* Carlos Coutinho
Sendo hoje o dia mais pequenino do ano, não sei como entender a tão grande distância que vai de Deus ao Diabo, já que que são biblicamente coevos e, por isso, ambos anteriores à criação do Universo que um deles tem a fama de haver criado, farto de estar sem fazer nada desde a sempiternidade que, de resto, nunca começou, por, em caso contrário, em vez se sempiternidade seria uma enjoativa eternidade.
A não ser que Deus também tenha criado o Diabo e, então, há mais que óbvia explicação para a malignidade da obra feita, incluindo a criação do Diabo que tem as costas largas e pode arcar com todas a culpas da tristeza, da imoralidade, da loucura sem remédio, da crueldade sem limites, da necessidade de haver guerras indispensáveis ao progresso da Humanidade, da própria aceitação da existência de Deus. Uno, trino ou múltiplo.
Como acatar, então, a legitimidade do Solstício do Inverno que denuncia a ilegitimidade do Solstício de Verão, visto não ter Natal algum para celebrar, nem Consoada alarve para as bebedeiras toleradas por Deus e infundidas pelo Diabo, nem passagens de ano que tantas vezes são passagens para o desastre?
Claro que tudo isto carece de explicação fácil, como a passagem a santos cristãos daqueles dois judeus de Nazaré, S. Joaquim e Santa Ana, progenitores de José, este um carpinteiro. Maria, a sua legítima esposa, claro que tinha de passar a ser virgem mesmo depois de ter dado à luz um bebé de futuro divino, sem que se houvesse rasgado o hímen – a tal película húmida, expectante e cavernosa, regada por artérias infracapilares e enxaguada por fios venosos redentores – constituindo o famoso portão sem fechadura anteuterino que que o aríete de José, um descendente providencial do rei David, nunca sequer tentou arrombar.
A minha sorte é que eu adoro uma capitosa bacalhauzada, um baqueano trago de touriga nacionaL esguichado de algum tonel duriense, uma boa rabanada e uma tépida noite à lareira. E não tenho o mínimo apreço por certos tipos de virgindade.
2025 12 22
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