sábado, 27 de março de 2010

Estalinegrado, Notas do Comandante em Chefe - A. I. Emerenko

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Estalinegrado - s/d
A. I. Eremenko
broch c/ sobre capa/485 pág
Editora Arcádia - Lisboa.
tradução - Jorge Sampaio
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65 anos da vitória soviética que decidiu a 2º Guerra
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No final da tarde do dia 23 de agosto de 1942, mil aviões nazistas começaram a lançar toneladas de bombas incendiárias sobre a população de Stalingrado. Esta cidade, onde na época residiam 600 mil homens, mulheres e crianças, e onde haviam muitas construções de madeira e depósitos de combustíveis, se transformou em poucos minutos numa gigantesca fogueira. “Stalingrado foi imersa nos clarões do incêndio, rodeada de fumaça e fuligem. Toda a cidade ardia. Enormes nuvens de fumaça e de fogo turbilhonavam acima das usinas. Os reservatórios de petróleo pareciam vulcões vomitando suas lavas. O coração apertava de compaixão pelas vítimas inocentes do canibalismo fascista”, informava o general Eremenko, comandante da frente de Stalingrado.
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Um terror genocida e sem precedentes era a arma de Hitler com o objetivo de dobrar a moral soviética e se apoderar dos imensos recursos naturais da Pátria socialista. “Sem possuir recursos vitais importantes, a Alemanha nazista não poderá sustentar uma guerra muito prolongada”, advertia José Stalin na primavera de 41, conclamando o povo a acelerar os esforços de guerra visando fazer frente ao inimigo e prevendo a proximidade da agressão a seu país.
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Quase dois anos depois, sob o comando firme e decisivo de Stalin, essa mesma cidade, brutalmente agredida, e esse mesmo povo, vítima da insana covardia nazista, escreveria a sangue, ferro e fogo uma das mais belas páginas de heroísmo da História, dando ao mundo a primeira grande vitória contra a besta-fera nazista no dia 2 de fevereiro de 1943.
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Stalingrado foi o principal marco da Segunda Guerra Mundial, abrindo as portas para a libertação dos países ocupados e vilipendiados - como a França, Espanha, Holanda, Noruega, Grécia, entre outros - como tão bem resgata Pablo Neruda em seu “Novo Canto de Amor a Stalingrado”, que abaixo publicamos numa homenagem à Batalha que decidiu o futuro de Hitler e da Humanidade.
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Novo Canto de Amor a Stalingrado
PABLO NERUDA
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Escrevi sobre a água e sobre o tempo,
descrevi o luto e seu metal acobreado,
escrevi sobre o céu e a maçã,
agora escrevo sobre Stalingrado.
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As noivas já guardam no seu lenço
raios de meu amor enamorado,
meu coração agora está no solo,
na fumaça e na luz de Stalingrado.
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Já toquei com as mãos a camisa
do crepúsculo azul e derrotado:
agora toco a própria luz da vida
nascendo com o sol de Stalingrado.
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Sinto que o velho-jovem transitório
de pluma, como os cisnes adornado,
despe a roupagem de seu mal notório
por meu grito de amor a Stalingrado.
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Ponho minh`alma onde quero.
E não me nutro de papel cansado
temperado de tinta e de tinteiro.
Nasci para cantar a Stalingrado.
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Minha voz esteve com teus inúmeros mortos
contra teus próprios muros esmagados,
minha voz soou como o sino e o vento
vendo-te morrer, Stalingrado.
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Agora americanos combatentes
brancos e escuros como a romã,
matam no deserto a serpente.
Já não estás a sós, Stalingrado.
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França volta às velhas barricadas
com pavilhão de fúria hasteado
sobre as lágrimas recém derramadas.
Já não estás a sós, Stalingrado.
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E os grandes leões da Inglaterra
voando sobre o mar de furacões
cravam as garras na parda terra.
Já não estás a sós, Stalingrado.
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Hoje abaixo de suas montanhas de escarmento
não estão apenas os teus enterrados:
tremendo está a carne de teus mortos
que tocaram tua frente, Stalingrado.
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Teu aço azul de orgulho construído,
seu cabelo de planetas coroados,
teu baluarte de pães divididos,
tua fronteira sombria, Stalingrado.
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Tua Pátria de louros e martírios,
o sangue no teu esplendor nevado,
o olhar de Stalin sobre a neve
tingida com teu sangue, Stalingrado.
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As condecorações que teus mortos
colocaram sobre o peito transpassado
da terra, o estremecimento
da morte e da vida, Stalingrado.
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O sal profundo que de novo traz
ao coração do homem estremecido
com a rama de vermelhos capitães
saídos de teu sangue, Stalingrado.
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A esperança que se rompe em seus jardins
como a flor da árvore esperada,
a página gravada de fuzis,
as letras de sua luz, Stalingrado.
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A torre que concebes nas alturas,
os altares de pedra ensanguentados,
os defensores de tua idade madura,
os filhos de tua pele, Stalingrado.
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As águias ardentes de tuas pedras,
os metais por tua alma amamentados,
os adeus de lágrimas imensas
e as ondas de amor, Stalingrado.
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Os ossos dos assassinos feridos,
os invasores de pálpebras fechadas
e os conquistadores fugitivos
atrás de sua centelha, Stalingrado.
Os que humilharam a curva do Arco
e as águas do Sena transpuseram
com o consentimento do escravo,
se detiveram em Stalingrado.
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Os que a bela Praga sobre lágrimas,
sobre o emudecido e o traído,
passaram pisoteando suas feridas,
morreram em Stalingrado.
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Os que na gruta grega esculpiram
a estalactite de cristal quebrado
em seu clássico azul escasso,
agora onde estão, Stalingrado?
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Os que a Espanha incediaram e dividiram
deixando o coração encarcerado
dessa mãe de ensinos e guerreiros,
se puseram a seus pés, Stalingrado.
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Os que na Holanda, água e tulipas
salpicaram no lodo ensanguentado
e derramaram o açoite e a espada,
agora dormem em Stalingrado.
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Os que na branca noite da Noruega
Um uivo de chacal soltaram
incendiando esta gelada primavera,
emudeceram em Stalingrado.
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Horror a ti pelo que o ar traz,
o que se há de cantar e o cantado,
horror por tuas mães e teus filhos
e teus netos, Stalingrado.
Horror ao combatente da névoa,
horror ao comissário e ao soldado,
horror ao céu por traz da tua lua,
horror ao sol de Stalingrado.
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Guarda-me um pedaço de violenta espuma,
guarda-me um rifle, guarda-me um arado,
e que o coloquem em minha sepultura
com uma espiga vermelha de teu estado,
para que saibam, se há alguma dúvida,
que morri amando-te e que me tens amado,
e se não estive combatendo em tua cintura
deixo em tua honra esta granada escura,
este canto de amor a Stalingrado.
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http://www.horadopovo.com.br/2008/fevereiro/2639-08-02-08/P8/pag8c.htm
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Novembro de 1942 a fevereiro de 1943

 

Dramática Stalingrado


Tópicos do capítulo:

Distorção das linhas alemães na Rússia
Stalingrado, objetivo acessório, para o alvo principal
Hitler destrói List e Halder
19 de novembro: ataque russo no Don
O Fuhrer recusa o abandono de Stalingrado. Paulus obedece
Manstein assume o comando do Grupo Don
Paulus condenado a permanecer cercado
Derrota italiana. Agonia do 6o Exército alemão
8 de janeiro: os russos propõem uma capitulação
31 de janeiro: fim em Stalingrado, fúria de Hitler


Paroxismo


Já é hora de voltarmos à estepe russa. A tragédia que aí se desenrola eqüivale em intensidade dramática à do inverno de 1941, em frente a Moscou, e ultrapassa-o em alcance histórico.

De Voronej ao Cáucaso, a extensão e distorção das linhas alemães atingiram um grau espantoso. O Grupo de Exércitos Sul começara sua campanha de verão numa frente de 800 km. Fracionara-se em dois, A e B, cujas frentes, somadas, representavam nada menos de 2.600 km. A ligação dos combatentes com as bases que os abastecem resume-se em estradas que a mais leve chuva torna intransitáveis e em ferrovias, geralmente de linha única, cujos trilhos estão colocados no chão sem qualquer escora de cascalho ou pedras. A circulação do material rodante, extremamente lenta, é ainda agravada pelos atentados dos partisans, que atingem a média de 700 por mês, sendo que repressão alguma consegue diminuir seu índice de crescimento.

O objetivo da ofensiva era a conquista da Transcaucásia. Essa tarefa cabia ao Grupo A, comandado pelo Marechal-de-Campo Von Kleist. O Grupo B, confiado sucessivamente ao Marechal Von Bock e ao General Von Weichs, tinha apenas uma missão de cobertura, contudo grandiosa. Deveria prolongar a barreira do Don, aferrolhando o istmo de 60 km que separa o Don do Volga, e aproximar-se paulatinamente do curso deste último, que acompanharia até Astracã. No final da campanha, isto é, antes da chegada do inverno, as posições alemães ao sul da URSS deveriam ser limitadas pelo litoral do mar Negro, a depressão transcaucásica de Batum e Bacu através de Tíflis, o litoral do mar Cáspio e, finalmente, o Volga e o Don.

Seria absurda essa ambição? Sim e não.

Não: o plano de Hitler daria à Alemanha o petróleo do Cáucaso. Eliminaria os russos do mar Negro, fazendo desaparecer a ameaça de contra-ofensiva na direção da Criméia, da Ucrânia e da Romênia. O Volga tonar-se-ia o extenso e sólido pilar do edifício alemão na Rússia. O prosseguimento da campanha acarretaria operações num perímetro de 4.200 km, mas a vitória permitiria reduzir a frente efetiva em cerca de 1.000 km, da foz do Volga ao curso médio do Don. Era essa, na verdade, a única possibilidade de vitória, já que desaparecera a esperança do pronto e total aniquilamento do Exército Vermelho.

