras publicadas foram poemas de amor, aos 19 anos, intitulados Vida e canções – LEBEN UND LIEDER (1894), usando o nome de René Rilke.
.
Em 1897, Rilke conheceu Lou Andréas-Salomé (1861 - 1937), uma mulher 15 anos mais velha e filha de um general russo, que passará a ter enorme influência sobre sua vida. É ela que o anima a assumir o compromisso estético e artístico. Inteligente e relacionada com as correntes do pensamento contemporâneo, Lou Andréas-Salomé também foi casada com o orientalista Friedrich Carl Andréas e fascinou intelectuais da envergadura de Schnitzler y Nietzsche. Nessa viagem pela Rússia estabelece amizade com Tolstoi.
.
Na mesma época, descobre o sucesso, com Romance do amor e morte do Alferes Cristobal Rilke, uma obra de caráter neo-romântico. Dois anos depois, viajaria a terras russas. Movido pela beleza da paisagem, tanto quanto pela dimensão espiritual das pessoas com quem manteve contato na Rússia, Rilke desenvolveu a crença de que Deus estaria presente em todas as coisas. Esses sentimentos encontraram expressão poética em Histórias do bom Deus (1900).
.
Depois de 1900, Rilke eliminaria de sua poesia o lirismo vago que, ao menos em parte, havia movido os simbolistas franceses e, em troca, adotou um estilo preciso e concreto, de que podem ser exemplos as obras O livro das imagens (1902; ampliado em 1906) e a série de versos O livro das horas (1905), que se constitui de três partes: O livro da vida monásticaO livro do peregrino e O livro da pobreza e da morte, este consolidou o seu nome como grande poeta, pela variedade e riqueza de metáforas e por suas reflexões quase místicas sobre as coisas. Essas obras são calcadas em sua fase de pobreza, assim comoIrmão e irmã.
.
Já em Paris, ele se enamora da pintora Paula Becker, mas, em 1901, casa-se com uma discípula de Rodin, Clara Westhaff. Eles tiveram uma filha, Ruth, porém o casamento durou apenas um ano. Pouco depois se separam, embora tenham sido amigos por toda a vida. Nessa época, Rilke conheceu Cézanne e o escultor Auguste Rodin, de quem foi secretário, de 1905 a 1906, e sobre quem escreveu um ensaio estético. Rodin ensinou o poeta a contemplar a obra de arte como uma atividade religiosa e a construir seus versos de forma consistente e completa como se esculturas. Os poemas desse período aparecem em Novos Poemas – NEUE GEDIGHTE (2 volumes, 1907-1908).
.
Até o início da Primeira Guerra Mundial, Rilke viveu em Paris, de onde realizou viagens pela Europa e pelo norte da África. De 1910 a 1912, passou a viver no castelo de Duino, perto de Trieste (Itália), e ali escreveu os poemas que compõem a obra A vida de Maria (1913), os quais o compositor alemão Paul Hindemith viria a musicar. É, também, dessa fase o início da construção deElegias de Duino (1912 - 1923), obra onde começa a se fazer sentir a influência do pensamento filosófico de Sören Kierkegaard. Em sua obra em prosa mais importante, Os cadernos de Malte Laurids Brigge – DIE AUFZECHNUNGEN DES MALTE LAURIDS BRIGGE (1910), história que começou a escrever em Roma (1904), empregou corrosivas imagens para transmitir as reações que a vida em Paris provoca em um jovem escritor – curiosamente, muito parecido com ele mesmo, notadamente calcadas no pensamento existencialista. Nessa obra, ele irá relatar experiências pessoais de um poeta dinamarquês expatriado em Paris e que revelam sua vida difícil.
.
Em 1913, Rilke voltou a Paris mas foi forçado a voltar para a Alemanha por conta da Primeira Guerra Mundial. O Castelo Duino foi bombardeado, arruinado e as propriedades de Rilke foram confiscadas na França. Ele serviu no Exército austríaco e encontrou Werner Reinhart, que era proprietário do Castelo Muzot, em Valais, onde passou a residir.
.
Durante quase toda a Primeira Guerra Mundial, Rilke residiu em Munique, e em 1919 mudou-se para Sierre (Suiça), onde se estabeleceu definitivamente, salvo quando nas viagens ocasionais a Paris e Veneza. Ali, ele completou as Elegias de Duino e ainda escreveu, na época, uma série de poemas, Vergers, além dos Sonetos a Orfeu (1923). Esse ciclo é considerado o mais importante de toda a obra. As "Elegias" apresentam a morte como uma transformação da vida em uma realidade interior que, junto com a vida, formam um todo unificado. A maioria dos sonetos canta a vida e a morte como uma experiência cósmica.
.
Rilke faleceu de leucemia, em 29 de dezembro de 1926, em Valmont (Suíça). A doença que o levou à morte foi contraída por conta do envenenamento causado por um espinho de rosa, que o feriu enquanto cuidava do jardim do castelo Muzot, na Suíça, onde viveu retirado nos últimos anos de sua vida. Na sua tumba, um epitáfio por ele mesmo escrito assim diz:
.


Rosa, oh contradição pura, prazer

Ser o sonho de nada debaixo de tantos

"párpados"?

Quinze dias após seu falecimento, o grande escritor Robert Musil disse a seu respeito, na homenagem que lhe foi prestada em Berlim: "Este grande poeta não fez outra coisa levar a poesia alemã, pela primeira vez, a sua consumação total."
.
Uma importante parte dos escritos de Rilke são suas cartas (para Marina Tsvetarva, Auguste Rodin, André Gide, H.v.Hofmannstahl, Boris Pasternak, Stefan Zweig, e outros), que forma publicadas postumamente.
Hora severa (Das Buch der Bilder)

