Lisboa, 26 Mar (Lusa) - Depois do 25 de Abril, e exceptuados os primeiros anos, marcados pelo aparecimento de novas e em geral pequenas editoras interessadas na divulgação do género, o Teatro quase "saiu de cena" na edição em livro em Portugal.
17:00 Quinta feira, 26 de março de 2009
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*** Raul M. Marques, da Agência Lusa ***
Lisboa, 26 Mar (Lusa) - Depois do 25 de Abril, e exceptuados os primeiros anos, marcados pelo aparecimento de novas e em geral pequenas editoras interessadas na divulgação do género, o Teatro quase "saiu de cena" na edição em livro em Portugal.
Hoje, contam-se pelos dedos de uma mão - e talvez sobrem dedos - as editoras que, regularmente, em colecções ou fora delas, publicam teatro.
A escassez explica-se - e os editores, em geral, não se coibem de a dizer com todas as letras: de todos os géneros, mais ainda do que a Poesia, que nunca, ou muito raramente, aparece na lista dos "best-sellers", o Teatro é a sua "besta negra", o Teatro "não vende", "não há tradição de leitura de Teatro em Portugal".
A verdade é que, nos anos 60 e 70, eram em número considerável em Portugal as colecções de Teatro. Ocorre perguntar: lia-se então mais teatro?
A Editorial Presença, por exemplo, manteve durante anos uma colecção que, tendo começado com um romance - "Tanguy", de Michel de Castillo -, abriu depois espaço prioritário ao teatro e deu a conhecer alguns dos nomes maiores desta arte: Tchekov (As três irmãs, O Selvagem, etc), August Strindberg, Arhur Miller, Henrik Ibsen, Ionesco, a par de autores nacionais como Mário Braga e Luís Francisco Rebello, entre outros.
Papel também relevante na divulgação do teatro mundial teve a Portugália, que deu chancela a obras de Bertolt Brecht (Os tambores da noite, Mãe coragem e os seus filhos, O círculo de giz caucasiano, entre outras) Durrenmatt (A visita da velha senhora, Os físicos), Max Frisch (A muralha da China, Biederman e os incendiários), Arthur Miller (Depois da queda, Incidente em Vichy), John Osborne (Lutero).
A Editorial Estampa, em associação com a Seara Nova, assegurou, numa colecção especificamente dedicada ao género teatral, a publicação de peças como "O despertar da Primavera", de Frank Wedekind, "A ilha dos escravos", de Marivaux, "A estalajadeira", de Goldoni. Na tradução destas peças intervieram dois dos nomes maiores da interpretação e da encenação na actualidade em Portugal, Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo.
A Plátano, na sua colecção Teatro Vivo, deu a conhecer, por exemplo, "As troianas", de Eurípides, na versão de Jean Paul Sartre, peças em um acto de Jorge de Sena, "A 10.ªa turista", de Mendes de Carvalho, e, de outro quadrante geográfico, "Milho para o oitavo exército", de Loo Ding, Chang Fan e Chu Shin-Nane.
"Assassínio na Catedral", porventura o mais importante trabalho do poeta T.S. Eliot para o Teatro, foi dado a conhecer em Portugal pelo TheatruMundi, da Delfos, uma editora a que ficou a dever-se também a publicação de "O animador", de John Osborne - peça que em Londres teve Laurence Olivier no protagonista - "A luz fria", de Carl Zuckmayer, e "Teatro para três estações", de Christopher Fry.
Durante algum tempo, a Prelo deu à estampa repertório da Sociedade Portuguesa de Autores. Eram publicados nesta colecção de teatro da editora exclusivamente obras de autores portugueses: entre outras, "A bela Impéria", de Carlos Selvagem", "Um dia de vida", de Costa Ferreira, "Casaco de fogo", de Romeu Correia, "É urgente o amor", de Luís Francisco Rebello.
Na Contraponto apareceram peças de Pirandello (Seis personagens em busca de autor), de Jean Anouilh, Benavente, Lorca, Sade, Saroyan, Ionesco.
A Civilização abriu uma colecção de teatro fundamentalmente orientada para os clássicos, muitos dos quais traduzidos por nomes de vulto das letras portuguesas: Beaumarchais, Calderon de la Barca (A vida é sonho, O alcaide de Zalamea e O mágico prodigioso), Eurípides (Ifigénia em Áulis, As bacantes, Electra - traduzidas por Natália Correia), Lope da Vega (Fuenteovejuna), Marivaux, Molière, Racine, Musset, Shakespeare, Tirso de Molina, Oscar Wilde.
Espaço ao teatro consagraram também, antes do 25 de Abril, e em colecção própria, a Arcádia, que revelou, por exemplo, a peça-chave de Samuel Beckett (À espera de Godot) e a Minotauro, que tornou conhecidos "Mestre Ubu", de Alfred Jarry, "O Tempo e a Ira", de John Osborne, "Os chapéus de chuva", de Fiama Hasse Pais Brandão, "Um caso sem importância", de Armand Salacrou.
Depois do 25 Abril, algumas novas editoras surgiram no mercado - e o Teatro fez logo de início parte do seu catálogo: a Centelha e a Rolim foram duas delas.
Já no mercado quando a Revolução dos Cravos aconteceu, a Moraes teve uma colecção de Teatro patrocinada pela então Secretaria de estado da Cultura e que divulgou sobretudo obras de autores portugueses premiadas no concurso que durante anos a citada secretaria promoveu.
Mais recentemente criada, a Cotovia desenvolveu um projecto de edição teatral digno de registo, lançando duas colecções (Teatro e Livrinhos de Teatro, esta em parceria com os Artistas Unidos) com autores como Pasolini, Joe Orton, Jon Fosse, Harold Pinter, Juan Mayorga, a par dos portugueses Nunu Júdice e Miguel Castro Caldas.
Em igual plano esteve até à sua saída do mercado a Campo das Letras, que deu chancela a três colecções de Teatro (Campo de Teatro, Dramat e Colecção Teatro nacional São João, esta em parceria com o teatro nacional nortenho) e nelas difundiu autores clássicos e contemporâneos.
A Sociedade Portuguesa de Autores tem também uma colecção de teatro mas de publicação irregular, a Almedina lança escritores da lusofonia numa colecção denominada "Cena Lusófona", o Inatel publica os autores premiados nos concursos de teatro que organiza e o mesmo faz o Teatro Maria Matos com os seus.
O restante cenário a isto se resume: lá de quando em quando, nas editoras de maior ou menor peso, sai um livro de teatro. Regra geral, obra "com subsídio" ou de um autor "com peso" e/ou "da casa".
RMM.
Lusa/fim
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