O absurdo flagrante e fatal residia na desproporção entre fim e meios. Para realizar o plano de Hitler, os exércitos alemães deveriam dispor de efetivo duplo, tríplice mobilidade e aviação quádrupla. As tropas deveriam estar repousadas e reintegradas. Vinham combatendo sem tréguas desde o início da guerra com a Rússia, e as perdas sofridas não haviam sido reparadas quer em pessoal quer em material. Muito raramente o efetivo das companhias ultrapassava 60 homens, e os das Panzerdivisionen, 80 tanques. Hitler, que jamais ia ao front, e nunca permitira que seus colaboradores próximos lá fossem, não tinha a menor idéia concreta do desgaste que seus exércitos acusavam em meio das vitórias obtidas. Caso o conhecesse, ter-lhe-ia sido impossível sacar, de uma Alemanha insuficientemente preparada para o impasse de uma guerra mundial, os recursos que agissem como paliativos nessa instância.

À inquietação que se elevaria em torno dele, o Fuhrer respondia apoiando-se no argumento de que os exércitos soviéticos estavam a um passo do fim. Acolhia calorosamente todos os indícios comprovadores do esgotamento do inimigo, e repelia com furor toda prova em contrário. A audácia dessa estratégia justificava-se, sustentava Hitler, pela proximidade do último quarto de hora. Toda guerra é ganha com restos; diante dos destroços russos, as sobras dos alemães conservavam o poder da decisão.

Passara-se o verão. Passa-se o outono. Tórrido ainda ontem, o vento da estepe volta a ser glacial. A neve cai na montanha e surge na planície. Os chefes dos corpos de tropas redigem relatório sobre relatório, pedindo o aceleramento do envio de equipamentos de inverno. Segundo o calendário do Alto-Comando, os objetivos de 1942 deveriam estar atingidos. Em que medida o são, ou ainda podem sê-lo, antes que de fato se instaure o verdadeiro inverno?

Batum, junto ao mar Negro, deveria ser tomada; faltam ainda 500 km para isso. Nenhum progresso importante, foi realizado após a tomada de Novorossisk, e, no interior, a escalada do Elbruz (5.800 m) parece ter marcado com uma proeza esportiva o limite do esforço alemão. O Subgrupo do Exército Ruoff, composto do 17o Exército alemão e do 3o Exército romeno, combate em sublimes paisagens; florestas virgens, gargantas selvagens, esporões rochosos, de onde se descortina a verdejante planície costeira e a grande mancha escura do mar. Fracassaram, porém, todas as tentativas para descer até essa costa.

No Cáucaso central, Tíflis já deveria ser alemão. Não o é nem ao menos seu vestíbulo, Ordjonikidze. O 1o Exército Blindado reuniu no cotovelo do Terek todas as forças que pôde sacar de seus 700 km de frente, a 13a Divisão Panzer tentou subir de novo as gargantas que introduzem diretamente à estrada militar da Ossetia: as dificuldades do terreno, a penúria de gasolina e a resistência russa conjugaram-se para detê-la. Mais a leste, a Divisão Viking, formada por voluntários nórdicos, tentou apoderar-se da importante zona petrolífera de Grozny. Foi feita uma cabeça-de-ponte sobre o Terek, ao preço de sobre-humanos esforços, mas faltava inteiramente o reforço necessário para tirar partido desta vantagem. A 12 de novembro, em meio duma tempestade glacial, os Vikings tornaram a cruzar o rio. Em parte alguma a Wehrmacht irá mais longe do que isso.

O objetivo real da campanha era Bacu. Nenhum soldado alemão dela se aproximará, a não ser num raio de 600 km. “Se não tomo o petróleo de Bacu - dissera Hitler -, ver-me-ei obrigado a acabar com a guerra”.

Entre o Terek e o baixo Volga, na estepe calmuque, uma única divisão, a 16a Motorizada, atravessou o vazio de 400 km existente entre os grupos de Exércitos A e B. Os próprios russos, na verdade, não conseguem saturar tão enormes espaços. A 16a Motorizada toma Elista, capital dos nômades, e uma patrulha, conduzida por um certo Oberleutnant Gottlieb, avança até a 25 km de Astracã. Corta a linha férrea de Bacu, incendeia um trem de petróleo e volta sem ter visto um único soldado inimigo. Um vazio praticamente total se estende entre os exércitos que combatem no Cáucaso e os que se comprimem no Volga.

Ao norte de Elista, o 4o Exército romeno, composto de dois débeis corpos, esboça uma frente ofensiva, formando ao longo de uma cadeia de lagos, comprovantes de um antigo curso do Volga. À sua esquerda, o 4o Exército Blindado, do General Hoth, alcança o grande rio perto do cotovelo que este desenha, para deixar a direção do mar Negro e tomar a do Cáspio. Até 16 de setembro, essa força participara da luta por Stalingrado, e depois cedera parte de suas unidades ao 6o Exército, encarregado de concluir a conquista da cidade. Reduzido ao 4o Corpo e à 29a Divisão Motorizada, o 4o Exército Blindado se encontrava em condições de apoderar-se das alturas de Krasno-Armensjk, de onde os russos dominavam suas linhas.

Entramos no setor do 6o Exército, nos limites de Stalingrado. O oficial que o comanda, General Friedrich Paulus, é o mais recente dos grandes chefes alemães. Com apenas 52 anos de idade, ex-general-intendente, ex-chefe do Estado-Maior do Marechal Reichenau, ele fora chamado, não sem despertar ciúmes, para ficar à frente de uma das principais peças do tabuleiro do xadrez militar.

Hitler, entretanto, tem os olhos sobre ele para outro papel, menos invejável: pretende, quando Paulus conquistar Stalingrado, confiar-lhe as funções de Jodl, promovendo-o a seu estrategista particular.

O favor político não influi na brilhante promoção de Paulus. Oriundo de um meio de modestos funcionários, elevado socialmente por sua aliança com uma boa família romena, ele é neutro em política, como é morno de personalidade. A obediência é o principal esteio do Exército, mas a desobediência leva regularmente à glória os grandes chefes. Paulus é incapaz de desobedecer.

A incumbência que lhe fora confiada para a campanha de 1942 torna-se cada vez mais pesada. As operações do 6o Exército só haviam sido inicialmente previstas para o ferrolho do Don, permanecendo Stalingrado como objetivo suplementar, antes uma presa do que uma meta. Depois, o que era acessório revestiu-se da maior importância. Hitler começara por declarar que não exigia a ocupação da cidade, contentando-se com a destruição de seu potencial industrial. Vê agora, pela feroz batalha que ele provoca, o impasse capital e decisivo da luta contra a Rússia.

O cerco teve início a 2 de setembro, pela junção, nas colinas que dominam a cidade, do 6o Exército e do 4o Exército Blindado. A causa parece perdida para os russos. Todas as comunicações terrestres de Stalingrado são cortadas, e o abastecimento da guarnição só é realizável pelo Volga. O General Lopatine, comandante do 62o Exército, considera a cidade indefensável, e solicita autorização para tornar a cruzar o rio. Voltando, porém, ao sistema de defesa elástica adotado no início do verão, Stalin acaba de proclamar que a Rússia não pode mais ceder território algum. O comandante do grupo de exércitos, Eremenko, e seu novo comissário político, Kruschev, substituem Lopatine pelo General Tchuikov, recém-chegado do Extremo Oriente. Suas ordens resumem-se a uma frase: conservar Stalingrado, ou morrer.

Stalingrado é um cais do Volga. Vira as costas à estepe e contrai-se ao longo da enorme massa líquida. As margens escarpadas interrompem-se por um declive abrupto, o que complica as relações da aglomeração e do rio, fornecendo contudo um ângulo morto às armas de longo alcance. Os barrancos erodidos, os balkas da estepe, prolongam-se pela cidade por uma série de depressões, sendo a mais profunda ocupada pelo rio, que conservara o nome de Tzaritza, quando a Tzaritzina se tornara Stalingrado. A cidade velha fica ao sul. A cidade central, cujo coração é a Praça Vermelha, desce por vários lances de escada da colina Mamai ao desembarcadouro do ferry, que substitui as pontes ausentes. Desenvolve-se em direção ao norte a faixa das pequenas cidades industriais. A fábrica de produtos químicos Lazur ocupa o centro de um entroncamento ferroviário nitidamente visível em fotografias aéreas, provindo daí seu apelido, Raquete de Tênis. Vem a seguir a Usina Siderúrgica Outubro Vermelho, a fundição de canhões Barricada e a fábrica de tratores Djerjinski. Os subúrbios de Spartokovska e de Rynok prolongam Stalingrado até a vasta superfície líquida a partir da qual a extensa sangria do Achtuba começa a desmembrar o Volga. O comprimento total dessa cadeia urbana e industrial ultrapassa 50 km. A largura raramente excede 3.000 passos.

A cidade velha caiu primeiro. A conquista do grande silo pela 29a Divisão Motorizada foi o primeiro dos combates fantásticos que dão um caráter único à batalha de Stalingrado. As detonações, a ressoar na enorme carapaça de concreto, arrebentavam os tímpanos, quais elásticos esticados em demasia. O edifício ainda estava cheio de trigo: russos e alemães matavam-se em meio a uma dourada cascata. Os alemães levaram vantagem. No meio de outubro, haviam conquistado, no setor sul, 10 km de margem, de Kuperovskie ao pé das escadas da Praça Vermelha. No setor norte, ocuparam uma ala eqüivalente, de uma ponta a outra de Rynok.