Quem neste instante chora em algum lugar do mundo,
sem motivo chora no mundo,
me chora.
Quem neste instante ri em algum lugar na noite,
sem motivo ri na noite,
se ri de mim.
Quem neste instante caminha em algum lugar no mundo,
sem motivo caminha no mundo,
caminha até mim.
Quem neste instante morre em algum lugar no mundo,
sem motivo morre no mundo,
me observa.
LEIA MAIS
.
Alguns de seus poemas 

terça-feira, 29 de março de 2011

António Reis - Poeta e Cineasta, por Paulo Rocha



Terça-feira, Setembro 20, 2005

106. FALECIMENTO - Texto do cineasta Paulo Rocha

Uma figura luminosa

Quando voltei de Locarno, em 63, trazia já a ideia do «Mudar de Vida». Pedi ajuda ao Bragança para os diálogos, mas ele não sabia nada de pescadores, e mandou-me para o Cardoso Pires. O C. P. gostava de cinema, e estava no auge da fama: acabara de adaptar «As Ilhas Encantadas» do Melvile para a fita do Vilardebó. O C.P. também sabia pouco de gente do mar, e mandou-me para a minha terra, o Porto, falar com o António Reis. Pouco conhecido cá em baixo, o António era uma figura muito activa na cena portuense.
.
Fazia trabalhos de campo, estudava a poesia popular do Alentejo e as falas dos pescadores da costa norte. Tinha sido um dos autores da «Arquitectura Popular Portuguesa», um livro muito citado pelos arquitectos da escola do Porto. Era amigo do Lixa Filgueiras, a grande autoridade sobre arquitectura naval tradicional, e planeava fazer um filme sobre o barco rabelo do Douro. L. Filgueiras seria mais tarde um personagem inesquecível num dos seus filmes de fundo. Para o Cine Clube do Porto ajudara a rodar o «Auto de Floripes», e tinha sido assistente do M. de Oliveira para o «Auto da Primavera». Estava a preparar uma tese de doutoramento numa universidade suíça sobre questões de cultura popular.
.
E era sobretudo um grande poeta, de poucas palavras, que dizia o essencial através da experiência das coisas banais. Na cultura portuense de esquerda daquela época, o A. R. era uma figura luminosa. Humilde, humilhado, secreto, vegetava nos escritórios da Vista Alegre, em Gaia. Odiava a arrogância de um patrão marialva e acompanhava de perto o fluir da vida comum. À primeira vista parecia um operário. Morava num apartamento em Gaia com vista para o rio. As paredes estavam cobertas com bonecos de pano de todas as cores, feitos pelos loucos de um asilo. Os bonecos eram monstros de várias cabeças e muitas pernas, e anunciavam já os desenhos de Jaime. Naquelas janelas que davam para o nevoeiro do rio havia uma energia irracional, um sopro vital à beira do abismo.
.
Com os meus complexos de meninote afortunado, fiquei rendido… E o António deu-me uma grande lição. Trabalhou nos diálogos durante seis meses, riscando e deitando fora. Cada dia mais magro, sempre em suores frios, à procura da vírgula, da pausa, da assonância secreta e expressiva. Os diálogos, arrancados a ferros, chegavam às filmagens à última hora, e não havia tempo para reflectir sobre eles. Só anos mais tarde, quando o «Mudar» se estreou comercialmente em Tóquio, é que tive oportunidade de os estudar. O trabalho de os traduzir para japonês era muito lento, e só assim pude descobrir a concisão musical, a riqueza secreta daquelas frases escritas com um ouvido infalível. Quantos diálogos haverá na nossa língua que se lhe possam comparar?
.

Mais tarde, quando traduzi do japonês uma série de 50 Haiku que foram publicados em álbum pela Moraes, pedi-lhe ajuda para «limpar» o texto. Não sei escrever em português, caio sempre em literatices falsas. Foi um trabalho de meses, as melhores aulas que tive na minha vida. O António sentia o peso de cada palavra, de cada sílaba, fugia aos efeitos. Por influência dos haiku o António recomeçou a escrever poesia, lembro-me de ele me recitar um quase haiku belíssimo, uma cena de matança. Era sobre a neve a cair no prato, onde coalhava o sangue do porco. Onde estará este poema? Havia outro, misterioso, dedicado a um olmo. Perdido também? Começou a estudar chinês, apaixonou-se pelo Tufu, de quem eu lhe emprestei uma edição bilingue, comentada. Acabou por pôr o nome de Tufu a um grande mocho que vivia lá por casa em liberdade. O poeta chinês deve ter ficado encantado, lá no assento etéreo.

Cinema profissional em Lisboa

Quando o C.P.C. se criou em Lisboa o António veio trabalhar para a Guérin em Lisboa, decidido a tentar a sua sorte no cinema profissional, onde ele não conhecia ninguém. A Margarida Cordeiro descobriu no hospital os desenhos do Jaime, e o António explicou aos sócios o que queria fazer, com aquele calor humano que só ele tinha. As pessoas ficaram apaixonadas pelo projecto, e como eu era presidente do centro aproveitei para pedinchar a ajuda de todos. Uns deram restos de película, o Acácio trouxe a equipa de imagem e o material, o filme foi nascendo numa atmosfera extraordinária de camaradagem. O resultado causou uma emoção considerável, e o António ganhou com ele na Alemanha o primeiro dos três grandes prémios internacionais que os seus filmes viriam a obter.
.
Quando veio o 25 de Abril o C.P.C. estremeceu. Os sócios acabaram por formar cooperativas independentes, já não precisavam do apoio de um órgão unitário coeso. Eu aproveitei a confusão para lançar o «Trás-os-Montes» como um projecto piloto de um futuro Museu da Imagem e do Som, um título populista grato ao poder revolucionário, e que eu tinha trazido do Rio de Janeiro. Lembro-me das salas vazias do centro, enquanto que os meus colegas andavam pelas ruas a filmar.
.
Eu e o António Reis ficámos sozinhos na sede a preparar os dossiers, a apresentar o museu e a pedir o dinheiro, que acabou por vir. Quase todas as fitas revolucionárias estão hoje esquecidas, mas o filme do António e da Margarida foi uma obra-prima que lhes deu fama europeia. Quando o filme estreou em Paris, no «Le Monde» saiu uma ordem terrorista assinada pelo Joris Ivens e pelo Jean Rouch, os dois mestres supremos do cinema documental: «Allez voir, toutes affaires cessantes, "Trás-os-Montes"!».
.
Durante dez anos o casal foi o ai-Jesus de uma certa crítica de vanguarda. A Kristeva correspondia-se com o António, e as pessoas que o encontravam nos festivais lá fora falavam dele mais tarde com a voz a tremer como se tivessem encontrado um profeta. Para esta aura ajudava o estranho magnetismo do António, e o trabalho incansável do António Pedro de Vasconcelos, que foi, à sua custa, e durante anos e anos, o melhor dos embaixadores do nosso cinema.

.

