E
stamos a uma semana das eleições locais. Confesso a minha pouca paciência para ler ou ouvir o que dizem os candidatos. Mais do mesmo, com qualidade em preocupante decréscimo. Admito, porém, que não devo generalizar e que estarei a ser injusto para pessoas que, com coragem, se abalançaram a um inestimável serviço público.
Mas nem tudo é monótono. Por exemplo, os cartazes – que hoje é possível conhecer por esse país fora, sobretudo através da Net – têm sempre um sabor especial, seja no humor, seja na imaginação e no aproveitamento do nome das terras, seja ainda no excêntrico, senão mesmo no ridículo.
Embora acautelando não estar absolutamente seguro de que, nalgum caso, possa haver montagens (hoje tão comuns na Internet que, aliás, me fazem duvidar de tanta coisa que por lá passa…), partilho com os leitores os meus “Óscares”, sem me referir aos partidos ou movimentos responsáveis pelos cartazes, o que, para este efeito, não importa.
Depois de aturada análise, o principal galardão vai para um cartaz algures: “ENTRE O PASSADO E O PRESENTE, ESCOLHO O FUTURO”. Na mouche…
Quanto ao “Óscar” gastronómico, selecciono três cartazes: “POR AMOR A FAJÕES”, não sei se vermelhos, manteiga ou mesmo frade, “CONTINUAR LEITÕES”, ainda que não na Bairrada e “JUNTOS PELOS BISCOITOS”, neste caso biscoitos açorianos.
Na categoria de “Saúde”, estão indigitados: “CONTINUAMOS CALVOS”, apesar do candidato na fotografia exibir um assinalável cabelo que contradiz a alopécia ínsita no cartaz, “COM CANO NO CORAÇÃO”, não sei se com comparticipação no cateterismo cardíaco e “A NOVA ALTERNATIVA PARA DEGOLADOS”, que não imagino, nem quero imaginar qual seja.
Na categoria de promessas vai ser complicado escolher entre “FAZER COM TODOS” (de um candidato independente, evidentemente), “FAZER MAIS”,” FAZER PELOS DOIS”, “CONSIGO, TODOS OS DIAS” e “A NOSSA É MAIOR QUE A DELES” (paixão), não sabendo, ainda, se um cartaz de 2013 se repete este ano (“COINA PARA TODOS”).
Já na categoria de “Promessas especiais”, os indigitados para o “Óscar” são: o mais tétrico “REDUÇÃO DO PREÇO DAS CAMPAS PARA METADE” e o mais caprichoso “QUEREMOS CORNES SEMPRE MELHOR”.
Quanto ao melhor argumento, estão seleccionados “PASSOS PARA TODOS”, “JUNTAR COSTA E ENCOSTA”, “4 ANOS DE GARANTIA” e “TODOS SOMOS SARILHOS GRANDES”.
O prémio para o cartaz em língua estrangeira vai para “JE SUIS ESPOSENDE”.
Na categoria de efeitos especiais, a luta será entre “PODAME AOS PODAMENSES”, “EU SOU O DIOGO, MAS PODES CHAMAR-ME SALOMÉ” (estranhamente do CDS e não do Bloco de Esquerda…) e “POMBAL HUMANO”, uma espécie de columbofilia transgénero.
No sector da limpeza, concorrem “PELO PÓ, SEMPRE” (sabotando a publicidade a produtos de limpeza), “PELA BRANCA TUDO CLARO COMO A ÁGUA” e o quase seu contrário “POR UMA BRANCA DIFERENTE”.
Há, ainda, um troféu honorário destinado ao cartaz de carreira. Venceu “SOU DE CONFIANÇA”. Esclarecedor, sem dúvida. Fez-me lembrar, em sentido oposto (ou talvez não), um velho cartaz no Brasil: “ROUBO, MAS FAÇO!”.
Pena não se coligarem ao menos os cartazes do PSD e CDS em Lisboa. Um é “POR UMA SENHORA LISBOA”, outro refere “PELA NOSSA LISBOA”. A junção daria um cartaz religioso “PELA NOSSA SENHORA DE LISBOA” que concorreria com Fátima.
Por fim, o cartaz que venceu o “Óscar” da inutilidade: “SOU CANDIDATO”.
Tudo menos economia, como se constata.
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