Se os russos fossem razoáveis, teriam desistido. Só conservavam, de Stalingrado, uma parte dos bairros industriais do Norte, como também, na cidade central, o sopé da escarpadura: uma faixa de algumas dezenas de metros de largura, finalizando em bisel à entrada do desembarcadouro. A batalha, contudo, revestira-se de caráter irracional. Não mais punha em choque dois comandos sensíveis à lógica militar, e sim jogava, um contra o outro, dois incontroláveis fanatismos. Do lado alemão, o absurdo era ainda mais flagrante.

Quando se constatou, em outubro, que o Grupo de Exércitos A perdera qualquer possibilidade de conquistar em 1942 o petróleo do Cáucaso, a ponta de Stalingrado ficou destituída de interesse estratégico. Sua última justificativa econômica, a intercepção do tráfego do Volga, encontrava-se às vésperas de desaparecer, pois o congelamento do rio deveria interromper a navegação muito mais efetivamente do que a presença dos soldados de Paulus em Rynok e a dos de Hoth em Kuperovskoie. A principal tarefa do Comando alemão constituiria, daí em diante, em receber o segundo inverno russo em melhores condições do que o primeiro, encurtando e consolidando uma desmesurada frente. O avanço em direção a Tíflis e a punção até o Volga encabeçavam os sacrifícios a serem admitidos.

Hitler, porém, desligara-se da realidade, e os que tentavam fazê-lo voltar a ela pagavam caro por isso.

No começo de setembro, um general fora massacrado por sustentar a necessidade da limitação da marcha para a frente, e um outro caíra em desprestígio por havê-lo defendido. O primeiro era o Marechal-de-Campo List; o segundo, o General Jodl. Ao voltar de uma missão ao QG do Grupo de Exércitos A, Jodl ousara lançar ao rosto de Hitler que as faltas reprovadas a List eram conseqüência das ordens que o próprio Fuhrer dera. Este deixou o recinto lívido, como se fosse desmaiar, vagueou durante horas pelos bosques de Vinnitsa, e fechando-se de vez num círculo de solidão, deixou para sempre de fazer as refeições à mesa de seus oficiais. Destituído de seu comando, List desaparece da história das hostilidades.

No fim de setembro, Halder, por sua vez, desaparece. Mantivera-se no posto de chefe do Estado-Maior Geral do Exército desde a crise de Munique. Mas seu espírito crítico, seu discurso, seus protestos, advertências, somadas a seu catolicismo, indispunham-no junto a um ditador que se deixava proclamar por seus cortesão como “o maior gênio de todos os tempos”. A taça transbordou em 24 de setembro. “Tanto os seus nervos como os meus - disse Hitler - estão esgotados. Não é de um mestre-escola, mas de um homem imbuído do fanatismo nacional-socialista, que necessito para conduzir minha guerra na Rússia..”

Kurt Zeitzler, que substituiu Halder, não passa de um simples general-major - No Exército alemão, as patentes de general obedecem à seguinte hierarquia: general-major (sem estrelas); general-tenente (1 estrela); general-capitão (2 estrelas); general-coronel (3 estrelas).  Seu OKH tem por única atribuição a frente oriental, ficando os palcos de operações colocados diretamente sob a autoridade do OKW, isto é, Keitel. Na realidade, tudo se torna confuso sob a onipotência caprichosa e verborrágica de Adolf Hitler. Depois do rompante contra Jodl, estenógrafos registram todas as conferências com caráter de relatório Lagebesprechungen feitas em seu QG. Delegarão assim à história um lenga lenga fantástico, onde se vê Hitler passar das mais sublimes considerações a pormenores sem importância, mostrando-se a cavaleiro do mundo, para, no minuto seguinte, deslocar uma companhia, sem contudo sentir-se tentado uma só vez a ir ao front, ou de roçar-se em outros Feldgrauen que não são os heróis condecorados, enluvados e desinfetados que faz trazer à sua presença de vez em quando.

Em vez de renunciar a Stalingrado, o Exército alemão encarniça-se em mantê-la. Todos os batalhões de engenharia militar são trazidos em aviões e formados em grupos de assalto para abrir caminho à infantaria nos grandes bastiões industriais. Os combates desenrolam-se no meio da confusão da maquinaria quebrada das fábricas, de pontes rolantes tombadas, de estruturas espatifadas de edifícios. Os alemães sabem que nada lhes será cedido, e que até a última pedra de Stalingrado deverá ser regada com seu sangue.

A 9 de novembro, na 19a celebração do Putsch de Munique, Hitler alardeia: “Eu quis atingir o Volga na própria cidade que leva o nome de Stalin. Tomamos essa cidade, exceção feita de duas ou três insignificantes ilhotas. Perguntam-me: “Por que não acaba mais depressa com ela?”. Respondo: Porque não quero saber de um segundo Verdun. Deixo a pequenos grupos de assalto o cuidado de ultimar a conquista de Stalingrado”.

Ao dizer que Stalingrado se encontrava inteiramente conquistada, o Fuhrer em nada falseara a verdade. Os russos conservavam o desembarcadouro, agarravam-se à Raquete de Tênis e detinham uma parte da Usina Outubro Vermelho, assim como as saídas orientais das fábricas Barricada e Djerjinski. Tudo mais, correspondendo a nove décimos de Stalingrado, 50 km de ruínas, estava nas mãos do inimigo. Todos os imóveis de madeira, queimadas, ficando apenas os vestígios de milhares de chaminés enegrecidas. Não podendo transpor o Volga, a população fugira para a estepe desprovida de recursos, e milhares de inocentes morreram de fome.

Mas Hitler subestima sua platéia ao fazer crer que os combates de Stalingrado se resumem agora à tarefa de uns poucos varredores de destroços. A totalidade do 51o Corpo, repartido em oito divisões, está empenhada na batalha das ruas. Os melhores elementos do grupo de exércitos são por ela sorvidos. Ao invés de perder tempo em diletantismos, o Fuhrer apressa-se em terminar a operação. A 17 de novembro, de Berchtesgaden, para onde fora após o desembarque anglo-americano na África do Norte, ele se dirige a todos os coronéis que ocupam postos de comando em Stalingrado. “Conheço as dificuldades de sua tarefa. As que os russos enfrentam não são menores, e os gelos flutuantes irão aumentá-la. Conto com sua energia para tirar proveito dessa circunstância favorável, e conquistar definitivamente a fábrica de canhões e a siderúrgica”.

Os regimentos alemães correspondem a esse apelo. A 19 de novembro, Djerjinski e Barricada encontram-se inteiramente em seu poder. São conquistadas várias centenas de metros do rio. Os gelos que flutuam no Volga efetivamente interrompem o abastecimento dos defensores. Tchuikov dá a conhecer que está à míngua de munição, de víveres, de sangue...

O cerco aproxima-se do fim. E é então que chega ao comandante do 6o Exército uma ordem completamente inesperada: suspender todos os ataques na frente de Stalingrado...



O flanco de vidro do aríete


O exército de Paulus não combate apenas em Stalingrado. Dobrando-se, qual braço protetor, barra o istmo que separa o Volga do Don. Transpõe este último e, rodeando o ferrolho de Kremenskaia, em poder dos russos, estende-se até Kletskaia. Dois corpos de exércitos, o 8o e o 11o, guardam essa frente defensiva.

Além de Kletskaia, até a vizinhança de Voronej, estendem-se os setores mantidos pelos aliados da Alemanha: romenos, italianos e húngaros.

Os três exércitos eqüivalem-se em fraqueza. Uma testemunha italiana, que vira passar em Viena seus compatriotas a caminho da Rússia, assim registrou suas impressões: “Nossos soldados não tem boa aparência. Estão sujos, mal equipados e principalmente mal enquadrados e muito mal armados. Caso venham realmente a combater contra o Exército russo, encontrar-se-ão logo em má situação. Nosso coração está apertado por causa deles”. A motorização dos três exércitos é, a bem dizer, nula. Equipamento, vestuário, transmissores, material óptico, etc, são de última categoria. A artilharia é antiquada. A defesa antitanque não dispõe de canhão superior ao canhão 37 hipomóvel. O moral é incerto. Como os contingentes estrangeiros no Grande Exército, os soldados tem consciência de que essa guerra não é deles, e não podem deixar de ressentir-se da inferioridade material e moral com que combatem.

Numericamente, a contribuição húngaro-ítalo-romena à guerra de Hitler é considerável. O 2o Exército húngaro, mais próximo à Voronej, conta com três corpos, e o 4o Exército romeno, mais próximo à Stalingrado, com quatro - somando-se aos dois corpos do 3o Exército alinhados na estepe e às sete divisões que combatem ao lado do 17o Exército alemão. Como húngaros e romenos são inimigos hereditários, foi preciso intercalar entre eles o 8o Exército italiano, com quatro corpos, entre os quais o corpo alpino. Trinta e duas divisões, 24 das quais dispostas ao longo do Don, perfazem assim a ordem de batalha da Wehrmacht. Mas ainda se estará fazendo uma estimativa generosa reduzindo-lhes o número de dois terços, ao avaliar seu poder combativo pelos padrões alemães.

Os generais alemães sempre pediram para que esses débeis auxiliares fossem “cintados”, isto é, diluídos nas tropas alemães. Mas considerações de alta política opuseram-se a isso. Os governos satélites queriam exércitos constituídos, sob o comando de nacionais. Devido a seu fraco valor ofensivo, foram confiadas frentes passivas a esses exércitos. É esse motivo pelo qual a proteção dos dois flancos da ofensiva dirigida a Stalingrado se encontra quase exclusivamente confiada aos seus aliados.