Já não acompanhei tão de perto a «Ana» e a «Rosa de Areia», filmes de que o Fernando Lopes poderá falar muito melhor do que eu. Nos últimos anos, com o novo-riquismo cavaquista, o ambiente era já muito desfavorável para os filmes de «poesia». O António deixou de ter apoio no I.P.C., e a «Rosa de Areia», produzida pela RTP, está ainda por estrear. O António passou por um período de solidão e de desânimo. Recentemente tinha sucedido um milagre. Um produtor suíço tinha-se apaixonado pelos seus filmes, e queria financiar o seu próximo projecto, uma adaptação de «Pedro Páramo», o maior dos romances mexicanos deste século. Era um projecto ambicioso, a filmar lá fora, com grandes meios... O António aparecia na escola de cinema contentíssimo, com uma alma nova. É um filme que nunca veremos, não me consigo conformar.

Paulo Rocha [cineasta]


Jornal JL, pág. 6, 17 de Setembro de 1991
..
..
http://antonioreis.blogspot.com/2005/09/106-falecimento-texto-do-cineasta.html
.

António Reis - Jaime (1974) 

.

 
.
Carregado por em 15 de Mar de 2011
Jaime (1974) de Antonio Reis e Margarida Cordeiro.

"Jaime Fernandes nasceu em 1900, na freguesia de Barco, Covilhã. Era trabalhador rural. Em 1.1.1938, com 38 anos, foi internado no Hospital Miguel Bombarda. Aí faleceu, em 27.3.1969, após 31 anos de internamento. Começou a desenhar já depois dos 60 anos. Grande parte da sua obra perdeu-se."
.
.

Trás-os-Montes, de António Reis e Margarida Cordeiro, 1976 

.

.

Carregado por em 7 de Nov de 2009
Trás-os-Montes, de António Reis e Margarida Cordeiro, prod. Centro Português de Cinema, 1976.

Mais informações em http://ncinport.wordpress.com/
.
.

Ana, de António Reis e Margarida Cordeiro, 1982

.
.
.
Carregado por em 8 de Nov de 2009
Ana, de António Reis e Margarida Cordeiro, 1982.

Mais informações em http://ncinport.wordpress.com/


.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A Poesia de António Reis

Domingo, Março 27, 2011

193. NA MORTE DE ANTÓNIO REIS

[Poesia]


António Reis, que morreu em Lisboa, em 10 de Setembro de 1991, pouco depois de completar os sessenta e seis anos de idade (nascer em Valadares, Vila Nova de Gaia, a 27 de Agosto de 1925), deixou o seu nome nas últimas décadas ligado sobretudo ao cinema, onde realizou uma obra de grande originalidade que terá os pontos porventura mais altos em Jaime, 1973 [1974], e Trás-os-Montes, 1976. Antes, porém, de se iniciar no cinema, como assistente de Manoel de Oliveira, em Acto da Primavera, 1963, e autor dos diálogos de Mudar de Vida, de Paulo Rocha, de 1966, já se tornara conhecido como poeta através de dois livros, Poemas Quotidianos, 1957, e Novos Poemas Quotidianos, 1960, reunidos alguns anos depois (1967) com mais alguns inéditos em Poemas Quotidianos, volume antecedido de um estudo de Eduardo Prado Coelho e incluído na que era então no país a mais prestigiosa colecção de poesia, a «Colecção Poetas de Hoje», da Portugália Editora. As duas recolhas poéticas que lhe deram na altura uma justa reputação, e que não representavam as suas primeiras incursões pelos domínios da poesia (à semelhança de outros autores, arredou da bibliografia o que se não identificasse com o que considerava ser o verdadeiro timbre da sua voz), vieram a público, no Porto, sob os auspícios dos «fascículos de poesia» Notícias do Bloqueio, de que se publicaram nove números entre 1957 e 1962. O Porto é, entre os fins da década de 40 e os começos dos anos 60, palco de uma intensa actividade cultural, de que, para além da edição das Notícias, se destacam, para nos cingirmos ao campo literário, a publicação em 1949 e 1950 da Colecção «Germinal», dos três fascículos de A Serpente entre Janeiro e Março de 1951, o aparecimento em 1953 da revista Bandarra, a qual tem nos períodos compreendidos entre Janeiro de 1955 e Setembro de 1959, em que se apresenta como revista «de artes e letras ibéricas», e entre a Primavera de 1961 e o Verão de 1962, correspondente aos quatro números da segunda série, os pontos de maior interesse, e ainda a publicação do que era, sem dúvida, ao tempo, o melhor suplemento literário da imprensa diária portuguesa, o Suplemento «Cultura e Arte» de O Comércio do Porto. Na vida cultural da capital nortenha, em cuja área metropolitana então residia e trabalhava (como empregado de escritório, rezam as notas biográficas que sobre ele existem em antologias de poesia), distinguia-se António Reis como uma «figura» particularmente «activa», de acordo com o belíssimo retrato que Paulo Rocha traçou, em texto publicado no JL, na semana seguinte à da sua morte (17.9.91).


A produção coligida no volume da Portugália em 1967, e que compreendia uma centena de poemas escritos entre 1952 e 1962, situa-se dentro de uma orientação realista com forte implantação junto dos poetas da geração de 50 que, por essa altura, se encontram radicados na área do grande Porto. Os poetas dessa tendência fazem mesmo parte, poderíamos dizer, de uma segunda geração neo-realista que se afirma em lugares como as revistas acima referidas, e na qual António Reis representa uma faceta intimista, tal como já acontecera com João José Cochofel relativamente ao primeiro neo-realismo poético, o que teve na Colecção «Novo Cancioneiro» o seu mais conhecido lugar de afirmação. A lírica despojada do autor de Poemas Quotidianos, sem deixar de fazer a denúncia da atmosfera opressiva que se respira no Portugal de Salazar («Não esqueço os mortos // Não esqueço os heróis // Não esqueço / o luto / das famílias // todos silenciosos // Denuncio / publicamente / a nossa cobardia // e quem mente»), detém-se sobretudo, distanciada do fôlego épico que atraiu muita da poesia que lhe é ideologicamente afim, no registo dos pequenos nadas de que, em sintonia com o que o próprio título sugere, se compõe o dia-a-dia na cidade – uma cidade que, simultaneamente, se ama e é fonte de sofrimento pelas «imperfeições e mágoas» que a desfeiam – daqueles que dificilmente alcançam a satisfação das necessidades mais imediatas («Depois das 7 / as montras são mais íntimas // A vergonha de não comprar / não existe / e a tristeza de não ter / é só nossa // E a luz / torna mais belo / e mais útil / cada objecto»). O poeta entra nas suas casas, aponta as carências que os atingem, comunga das preocupações que os afligem («Hei-de entra nas casas / também / como o luar // A ver as faltas de roupa interior / e de cama // os rostos preocupados / com os avisos da luz e da água // com a máquina de petróleo apagada / jornais nas paredes / e um pássaro na varanda / a cantar / ao lado de uma flor»). E percorre com um olhar terno e comovido esses interiores de casas de gente modesta, de existências apagadas mas carregadas de memórias, já então submetendo as imagens que vai captando a um princípio que se diria o da montagem cinematográfica («Hei-de entrar nas casas / também // como o silêncio // A ver os retratos dos mortos / nas paredes / um bombeiro um menino // A ver os monogramas bordados nos lençóis // Os vestidos virados / os vestidos tingidos / os diplomas de honra / as redomas // E a caderneta de Socorros Mútuos e Fúnebres // em atraso»).


