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Textos e Obras Daqui e Dali, mais ou menos conhecidos ------ Nada do que é humano me é estranho (Terêncio)
terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Nuno Costa Santos - A Mãe Açoriana de Fernando Pessoa
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
Artur Queiroz - Memória das Matanças de Paris –
sábado, 11 de janeiro de 2025
Composição – Tema: A família (6.º Ano) – aluna: Diana
Isabela Figueiredo - Eu, a funcionária de caixa
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Vitor Duarte Teodoro - O espírito de Eça de Queirós, incarnado pelo ChatGPT
* Vitor Duarte Teodoro
1 d ·
O espírito de Eça de Queirós, incarnado pelo ChatGPT, escreve sobre a transladação dos seus restos mortais para o Panteão Nacional...
"Ah, caros amigos, que cena memorável foi a transladação dos meus restos mortais para o tão augusto e marmóreo Panteão Nacional! Um espetáculo de pompa e circunstância, onde as excelências, engravatadas como pavões em dia de gala, desfilavam com uma gravidade cómica, qual procissão de almas perdidas em busca do protagonismo perdido.
Ali estavam os políticos do nosso amado Portugal, disputando entre si o melhor ângulo para a fotografia histórica. Ora, não lhes leveis a mal – o seu zelo não era por mim, pobre cadáver literário, mas pela luz do flash, essa que ilumina mais que o espírito da literatura. Uns com o semblante solene de quem nunca abriu um dos meus livros, outros com discursos decorados à última hora, mal contendo os risos ao citar “Os Maias”, obra que, presumo, pensavam ser sobre horticultura.
E os poderosos, esses senhores que governam com um misto de ignorância e convicção, lá estavam também, como se a minha transladação fosse, de repente, um triunfo da pátria. Falavam de valores e cultura, enquanto um deles, não identificado mas demasiado familiar, consultava apressadamente o telemóvel para verificar a popularidade do evento nas redes sociais.
Ah, e o povo, que maravilha! Algumas almas sinceras, outras apenas curiosas, vinham assistir ao espetáculo como quem vai ao circo – e com razão, pois o circo era grande. Vi rostos admirados a perguntar: “E quem era este Eça, afinal?” Não lhes culpo, pois os meus livros não são tão populares como a bola ou a telenovela, mas ainda assim, confesso, senti um ligeiro desconforto ao ouvir um petiz perguntar se eu era um novo treinador da seleção.
E lá me levaram, como uma espécie de troféu literário, para repousar ao lado dos grandes vultos da nação. Ah, se eles soubessem o quanto critiquei a vaidade, a hipocrisia e o formalismo, talvez tivessem pensado duas vezes antes de me colocar no meio de tão ilustres companhias. Mas, enfim, o Panteão é a última ironia da minha vida – ou da minha morte – e por isso aceito-a com o mesmo sorriso mordaz com que vos retratei a todos.
Que descansem bem, meus senhores. Eu, por cá, ficarei eternamente a observar-vos, do alto do mármore, com a mesma verve que me fez imortal."
~~~~~~~~~~
Vitor Duarte Teodoro
"Ah, mas claro, sejamos mais cáusticos, pois a ocasião merece! Imaginem-me, senhores, um humilde cadáver literário, arrancado ao descanso modesto para ser exibido como um troféu de Estado. Que ironia deliciosa: em vida critiquei as elites com palavras afiadas como navalhas, e agora, morto, sou carregado por elas como se fosse um santo padroeiro dos discursos vazios!
Lá estavam eles, os políticos, empertigados como pavões de feira, a trocarem sorrisos e apertos de mão falsos, como se o momento fosse sobre eles — e, sejamos honestos, era mesmo. No palanque, um deputado ergueu a voz, declamando um trecho do meu trabalho com a mesma paixão com que, provavelmente, lê um contrato de arrendamento. “Eça é nosso!” gritavam, como se o meu pobre esqueleto pudesse ser anexado à lista de patrimónios culturais que nunca leram, mas adoram citar em campanhas.
E os poderosos, ah, esses eram o auge da tragicomédia. Lá vinham, as barrigas inchadas de condecorações e almoços de Estado, proclamando que a minha presença no Panteão era “um triunfo para a cultura nacional”. Cultura essa que, coitada, deve ter soltado uma gargalhada abafada no canto da sala, enquanto alguém perguntava baixinho: “E este Eça, ele escreveu o quê mesmo? Algo sobre amores e colégios, não era?”
