O poeta e ativista político Tawfiq Az-Zayyad (1929 – 1994) dedicou a vida à valorizar a cultura palestina e lutar pela liberdade de seu povo. Estudou literatura na antiga União Soviética e incorporou em sua escrita os provérbios tradicionais, enigmas e advinhas além de ritmos e refrões da poesia popular árabe-palestina.
Preso pelos israelenses em 1958, escreveu a maior parte dos poemas de seu primeiro livro na prisão. Suas obras foram publicadas em diversos países, entre eles a Síria e o Líbano, e foram traduzidas, parcialmente, para as línguas ocidentais.
No Brasil, a poesia de Az-Zayyad foi traduzida (a partir de uma versão para o espanhol) por Abdellatif Laâbi, na antologia Poesia palestina de combate (Rio de Janeiro: Achiamé, 1981).
Tawfiq Az-Zayyad desempenhou também importantes atividades políticas, sendo eleito prefeito de Nazaré e deputado para o Knesset. Foi coautor de um relatório sobre o uso da tortura em prisioneiros palestinos pelas autoridades israelenses, que foi publicado no jornal Al Hamishmar.
Az-Zayyad faleceu em 5 julho de 1994, no Vale do Jordão, em um acidente de carro, quando voltava a Nazaré após encontrar-se com o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, em Jericó.
Confira um poema de Tawfiq Az-Zayyad:
O Impossível
Fazer um elefante passar pelo buraco
de uma agulha
seria tarefa mil vezes mais fácil
ou ainda pescar peixe frito
em terra incinerada
semear os mares
fazer falarem os crocodilos
sim, mil vezes mais fácil
do que perseguir, extinguir
um tênue pensamento
do caminho que escolhemos.
Como se fôssemos vinte impossibilidades
em Al-Lid, Ar-Ramla e Galileia
recostamos em seu peito-muralha
ferimos a sua garganta
com a rispidez de cacos de vidro
com a rispidez de figos indianos
e cegamos seus olhos
como um inferno de flamas.
Aqui descansamos em seu peito-muralha
lavamos pratos em restaurantes
enchemos os copos de ricaços
limpamos azulejos em cozinhas escuras
e assim roubamos pão para os pequenos
dos seus dentes azuis acostumados com o roubo.
Aqui no seu peito persistimos
ficaremos aqui, no pesado peito-muralha
famintos, desafiadores, nus
recitando poemas
revolvendo as ruas com revoltas
e as prisões da soberba.
Transformamos nossos filhos numa geração
que levará adiante a nossa ira
— redobrada —
como se fôssemos vinte impossibilidades
em Al-Lid, Ar-Ramla e Galileia.
Aqui devemos ficar.
Você pode sorver o mar
mas nós cuidaremos com prazer
das sombras da oliveira e da figueira
e plantaremos ideias como fermento.
Frio glacial em nossos nervos
e fogo de flama em nossos corações:
esprememos as pedras
tomados pela sede
aplacamos a fome com terra.
Não desistimos, nós não desistimos
não somos avaros com sangue precioso.
Aqui está o nosso passado.
Aqui, presente e futuro.
Como se fôssemos vinte impossibilidades
em Al-Lid, Ar-Ramla e Galileia.
Dizemos a vocês: agarrem as vivas raízes
e penetrem profundamente no solo!
Para o caçador, vale a pena a caça
ver os relatos fabricados
antes que seja impossível deter a roda.
Para cada ação, uma reação.
Leia o que diz o Livro,
Como se fôssemos vinte impossibilidades
em Al-Lid, Ar-Ramla e Galileia.
Tradução: Moara Crivelente e Claudio Daniel
Nota sobre a tradução: o poema O impossível, de Tawfiq Az-Zayyad, foi traduzido inicialmente do inglês para o português por Moara Crivelente e posteriormente revisado e “reimaginado” por Claudio Daniel.
http://www.vermelho.org.br/noticia/253531-11
http://www.vermelho.org.br/noticia/253531-11
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