Mas o poeta que se entrega, com a sua câmara, à captação dos espaços interiores e que os faz equivaler ao «espaço interior» criado nos próprios poemas, à interiorização, sem a qual nenhum universo lírico encontra ressonância junto do leitor («Um espaço interior / criei / nestes poemas // onde estalam os móveis / e os sentidos // onde as ideias / a meia-luz / respiram // e a vida / e as imagens / não se reflectem / só / vidros»), é também, e por excelência, o poeta do amor conjugal, dos dias preenchidos por uma intimidade partilhada; «Conheço / entre todas / a jarra que enfeitaste // têm o jeito / com que compões o cabelo / as flores que tocaste»; «Enquanto estudo / oiço-te na cozinha // sei o que fazes / o que pensas / sentes // Vês uma flor / no ovo da sertã // dás vida / a um peixe / o mar // mas o gosto / atraiçoa-te // e a maçã»). A este respeito, ficará como um dos momentos mais altos da nossa tradição elegíaca aquele poema em que António Reis fixou a funda melancolia e a dor sem consolo possível de que sempre se faz acompanhar uma mudança de casa («Mudamos esta noite // E como tu / eu penso no fogão a lenha / e nos colchões // onde levar as plantas // e como disfarçar os móveis velhos // Mudamos esta noite / e não sabíamos que os mortos / ainda aqui viviam // e que os filhos dormem sempre / nos quartos onde nascem / Vai descendo tu // Eu só quero ouvir os meus passos / nas salas vazias»).


No depoimento vindo a lume no JL, refere-se Paulo Rocha ao estímulo que para António Reis terá representado a colaboração que lhe deu na tradução dos 50 Haiku que publicou na Moraes em 1970, levando-o a retomar a escrita poética. Esperemos que se não tenham perdido os poemas mencionados pelo cineasta e que, em breve, possam ver a luz do dia. Ou que, pelo menos, algum editor se lembre de, sem demora, reeditar os Poemas Quotidianos, há muito esgotados. É a melhor homenagem que, enquanto poeta, se lhe pode prestar.


Fernando J. B. Martinho


Revista Colóquio/Letras. Letras em Trânsito, n.º 121/122, págs. 283-284, Jul-Dez 1991.
.
http://antonioreis.blogspot.com/

terça-feira, 22 de março de 2011

Cartas a um jovem poeta (Primeira carta) por Rainer Maria Rilke

Cartas a um jovem poeta(Primeira carta)
Rainer Maria Rilke

Paris, 17 de fevereiro de 1903
.
Prezadíssimo Senhor,
.
Sua carta alcançou-me apenas há poucos dias. Quero agradecer-lhe a grande e amável confiança. Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações acerca da feição de seus versos, pois sou alheio a toda e qualquer intenção crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal-entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizívies quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, — seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.
.
Depois de feito este reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem feição própria, somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com a maior clareza no último poema Minha alma. Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema A Leopardi talvez uma espécie de parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem — usando da licença que me deu de aconselhá-lo — peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, — ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza — relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas deste longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, — o único existente. Também, meu prezado Senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra sua vida; na fonte desta é que encontrará resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha significar que o Senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e a sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.
.
Mas talvez se dê o caso de, após essa decida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o Senhor de renunciar a se tornar poeta. (Basta como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo). Mesmo assim, o exame de sua consciência que lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.
.
Que mais lhe devo dizer? Parece-me que tudo foi acentuado segundo convinha. Afinal de contas, queria apenas sugerir-lhe que se deixasse chegar com discrição e gravidade ao termo de sua evolução. Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa.
.
Foi com alegria que encontrei em sua carta o nome do professor Horacek; guardo por este amável sábio uma grande estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, neste meu sentimento. É bondade dele lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la.
.
Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigavelmente. Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança. Procurei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de estranho.
.
Com todo o devotamento e toda a simpatia,
.
Rainer Maria Rilke
 nasceu em Praga no dia 4 de dezembro de 1875. Depois de viver uma infância solitária e cheia de conflitos emocionais, estudou nas universidades de Praga, Munique e Berlim. Suas primeiras obras publicadas foram poemas de amor, intitulados Vida e canções (1894). Em 1897, Rilke conheceu Lou Andreas-Salomé, a filha de um general russo, e dois anos depois viajava com ela para seu país natal. Inspirado pelas dimensões e pela beleza da paisagem como também pela profundidade espiritual das pessoas que conheceu, Rilke passou a acreditar que Deus estava presente em todas as coisas. Estes sentimentos encontraram expressão poética em Histórias do bom Deus (1900). Depois de 1900, Rilke eliminou de sua poesia o lirismo vago que em parte lhe haviam inspirado os simbolistas franceses, e, em seu lugar, adotou um estilo preciso e concreto, que podemos perceber em O livro das horas (1905), que consta de três partes: O livro da vida monástica, O livro da peregrinação e O livro da pobreza e da morte. Esta obra o consolidou como um grande poeta por sua variedade e riqueza de metáforas, e por suas reflexões um pouco místicas sobre as coisas.
.
Em Paris, em 1902, 
Rilke conheceu o escultor Auguste Rodin e foi seu secretário de 1905 a 1906. Rodin ensinou o poeta a contemplar a obra de arte como uma atividade religiosa e a fazer versos tão consistentes e completos como se fossem esculturas. Os poemas deste período apareceram em Novos poemas (2 volumes, 1907-1908). Até o início da I Guerra Mundial, o autor viveu em Paris de onde realizou viagens pela Europa e pelo norte da África. De 1910 a 1912 viveu no castelo de Duíno, próximo a Trieste (agora na Itália), e ali escreveu os poemas que formam A vida de Maria (1913). Logo após iniciou a primeira redação das Elegias de Duíno (1923), obra esta em que já se percebe uma certa aproximação dos conceitos filosóficos existenciais de Soren Kierkegaard.
.
Em sua obra em prosa mais importante, Os cadernos de Malte Laurids Brigge (1910), novela iniciada em Roma no ano de 1904, empregou imagens corrosivas para transmitir as reações que a vida em Paris provocava em um jovem escritor muito parecido com ele mesmo.
.
Residiu em Munique durante quase toda a I Guerra Mundial e em 1919 mudou-se para Sierra (Suíça), onde se estabeleceu para o resto de sua vida, salvo algumas visitas ocasionais a Paris e Veneza, concluindo as Elegias de Duíno e escreveu Sonetos a Orfeu (1923). Estas obra são consideradas as mais importantes de sua produção poética. As Elegias representam a morte como uma transformação da vida e uma realidade interior que, junto com a vida, foram uma coisa única. A maioria dos sonetos cantam a vida e a morte como uma experiência cósmica. 
Rilkemorreu no dia 29 de dezembro de 1926 em Valmont (Suíça).
.
Sua obra, com seu hermetismo, solidão e ociosidade, chegou a um profundo existencialismo e influenciou os escritores dos anos cinqüenta tanto na Europa como na América.
.
Texto extraído do livro "Cartas a um jovem poeta", tradução de Paulo Rónai, Editora Globo – Rio de Janeiro, 1995.
.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Louise Michel: Os cravos rubros

