domingo, 18 de janeiro de 2009

O VERME VENCEDOR - Edgar Allan Poe

“Vêde! É noite de gala, hoje, nestes
anos últimos e desolados!
Turbas de anjos e alados, em vestes
de gase, olhos em pranto banhados,
vêm sentar-se no teatro, onde há um drama
singular, de esperança e agonia;
e, ritmada, uma orquestra derrama
das esferas a doce harmonia.

Bem à imagem do Altíssimo feitos,
os actores, em voz baixa e amena,
murmurando, esvoaçam na cena;
são de títeres, só, seus trejeitos,
sob o império de seres informes,
dos quais cada um a cena retraça
a seu gosto, com as asas enormes
esparzindo invisível Desgraça!

Certo, o drama confuso já não
poderá ser um dia olvidado,
com o espectro a fugir, sempre em vão
pela turba furiosa acossado,
numa ronda sem fim, que regressa,
incessante, ao lugar da partida;
e há Loucura, e há Pecado, e é tecida
de Terror toda a intriga da peça!

Mas, olhai! No tropel dos actores
uma forma se arrasta e insinua!
Vem, sangrenta, a enroscar-se, da nua
e erma cena, junto aos bastidores...
A enroscar-se... Um a um, cai, exangue,
cada actor, que esse mosntro devora.
E soluçam os anjos, _ que é sangue,
sangue humano, o que as fauces lhe cora!

E apagam-se as luzes! Violenta,
a cortina, funérea mortalha,
sobre os trémulos corpos se espalha,
ao cair, com um rugir de tormenta.
Mas os anjos, que espantos consomem,
já sem véus, a chorar vêm depor
que esse drama, tão tétrico, é «O Homem»
e que o herói da tragédia de horror é o Verme Vencedor.”

Edgar Allan Poe
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enviado por Guilhermina Abreu
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