* Henrique Raposo
Além de simbolizar esta colonização mental da direita às mãos da esquerda, o 25 de Novembro tem outro problema: tapa os momentos em que a direita foi, de facto, líder na conquista da liberdade, as revisões constitucionais de 1989 e sobretudo de 1982
á a direita liberal, há a direita conservadora e depois há a direita burra; ou cábula, para sermos mais exatos.
A direita que comemora o 25 de Novembro revela que continua a ser uma colónia mental da esquerda, ou seja, limita-se a dizer o exato oposto da esquerda, como se isso fosse um pensamento livre e diferente. Não é; é só uma pose de cábula que quer a estética do contra. Só que ser do contra não é para quem quer, é para quem pode.
O 25 de Novembro é sobretudo uma construção do PS, quer na execução das manobras no terreno naqueles dias quentes, quer sobretudo na herança que deixou ao país durante as décadas que duraram até à imensa estupidez de Antónia Costa, que destruiu ponto por ponto a arquitetura de Soares. O efeito histórico do 25 de Novembro foi o seguinte: deu ao PS o lugar charneira no sistema entre um PCP forte e a direita democrática. O PCP baixou as armas militares, mas não as armas políticas. Foi essa a natureza do acordo de novembro: o PCP não provoca um conflito militar, sim senhor, mas condiciona à esquerda a governação e a política.
Na prática, só podíamos ter políticas de esquerda. A alternância política e intelectual não era feita entre a esquerda democrática e a direita democrática, como nos outros países europeus, era uma alternância entre duas esquerdas. Recorde-se que, no início deste século, se tivéssemos de pensar no arquétipo do intelectual/comentador à direita, teríamos de passar pelo... Pacheco Pereira. Portanto, quando comemora o 25 de Novembro, a direita está a comemorar a sua condição de ator secundário, está a comemorar uma mordaça política e cultural que determinou que a legitimidade e até a legalidade constitucional de uma política precisava de um requisito: tinha de estar à esquerda; a governação de Cavaco é a de um social-democrata clássico. O liberal conservador Lucas Pires foi infelizmente derrotado. Ofir nunca foi seguido, até hoje. Hoje só a IL tem esse espírito de forma permanente. A AD tem dias.
Este PS esquerdista e amnésico em relação à sua própria história está a fazer um revisionismo histórico? Este PS colonizado pela geringonça quer esquecer que esteve em estado de guerra civil com o PCP? Pois, claro que se pode criticar isto, mas entre essa crítica e a comemoração do 25 de Novembro vai uma larga distância.
Por outro lado, além de simbolizar esta colonização política e intelectual da direita às mãos da esquerda, o 25 de Novembro tem outro problema: tapa os momentos em que a direita democrática foi, de facto, líder na conquista da liberdade, as revisões constitucionais de 1989 e sobretudo de 1982, um momento muito falado aquando da recente morte de Balsemão.
1982: é nesse momento que a visão de Sá Carneiro e Balsemão vence por fim o caudilhismo militar que até tinha os seus defensores na esquerda moderada. Mais tarde, em 1989, vivemos o mesmo momento: o PSD europeísta e reformador a puxar o PS para uma normalidade constitucional europeia longe da naftalina revolucionária. A direita burra não conhece isto porque não estuda, não lê ou só lê panfletos que dão jeito a esta preguiça, a esta bravata de forcado.
2025 11 18
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