.
Vermelho - 19 de Março de 2011 - 0h00
.
.
Louise Michel escreveu este poema (em francês Les Œillets rouges) em homenagem a seu companheiro e namorado Théophile Ferré, executado juntamente com muitos de seus amigos, entre eles Louis Rossel, que foi ministro da guerra da Comuna, em 28 de novembro de 1871. 
.
Naqueles dias, Louise se dispôs a executar, pessoalmente, o presidente Adolphe Thiers pelo papel decisivo que ele desempenhou na repressão da Comuna e no massacre da população operária de Paris nas semanas seguintes à derrota dos communards.
.
Os cravos rubros
.
Quando ao negro cemitério eu for,
Irmão, coloque sobre sua irmã,
Como uma última esperança,
Alguns 'cravos' rubros em flor.
Do Império nos últimos dias
Quando as pessoas acordavam,
Seus sorrisos eram rubros cravos
Nos dizendo que tudo renasceria.
florescerão nas sombras
de negras e tristes prisões.
Vão e desabrochem junto ao preso sombrio
E lhe diga o quanto sinceramente o amamos.
Digam que, pelo tempo que é rápido,
Tudo pertence ao que está por vir
Que o dominador vil e pálido
Também pode morrer como o dominado.
.
.
*****
.
La bibliothèque libre.
.

[[Auteur:|]]Louise Michel

Les Œillets rouges


Si j’allais au noir cimetière,
Frère, jetez sur votre soeur,
Comme une espérance dernière,
De rouges œillets tout en fleurs.

Dans les derniers temps de l’Empire,
Lorsque le peuple s’éveillait,
Rouge œillet, ce fut ton sourire
Qui nous dit que tout renaissait.

Aujourd’hui, va fleurir dans l’ombre
Des noires et tristes prisons.
Va fleurir près du captif sombre,
Et dis-lui bien que nous l’aimons.

Dis-lui que par le temps rapide
Tout appartient à l’avenir
Que le vainqueur au front livide
Plus que le vaincu peut mourir.
.
.
http://fr.wikisource.org/wiki/Les_%C5%92illets_rouges
.
.

domingo, 20 de março de 2011

Os dias da Comuna: a poesia na luta pelo futuro

Cultura

Vermelho - 19 de Março de 2011 - 0h01
.
.O poeta e dramaturgo comunista Bertolt Brecht (10 de fevereiro de 1898 – 14 de agosto de 1956) renovou o teatro e a poesia exprimindo sentimentos revolucionários sob uma forma igualmente revolucionária, adequada a seu tempo e às suas contradições.
.
Militante comunista, foi combatente antinazista da linha de frente, engajando sua arte na luta pela democracia, pelo socialismo, contra o fascismo e o nazismo. Ligou a crítica ao nazismo ao combate contra a repressão característica do tempo de reação burguesa, da qual o bestial massacre da Comuna de Paris foi um marco.
.
A arte, propunha ele, precisa estar a serviço da luta operária, do progresso social e dos mais altos sentimentos de humanidade e solidariedade. É um instrumento, nesse sentido, de combate à alienação e ferramenta para despertar e consolidar a consciência de classe. Os dias da Comuna é um dos melhores exemplos da clareza e determinação que ilumina os escritos de Brecht.


Os dias da Comuna (*)


Bertold Brecht


1.
Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
Suas leis para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas
Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

2.
Consideramos que ficaremos famintos
Se suportarmos que continuem nos roubando
Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças
Que nos separam deste bom pão que nos falta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

3.
Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

4.
Considerando que está sobrando carvão
Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão
Nós decidimos que vamos toma-lo
Considerando que ele nos aquecerá
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

5.
Considerando que para os senhores não é possível
Nos pagarem um salário justo
Tomaremos nós mesmos as fábricas
Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para nós.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

6.
Considerando que o que o governo nos promete
Está muito longe de nos inspirar confiança
Nós decidimos tomar o poder
Para podermos levar uma vida melhor.
Considerando: vocês escutam os canhões
Outra linguagem não conseguem compreender
Deveremos então, sim, isso valerá a pena
Apontar os canhões contra os senhores!



(*) Com o título “Resolução”, este poema encerra a seção 3 da peça Os dias da Comuna que Brecht escreveu em 1948-1949, traduzida para o português por Fernando Peixoto.

