domingo, 20 de abril de 2014

Reeditado "Histórias de Amor", livro censurado de Cardoso Pires

Literatura: 

Publicado em 2008-09-01


Lisboa, 01 Set (Lusa) - O livro de contos de José Cardoso Pires intitulado "Histórias de Amor", publicado em 1952 e logo apreendido pela censura, será reeditado pelas Edições Nelson de Matos na segunda quinzena de Setembro.

Datada de Julho de 1952, a primeira edição da obra foi lançada pela Editorial Gleba numa colecção de bolso chamada "Os Livros das Três Abelhas", dirigida por Victor Palla e Aurélio Cruz.

A 26 de Agosto do mesmo ano, o livro foi retirado do mercado e Cardoso Pires, então com 27 anos, reclamou da sua apreensão junto dos Serviços de Censura e conseguiu reaver o exemplar sublinhado a azul, mas este nunca mais foi reeditado sob a forma inicial, apesar de o autor o ter mantido sempre na lista das suas obras completas.

Esta edição de "Histórias de Amor" reproduz o exemplar com os cortes feitos pela Pide, que a família de José Cardoso Pires - falecido em Outubro de 1998, aos 73 anos - entregou à Biblioteca Nacional, instituição à guarda da qual o restante espólio do escritor será entregue em Outubro.

Alguns dos contos que compõem "Histórias de Amor" - à excepção de "Romance com Data", que permaneceu sempre inédito - foram mais tarde reescritos e incluídos na edição de "Jogos de Azar", publicada em 1963 pela Editora Arcádia.

Além de conservar todos os contos na sua versão inicial, esta edição inclui ainda como anexos uma carta do escritor à Comissão de Censura, datada de 1952, em que este protestava pela apreensão do livro, e três críticas de Mário Dionísio, Óscar Lopes e Luís de Sousa Rebelo, publicadas na imprensa também em 1952.

A contracapa da reedição apresenta a reprodução de um retrato a óleo de José Cardoso Pires, da autoria de Júlio Pomar, datado da mesma época, 1954.

ANC.
Lusa/fim

http://www.pcp.pt/frontpage

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Notícias
Literatura: Romance de José Cardoso Pires conta história de amor em cenário de censura, revolta estudantil e perseguição política (in RTP.pt) 

 "Lavagante", romance inédito de José Cardoso Pires, narra uma "história de amor" em cenário marcado pela "censura, a polícia política, a revolta estudantil de 1962, as perseguições e prisões políticas", disse hoje o editor Nelson de Matos.

Antes mesmo de começar a ser distribuído, o que hoje aconteceu, o livro, segundo o editor, recebeu tantas encomendas que, a uma primeira edição de 3000 exemplares, houve que acrescentar prontamente uma segunda, com a mesma tiragem.

O romance, assinalou Nelson de Matos, está escrito com "o cuidado e o rigor" que foram marca de Cardoso Pires, que aqui aparece "num dos seus melhores registos" e apresenta "um retrato feminino muito bem executado", Cecília.

Um dos nomes maiores da literatura portuguesa do século XX, autor de romances como "Hóspede de Job", "Anjo Ancorado", "O Delfim" - para muitos a sua obra magna - "Balada da praia dos cães" e "Alexandra Alpha", entre outros, de contos como "Jogos de Azar" e peças de teatro como "O render dos heróis" e "Corpo-delito na sala de espelhos", José Cardoso Pires morreu em 26 de Outubro de 1998.

A colecção de que "Lavagante" é o título inaugural chama-se "Mil horas de leitura" e estará aberta a "clássicos, modernos, nacionais e estrangeiros".

(...)

In RTP.pt


21-02-2008
 http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/clubedeleituras/index.php?s=destaques&catid=1&id=504&accao=tab3#tab3

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Quando publicou Histórias de Amor em Julho de 1952, na colecção de bolso «Os Livros das Três Abelhas» (Editorial Gleba), José Cardoso Pires tinha 26 anos de idade e o rótulo de esperança da ficção nacional a pairar sobre a sua cabeça, fruto do aplauso generalizado, tanto da crítica como do público, com que fora recebido o seu primeiro livro: Os Caminheiros e Outros Contos(1949). Embora escrevendo com uma audácia temática e formal que já antecipa o grande escritor que veio a ser, este Cardoso Pires não é ainda o Cardoso Pires sólido dos livros seguintes (O Anjo Ancorado, 1959; O Render dos Heróis, 1960) e muito menos o Cardoso Pires vintage, de O Delfim(1968) e Alexandra Alpha (1987). É, se quisermos, um escritor em construção, com os andaimes e as inseguranças todas à vista.

Ainda assim, dos cinco textos, só “Week-end” – trôpego relato de um encontro adúltero, cheio de silêncios e meias palavras – me parece dispensável. “Uma simples flor nos teus cabelos claros” é um exercício curioso de narração paralela, que torna nítido o desajuste entre a suavidade do amor ideal (uma abstracção literária) e a aspereza concreta do quotidiano. “Romance com data” retoma a atmosfera erótica de “Week-end”, mas com um suplemento de ambiguidade na exposição da origem (e consequências) dos não-ditos entre os amantes, o que o torna muito mais original. As duas melhores narrativas, porém, são o conto “Ritual dos pequenos vampiros”, minuciosa e arrepiante descrição de um gang bang para os lados de Chelas, e “Dom Quixote, as velhas viúvas e a rapariga dos fósforos”, melancólico apocalipse da inocência em que já se detecta, aqui e ali, a voz do futuro romancista.

O principal interesse da reedição deste livro, feita por Nelson de Matos no momento em que se assinalam os dez anos da morte do escritor, está no campo da Sociologia da Literatura. Em Agosto de 1952, um mês após a chegada destas Histórias de Amor às livrarias, a Censura apreendeu todos os exemplares à venda, alegando imoralidade e exposição de misérias sociais. Na altura, o censor sublinhou com o célebre lápis azul as partes do texto que justificavam a sentença. Nelson de Matos, ao assinalar esses cortes pela sobreposição de uma rede de cinzento sobre o texto original, permite-nos constatar a tacanhice absurda e a pudicícia paranóica (mas também a cegueira) de quem se encarregava de zelar pelos bons e brandos costumes. Em anexo, há ainda uma constrangedora carta de Cardoso Pires ao director dos serviços de Censura e três críticas da época (Mário Dionísio, Luís de Sousa Rebelo, Óscar Lopes), exageradamente obcecadas com as influências americanas no estilo de JCP.

Avaliação: 7/10
[Texto publicado no número 73 da revista Ler]

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