Sobre a gênese da contra-ofensiva - sobre a preparação de uma das mais belas vitórias da história russa - as fontes soviéticas são, mais uma vez, profundamente decepcionantes. A história da guerra mundial editada pelo General Platonov diz que os planos começaram a ser elaborados no mês de setembro, resumindo-os de maneira bastante clara. A narrativa, entretanto, reveste-se de extremo laconismo. São omitidas as condições em que foi armada a manobra magistral, assim como as discussões a que deu lugar. Temos de nos contentar com esse estilo convencional e declamatório, com essa verdade oficial que sucede a uma verdade oficial totalmente diversa. Até 1953, o único vitorioso de Stalingrado era Stalin. De 1956 em diante, Stalin morre para a história: seu nome nem ao menos figura no texto de Platonov.

Três frentes, ou grupos de exércitos, cercavam a eminência de Stalingrado: Frente Sudoeste, comandada por Vatutin; Frente do Don, comandada por Rokossovski; Frente de Stalingrado, comandada por Eremenko. A manobra consistiu em atacar simultaneamente ao norte e ao sul, para trancar o ferrolho do Don; uma concepção mais ampla, que teria selado o destino de toda a direita alemã, consistiria em visar diretamente Rostov, ou mesmo Stalino, nó vital das comunicações inimigas. Ignoramos se foi considerada.

“A estepe - diz Platonov - não favorecia a concentração soviética, que conseguimos, contudo, camuflar. Todos os movimentos foram feitos à noite. Ao primeiro clarão da aurora, as tropas se detinham, dissimulando-se nas aldeias ou colando-se ao chão dos balkas. Nossa ofensiva foi uma surpresa total para o Comando inimigo”.

Platonov engana-se. O ataque era esperado. A fragilidade do flanco defensivo consistia há muito tempo uma fonte de inquietações. Hitler assinalara, desde agosto, a fraqueza da linha do Don, ao lembrar que o exército dos russos brancos fora batido em 1920, quando atacava Tzaritzina, por uma ofensiva procedente do rio. Movimentos nas retaguardas e concentrações de tropas nas perigosas cabeças-de-ponte haviam sido assinaladas inúmeras vezes. Nos estados-maiores, discutia-se apenas um problema: recairia o golpe sobre húngaros, italianos ou romenos? “Eu dormiria melhor se o Don estivesse guardado por alemães” - dizia Hitler.

A 7 de novembro, na conferência do Fuhrer, o novo chefe do Estado-Maior, Zeitzler, comunicou uma informação do serviço de espionagem, revelando que uma grande ofensiva soviética sobre o Don fora decidida pelo Kremlin quatro dias antes. A única reserva mecanizada, o 48o Corpo Blindado, que se encontrava atrás do 8o Exército italiano, recebeu ordens para vir colocar-se atrás do 3o Exército romeno. Comandado pelo General Von Heim, o corpo de exército compunha-se da 22a Panzer e da 1a Divisão Blindada romena. Esta, de formação recente, possuía apenas cerca de 40 veículos tchecos, fracamente armados de um canhão de 37 mm. A 22a, por sua vez, estava longe de encontrar-se em condições mais satisfatórias. Seu regimento de tanques fora cortado em dois, para formar o núcleo da 27a Divisão Panzer, e a maior parte das armas que recebera em substituição consistia em PzKw 2 e 3, sem condições para medir-se com o T-34. Além disso, uma cômica surpresa aguardava Von Heim. Como não fora abastecido de gasolina, havia deixado os tanques da 22a camuflados sob a palha. Quando os descobriram, constatou-se que os ratos, que infestavam a palha, tinham devorado os revestimentos de guta-percha (espécie de látex) e inutilizado a aparelhagem elétrica. Dos 104 tanques da divisão, apenas 60 se puseram em marcha para cobrir o percurso de 250 km, por uma estrada coberta de gelo. Apenas 32 chegaram ao novo estacionamento; nos dias seguintes, outros 12 vieram juntar-se a eles. A 19 de novembro, o 48o Corpo Blindado, única força de contra-ataque do ferrolho do Don, constituía-se de um punhado de tanques romenos desemparelhados e de 44 tanques alemães, dos quais 31 leves.

A noite de 18 para 19 era fantasmagórica. O nevoeiro, segundo as testemunhas, era “um leite”. À meia-noite, a neve começou a cair. Às 4 horas, a artilharia russa iniciou um pesado bombardeio, concentrado em dois limitados setores: as cabeças-de-ponte de Serafimovitch e Kremskaia. Às 8 horas, surgiram os tanques, trazendo pencas de soldados de infantaria agarrado às superestruturas. O ataque do oeste, com o 5o Exército Blindado, abateu-se sobre o 2o Corpo romeno. O ataque, do leste,  com o 3o Exército de Choque, caiu, sobre o 4o Corpo romeno. Os romenos estavam longe de ser os mais medíocres aliados dos alemães. Muitas de suas unidades eram aguerridas; alguns de seus generais, excelentes; os soldados eram muito resistentes, mais acostumados ao clima, com melhor preparação ideológica para uma guerra contra a URSS do que os húngaros e, principalmente, os italianos. Nem por isso a derrota foi menos fragorosa. A irrupção dos tanques russos produziu o mesmo efeito que a dos tanques alemães em Sedan. A debandada propagou-se cava vez mais, empolgando unidades que nem ao menos se viam atacadas. Entre as duas investidas, um grupamento comandado pelo General Lascar escorou-se no Don e defendeu-se com bravura, mas, de modo geral, o 3o Exército romeno se desagregou. Pelas estradas cobertas de neve, massas de homens chicoteados pela intempérie fugiam às cegas. A única saída consistia num contra-ataque. As perdas e a dispersão, contudo, haviam enfraquecido a Wehrmacht numa extensão difícil de ser concebida. Uma intervenção espontânea da 14a Panzer, à esquerda do Exército de Paulus, conseguiu liberar o 11o Corpo alemão, mas o 48o Corpo Blindado, sacudido por ordens contraditórias, turbilhonou a esmo pelo campo de batalha enregelado, submergindo em hordas de fugitivos e chocando-se em toda parte contra forças superiores. Para não ser envolvido, terminou por fugir. Von Heim, que tivera metade dos seus carros blindados inutilizados pelos ratos, foi apontado como responsável pelo desastre e permaneceu encarcerado na prisão militar de Moabit até 1945.

A 20 de novembro, enquanto Vatutin e Rokossovski galopavam a oeste do Don, Eremenko, por sua vez, atacava ao sul de Stalingrado. O 4o Corpo alemão susteve o choque, mas o 4o Exército romeno desintegrou-se, como fizera na véspera o 3o . O 51o Exército soviético correu em direção a Kalatch, principal passagem do Don, gargalo vital das comunicações de Paulus. Quando a atingiu, no dia 22, a ponte já fora tomada pelos soldados de Rokossovski. O grupo de DCA que a guardava e a bateria de 155 que lhe dava cobertura estavam tão longe de esperar uma penetração russa, que tomaram os T-34 que se aproximavam do Don pelos tanques, capturados do inimigo, que a companhia de instrução de Kalatch utilizava. Alguns minutos depois a ponte, intacta, encontrava-se em poder dos russos. O 6o Exército estava cercado!

O próprio Paulus quase fora aprisionado. Encontrava-se sem eu PC de Globulinskaia, 15 km ao norte de Kalatch, na margem ocidental do Don, quando, às 14 horas, surgiram os russos. O Estado-Maior escapou pelo Don enregelado, abandonando o material da companhia e utensílios de cozinha. Paulus e seu chefe de estado-maior, General Arthur Schmidt, levantaram vôo em dois Fieseler-Storch e foram pousar no QG de inverno do exército, em Nijni-Tchirkaia, na confluência do Don e do Tchir, isto é, fora do bolsão demarcado pelo inimigo. Poucas reviravoltas da sorte foram tão brutais. Na antevéspera, Paulus podia considerar uma questão de horas a tomada de Stalingrado, vitória que iria ilustrar seu nome. Na véspera, recebera do comandante do grupo de exércitos, General Von Weichs, a inesperada ordem de reenviar suas unidades móveis e direção ao oeste. Pela manhã, procurava compreender o que teria tão repentinamente acontecido ao exército vizinho. Ao meio-dia, sem ter sido vencido, encontrava-se na ridícula situação de um general separado de seu exército, fugindo antes de qualquer soldado!

Ao escapar da armadilha, Paulus acreditou por um momento poder dirigir do exterior as operações de salvamento de seu exército. Um telegrama de Hitler chamou-o a uma concepção draconiana do dever: “O Oberbefehlschaber (Generalíssimo) do 6o Exército voltará a Stalingrado. O Exército se organizará em uma frente fechada e esperará novas ordens”. A situação era das que pedem reações imediatas, iniciativas ousadas. As primeiras instruções de Hitler - ditadas de Berchtesgaden - impunham espera e imobilidade.

Pronto a voar para Stalingrado, Paulus vê aparecer um companheiro de infortúnio, Hoth, comandante do 4o Exército Blindado. Ele perdera tudo; tanto suas unidades alemães, cercadas no bolsão de Stalingrado, como as romenas, dispersadas pela estepe. Os adeuses são rígidos, embora carregados de emoção entre os dois chefes: um representa um exército aniquilado, o outro vai juntar-se a um exército condenado. Em seguida, o pequeno avião de Paulus voa baixo, sobre a planície branca, e pousa perto da estação de Gumrak, a 15 km de Stalingrado, onde já funciona o novo PC do exército.

Paulus é um exemplar oficial de estado-maior: rapidez de análise, facilidade de exposição. A partir das 16 horas, dirige ao OKH um lúcido resumo da situação. O 6o Exército, cercado, conserva uma cabeça-de-ponte a oeste do Don, mas tem o flanco sul a descoberto; falta-lhe combustível e só dispõe de víveres para seis dias.