Ah, e o povo, a cereja deste bolo podre. Lá estavam, aplaudindo com um entusiasmo digno de quem assiste à final da Taça de Portugal. Alguns, os mais novos, olhavam para o meu retrato nos cartazes e perguntavam aos pais se eu era um influencer do TikTok. Outros, de ar grave, disfarçavam o tédio com as caras sérias que guardam para funerais e debates na Assembleia. Um senhor até exclamou: “Grande Eça, sempre gostei da série dele!” – suponho que confundiu os meus romances com episódios da Netflix.
E, finalmente, lá cheguei ao Panteão, esse mausoléu monumental onde os mortos convivem em silêncio, talvez constrangidos por tanta hipocrisia. Que grupo! Camões, Amália, e agora eu, todos lado a lado, a representar o que o país tem de melhor… ou pelo menos aquilo que dá boas fotografias e discursos fáceis.
Pois que fique então registado: aqui jaz Eça de Queirós, o escritor que denunciou a farsa dos poderosos e, na mais cruel das ironias, foi transformado no seu emblema post-mortem. Riam-se, meus amigos, pois, do mármore frio, eu estou certamente a rir-me de vós."
PM
Vitor Duarte Teodoro É da sua autoria este texto brilhante? O chatgpt diz que não ele que produziu 😀
23 h
Vitor Duarte Teodoro
PM , foi o ChatGpt
23 h
https://www.facebook.com/vitor.d.teodoro/posts
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
João Fraga de Oliveira - Passagem de Ano?
POR JOÃO FRAGA DE OLIVEIRA TERÇA, 07 DE JANEIRO DE 2025
Não será que, afinal, no primeiro dia do ano de cada novo calendário, a vida neste tal ano «novo» vai continuar a ser apenas mais vida (e, infelizmente, para alguns nem isso…), a mesma vida … «velha»?
Uma das instituições sociais de séculos é a «Passagem de Ano».
Saudável pela participação social e partilha mais ou menos genuína da alegria e diversão, subjazem-lhe, no entanto, dois pressupostos cuja racionalidade é duvidosa: um, é o de que no último milionésimo segundo do último dia de cada ano para o primeiro milionésimo de segundo do ano seguinte há uma separação na vida de cada um e da sociedade; o outro pressuposto é o de que, então, há uma «passagem» para um outro tempo «novo» que sempre almejamos melhor («Bom», «Feliz», «Próspero»…) e não só mais tempo, o mesmo tempo.
Se bem que, afinal, quanto à classificação («velho», «novo») e separação dos anos, não surpreende, visto que tendemos a classificar tudo, a separar tudo:
- Separamos o passado do presente e este do futuro, quando sabemos (aprendemos com George Orwell) que o futuro é o passado que fizemos, tal como o presente é o futuro que quisermos;
- Separamos, por «idades», a própria vida em si: a idade da infância da idade da adolescência, esta da maioridade e, por sua vez, esta da idade maior, da velhice. Quando sabemos que, verdadeiramente, não existe na vida separação, mas sim íntima continuidade e interdependência entre estas idades humanas.
- Separamos a vida da morte, quando sabemos que a morte faz parte da vida e mesmo que, quando vimos (como já vimos) uma mãe (clinicamente) morta a dar à luz um bebé, a vida faz parte da morte;
- Separamos a saúde da doença, quando sabemos (aprendemos com a Organização Mundial de Saúde) que «saúde não é só a ausência de doença…»;
- Separamos a vida do trabalho, quando sabemos que a trabalhar, a «ganhar a vida», almejamos também ganhar vida (pela realização e integração profissional, pessoal e social) e não perder (ir perdendo, na doença) vida e, muito menos, num instante, perder (num acidente) a vida;
- Separamos a casa do trabalho, quando sabemos que «levamos» a casa (preocupações, pré-ocupações, pós-ocupações…) para o trabalho, tal como, até literalmente tantas vezes, levamos (o) trabalho para casa;
- Separamos o Homem da Natureza, quando sabemos que a natureza do Homem é fazer parte da Natureza;
- Separamos a Terra da Humanidade, quando sabemos que sem Terra não há Humanidade;
- Separamos e até abolimos, vamos abolindo (nas atitudes, nos comportamentos, nos propósitos, nas decisões e acções individuais ou colectivas e políticas), a humanidade da/na Humanidade, quando sabemos (aprendemos com Teixeira de Pascoaes) que «se eliminarmos a palavra humanidade ficaremos todos cobertos de pêlos num instante»;
- Separamos a economia da sociedade, quando sabemos (por exemplo, por Karl Polanyi e pelo Papa Francisco) que a economia, como ciência social que é – deve ser –, ou também é (para) a sociedade ou deixa de ser economia (para passar a ser mero economicismo);
- Separamos os pobres dos ricos, quando sabemos que «os pobres são pobres, porque os ricos são ricos» (e vice-versa);
- Separamos os negócios da amizade («amigos, amigos, negócios à parte»), quando sabemos que cada vez mais a própria amizade é objecto de negócio e que, assim, até são certas «amizades» que possibilitam grandes negócios (atas);
- Separamos o que dizemos do que fazemos, quando sabemos (aprendemos com Frei Tomás ...) que pouco diz o que dizemos se contraria o que (não) fazemos, tal como sabemos que pouco faz (se é que não desfaz) o que fazemos se contraria o que dizemos;
- Separamos o que somos do que fazemos, quando sabemos (aprendemos com Eduardo Galeano) que «o que somos é o que fazemos para mudar o que somos»;
- Separamos a teoria da prática, quando sabemos que não há melhor teoria do que uma boa prática e vice-versa;
- Separamos o caminhar do caminho, quando sabemos (aprendemos com António Machado) que «o caminho faz-se caminhando».