.
.

sábado, 19 de março de 2011

A cor do horto gráfico já aprovado pela nova Ministra do saber - Teresa Ramos

Teresa Ramos
A propósito do acordo ortográfico

A cor do horto gráfico já aprovado pela nova Ministra do saber

Última actualização do dicionário de língua portuguesa - novas entradas:

Arbusto: Busto com um certo ar
Testículo: Texto pequeno
Abismado: Sujeito que caiu de um abismo
Pressupor: Colocar preço em alguma coisa
Biscoito: Fazer sexo duas vezes
Bigode: Duplo Deus britânico
Coitado: Pessoa vítima de coito
Padrão: Padre muito alto
Estouro: Boi que sofreu operação de mudança de sexo
Democracia: Sistema de governo do inferno
Barracão: Proíbe a entrada de caninos
Homossexual: Sabão em pó para lavar as partes íntimas
Ministério: Aparelho de som de dimensões muito reduzidas
Detergente: Acto de prender seres humanos
Eficiência: Estudo das propriedades da letra F
Conversão: Conversa prolongada
Halogéneo: Forma de cumprimentar pessoas muito inteligentes
Piano: Ano Internacional da descoberta de Pi (3,1416)
Expedidor: Mendigo que mudou de classe social
Luz solar: Sapato que emite luz por baixo
Cleptomaníaco: Mania por Eric Clapton
Tripulante: Especialista em salto triplo
Contribuir: Ir para algum lugar com vários índios
Aspirado: Carta de baralho completamente maluca
Assaltante: Um 'A' que salta
Determine: Prender a namorada do Mickey Mouse
Vidente: O que o dentista diz ao paciente
Barbicha: Bar frequentado por gays
Ortográfico: Horta feita com letras
Destilado: do lado contrário a esse
Pornográfico: O mesmo que colocar no desenho
Coordenada: Que não tem cor
Presidiário: Aquele que é preso diariamente
Ratificar: Tornar-se um rato
Violentamente: Viu com lentidão

E

Língua "perteguesa"... PORQUE O SABER NÃO OCUPA LUGAR!
Prontus
Usar o mais possível. É só dar vontade e podemos sempre soltar um 'prontus'! Fica sempre bem.
Númaro
Também com a vertente 'númbaro'. Já está na Assembleia da República uma proposta de lei para se deixar de utilizar a palavra NÚMERO, a qual está em claro desuso. Por mim, acho um bom númaro!
Pitaxio
Aperitivo da classe do 'mindoím'.
Aspergic
Medicamento português que mistura Aspegic com Aspirina
Alevantar
O acto de levantar com convicção, com o ar de 'a mim ninguém me come por parvo!... alevantei-me e fui-me embora!'.
Amandar
O acto de atirar com força: 'O guarda-redes amandou a bola para bem longe'
Assentar
O acto de sentar, só que com muita força, como fosse um tijolo a cair no cimento.
Capom
Tampa de motor de carros que quando se fecha faz POM!
Destrocar
Trocar várias vezes a mesma nota até ficarmos com a mesma.
Disvorciada
Mulher que diz por aí que se vai divorciar.
É assim...
Talvez a maior evolução da língua portuguesa. Termo que não quer dizer nada e não serve para nada. Deve ser colocado no início de qualquer frase.
Entropeçar
Tropeçar duas vezes seguidas.
Êros
Moeda alternativa ao Euro, adoptada por alguns portugueses.
Também conhecida por "aéreos"
Falastes, dissestes...
Articulação na 4ª pessoa do singular. Ex.: eu falei, tu falaste, ele falou, TU FALASTES...
Fracturação
O resultado da soma do consumo de clientes em qualquer casa comercial. Casa que não fractura... não predura.
Há-des
Verbo 'haver' na 2ª pessoa do singular: 'Eu hei-de cá vir um dia; tu há-des cá vir um dia...'
Inclusiver
Forma de expressar que percebemos de um assunto. E digo mais: eu inclusiver acho esta palavra muita gira. Também existe a variante 'Inclusivel'
A forma mais prática de articular a palavra MEU e dar um ar afro à língua portuguesa, como 'bué' ou 'maning'. Ex.: Atão mô, tudo bem?
Nha
Assim como Mô, é a forma mais prática de articular a palavra MINHA. Para quê perder tempo, não é? Fica sempre bem dizer 'Nha Mãe' e é uma poupança extraordinária.
Parteleira
Local ideal para guardar os livros de Protuguês do tempo da escola.
Perssunal
O contrário de amador. Muito utilizado por jogadores de futebol. Ex: 'Sou perssunal de futebol'. Dica: deve ser articulada de forma rápida.
Prutugal
País ao lado da Espanha. Não é a Francia.
Quaise
Também é uma palavra muito apreciada pelos nossos pseudo-intelectuais... Ainda não percebi muito bem o quer dizer, mas o problema deve ser meu.
Stander
Local de venda. A forma mais famosa é, sem dúvida, o 'stander' de automóveis. O 'stander' é um dos grandes clássicos do 'português da cromagem'...
Tipo
Juntamente com o 'É assim', faz parte das grandes evoluções da língua portuguesa. Também sem querer dizer nada, e não servindo para nada, pode ser usado quando se quiser, porque nunca está errado, nem certo. É assim... tipo, tás a ver?
Treuze
Palavras para quê? Todos nós conhecemos o númaro treuze.
há 58 minutos · GostoNão gosto · · Cancelar subscriçãoSubscrever

*
*
2 pessoas gostam disto.
*
o
Michele Latrodectus Hasselti Fernandes isto é verdade??? :S
há 55 minutos · GostoNão gosto
o
Teresa Ramos Penso que não mas tem garça e porque "hoje é sábado" ...
há 52 minutos · GostoNão gosto
o
Fernanda Camarate Santos Vendem-nos tudo, o país e a língua. A quem irão vender o vira e o corridinho? Olhando "pala" tanta loja chinesa, "ilemos abulil" o r?
há 47 minutos · GostoNão gosto · 2 pessoas2 pessoas gostam disto.
o
Nuno Chainho ahahahahahah genial!!!
há 44 minutos · GostoNão gosto
o
Nuno Chainho vô emprestar, tá?
há 43 minutos · GostoNão gosto
o
Teresa Ramos ‎"tejaavontade"
há 42 minutos · GostoNão gosto
o
Victor Nogueira LOL Tem graça e não ofende :-)
há 40 minutos · GostoNão gosto
*
1 milhão na Avenida da Liberdade pela demissão de toda a classe política P
Grupo aberto.