Ainda que a exposição seja clara, as conclusões carecem de firmeza. Paulus hesita. Trava-se uma discussão em Nijni-Tchirkaia. Por-se em ferrenha defensiva, como deseja Hitler, implica num abastecimento aéreo até o momento do cerco ser rompido pela intervenção de um novo exército. O comandante da 4a Luftflotte, Wolfram Von Richthofen, foi categórico: manutenção, por via aérea, de 200.000 a 300.000 homens, empenhados em duros combates, ultrapassa a capacidade da aviação de transporte. O general de DCA Martin Fiebig opinara no mesmo sentido, ao dizer a Paulus que só lhe restava uma coisa a fazer: retirar seu exército da armadilha, sem perda de uma única hora. Mas o chefe de estado-maior Schmidt mantivera parecer oposto: uma retirada, dissera ele, seria “napoleônica”, exigindo o abandono de enorme material e 15.000 feridos. Indeciso, Paulus limitara-se a pedir ao Fuhrer liberdade de ação, e licença para abandonar Stalingrado “caso o 6o Exército não conseguisse fechar seu flanco sul”.

Vinte e quatro horas depois, as idéias de Paulus evoluíram. A situação lha parece sob uma luz mais sombria, e a nova mensagem que endereça ao Fuhrer propõe a abertura imediata de uma brecha, ao menos para salvar “preciosos combatentes”. Acrescenta - sob o risco de ser acusado de conjuração - que os comandantes dos cinco corpos de seu exército, Heitz, Von Seydlitz, Strecker, Hube e Jaennicke, compartilham de sua opinião.

Nesse meio-tempo, o comandante do grupo de exércitos, Von Weichs, falara mais energicamente ainda. O abastecimento aéreo de 20 divisões, notifica ele a Angerburgo, só poderá satisfazer um décimo das necessidades das mesmas. Cercado, o 6o Exército se vê condenado a perder em alguns dias a maior parte de seu valor combativo. Uma tentativa para abrir caminho acarretará a perda de considerável material, porém não há outro meio de evitar um desastre total.

Hitler chega a Rastenburgo no dia 23, à uma hora da manhã. Zeitzler, que o esperava devorado de impaciência, é avisado que o Fuhrer se encontrava cansado da viagem e que só daria audiência ao meio-dia. Zeitzler protesta, alega urgência, consegue fazer-se receber e, para sua grande surpresa, encontra um homem sereno. Ao trabalhar com Jodl, em seu trem, Hitler encontrara um meio de conjurar a crise de Stalingrado: chamar do Cáucaso uma, talvez duas divisões blindadas, que reabrissem as comunicações com o 6o Exército. Zeitzler retruca que seriam necessários 15 dias para transportar uma divisão, e que o 6o Exército, a essa altura, já estaria completamente esgotado. Mas quando propõe a abertura imediata de uma brecha, Hitler pergunta-lhe com ar ameaçador se tenciona abandonar Stalingrado. Ao obter resposta afirmativa, bate com o punho na mesa e grita inúmeras vezes: “Nunca deixarei o Volga! Nunca deixarei o Volga!”

Durante o dia, as notícias pioram. A cabeça-de-ponte a oeste do Don é penosamente mantida. Voltando à carga, Zeitzler abala Hitler e, às duas horas da manhã, telefona a Von Sodenstern, chefe do estado-maior do Grupo de Exército B, dizendo que o Fuhrer concorda em reconsiderar a questão, e que dará a conhecer sua decisão às 8 horas. “Parece fora de dúvida - acrescenta - que essa decisão consistirá na ordem de abrir imediatamente passagem para sair. O 6o Exército pode começar seus preparativos. “Por uma linha telefônica que os russos cortarão um minuto depois, Sodenstern comunica a notícia ao PC de Gumrak. Esta de espalha pelo bolsão, propiciando a sensação de alívio que conhecem os emparedados ao receberem a primeira lufada de ar puro.

Às 10 horas, nenhuma outra comunicação alcança o grupo de exércitos. Inquieto, Sodenstern telefona para Rastenburgo, nada obtendo além de um impaciente convite a ser paciente. Alguns minutos depois, o rádio de escuta capta uma ordem direta de Hitler a Paulus. O 6o Exército é convidado a organizar-se na seguinte frente: Stalingrado - Norte, cota 137, Marinovka, Zybenko, Stalingrado - Sul. Isto desenha no mapa uma espécie de ameba com cerca de 60 km de comprimento e 40 de largura. A cabeça-de-ponte no Don, possível porta de evasão, deve ser abandonada. O Fuhrer termina sua mensagem dizendo que o 6o Exército pode contar com ele para um abastecimento satisfatório, assim como para ser tirado do cerco a tempo...

Assim, Hitler não pôde resignar-se a abandonar Stalingrado! Quando Zeitzler se apresentou em sua residência, às 8 horas, o Fuhrer trazia nos lábios uma nova expressão; Stalingrado é uma fortaleza. E o 6o Exército é sua guarnição. Uma guarnição não abandona a fortaleza que lhe é confiada. “Se for necessário, a guarnição de Stalingrado sustentará o cerco durante todo o inverno e eu a libertarei com minha ofensiva de primavera”. Quando Zeitzler tentou demonstrar que Stalingrado nada tinha de fortaleza, Hitler recomeçou a agitar o punho no ar. “Nunca deixarei o Volga!”. Primeira e última palavra a ilustrar a servidão em que o chefe militar é mantido pelo condutor de massas: o estrategista submisso ao demagogo. A 9 de novembro, em Munique, Adolf Hitler pronunciara as seguintes palavras: “Aquilo que o soldado alemão guarda, força alguma no mundo poderá arrancar-lhe”. Como poderia ele aceitar um desmentido tão rápido?

Zeitzler encolerizou-se, e exclamou por sua vez: “Meu Fuhrer! Seria um crime abandonar o 6o Exército! Isto significaria a morte ou a captura de um quarto de milhão de valentes soldados. E mais ainda! A perda de um grande exército quebraria a coluna vertebral da frente oriental!”.

Ao ouvir a palavra “crime” - verbrechen - Hitler estremeceu. Mas conteve-se, chamou o SS de serviço e ordenou que introduzissem no recinto o Marechal Keitel e o General Jodl. Declarou em tom compenetrado que estava na iminência de tomar uma grave decisão, e que não desejaria fazê-lo sem que seus melhores colaboradores lhe dessem a conhecer sua opinião, com a mais completa liberdade: “Feldmarschall Keitel?” “Meu Fuhrer, não abandone Stalingrado!”. Keitel falou num tom de quem dita posição de sentido, com inflexões teatrais, os olhos flamejantes. Jodl, ao contrário, pesou os prós e os contras, mas acabou por concluir que, ao menos até nova ordem, era preciso permanecer em Stalingrado.

Interrogado por sua vez, Zeitzler manteve sua conclusão: abertura imediata de uma brecha, e retirada. Hitler ouviu-o calmamente, e depois retrucou, com polidez glacial: “O senhor está vendo, general, que não sou o único a defender minha opinião. Ela é compartilhada por dois oficiais, ambos mais graduados e mais experientes que o senhor. Atenha-se pois à decisão que tomei. Ordeno que se defenda a fortaleza de Stalingrado”.

Uma questão, todavia, condiciona tudo: a possibilidade de abastecer o 6o Exército por meio de uma “ponte aérea”. Fizera-se isso, no inverno anterior, pelo bolsão de Demiansk, mas este continha menos de 100.000 homens, e a fortaleza de Stalingrado abriga o triplo disso.

Interrogado, o 6o Exército informou que, para satisfazer o mínimo de suas necessidades, precisaria, por dia, de 750 toneladas de munições, combustível, forragem, víveres (40 toneladas unicamente para o pão). Interrogado, o chefe da aviação de transportes respondera que 350 toneladas representavam o máximo de suas possibilidades. Segundo a tradição militar, considerara-se a primeira cifra uma superestimação sistemática, e a segunda uma subestimação prudente. Goering, o eterno ausente, encontrava-se em Paris, que, decididamente, ele considerava uma estância mais refinada que Rastenburgo. Consultado por telefone, declarou que a verdade estava na medida áurea, in dem goldenen Mittelweg. Sua Luftwaffe disporia de meios para depositar 500 toneladas por dia na fortaleza de Stalingrado. Poderia, assim, responder pelas necessidades primordiais do 6o Exército. Seu chefe de estado-maior, Jeschonnek, veio assegurar isso a Hitler, omitindo uma comunicação de Von Richthofen, em que este pedia que fosse levada ao conhecimento de Hitler sua opinião sobre a impossibilidade da “ponte aérea”.

Para os sitiados, a decisão de Hitler fora um golpe terrível. A palavra “fortaleza” poderia iludir um público ignorante. Stalingrado encontrava-se inteiramente em ruínas. As poucas localidades do perímetro cercado haviam sido queimadas até o chão. A estepe achava-se rigorosamente nua. Na frente norte, alguns trabalhos para organizar o terreno haviam sido executados durante o verão, mas as frentes oeste e sul não tinham uma só vala a demarcá-las. Não era mais possível cavar o solo enregelado. Não havia madeira alguma para a construção de abrigos. Os soldados teriam apenas a lona de suas tendas como proteção contra o fogo inimigo e as tempestades de neve, de 40 graus negativos. A primeira reação dos generais é de revolta. O comandante do 4o Corpo, Jaennicke, exclama, dirigindo-se a Paulus: “Reichenau não obedeceria!”. Paulus abaixa a cabeça: “Ich bin kein Reichenau” - “Não sou um Reichenau”. E abafa os protestos de seus subordinados com o argumento incontestável de que a um soldado só compete obedecer.

