D'ali e D'aqui
Textos e Obras Daqui e Dali, mais ou menos conhecidos ------ Nada do que é humano me é estranho (Terêncio)
sábado, 28 de dezembro de 2024
Crônicas Históricas · - Dados perturbadores da Idade Média
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Pai Natal foi à guerra
Carlos Coutinho - [Camões, Marguerite Duras e a velhice]
Alfredo Barroso - OS INCÊNDIOS ATEADOS PELO "OCIDENTE" NA "ERA DOS EXTREMOS"
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Cartoons natalícios
Festas felizes… da parte de Banksy
José Gabriel - Os natais de boa memória
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Carlos Esperança - Natal (Escrito em 2006)
Carlos Coutinho - Vasco da Gama
sábado, 21 de dezembro de 2024
Bernardo Mendonça - A democracia está encostada à parede
A Beleza das Pequenas Coisas
* Bernardo Mendonça
Jornalista
Vamos lá ver se a gente se entende: O que seria do nosso país, ou mesmo da Europa, se não contasse com a expressiva força de trabalho dos imigrantes?
Seja na área dos transportes, da agricultura, da construção civil, das pescas, da restauração e hotelaria, na saúde, nos lares ou apoio de idosos, no turismo, e por aí fora. Parava. Falia. Dava o berro. Desacertava o passo neste mundo competitivo e veloz.
Ajit Hanssraj, presidente cessante da comunidade hindu, recordou ontem que são tantas vezes os imigrantes que asseguram o “3D ork”: Difficult (difícil), Dirty (sujo), Dangerous (perigoso).
Em troca, Portugal tem a obrigação moral e ética de garantir de volta dignidade e direitos humanos, respeitando e integrando todas as pessoas que escolhem viver e contribuir para o nosso país.
A desconfiança com base em nada
Que não haja dúvidas, os imigrantes ajudam a sustentar a economia, além de nos trazerem mais mundo e diversidade cultural.
Mas há quem olhe para eles com desconfiança, e o governo parece alimentar de forma irresponsável esse desconforto, com base em coisa nenhuma.
No ano em que se celebram os 50 anos do 25 de abril, e a poucos dias do Natal, a PSP e o governo presentearam esta quinta-feira várias dezenas de imigrantes na rua do Benformoso, no Martim Moniz, com um tratamento maldoso, humilhante e perverso, digno do antigo regime fascista.
Como se de um pelotão de fuzilamento se tratasse.
Senti vergonha alheia e repúdio pela forma como aquelas pessoas, só por serem imigrantes, foram encostadas à parede, de costas, como se ali estivesse um gangue de perigosos rufias, pronto a prevaricar.
Quem prevaricou, afinal?
“Prevaricar”, de acordo com o dicionário, significa “trair, por interesse ou má-fé, os deveres do seu cargo ou ministério ou abusar do exercício do cargo.”
Ora quem prevaricou foi o governo e a polícia. Porque não havia razões com base em dados sólidos e concretos para aquela ação espalhafatosa e daquela dimensão. E o governo deve ser questionado e escrutinado sobre isto. As críticas somam-se.
Não podemos deixar que este tipo operações, dirigidas a comunidades inteiras de bairros, sejam normalizadas. Elas passam uma mensagem clara e perigosa:
Para este governo todas as pessoas imigrantes da comunidade do subcontinente indiano são criminosas, até prova em contrário, forjando e reforçando a percepção errada de intranquilidade social. O mesmo que tem acontecido no bairro do Zambujal.
Isto para validar uma série de políticas discriminatórias e persecutórias de minorias étnicas.
Montenegro afirmou que esta operação especial foi “importante” para criar “visibilidade e proximidade” no policiamento e para aumentar a sensação de “segurança” e “tranquilidade”. Só que não. O que Montenegro fez foi encostar os valores da nossa democracia à parede.
E não só enxovalhou de forma gratuita a comunidade de imigrantes hindu, como deixou o país com a cara da vergonha, pelo passado e presente tão marcado pela emigração.
Como nos sentiríamos se o governo francês (ou inglês) decidisse fazer o mesmo aos muitos portugueses que lá trabalham?
Percepções erradas e injustas
Não há qualquer indício de que os imigrantes em Portugal criem mais insegurança e mais criminalidade, como vem provar o Barómetro da Imigração da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS). O que existem são percepções erradas, irreais, injustas e infundadas.