Louise Michel, o anjo vermelho da revolução - As Mulheres de Paris

Cultura

Vermelho - 19 de Março de 2011 - 0h00
.
A professora, enfermeira, poetisa e escritora Louise Michel (29 de Maio de 1830 — Marselha, 9 de Janeiro de 1905), foi uma das principais lideranças da Comuna de Paris. Ela participou da luta nas barricadas, da organização das mulheres e exerceu funções de apoio (foi, por exemplo, uma das responsáveis pela organização da educação infantil durante o governo da Comuna).
Presa, foi exilada na Nova Caledônia, de onde só retornou em 1880, reconhecida como uma das principais militantes e dirigentes da luta operária na França. Ela foi o anjo vermelho da revolução.
.
No texto transcrito abaixo, ela descreve a situação das mulheres em Paris às vésperas da Comuna.
.o - As Mulheres de Paris
.
As mulheres de Paris

Louise Michel
.
Entre os mais implacáveis combatentes que lutaram contra a invasão e defenderam a República como aurora da liberdade, as mulheres destacam-se em grande número.
.
Quiseram fazer das mulheres uma casta e sob a força que as esmagada através dos acontecimentos a seleção é feita. Não nos consultaram a este respeito e não que consultar ninguém. O mundo novo nos reunirá à humanidade livre na qual todos terão um lugar.
.
O direito das mulheres marchava corajosamente com Maria Deresme, mas exclusivamente por um só lado da humanidade, as escolas profissionais das Senhoras Jules Simon, Paulin, Julie Toussaint. A educação dos pequenos da Senhora Pape Carpentier ao encontrar-se à rua Hautefeuille com a sociedade de instrução elementar confraternizaram-se sob o Império, em uma acepção tão ampla que as mais ativas faziam parte de todos os agrupamentos ao mesmo tempo. Tínhamos, para isso, como cúmplice o Sr. Francolin, da instrução elementar, que, devido à sua semelhança com os sábios do tempo da alquimia e também por amizade, chamávamos de Dr. Francolinus.
.
Ele havai fundado, quase sozinho, uma escola profissional gratuita à rua Thévenot.
.
Os cursos aí tinham lugar à noite. Aquelas que, dentre nós, o cursavam podiam, deste modo, estar à rua Thévenot após a sua aula, erámos todas professoras. Havia Maria La Cecillia, então uma moça, a diretora era Maria Andreux e muitas outras mulheres ministravam cursos ali. Eu fazia três, literatura, onde era fácil encontrar citações de autores do passado adaptando-os ao tempo presente; a geografia antiga, onde os nomes e as pesquisas do passado levavam aos nomes e às buscas do presente, onde era tão bom evocar o futuro sobre a ruínas que eu me apaixonei por este curso.
.
Eu tinha também, às quintas-feiras, o curso de desenho no qual a polícia imperial deu-me a honra de vir ver um Vitor Noir, sobre o seu leito de morte, desenhado em giz branco e espalhado com o dedo sobre o quadro negro o que dava um alívio de uma doçura de sonho.
.
Quando os acontecimentos multiplicaram-se, Charles de Sivry assumiu o curso de literatura e a Senhorita Potin, minha colega e amiga, assumiu o curso de desenho.
.
Todas as sociedades de mulheres não pensavam senão na hora terrível em que estávamos, agrupando-se na sociedade de socorro das vítimas da guerra, onde as burguesas, as mulheres destes membros da defesa nacional, que defenderam tão pouco, foram heróicas.
.
Digo sem espírito de seita, pois eu estava mais freqüentemente à pátria em perigo e no comitê de vigilância que no comitê de socorro para as vítimas da guerra, espírito tão generoso e amplo; os socorros foram dados, mesmo esfarelados para aliviar um pouco todas as dores e também para estimular ainda e sempre a jamais renderem-se.
.

Se alguém no comitê de socorro às vítimas falasse de rendição, era colocado da porta para fora, tão energicamente como nos clubes de Belleville ou de Montmartre. As mulheres de Paris eram como as dos subúrbios. Como me lembro da sociedade de instrução elementar onde à direita da escrivaninha no pequeno escritório eu tinha um lugar em cima da caixa do esqueleto, na sociedade de socorros, eu tinha um lugar sobre um banquinho aos pés da Sra. Goodchaux, que se assemelhava, com seus cabelos brancos a uma marquesa de antigamente, lançava às vezes sorrindo, alguma pequena gota de água sobre os meus sonhos.

Por que eu era uma privilegiada? Não sei, é verdade, se talvez as mulheres amem as revoltas. Não valemos mais que os homens mas o poder não nos corrompeu ainda.
E o fato é que elas me amavam e eu também as amava.

Quando, depois do 31 de outubro, fui feita prisioneira do Sr. Cresson, não por ter tomado parte em nenhuma manifestação, mas por ter dito: estou lá apenas para partilhar o perigo das mulheres, não reconheço o governo! a Sra. Meurice, em nome da sociedade para as vítimas da guerra, venho reivindicar a minha libertação, ao mesmo tempo que os clubes, Ferré, Avronsart e Christ vieram.

Quantas coisas as mulheres tentaram e em todos os lugares! Estabelecemos em primeiro lugar ambulâncias nos fortes e como, contra o costume, encontramos a defesa nacional disposta a nos acolher, começamos a crer os governantes dispostos a lutar, enquanto que eles enviavam para os fortes uma multidão de jovens inúteis, ignorantes e com pequenos ferimentos que choravam suas mágoas enquanto que os fortes lutavam para viver; umas e outras, nós entregamos a nossa demissão procurando nos empregar de modo mais útil. Encontrei no ano passado, uma destas corajosas mulheres das ambulâncias, Sra. Gaspard.

As ambulâncias, os comitês de vigilância, os escritórios da prefeituras onde, sobretudo a Montmartre, as Sras. Poirier, Escoffon, Blin, Jarry encontravam meios para que todas tivessem um salário pago igualmente.

A marmita revolucionária onde durante todo o cerco, a Sra. Lemel, da câmara sindical do encadernadores, impede nem sei quantas pessoas de morrer de fome, foi uma verdadeira proeza de devoção e inteligência.

As mulheres não se perguntavam se algo era possível, mas se era útil, então conseguia-se realizá-la.

Um dia decidiram que Montmartre não tinha ambulâncias suficientes e então com uma amiga mais jovem da sociedade de instrução elementar decidimos criá-la. Chamava-se Jeanne A., mais tarde Sra. B.

Não havia um centavo, mas tínhamos uma idéia para fazer fundos.

Trouxemos conosco um guarda nacional, de boa estatura, com a fisionomia de uma gravura de 93, andando com a baioneta à frente do fuzil, com uma larga cinta vermelha, tendo às mãos bolsas feitas pelas circunstâncias, partimos os três, entre os ricos, com rostos sombrios. Começamos pela igrejas, o guarda nacional andava pelas alamedas batendo o seu fuzil nas pedras; chamávamos alguém ao lado da nave, pedíamos a começar pelo padres no altar.

Por sua vez, os devotos, pálidos de espanto, derramavam trêmulos a sua moeda nas nossas bolsas - alguns com bastante boa-vontade, mas todos os padres doavam - depois foi a vez de alguns financistas judeus ou cristãos, depois de pessoas corajosas, um farmacêutico da Butte ofereceu o material. A ambulância foi criada.

Ria-se muito, na prefeitura de Montmartre desta expedição que ninguém encorajava, de que tínhamos confiança antes do resultado.