Um único general não se resigna: Von Seydlitz Kurbach, comandante do 51o Corpo. Estava tão convencido de que iria romper as linhas inimigas, que fizera evacuar seus postos avançados e destruído todos os itens supérfluos e intransportáveis, inclusive suas calças e capote sobressalentes. Ele escreve uma nota a Paulus exigindo que este a transmita aos escalões superiores. Ainda que 500 aviões transportassem 1.000 toneladas por dia, sustenta ele, as necessidades do 6o Exército não seriam atendidas. Urge aproveitar o breve instante em que o inimigo ainda se encontra fraco ao sudoeste de Stalingrado, para romper através de suas linhas em direção a Kotelnikovo. “Se o OKH mantém a ordem de resistir in loco, o dever de consciência para com o Exército e o povo alemão exige imperiosamente que o senhor tome nas mãos a iniciativa de evitar uma grande catástrofe, o aniquilamento de 200.000 combatentes e a perda de seu material. Não há escolha possível!”.

O nome Seydlitz figura entre os mais altos expoentes da história militar da Prússia. O Seydlitz da guerra dos Sete Anos, amigo íntimo do grande Frederico, é considerado como um dos melhores generais de cavalaria de todos os tempos. As linhas citadas acima, o mais ousado desafio que um oficial fez chegar a Hitler, constituem ao mesmo tempo uma sentença de morte. Seydlitz fica à espera de que um avião venha buscá-lo, para jogá-lo diante de um poste de execução. Von Weichs, porém, intercepta o memorando, e o que chega a Seydlitz é apenas a ordem de assumir o comando de toda a frente norte do bolsão. “Que pretende fazer o senhor?” - pergunta-lhe Paulus. “Já que o senhor não desobedece - diz ele -, só me resta obedecer”.

A “ponte aérea” começa a funcionar. Uma centena de trimotores Junker decola dos aeródromos de Tazinskaia e Morosovskaia, no ferrolho do Don e, depois de percorrerem 200 km, pousam em Pitonik ou em Gumrak. Retornam carregados de feridos. As perdas ocasionadas pelo inimigo não são, a princípio, muito elevadas, porém as que resultam das más condições atmosféricas e do desgaste do material revelam-se desde logo extremamente pesadas. O rendimento cotidiano começa com cerca de 50 toneladas e só lentamente atinge uma centena. A Luftwaffe pede que os sitiados tenham paciência, dizendo ser-lhe necessário algum tempo para organizar-se.

Arrolam-se no bolsão o 4o, o 8o, o 11o e o 51o Corpos de Exército, e o 14o Corpo Blindado; as divisões de infantaria números 44, 71, 76, 79, 94, 100, 113, 295, 297, 305, 371, 376, 384, 389; as divisões motorizadas números 3, 29 e 60; as divisões blindadas números 14, 16 e 24; o 8o Corpo de DCA; os regimentos de canhões de bombardeio 243 e 245; 12 batalhões de engenharia militar; e mais 149 formações independentes, que vão da artilharia pesada ao correio militar; e, finalmente, duas divisões romenas e um regimento croata. Um grande, possante e denodado exército...

Manstein entra em cena


A fim de libertar o exército cativo, Hitler apela para seu mago militar, o estrategista que dispunha com ele a glória do plano Sedan, o artilheiro que esmagara Sebastopol, o idealizador das manobras que impediram o levantamento do cerco de Leningrado: Marechal-de-Campo Erich von Manstein.

À tardinha do dia 21, em Vitebsk, Manstein recebe a ordem para assumir o comando do Grupo de Exércitos do Don. O despacho que determina sua missão revela a que distância da realidade se encontra o Alto-Comando, e também a decadência a que chegara o pensamento militar alemão. Manstein deve “sustar a ofensiva inimiga e restaurar as antigas posições exatamente da mesma maneira”. O general “Fechar a Brecha e Retomar”, Gamelin, tornara-se mestre de seu vencedor.

Manstein não se apressa. A correr o risco de um vôo entre as tormentas de neve, prefere viajar em seu trem de comando, só chegando no dia 24 a Starobelsk, QG do Grupo B, que deve desmembrar a fim de formar o seu. Ali, ele avalia a gravidade da situação, o peso de seu encargo e a pobreza de meios de que dispõe para realizá-lo.

Haviam sido colocados sob as ordens de Manstein o 6o Exército (encerrado em Stalingrado e pregado ao solo por ordem de Hitler), o 4o Exército Blindado (reduzido à 16a Divisão Motorizada), o 3o Exército romeno (que só apresenta intacta a ala esquerda) e o 4o Exército romeno (ainda mais mutilado do que o 3o). Dispõe ainda dos restos do 4o Corpo Blindado e o Destacamento Hollidt, formado por um conjunto de tropas alemães e romenas. E, finalmente, encontram-se a caminho várias divisões blindadas. Duas, a 23a, proveniente do Cáucaso, e a 6a, a chegar da França, vão reconstituir  ao sul de Stalingrado o 4o Exército Blindado, encarregado de tirar Paulus do cerco. Uma outra, a 17a juntar-se-á posteriormente a elas.

Concentradas e repousadas, essas forças seriam suficientes para a dupla tarefa de deter a ofensiva soviética e salvar o 6o Exército. Encontram-se, porém, fatigadas, incompletas e dispersas. Os reforços provenientes do Cáucaso e da França demoram-se em ferrovias desconjuntadas, com os homens a padecer o inferno do frio em vagões abertos ao quatro ventos. As outras unidades estão disseminadas por um campo de batalha de 800 km, que vão do Don, no qual Hollidt apoia sua ala esquerda, até a estepe, onde a 16a Divisão Motorizada dá prosseguimento, no descampado, à missão de ligar o Cáucaso ao Volga. É um milagre que os russos parem no Tchir, diante de uma salada de exércitos formada por fugitivos detidos na debandada, membros da Luftwaffe, soldados do exército de Paulus em licença, etc - em vez de correrem até Rostov, onde barrariam as linhas de saída do Grupo de Exércitos A. Mas a metódica estratégia russa não quer passar o carro adiante dos bois, não se atira sobre oportunidades muito brilhantes e não avalia bem a deterioração do formidável adversário do ano anterior. O Comando soviético poderia impor a Manstein uma batalha desesperada por Rostov. Deixa-lhe o vagar de fazer uma suprema tentativa por Stalingrado.

Esta tentativa suprema, declara o Marechal Eremenko, teria conseguido bom êxito caso houvesse sido conduzida com audácia.

“Até o dia 24 de dezembro - diz ele -, só tínhamos forças de menor importância no setor de Kotenikovo. O 51o Exército encontrava-se muito enfraquecido, e o 4o Corpo de cavalaria representava uma densidade de menos de um pelotão por quilômetro. Desde 4 de dezembro, a 6a Divisão Panzer, completíssima e inteiramente repousada, uma vez que chegava da França, poderia ter aberto caminho até os sitiados... Uma vez mais, os adeptos de Hitler foram vítimas da rotina. Manstein nos deu 10 dias de presente”.

Manstein preparara de início uma engenhosa manobra. No ferrolho do Don, Hollidt deveria atacar, para retomar Kalatch. O 48o Corpo Blindado, reconstituído com a 2a Divisão Panzer, desembocaria da cabeça-de-ponte que conservara diante de Nijni-Tchirkaia, a fim de apoiar o ataque principal, realizado pelo 47o Corpo Blindado, procedente da região de Kotelnikovo. O Grupamento Hollidt, porém, estava absorvido pela defesa de Tchir e, ao invés de participar da ofensiva, o 48o Corpo Blindado é expulso da cabeça-de-ponte. Em lugar de uma pressão concêntrica, a tentativa para romper o cerco reduz-se a um solitário esforço do 57o Corpo. Fixado para 2 de dezembro, o ataque é adiado para 8, depois para 12, devido à desesperante lentidão dos transportes.

Existe, além do mais, um conflito entre as concepções de Manstein e Hitler. O rompimento do cerco de Stalingrado é considerado pelos dois homens com objetivos inteiramente diversos.

O marechal quer recuperar o 6o Exército para reintegrá-lo nas forças móveis da frente oriental. Vê seu escoamento pela brecha aberta, para reconstituí-lo na região de Rostov. Vê igualmente o Grupo de Exércitos A a retirar-se do Cáucaso até o Don. Tendo o conjunto de manobras reconstituído pela diminuição do teatro de operações, Manstein acredita ser possível dobrar a ofensiva soviética e talvez infligir ao Exército Vermelho a tão esperada derrota decisiva. Aspira a dirigir o quadro da batalha e, quando demonstra a necessidade de um comandante-chefe na frente oriental, não há dúvida possível sobre a identidade do titular que tem em vista...

Ninguém contesta que Manstein seja o mais apto talvez mesmo o único homem para desempenhar essa tarefa. A hora militar de Hitler já passou. Se é bem verdade que ele tivera, no início da guerra, admiráveis inspirações; se é indiscutível que salvara as Forças Armadas durante o inverno de 1941-1942; se é fato verídico que o plano de sua campanha de verão representara a última oportunidade de evitar a derrota total da Alemanha, é igualmente verdadeiro que o Fuhrer constitui agora um imenso perigo para suas tropas, configurando-se em seu mais cruel inimigo. Apagou-se em seu cérebro todo e qualquer raciocínio estratégico, permanecendo apenas a vontade cega e feroz de manter tudo o que conquistara. Romper o bloqueio de Stalingrado não significa para ele a recuperação de um exército, para depois retomar a iniciativa das operações, mas unicamente a possibilidade de manter o pé fincado no Volga.

A marcha sobre Stalingrado tem uma brilhante estréia. Das duas divisões blindadas do 47o Corpo, a 23a, procedente do Cáucaso, está reduzida a cerca de 40 tanques, porém a 6a, procedente da França, encontra-se completa. O primeiro choque leva-a à passagem do monte Akssai, que franqueia no dia 13. À direita, apesar de sua fraqueza, a 23a progride ao longo da ferrovia, na qual consegue acumular 3.000 toneladas de víveres e combustível para os sitiados. Mo dia 19, Mischkova é atingida. São cobertos 130 dos 180 km que separam o 6o Exército do 4o Exército Blindado, e os libertadores vêem no céu as luzes dos projetores dos que defendem Stalingrado.