Mas com tudo isto, um novo sentimento de choque, medo e revolta cresce. E não, não é medo dos imigrantes. É choque com este governo de coligação à direita, com tiques xenófobos, racistas e autoritários, cada vez mais alinhado com uma certa visão de mundo alarve da extrema-direita, a instigar o ódio e a desconfiança contra as minorias raciais e étnicas.
Precisamos de um governo democrático e humanista, seja à direita ou à esquerda, para não ficarmos reféns de delirantes narrativas securitárias e extremistas, que alimentam percepções erradas, a colocar uns contra os outros, numa crescente incapacidade de lidar com a diversidade, encostando-a à parede. Onde isto vai parar?
Recordo as palavras da minha entrevistada desta semana, a escritora Patrícia Portela:
“2024 é o ano em que a Europa Unida vai nua, escondendo-se atrás de um finíssimo fio dental de hipocrisia de cada vez que aborda temas como os refugiados, a imigração ou os conflitos que se desenrolam às suas portas.”
Deixo uma sugestão Natalícia
Este Natal sugiro que façam algumas das vossas compras no Martim Moniz, no comércio local, com preços bem em conta.
Levem toda a vossa família, as vossas crianças e, nesse passeio, descubram novos condimentos, produtos e alimentos nas mercearias e lojas do bairro, ou nos dois centros comerciais que lá existem, comam por ali uma refeição, falem com as pessoas imigrantes que por ali trabalham, que são simpáticas, educadas e prestáveis.
E perceberão que aquela zona é mesmo segura e que o que talvez falte ao primeiro-ministro Luís Montenegro é coragem para furar a sua bolha de privilégio para conhecer melhor aquele bairro lisboeta (que já agora, sempre foi multiétnico), e perceber os anseios e lutas da população do bairro, que faz parte da força de trabalho deste país.
Talvez a sua percepção mude se provar uma bela e doce ‘bebinca’ indiana, conversar com os imigrantes locais, com empatia, interesse e curiosidade, pois aquelas pessoas, acima de tudo, trazem multiculturalidade a Lisboa. A insegurança não mora ali.
NOTA: Como reacção de repúdio ao que aconteceu esta quinta-feira na Rua do Benformoso, está a ser organizada uma manifestação por um grupo de cidadãos no próximo dia 11 de Janeiro, com o ponto de encontro marcado às 15h, na Alameda, numa marcha até à Praça do Martim Moniz, sob o mote “NÃO FIQUES ENCOSTADO À PAREDE, MARCHA.” Que seja uma grande manifestação!
Maria Castello Branco - Um País Encostado à Parede
Porfírio Silva - Ontem fomos todos encostados à parede no Martim Moniz
sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
Ricardo Esteves Ribeiro - Prémios de Jornalismo Direitos Humanos & Integração
quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
Caitlin Johnstone - ONDE A AGRESSÃO REALMENTE COMEÇA? -
Ricardo Reis - [Quando, Lídia, Vier o Nosso Outono]
Fernando Pessoa - [Não quero rosas, desde que haja rosas]
Eugénio de Andrade - [Foi para ti que criei as rosas]
John Keats - Bright star
* John Keats
Estrela brilhante, fosse eu como tu és constante -Não em solitário esplendor no alto do céu pendurado
E com as eternas pálpebras abertas vigilante,
Como um eremita da natureza paciente e acordado,
As águas movendo-se em sua tarefa sacerdotal
De pura ablução nas praias da terra inteira
Ou observar a máscara virginal
da neve sobre cada charneca e cordilheira -
Não - apesar de ainda constante, imutável ainda,
Acomodado sobre o seio maduro da minha amada linda,
Sentir para sempre seu suave subir e descer,
Despertar para sempre em doce desassossego,
Ainda, ainda ouvir seu delicado ofego,
E viver para sempre - ou então na morte desfalecer.
(Poema "Bright Star", de John Keats,1795-1821, traduzido por Alex Raymundo)
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Bright star! would I were steadfast as thou art—
Not in lone splendour hung aloft the night,
And watching, with eternal lids apart,
Like Nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors—
No—yet still steadfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,And so live ever—or else swoon to death.