* Victor Nogueira
Para além de jornalista, Mário Castrim foi escritor, de poesia e de livros para a infância. Dele ficam estes dois poemas:
A crítica de televisão escrita por Mário Castrim (1920 / 2002) no Diário de Lisboa, dia-após-dia, ano-após-ano era uma janela aberta por onde passava a brisa do mar ou da montanha, uma lúcida e por vezes corrosiva visão do país cinzento, agrilhoado, espartilhado, oprimido, estilhaçado pela censura e pela repressão. A sua crónica era a 1ª secção a ler por muitos de nós, como hoje se procura a tira do "Calvin e Hobbes" ou o "Bartoon"
No retrato velho hoje cinzento
estava toda a família reunida.
– Este aqui és tu.
Este tu era eu – três anos, caracóis, calções
colete, botas.
Este sou eu.
É preciso guardar as provas. Os documentos.
Se um dia me fecharem as cancelas e
não me deixarem passar, aponto logo:
– Este sou eu.
– Passe – dirá o guarda que deve haver
na eternidade – e boa viagem, sim?
– Claro – dirá o menino
que entretanto busca em mim
as sete diferenças
como costuma fazer no desenho
do suplemento do jornal
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Deste ponto do hotel vê-se qualquer coisa
que logo desde o início se entendeu
não poder ser outra coisa além do Cabo da Roca.
Daqui donde estou se vê que o Cabo é
perfeitamenhte ocidental o mais
ocidental possível.
Mais do que ele, só os nossos olhos.
Eles, para quem a terra não acaba nunca.
Eles, que tocam o ponto exacto onde
um sol de fogo prova que ela é redonda.
Mário
A única diferença é o farol. Mas se fores tu
de noite a olhar o mar, os barcos
podem ir à confiança.
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