Manstein, entretanto, não alimenta ilusões. Sabe que os acontecimentos a precipitar-se diante de Rostov só lhe deixam um limitado espaço de tempo para agir. A única possibilidade de salvação para o 6o Exército consiste em ajudar-se a si mesmo, dirigindo-se com rapidez ao encontro de Hoth. Manstein ordena-lhe que o faça, multiplica as conversações radiofônicas com Paulus e, preocupado com  as reticências deste, envia ao bolsão um oficial de seu estado-maior, o Major Eismann - que retorna confirmando o singular estado de espírito em que se encontravam o comandante do 6o Exército e seu chefe de estado-maior. A tese destes era a de que não fôra a troco de nada que se encontravam cercados, e, logo, tinham direito de esperar a libertação. Estimavam-se que a mobilidade da centena de tanques que lhe restava limitava-se a 30 km, aproximadamente, e, dessa forma, sofreria pane, condenando-se à mais completa destruição caso atacasse antes que Hoth atingisse ao menos aquela distância. Eismann retruca vivamente que o risco que recusam correr nada é perto do de morrer de fome ou apodrecer na prisão. Paulus e Schmidt são inabaláveis, e quando Eismann invoca a autoridade do Marechal Von Manstein, eles invocam outra ainda mais alta, a do Fuhrer.

E é realmente Adolf Hitler quem proíbe a saída da guarnição de Stalingrado. A Zeitzler, que a requer noite e dia, ele responde que considera o 6o Exército praticamente fora de perigo, e que, longe de admitir o abandono de Stalingrado, tem em mira a expansão de suas forças pelo Volga. Certo dia, acreditando tê-lo convencido, Zeitzler apresenta-lhe a ordem de abrir passagem, a fim de que a assine. Hitler assina, e depois acrescenta de seu punho a seguinte condição, que invalida tudo: “sob a expressa reserva de que o Exército alemão continuará a manter a linha do Volga...”. Quanto ao mais a situação é bem nítida. Uma nova catástrofe atinge as forças do Eixo e sela o destino do exército sitiado em Stalingrado.

Após a derrota romena, a frente situada a oeste do Don estabilizara-se aos poucos. Ela segura  o curso do rio até Veschenkaia, dobrara em direção ao sul, alcançara novamente o Tchir, no qual se fundira até seu confluente, e reencontrara o Don ao norte de Potemkiskaia. Inteiramente enregelados, os cursos de água não apresentam o menor valor como obstáculo. As posições defensivas são inexistentes e, à progressão dos tanques, a estepe opõe apenas sua superfície coberta de neve. O termômetro baixa a 30 ou 35 graus negativos, para grande surpresa dos italianos, a quem seus aliados haviam garantido que o frio, no sul da Rússia, não ultrapassava jamais os ou 5 ou 6 graus. Insuficientemente agasalhados, mal alimentados, os homens sofrem. Algumas vezes, o sol faz magias na neve, mas o tempo normal é o de um nevoeiro grelado, que só desaparece para descobrir um céu cor de chumbo.

Na direção leste-oeste, a frente é sustentada pelos restos do 3o Exército romeno, o destacamento do Exército Hollidt, o 8o Exército italiano e o 2o Exército húngaro. Ninguém ignora que o elo mais frágil dessa longa corrente é o italiano. Hitler se inquieta por causa dele, ao ver o relatório de 12 de dezembro, porém não existe nenhuma força alemã disponível para “cintar” as divisões do General Gariboldi. Estendendo-se por 270 km de frente, quatro corpos do Exército italiano, o 29o, o 35o, o 2o alpino, esperam um embate cuja preparação é lida pelos estados maiores como uma carta aberta.

O encontro ocorre no dia 16 de dezembro. O 1o Exército Soviético da Guarda cruza o Don em meio ao nevoeiro e abate-se sobre o centro da frente italiana. A estepe é novamente invadida por massas em debandada. Uma testemunha, o general alemão Fretter-Pico, descreve o efeito surrealista produzido pelos bandos de soldados italianos, “tendo por única arma um violão”, e andando rumo ao oeste a cantar, malgrado o rigor do frio. Hitler telegrafa a Mussolini, pedindo que lance um apelo a seus soldados, para que interrompam a fuga. O Duce, irritado, não responde.

Durante o dia 16, os russos avançaram 25 km. Nos dias seguintes, a ofensiva se estende. À direita russa, o 6o Exército marcha sobre Vorochilovgrado e Stalino. À esquerda, o 3o Exército da Guarda e o 5o Exército Blindado prolongam o ataque na frente do Tchir. Obrigado a voltar-se, o Grupo Hollidt combate em difíceis condições. As passagens do Donetz inferior, Kamensk, Schatinsk e Forchstadt, são ameaçadas. Rostov está em perigo. Tem-se em vista uma Stalingrado ampliada, uma Stalingrado de um milhão de homens!

A situação do 4o Exército Blindado é particularmente arriscada. Enquanto a frente alemã se desmorona e o avanço russo ameaça Rostov, ele se agarra à passagem da Mischkova, esperando que o exército de Paulus se decida a sair de Stalingrado. O caráter sagrado de sua missão, que consiste em salvar 200.000 camaradas, sustenta o moral, mas Hoth não cessa de advertir que sua presença ali pende por um fio, e que sua retirada é apenas uma questão de horas, se o 6o Exército não vier a seu encontro. Na antevéspera do Natal, um apelo do grupo de exércitos precipita esta retirada: Manstein, ao informar Hoth da situação a oeste do Don pede-lhe a cessão de uma de suas divisões blindadas, para tentar restabelecer o combate na região de Morosovskaia. Hoth, consciente do perigo designa a mais forte, a 6a. Esta se põe a caminho em direção a Potiomkinskaia, entre uma nevasca, levando a última oportunidade de salvação dos sitiados de Stalingrado.

A agonia do 6o Exército

Deixou-se passar o Natal, para depois reduzir de 200 para 100 gramas a quota de pão. No dia 1o de janeiro, o serviço de saúde assinala as primeiras mortes por inanição. Esta provado que o 6o Exército não pode ser abastecido por via aérea. Para manter a promessa de seu chefe culposo, a Luftwaffe faz, em vão, um heróico esforço, admitindo perdas que, contando 536 aviões de transporte, 149 caças e 123 bombardeiros, farão de Stalingrado, uma batalha aérea tão dispendiosa quanto a da Inglaterra. As condições do tempo, contudo, são especialmente desfavoráveis: quando o céu se apresenta claro sobre Stalingrado, geralmente está nublado na região de Rostov, e vice-versa - de tal forma que o funcionamento da “ponte-aérea” se vê entravado tanto na partida quanto na chegada. Como os russos haviam tomado Tazinskaia e Morosovskaia, os aeródromos de partida são transferidos para Salsk, Novocherassk e Cheretkovo, o que duplica a distância e reduz o rendimento dos aparelhos. A média diária de entregas, durante o cerco, não ultrapassará 94 toneladas, menos de um quinto do prometido por Goering!

A fim de conferir-lhe as folhas de carvalho da cruz de comandante, Hitler faz sair do bolsão o General Hube. “Meu Fuhrer - diz-lhe Hube -, o senhor mandou fuzilar vários generais do Exército. Por que não manda fuzilar o general da Aeronáutica que lhe prometera abastecer Stalingrado?”.

Esfuma-se toda esperança de libertação. Hoth batera em retirada, a princípio, passo a passo, com dor no coração, depois às pressas. O início de 1943 encontra o 4o Exército Blindado junto a Kuberle, a 200 km de Stalingrado. É inapelável o abandono do 6o Exército.

No bolsão, a situação é indescritível. A ração de pão está reduzida a 50 gramas. A gasolina é tão escassa que os únicos veículos autorizados a movimentar-se são as motocicletas com side-car. Os únicos feridos evacuados são os que tem força para arrastar-se até os aeródromos. A neve alteia-se em montículos: cadáveres de homens mortos de fome e frio.

A 8 de janeiro, uma bandeira branca flutua diante dos postos avançados. Três parlamentares soviéticos vem oferecer a Paulus uma capitulação honrosa. Seguindo ordens de Hitler, Paulus a repele, determinando responder com fogo a qualquer nova tentativa de parlamentação. No dia seguinte, os russos atacam. Os alemães defendem-se desesperadamente. O móvel da batalha é o terreno de Pitomnik, pelo qual se escoa a maior parte do tráfego aéreo. Os russos apoderam-se da área no dia 16. Agora o abastecimento só é possível pelo terreno ruim de Gumrak, tomado logo depois, e a  seguir por meio de pára-quedas. Quatro quintos do bolsão foram perdidos. Os alemães são repelidos até o Volga, enclausurados em sua fatal conquista - as ruínas de Stalingrado. A 24 de janeiro, Paulus se comunica com Hitler. Não tem sentido, diz ele, o prolongamento da resistência: 18.000 feridos jazem sem assistência nos porões; o tifo alastra-se com virulência; esgotaram-se os víveres e munições. O comandante do exército solicita, em conseqüência disso, autorização para capitular, e o comandante do grupo de exércitos, Manstein, apoia seu pedido em uma conversação de 45 minutos com Hitler. Este permanece intratável. “Proíbo qualquer capitulação. O exército  deve resistir até a última bala. Seu heroísmo é uma inesquecível contribuição para o salvamento do Ocidente”.

No dia 25, os ataques russos recomeçaram. No dia 26, o 62o Exército reúne-se ao 21o, na colina Mamai. O 6o Exército alemão é cortado em dois. Ao norte, o que sobra do 51o Corpo entrincheira-se na fábrica de tratores. Ao sul, os despojos de quatro outros corpos amontoam-se no setor central da cidade, e Paulus instala seu último QG no subsolo da Univermag da Praça Vermelha. Com pressa de liquidar o inimigo, os russos bombardeiam furiosamente as ruínas de Stalingrado. Nenhum canhão responde, mas, quando a infantaria tenta avançar entre os destroços, os últimos cartuchos barram-lhe o caminho.