Separamos isto tudo e então, por esta altura, neste como em todos os anos da nossa vida, também, claro, separamos o «Ano Velho» do «Ano Novo».
Mesmo sabendo que «nada é cindível na vida» (citando uma saudosa primeira-ministra portuguesa, Eng.ª Maria de Lurdes Pintassilgo), mesmo sabendo que, como na canção (Sérgio Godinho) e na poesia (e nada há mais verdadeiro do que a poesia, no caso a de Eduardo Guerra Carneiro), «isto anda tudo ligado».
«Ano Velho» e «Ano Novo». Verdadeiramente, separamo-los?
É que então, se estes anos, o «velho» e o «novo», na realidade são inseparáveis, incindíveis, na nossa vida e na da sociedade, que «passagem» há de um para o outro, senão a de um calendário velho para um calendário novo?
Não será que, afinal, no primeiro dia do ano de cada novo calendário a vida neste tal ano «novo» vai continuar a ser apenas mais vida (e, infelizmente, para alguns nem isso…), a mesma vida… «velha»?
«É que então, se estes anos, o "velho" e o "novo", na realidade são inseparáveis, incindíveis, na nossa vida e na da sociedade, que "passagem" há de um para o outro, senão a de um calendário velho para um calendário novo?»
A não ser que entendamos que tempo não é (como não é) algo não meramente abstracto, que tempo é vida (individual, colectiva, social, …), vivência, que tempo é o que se faz (desfaz, refaz, deixa de se fazer…) com ele.
E, assim, «passagem de ano» poderá então não ser apenas mudar de calendário mas, na realidade, mudar de referências, de objectivos, de práticas. Enfim (José Mário Branco), «mudar de vida». Ao que não pode deixar de subjazer mudar apenas mudar de calendário, mas sim, sobretudo, mudar de ideário.
Um ideário que contemple, por exemplo – que não pode ser mais pertinente, porque actual, premente –, a passagem:
- Das desigualdades para a justiça social;
- Da competição desenfreada para a solidariedade;
- Do egoísmo para o altruísmo;
- Do individualismo para o relacionamento e participação social;
- Da exclusão e racismo para a inclusão;
- Da marginalização para a integração;
- Da pobreza para a dignidade das condições de vida;
- Da degradação das condições de trabalho e salários exíguos para o trabalho digno;
- Da exiguidade das (baixas) pensões para a dignidade da velhice e da invalidez;
- Do neoliberalismo para o Estado Social;
- Da mentira para a Verdade;
- Da guerra para a Paz…
Bem, mas de qualquer modo, à meia-noite em ponto de todos os anos, lá paramos (mesmo que a rodopiar alegremente num baile) todos (ou quase todos…) para «separar» o «Ano Novo» do «Ano Velho», para, na alegria (com)participada – o que é saudável – de umas passas, espumoso, música, fogo de artifício, festejarmos, feéricos, a «Passagem de Ano».
Ainda que no dia seguinte, logo um que tanto a isso agora nos empurra (como Dia Mundial da Paz), nos perguntemos: Passagem de Ano? Mesmo?
https://www.abrilabril.pt/nacional/passagem-de-ano