No dia em que as Sras. Poirier, Blin, Excoffons vieram encontrar-se comigo na minha aula para iniciar o comitê de vigilância das mulheres me ficou na memória.

Era de noite, depois da aula, e elas estavam sentadas contra o muro, Excoffons com seus cabelos loiros despenteados, a mãe Blin já velha com uma touca de tricô; a Sra. Poirier com um capuz e capa de índia vermelho; sem cumprimentos, sem hesitação, elas simplesmente me disseram: é preciso que você venha conosco e eu respondi, vou.
.
Havia neste momento na minha sala de aula cerca de 200 alunos, meninas de seis a doze anos que ensinávamos eu e minha auxiliar e de todas a crianças de três a seis anos, meninos e meninas dos quais se encarregava minha mãe e aos quais mimava muito. Os mais velhos da sala a ajudavam, ora uns ora outros.
.
Os menores, cujos pais eram camponeses refugiados em Paris, tinham sido enviados por Clemenceau; a prefeitura estava encarregada da sua alimentação, tinham leite, cavalo, legumes e com frequência algumas guloseimas.
.
Um dia que o leite atrasou, os mais jovens pouco habituados a esperar olhavam-se chorando, minha mãe os consolava e chorava com eles. Nem sei como me ocorreu, para fazê-los esperar, de ameaçá-los, se não se calassem de enviá-los par Trochu.
.
Logo gritavam de medo: senhorita, seremos ajuizados, não nos mande para Trochu!
.
Este grito e a paciência com a qual esperaram deram-me a ideia de que era corrente entre eles ter em baixa conta o governo de Paris.
.
Frequentemente falou-se dos ciúmes entre as professoras, nunca os testemunhei. Antes da guerra todas fazíamos troca no trabalho com as nossas vizinhas de sala, com a Sra. Potin dando lições de desenho nas minhas e eu lições de música nas dela, levando, tanto uma como a outra nos alunos à rua Hautefeuille. Durante o cerco, ela deu minhas aulas enquanto estive na prisão.
.
.
Extraído do livro A Comuna, de Louise Michel
.
.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Pablo Neruda - 20 poemas de amor y una canción desesperada

Poemas del Alma

Poema 14



Juegas todos los días con la luz del universo.
Sutil visitadora, llegas en la flor y en el agua.
Eres más que esta blanca cabecita que aprieto
como un racimo entre mis manos cada día.

A nadie te pareces desde que yo te amo.
Déjame tenderte entre guirnaldas amarillas.
Quién escribe tu nombre con letras de humo entre las estrellas del sur?
Ah déjame recordarte cómo eras entonces, cuando aún no existías.

De pronto el viento aúlla y golpea mi ventana cerrada.
El cielo es una red cuajada de peces sombríos.
Aquí vienen a dar todos los vientos, todos.
Se desviste la lluvia.

Pasan huyendo los pájaros.
El viento. El viento.
Yo sólo puedo luchar contra la fuerza de los hombres.
El temporal arremolina hojas oscuras
y suelta todas las barcas que anoche amarraron al cielo.

Tú estás aquí. Ah tú no huyes.
Tú me responderás hasta el último grito.
Ovíllate a mi lado como si tuvieras miedo.
Sin embargo alguna vez corrió una sombra extraña por tus ojos.

Ahora, ahora también, pequeña, me traes madreselvas,
y tienes hasta los senos perfumados.
Mientras el viento triste galopa matando mariposas
yo te amo, y mi alegría muerde tu boca de ciruela.

Cuanto te habrá dolido acostumbrarte a mí,
a mi alma sola y salvaje, a mi nombre que todos ahuyentan.
Hemos visto arder tantas veces el lucero besándonos los ojos
y sobre nuestras cabezas destorcerse los crepúsculos en abanicos girantes.

Mis palabras llovieron sobre ti acariciándote.
Amé desde hace tiempo tu cuerpo de nácar soleado.
Hasta te creo dueña del universo.
Te traeré de las montañas flores alegres, copihues,
avellanas oscuras, y cestas silvestres de besos.

Quiero hacer contigo
lo que la primavera hace con los cerezos.



Poemas de Pablo Neruda


 

terça-feira, 15 de março de 2011

A poesia dita de Eugénio de Andrade

.
De: | Criado: 19/01/2008
Exercício de stopmotion realizado na disciplina de Laboratório de Som & Imagem do curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da UP. Fotografia + Caixa de música (reverse mode).
As Palavras Interditas - Eugénio de Andrade
 .
.

.
Mãe - Eugénio de Andrade
.
.


.
De: | Criado: 08/10/2009
por Luís Gaspar
.
Adeus - Eugénio de Andrade
.
.
.
De: | Criado: 15/08/2009 
É urgente o amor -  Eugénio de Andrade 
.
.
.
De: | Criado: 19/05/2010
"O Sorriso" dito por Eugénio de Andrade.
.
.

.
De: | Criado: 28/07/2008
Poema de Eugénio de Andrade e fotos de Paulo - A Núvem
.
.
.
De: | Criado: 13/07/2010
não existe nenhuma descrição disponível
O Lugar da Casa - Eugénio de Andrade 
.
.
.
De: | Criado: 17/06/2010
Eugénio de Andrade, "Se deste outono", in "O sal da língua"
Música: Rêverie, de Debussy
.
.


segunda-feira, 14 de março de 2011

Poesia de Sophia de Mello Breyner


..
De: | Criado: 16/05/2009
Este video foi feito por mim, para a apresentação de um tabalho de uma amiga.
o Video é um Slideshow com imagems do oceano com musica relaxante.
Fundo do Mar


.
De: | Criado: 27/05/2009
Poema de Sophia de Mello Breyer, gravado enquanto testava um novo microfone. - Pirata
.
.
.
De: | Criado: 13/03/2009
http://1001_musicas_pt.blogs.sapo.pt/

Mil & Uma Músicas de Portugal - Porque cantado por Francisco Fanhais
.
.
.
De: | Criado: 18/07/2010
Poema de : Sophia de Mello Breyner Andresen

«Quando»
.
.

De: | Criado: 10/05/2010
SAGA, ópera extravagante   
És tu a Primavera que eu esperava (poema de Sophia de Mello Breyner Andresen)
.
.
 .
De: | Criado: 20/02/2010
A poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen e a música de Bach.- A noite
.
.
.
De: | Criado: 07/02/2007
Uma bonita montagem para pensar. - Vemos, ouvimos e lemos, cantado por Francisco Fanhais
.
.