No dia 30, Hitler nomeia Paulus Generalfeldmarschall. “Nunca - diz ele a Keitel - um marechal alemão se rendeu”. O Fuhrer só espera um gesto do oficial que acaba de elevar à mais alta dignidade militar: o suicídio. Ignora que Paulus interditara precisamente essa porta de saída aos oficiais, ao dizer que deveriam compartilhar até o fim da sorte de seus soldados.

No dia 31, a luta se encontra praticamente terminada. Uma das últimas emissões radiofônicas do 6o Exército descreve dessa maneira a situação: “Os soldados vagabundeiam; poucos ainda combatem; o comando não é mais exercido...”. Um momento após, às 5h45: “Os russos estão diante do bunker (abrigo contra bombardeio); vamos destruir o posto...”. Depois, por três vezes repetidas, o sinal: “CL”, significando: “Esta estação encerra suas irradiações”. Os russos alcançam efetivamente a Univermag, cujo porão abriga o mais recente marechal, o primeiro marechal da derrota criado por Hitler. Ninguém atira. Um parlamentar soviético adianta-se e exige a rendição. É conduzido ao bunker, de onde sai um Paulus esquelético, quase indiferente. Sim, capitula. Nada tem a acrescentar ao “Heil Hitler!” que proferira ainda na véspera. O modelo dos oficiais do Estado-Maior parte em silêncio para o cativeiro.

Conhecemos, pelo texto estenográfico, as imprecações de Hitler. “Há que matar-se com a última bala... Desprezo um soldado que se rende, como Giraud... 20.000 pessoas se suicidam por ano na Alemanha e é absurdo que um general não seja capaz de fazer o mesmo que uma mulher ultrajada...Não farei mais marechais... o heroísmo de dezenas de milhares de soldados é manchado pela covardia de um só... Verão que antes de oito dias os russos farão Paulus e Seydlitz falaram no rádio. Eles incitarão os homens do bolsão, incitarão toda a Wehrmacht a render-se...”

Paulus nem teve tempo para incitar os homens do bolsão a render-se: os últimos deles capitularam a 2 de fevereiro.

Adolf Hitler se enganava igualmente em relação à data em que Paulus convidaria o Exército e o povo alemães a depor as armas. O Nationalkomitee Freies Deutschland (Comitê Nacional da Alemanha Livre) só foi fundado em 13 de julho de 1944, sob a presidência do Conde Bismarck-Enkel e do General Von Seydlitz. O plebeu Paulus demorou-se mais do que esse nomes históricos a aderir à resistência alemã no exterior. Só deu esse  passo depois de 20 de julho de 1944, quando soube do suplício a que foram submetidos alguns dos soldados por quem experimentara o maior respeito, como Witzleben e Hoeppner.

“Paulus - diz um de seus biógrafos - tinha muita dificuldade em tomar decisões, e raramente distinguia o falso do verdadeiro...”. Os maiores talentos militares não teriam salvado o Exército alemão da derrota em 1942; as deficiências pessoais de Paulus contribuíram para dar-lhe um caráter esmagador”.
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http://adluna.sites.uol.com.br/300/319.htm
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Andrey Yeryomenko

From Wikipedia, the free encyclopedia

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Andrey Ivanovich Yeryomenko
October 14, 1892(1892-10-14) – November 19, 1970 (aged 78)
AI Eremenko 01.jpg
Andrey Yeryomenko in 1938
Place of birth Markovka, Kharkov Governorate, Russian Empire (now Ukraine)
Place of death Moscow, Soviet Union
Resting place Kremlin Wall Necropolis
Allegiance  Russian Empire (1913-1918)
 Soviet Union (1918-1958)
Service/branch Russian Imperial Army
Red Army
Years of service 1913 — 1958
Rank Marshal of the Soviet Union
Commands held Red Army
Battles/wars World War I
Russian Civil War
Great Patriotic War
Awards Hero of the Soviet Union
Hero of Czechoslovakia
Order of Lenin (5)
Order of the Red Banner (4)
Order of the October Revolution
Order of Suvorov, 1st Class (3)
Order of Kutuzov, 1st Class[1]
Andrey Ivanovich Yeryomenko (Russian: Андре́й Ива́нович Ерёменко; Ukrainian: Андрій Іванович Єрьоменко) (October 14, 1892 - November 19, 1970) was a Soviet general during World War II, Marshal of the Soviet Union, born in Markovka in the province of Kharkov in Ukraine to a peasant family.

Contents

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Military career

Draft and early service

Drafted into the Imperial Army in 1913, Yeryomenko served on the Southwest and Romanian Fronts during World War I. Joined the Red Army in 1918, where he served in the legendary “Budyonny Cavalry”. Attended the Leningrad Cavalry School and then the Frunze Military Academy, which he graduated from in 1935.

[edit] World War II

In 1940, Yeryomenko was placed in command of the 6th Cavalry Corps, which was responsible for invading Eastern Poland, as part of the Molotov–Ribbentrop Pact. The operation was characterized by poor organization and command. Yeryomenko had to request an emergency airlift of fuel so as to continue his advance. Afterwards, he held a number of commands, ending up in control of the Transbaikal Military District, the post he held when Operation Barbarossa began in June 1941.
Eight days after the invasion began, Yeryomenko was recalled to Moscow where he was made the Acting Commander of the Soviet Western Front, two days after its original commander, General of the Army Dmitri Pavlov, was executed for incompetence. Yeryomenko was thrust into a very precarious position. Pavlov's incompetence (and Soviet unpreparedness) had completely destroyed the Western Front, but Yeryomenko was able to patch together what remaining forces he had, and halt the German offensive just outside of Smolensk. During this vicious defensive Battle of Smolensk, Yeryomenko was wounded. Because of his injuries, he was transferred to the newly created Bryansk Front. In August 1941, Yeryomenko was ordered to launch an offensive using Bryansk Front, despite the obvious superiority of German forces. The offensive failed to accomplish its desired results.
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In October the Germans launched Operation Typhoon, which was an offensive operation aimed at capturing Moscow. Yeryomenko's forces were pushed back, but eventually, a number of counterattacks were able to halt the German push. On October 13, Yeryomenko was once again wounded, this time severely. He was evacuated to a military hospital in Moscow, where he spent several weeks recovering. In January 1942, Yeryomenko was appointed commander of the 4th Shock Army, part of the North-Western Front. During the Soviet Winter Counteroffensive, Yeryomenko was again wounded; this time on January 20, when German planes launched a bombing raid on his headquarters. Yeryomenko refused to go to a hospital until the fighting around him abated.
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Stalin gave Yeryomenko the command of the Southeastern Front, on August 1, 1942, [2] where he proceeded to launch vicious counterattacks against the German offensive into the Caucasus, Operation Blau. Yeryomenko and Commissar Nikita Krushchev planned the defense of Stalingrad. When his subordinate, Gen. Lopatin, expressed self-doubt in his ability to save Stalingrad, Yeryomenko replaced him with lieutenant general Vasily Chuikov as 62nd Army commander on September 11, 1942.[3] On September 28, Southeastern Front was renamed Stalingrad Front. During Operation Uranus, November 1942, Yeryomenko's forces helped surround the German 6th Army, which was eventually destroyed in the Battle of Stalingrad. After German General Erich von Manstein attempted to counterattack the Soviet forces and break through the blockade, Yeryomenko counterattacked and was able to halt his push.
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On January 1, 1943, Stalingrad Front was renamed Southern Front. After the end of the winter offensive, in March 1943, Yeryomenko was transferred north to the Kalinin Front, which remained relatively quiet until September, when Yeryomenko launched a small, but successful offensive. In December, Yeryomenko was once again sent south, this time to take command of the Separate Maritime Army, which was a motley force put together so as to retake the Crimea, which was accomplished in conjunction with Fyodor Tolbukhin's 4th Ukrainian Front. In April, Yeryomenko once again was sent north, to command 2nd Baltic Front. During the summer campaign, 2nd Baltic was very successful in crushing German opposition, and was able to capture Riga, helping to bottle up some 30 German divisions in Latvia. On March 26, 1945, Yeryomenko was transferred to the command of the 4th Ukrainian Front, the unit he controlled until the end of the war. Fourth Ukrainian was positioned in Eastern Hungary. Yeryomenko's subsequent offensive helped capture the rest of Hungary, and paved the way for the Soviet liberation of Czechoslovakia. His army liberated many cities and towns in Czechoslovakia, most notably Ostrava. Today, many streets in the Czech Republic bear his name.

After the war

After the war, Yeryomenko had three major commands: between 1945-1946, he was the Commander in Chief of the Carpathian Military District, from 1946-1952 he was the Commander in Chief of the Western Siberian Military District, and from 1953-1958 he was the Commander in Chief of the North Caucasus Military District.

Promotion to Marshal

On March 11, 1955, Yeryomenko, along with five other noteworthy commanders, was given the rank of Marshal of the Soviet Union. He was made Inspector General for the Ministry of Defense in 1958, a largely ceremonial role that allowed Yeryomenko to retire that same year.

Death

He died November 19, 1970. The urn containing his ashes is buried in the Kremlin.

References

  1. ^ Biography on War Heroes site (Russian)
  2. ^ Craig, William (1973). Enemy at the Gates: The Battle for Stalingrad. Old Saybrook, CT: Konecky and Konecky. p. 25. ISBN 1-56852-368-8. 
  3. ^ Craig, William (1973). Enemy at the Gates: The Battle for Stalingrad. Old Saybrook, CT: Konecky and Konecky. p. 83. ISBN 1-56852-368-8. 
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